Ventos do Inverno escrita por Noriko Rokurou


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/623818/chapter/2

Uchiha Sasuke odiava festas. Odiava as músicas altas, que faziam seus olhos doerem. Odiava as luzes fortes e coloridas, que lhe davam tontura. Odiava os copos descartáveis sendo jogados no chão pelos adolescentes que se dirigiam à pista de dança, e que não pareciam se importar com a possibilidade iminente de um cabeça de vento escorregar e acabar se machucando. Odiava o desleixo, a falta de interesse, a falta de consideração com quem limparia o lugar no dia seguinte. Odiava, inclusive, refrigerantes — que pareciam ser uma obrigação, uma vez que ninguém ali tinha idade o suficiente para beber e nem parecia gostar de sucos.

Suspirou. Amaldiçoou Naruto. Pra variar, era culpa do Uzumaki, que o arrastara até ali, chamando-o de antipático e anti-social e dizendo que precisava se esforçar para ampliar seu círculo de amizades, e que o abandonou quinze minutos depois de a música começar a tocar.

Não que Sasuke pudesse culpá-lo, realmente. As músicas eram deveras animadoras — seus pés pareciam comichar, desejando ardentemente juntar-se à dança —, e o loiro ainda tinha um gazilhão de amigos com quem precisava conversar, pois, diferentemente de Sasuke, ele se esforçava nessa tal tarefa de “socializar”.

Mas Sasuke também não fazia por mal. Se alguém se aproximasse tentando fazer amizade, não seria rude. Só não estava interessado em sair procurando por si mesmo… Não muitas pessoas, ao menos. Aquelas que chamavam sua atenção sempre pareciam distantes demais, quase intocáveis, inalcançáveis.

E quem ele estava tentando enganar, mesmo? Não havia pessoas. Havia pessoa. Singular. Uma só. Desde aquele malfadado dia no ponto da escola, há pouco mais de um ano, Sasuke vinha observando Hyuuga Hinata. Não de um jeito obsessivo; ele não era um stalker. Só procurava uma chance de conhecê-la melhor… Falar com ela, se conseguisse não tropeçar nas palavras.

Nesse meio tempo, entretanto, descobriu pouquíssimos detalhes sobre a garota. Sabia algumas de suas manias — morder o polegar, apoiar o lápis no lábio inferior, colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha —, mas não sabia interpretá-las; não sabia diferenciar as expressões que a menina fazia, não sabia dizer quando estava irritada, ou feliz, ou mesmo entediada. Por deus, nunca sequer falara com ela! Estudavam na mesma sala, mas não tinham amigos em comum — com exceção de Naruto, porque Naruto era amigo de todo mundo. E não é como se Sasuke fosse pedir a Naruto para apresentá-los; se pretendesse contar para alguém, o loiro certamente não seria essa pessoa — ele não o fazia por mal, mas definitivamente não sabia guardar segredos.

Então, restava resignar-se. Fazer o quê? A vida tem dessas coisas.

Preferindo fazer qualquer coisa a ficar ali, parado de forma embaraçosa no meio do cômodo, Sasuke se dedicou à tarefa de procurar pela cozinha. Um copo d’água não faria mal a ninguém.

✖✖✖

Quando voltou para a sala, alguém havia arrastado até ali um sofá escuro, onde uma garota sentava — e Sasuke estava realmente feliz com o fato de que não teria de ficar a festa inteira em pé, ou sentar no chão; pelo menos, até perceber quem era.

Cabelos agora mais longos do que costumavam ser, mais ou menos na altura dos ombros; sem quaisquer tipos de enfeites ou presilhas. Não estava como a maioria das outras garotas — vestidos e saias —, e sim roupas comuns: calça jeans e blusa de mangas longas. Já fazia algum tempo que Hyuuga Hinata abandonara a mania de roupas infinitamente maiores que ela — talvez a vaidade feminina começasse a se instalar, ou ela simplesmente tivesse mudado de ideia sobre seus gostos em relação à roupas —, mas, ainda assim, continuava com os fiéis e leais casacos; e estes, não havia jeito, continuavam sendo maiores que ela. No mais, Hinata parecia carregar apenas uma bolsa.

Talvez fosse coincidência, ou — Sasuke não acreditava nessas coisas — destino. Acreditava, porém, que já estava mais do que na hora de deixar de lado aquele — medo? Uchiha Sasuke não tinha medo… Aquela hesitação de lado. O que poderia dar errado? Era só uma conversa. Só uma. Ele não podia ser socialmente desajeitado o bastante para estragar uma conversa… Podia?

Com passos decididos, e mãos que decididamente não tremiam, dirigiu-se até Hinata.

— Hey. — Sasuke a cumprimentou, acenando suavemente com a cabeça.

A garota demorou alguns instantes para levantar os olhos, como que em dúvida se estavam falando com ela, ou alguma outra pessoa. Quando o fez, encontrou Uchiha Sasuke parado em frente ao sofá, um copo descartável na mão. Franziu levemente o cenho, numa expressão que poderia até ser considerada adoravelmente confusa, se Sasuke não sentisse como se seu estômago tivesse caído em direção a algum lugar entre seus pés.

Malditas garotas. Malditas garotas e seus olhos de cílios longos, e seus lábios perfeitos, e seus rostos delicados. Malditas. Garotas.

— H-Hey… — ela desviou o olhar. — Uchiha-san.

Ela sabia quem ele era.

Oh.

Oh.

Sasuke inspirou profundamente, tomando coragem — o que deve ter demorado alguns instantes, porque Hinata lhe lançou um olhar de esguelha; como se perguntasse a si mesma se ele estava bem, ou o que ainda estava fazendo ali —, e sentou-se ao lado da garota. No mesmo instante, as mãos da Hyuuga apertaram com força a bolsa sobre seu colo.

Será que não queria que ele ficasse ali? O estômago do rapaz girava.

— Então… Uh… — procurou desesperadamente pelas palavras em sua cabeça, mas elas pareciam fugir dele. — Gostando da festa? — resistiu bravamente ao impulso de socar o próprio rosto. Incrível, Sasuke. Muito elaborado. Você é o mestre da articulação.

Hinata parecia tão desconfortável quanto ele.

— S-Sim…

E não fosse pela música, silêncio teria se instalado. Sasuke não tinha certeza sobre qual seria seu próximo passo: correr desesperadamente em direção à saída, ou se constranger ainda mais tentando manter uma conversa — logo ele, que nunca sabia como manter uma conversa. Estava ocupado demais desejando que o chão se abrisse e o engolisse para perceber que, do outro lado do cômodo, uma garota de cabelos castanhos acenava animadamente para Hinata.

Quando virou-se para a Hyuuga, enchendo-se de uma coragem estúpida e insensata, a garota já não estava mais ali. As palavras remoídas angustiosamente em sua cabeça morreram em seus lábios, e o Uchiha vagou os olhos pela sala; encontrou Hinata acompanhada pelo primo — rapaz alto, de cabelos longos, e parecido com ela, de certa forma — e por uma morena sorridente.

Suspirou, dizendo a si mesmo que não estava desanimado. Não é como se fosse perguntar a ela se estava interessada em dançar. Pff.

Não mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, haverá um capítulo para cada ano, até que eles completem 17, que é quando a história "realmente começa".
(Segundo minha irmã, a vida merece uns tapas por não ser justa, e o Sasuke é uma criatura absurda/terrivelmente fofa.)

Espero que tenham gostado, e até outro dia! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ventos do Inverno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.