Ventos do Inverno escrita por Noriko Rokurou


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Maldito! Maldito, maldito, maldito! — Sasuke resmungou, resistindo ao impulso de bater a cabeça contra a parede repetidas vezes.

Em toda sua mentalidade de garoto de 13 anos que não gosta de ser pego de surpresa, claro que uma chuva não fazia parte de seus planos. Claro que Itachi estar ocupado com o trabalho e não poder ir buscá-lo, também não estava em seus planos.

Maldito aniki¹. Maldita chuva. Maldito trabalho de literatura. Malditos planos. Malditos, malditos todos! Se ao menos tivesse pensado na possibilidade de precipitação… Mas, não! Tivera de acreditar na previsão do tempo, e agora nem guarda-chuva tinha! Arriscar-se naquele temporal não chegava nem mesmo a ser uma opção; com sua sorte, acabaria danificando o livro da escola, e ainda teria que comprar outro.

Então, esperar era a alternativa que restava. Sasuke odiava esperar. Odiava do fundo de seu coraçãozinho jovem demais para realmente compreender o que é ódio. Mas, sério, o que ele podia fazer? Resignado, sentou-se no ponto onde o ônibus escolar buscava os alunos no horário da saída. Se tivesse buscado o livro durante o intervalo, teria ido embora junto à seus colegas, e nada disso estaria acontecendo...

Sasuke suspirou. Talvez ele devesse abandonar a mania de planejamento — quase nunca dava certo mesmo. Só servia para irritá-lo, e ter os pensamentos nublados por uma raiva momentânea somente servia para irritá-lo mais.

Suspirou novamente, e teria passado mais algum tempo — horas, provavelmente — remoendo pensamentos sobre como aquela mania era irritante, não tivesse ouvido o som de passos apressados na direção do ponto. Levantou os olhos das mãos sobre os joelhos, procurando a origem.

E essa foi a primeira vez em que a viu: uma garota pálida, escondida sob camadas e mais camadas de casacos de quase o dobro de seu tamanho, com cabelos tão curtos, e em um corte tão anormal, que ele poderia tê-la confundido com um garoto se não estivesse prestando atenção. Corria em direção ao ponto, e carregava nas mãos a mochila, pressionando-a contra o peito com mãos pequenas e delicadas. Protegendo-a da água, ou tentando se proteger do frio? Com os casacos, Sasuke apostaria na primeira opção.

Desviou os olhos. Não gostava de ser pego encarando outras pessoas, em especial garotas, e em especial garotas que estudassem na mesma escola que ele. Quase todas subitamente pareciam ter encontrado na tarefa de acabar com sua paciência — não admirável, diga-se de passagem — um verdadeiro hobbie, e adoravam perseguí-lo, gritando e guinchando, tentando chamar sua atenção e discutindo sobre qual delas o fizera olhar. Itachi riu quando Sasuke lhe contou, chamando isso de paixão adolescente, mas não havia nada de divertido em ser atazanado.

Ouviu a garota sentar-se em um dos bancos próximos — graças a deus, não no banco ao seu lado — e ofegar, provavelmente tentando recuperar o fôlego. Distraiu-se pelos próximos minutos, pensando sobre o que fazer quando chegar em casa — tomar um banho, primeiro, para tirar aquele cheiro de chuva de sua pele, e depois provavelmente terminar o odioso trabalho que lhe custaria horas do dia que poderiam ser utilizadas de forma mais útil — e observando as gotas d’água caírem do céu; casualmente mexendo no cabelo para impedir que o vento jogasse o mesmo em seus olhos.

Mais alguns instantes se passaram.

Vencido pela curiosidade, Sasuke arriscou uma olhada de esguelha para a garota.

Agora, mais próxima e sem a imagem turva por conta da chuva, o Uchiha percebeu mais alguns detalhes. A cor do cabelo, por exemplo — provavelmente bem escuros, quase negros por conta de estarem molhados. E a pele — mais que pálida, translúcida, leitosa. E também os olho — olhos claros, tão claros que chegavam a ser quase brancos, cercados por um brilho perolado e cílios escuros. Pareciam olhos de prata líquida.

E eram, provavelmente, a única coisa chamativa nela. Não era uma garota alta. Não se vestia exatamente bem — por deus, o que eram aqueles casacos?? —, e não havia nada fora do comum nela. Tinha um rosto de traços suaves, claro, lábios rosados, e era toda delicada; mas quase todas as garotas também o eram, e não havia motivo para essa ser, de alguma maneira, especial.

Ainda assim, algo nela chamou a atenção de Sasuke. Talvez a forma como ela se mantinha — encolhida, olhos e cabeça baixos; como se o frio mais que a incomodasse, como se atravessasse seus ossos e a ferisse. Fosse quem fosse, essa garota não parecia querer ser notada. Parecia até… Assustada.

Isso o incomodou, de certa forma. Mas Sasuke nunca fora de se meter nos assuntos dos outros, e preferiu permanecer em silêncio ao invés de tentar iniciar uma conversa.

Não que ele fosse bom em iniciar conversas, também. Afinal, podia não deixar transparecer, mas Sasuke era uma verdadeira pilha de nervosos no quesito “falar com estranhos”. Era ainda pior no quesito “falar com garotas estranhas”. Garotas, na maioria das vezes, eram seres estranhos cujas formas de agir não faziam sentido. Uma palavra errada e algumas se desfariam em lágrimas — e se havia algo que aterrorizava Uchiha Sasuke, era ver alguém chorando. O que ele devia fazer nesses momentos? Perguntar o que aconteceu? Não, normalmente isso só gerava mais choro. Abraçar? Muito íntimo. Dar tapinhas nas costas? Muito distante. E o que é que se dizia para tentar confortar, quando não se sabia o motivo do choro, pra começo de conversa?

Então, é. Ele não estava muito animado para começar a socializar com estranhos — ainda não, pelo menos. Talvez deixasse de se importar com essas coisas em alguns anos.

Talvez não.

Sasuke mordeu o lábio inferior em impaciência, e voltou-se novamente para a garota — dessa vez, sem tentar ser discreto. No momento em que abriu a boca para falar, entretanto — e provavelmente seria algo constrangedor, mas ele nunca chegaria a descobrir —, o celular da garota — que nem pareceu notar seu movimento súbito — começou a tocar.

— A-Alô? — ela aproximou o aparelho do rosto, a voz tão baixa que quase não podia ser ouvida. — N-Neji-s-san?

Sasuke resmungou, e voltou a encarar a chuva, deixando de prestar atenção na garota.

Neji, eh? Tch. Hyuuga, então. Como pudera não perceber? Aqueles olhos… Não havia muitas pessoas com olhos como aqueles em Konohagakure. Além disso, os Hyuuga eram uma família poderosa. Empresários, arquitetos, advogados, políticos. A maioria se destacava em quaisquer que fossem as áreas. O próprio Neji — que Sasuke conhecia de vista —, embora não muito mais velho — talvez dois anos apenas —, era considerado um verdadeiro gênio no colégio. Fazia jus ao nome da família, participando de clubes, sendo líder dos times das áreas esportivas e andando com seu grupo de amigos populares.

Entretanto… Se a garota a seu lado era uma Hyuuga… Por que raios Sasuke jamais percebera sua existência antes? Voltou os olhos para ela — e, sortudo como era, encontrou o banco vazio, tendo apenas o vislumbre de uma silhueta correndo em direção ao estacionamento da escola.

Mas que raios…??

✖✖✖

Sasuke grunhiu. Pela segunda, ou quarta, ou — ele não estava realmente contando para saber. Naruto, por outro lado — o bastardo —, parecia, não tão estranhamente, incomodado com a (comum) aparente falta de paciência do Uchiha, pois voltou-se para ele com uma careta.

— Oe, teme! Para de resmungar!

Sasuke resistiu ao impulso de revidar; Naruto podia ser um desmiolado cabeça-quente, e geralmente irritante, mas o moreno não estava com vontade de arrumar briga naquele dia.

— Hyuuga. — respondeu simplesmente.

Naruto piscou.

— O que tem?

— Tem uma garota Hyuuga que estuda aqui.

— E…?

Uzumaki não parecia entender a lógica, e Sasuke torceu os lábios em desgosto. Não ia dizer com todas as palavras, “quero saber quem ela é”. Não queria. Não era como se estivesse… Curioso. Pff.

— Você está falando da Hinata? — Naruto continuava parecendo perdido.

— Quem?

— Hinata, teme. Ela estuda com a gente faz uns três anos. — observando a expressão levemente confusa do Uchiha, Naruto franziu o cenho. — Cara, qual é o seu problema?

Involuntariamente, Sasuke sentiu um rubor subir pelo rosto.

Não é como se não prestasse atenção… Ok, isso era uma completa mentira. A verdade era: não ligava. Mesmo. Nunca precisou saber os nomes de todos os colegas — se eles não o incomodavam, não importava. Fazer amigos também sempre fora um martírio, então… Além disso, essa garota… Hinata… Não é como se ela chamasse atenção, certo? Sasuke era distraído em relação às pessoas que o cercavam, mas não tanto.

— Tch. Esquece, dobe. — para não incitar a desconfiança do loiro, e talvez, só talvez, para tentar preservar a pequena parte de seu orgulho que sentia ferida, suspirou dramaticamente. — Não era disso que eu estava falando.

Não fazia diferença. Hyuuga Hinata havia sido só uma garota qualquer, em um dia qualquer, que cometera a proeza de atiçar sua curiosidade sem motivos aparentes. Não era como se importasse alguma coisa.

Certo?


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Notas finais do capítulo

aniki¹: irmão mais velho

Espero que tenham gostado, e até outro dia! :)



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