P.O.V Elena

Eu e Tony nos encarávamos, escolhendo quem iria primeiro falar seus “segredinhos” como citamos antes. Ele estava entediado, não queria falar primeiro. E tínhamos tanto a falar, na verdade, ele tinha, não posso mais ficar surpresa sem saber do que aconteceu na vida do homem de ferro.

– Okay, pode começar e perguntar o que quer saber de mim logo – Eu falei e ele me olhou ansioso, então era isso que ele queria, pensei comigo mesma.

– Eu quero saber de tudo, de sua história, tudo – Ele falou.

Eu abri a boca e fechei várias vezes pensando na resposta certa, então foi ai que abaixei meu olhar e respondi finalmente.

– Não há muito a saber.

– Você não é o tipo de garota que a pessoa apenas fica entediada, Stonem – Ele me provocou.

– Apenas pergunte – Eu falei.

= Onde você estava antes de tudo isso? – Ele me perguntou.

– Saindo de uma festa, indo para algum lugar – Eu falei e ele me olhou preocupado, mas sei que iria continuar com as perguntas, afinal de contas, só tinha nós dois ali, nenhum poderia fazer nada sobre isso.

– Você estava bêbada? – Ele perguntou.

– Eu não fico bêbada. Eu estava um pouco chapada, mas não estava, entende? – Falei na lata e então ele ajustou sua posição, vi seus ombros ficarem duros, ele estava nervoso e quero saber o porquê.

– O que queria fazer naquele estado? – Ele perguntou me olhando nos olhos.

– Eu queria esquecer de tudo – Eu falei e ele conseguiu entender um pouco, vi pelo seu olhar.

– O que fizeram com você? – Ele sussurrou.

– Eles podiam ter feito pior, mas eu estava me afundando de qualquer jeito – Falei e ele me olhou ainda mais magoado.

– Você tem família? – Ele me perguntou.

– Eu tinha – Eu respondi curta.

– Eles morreram? – Ele perguntou.

– Meu pai tentou me matar quando eu era mais nova, ele batia muito na minha mãe, não sei se ele faz isso até hoje, não sei de mais nada, teve uma noite e ele bateu nela, mas eu nunca falei realmente com ele de verdade, ele nunca foi um pai, então ele bateu na minha mãe e eu o mandei parar, então ele veio para mim, eu era muito nova e eu tive que lidar com um homem de 39 anos, forte, enquanto eu, fraca, eu o bati de volta, consegui quebrar um braço seu, mas ele foi mais forte, ele bateu tanto minha cabeça na parede que eu acabei tendo hemorragia intracerebral, fui mandada direto para cirurgia, saí com vida, obviamente, os médicos chamam isso de milagre – Eu falei irônica, a cara de Tony era uma cara de dor, misturada com medo, e outras coisas, não sei porque, ele não me olhava assim, parecia que ele até se importava, ou algo do tipo. Mas ele não liga, ele apenas é mais uma pessoa de muitas que não estão nem aí para nada ao seu redor.

– E do que você chama? – Ele perguntou e foi ai que finalmente o encarei, eu sei que tinha um olhar sombrio. Nunca falei desse assunto abertamente.

– Má sorte – Falei dando um sorriso de lado.

– Não fale assim – Ele sussurrou olhando para baixo.

– Eu estava consciente todo o tempo, e sabe o que diabos eu pensava? Quero apenas morrer logo, quero que tudo isso acabe – Eu falei fazendo uma espécie de bico e dando de ombros.

– O que aquele homem fez com você, Elena... Foi uma monstruosidade, ninguém nunca deve levantar as mãos para uma mulher e muito menos fazer isso com uma filha, isso não foi sua culpa, você é realmente forte – Ele falou, suas palavras me atingiram em cheio. Eu apenas dei de ombros.

–E quanto a você, o tal homem de ferro? – Perguntei rindo.

– O que quer saber? – Ele estava despojado agora.

– Eu não sei, você já foi sequestrado? – Eu perguntei lembrando logo daquela conversa com aquele cara esquisito.

– Fui, antes de eu virar homem de ferro – Ele falou e eu fiquei ainda mais curiosa.

– Conto quase minha vida toda e você só fala isso? – Perguntei chocada, ele riu.

– Eu tenho uma empresa, você sabe disso, certo? – Ele perguntou e eu dei de ombros. – Okay, essa minha empresa construía armas para o governo...

– Certo – Revirei os olhos, irônica, pois sei como isso acontece.

– Então num teste experimental que fui fazer para os militares eu fui sequestrado e jogado num lugar parecido com esse daqui – Ele falou olhando em volta, e segui seu olhar. – Ganhei isso aqui – Ele falou levantando seus olhos e pude ver logo o que eu estava curiosa, tinha um grande circulo azul. – Essa belezinha me impede de morrer – Ele falou, fiquei um tanto fascinada. – História para outra hora – Ele completou quando percebeu minha fascinação. Revirei os olhos mais uma vez.

– E o que diabos aconteceu? – Eu perguntei.

– Eles queriam que eu construísse uma arma, como as que eu fazia, mas em vez disso...

– Você construiu sua armadura – Eu completei.

– Você quer parar de interromper a história? – Ele perguntou sério e eu ri, depois ele riu também. Eu fiz um sinal como se dizia: pode seguir em frente com a história.

– Construí a armadura e consegui voltar para casa e o resto, não é segredo – Ele falou.

– Você enfrentou muitas pessoas? – Perguntei o óbvio.

– Vilões no caso? – Ele perguntou debochado. – Sim – Completou.

– Então é isso? Nossos segredos finalmente revelados? – Perguntei irônica, mesmo sabendo que não disse nada para ele, ele não precisa saber nem da metade da minha vida, mas eu precisava saber da dele.

– O mais importante eu já disse, mas não tenho certeza se você me disse tudo – Ele falou me encarando.

– Acho que você soube do mais importante, do que mais quer saber? – Perguntei, ele deu de ombros.- Eu quero saber por que diabos aquele cara falou de mim daquela maneira, como se de alguma forma eu fosse envolvida com você? – Perguntei meio confusa.

–Eu não entendi também.

– Eu nunca vi você antes daqui – Falei com uma total certeza.

– Esse seu sobrenome não me é estranho, mas acredito que nunca vi você – Ele falou.

– Isso é incrivelmente estranho – Eu falei e ele só fez concordar.

– Elena Stonem, você é incrivelmente estranha – Ele falou e eu apenas ri, ficamos jogando conversas fora porque não tínhamos nada para fazer de melhor, ele resolveu contar como ele sobrevivia e como tudo aquilo funcionava. Ele falava rindo, um gênio realmente.

Ele não me perguntava mais sobre aquilo, ou sobre minha vida, até porque ele sabe de uma boa parte, o contei uma parte que não sabia que eu poderia contar para qualquer pessoa e ele me fez conta-lo, isso foi um grande passo, e foi o mais estranho.

Ele parecia sentir algo quando eu disse, ele parecia se importar, mas não me conhece.

Quero saber agora o motivo pelo qual fui jogada aqui nesse lugar e meses depois o homem de ferro, deve ter algum motivo, eles falaram que eu era o trunfo, mas de que diabos eu seria um trunfo? Eu não sirvo para nada, não os conheço, não sou um ser sobrenatural, geneticamente mudado, não tenho uma armadura. Há tantas pessoas pelo mundo, por que eu teria que ser a escolhida nisso?

Tentei não pensar muito nisso e me concentrar no que Tony dizia rindo, mas era difícil.