O vento gelado do Norte soprava as pequenas partículas de neve contra o rosto do homem encapuzado que corria por entre a floresta de pinheiros, era época de inverno e com isso o chão estava coberto por uma capa grossa de neve, porém o céu estava sem nenhuma nuvem e brilhava em tons de azul escuro e laranja vindo das estrelas, o verde que vinha da aurora boreal que dançava por entre o céu e o prateado da lua cheia.

O som dos passos afundando na neve enquanto corria loucamente de algo, esbarrando em galhos e desviando dos troncos que apareciam no caminho. Um uivo de lobo ecoou por toda a floresta, um calafrio percorreu o corpo do homem e um único pensamento passou pela cabeça do mesmo - É aqui que tudo acaba – Ele arfava e seus passos desajeitados deixavam marcas fundas na grossa camada de neve abaixo dos pés do encapuzado, ele tentou olhar para trás, mas o esforço custou caro, seus pés se entrelaçaram e ele tombou na neve que afundou como peso, ele tentou se levantar, mas dois vultos surgiram das sombras que os pinheiros projetavam e agarraram os braços dele e o arrastaram até uma clareira ali perto

Os vultos se revelaram lobos, mas eles eram diferentes dos lobos que habitavam o Sul, eles eram lobos do inverno continuo do extremo norte, eles eram mais altos que um humano e tão grandes quanto um cavalo, suas patas fortes lhe davam agilidade para abater a mais temível das presas e tinham duas caudas que se agitavam a toda hora. Os lobos o prendiam pelo pulso que estava todo machucado com vários arranhados feitos pelos dentes afiados das criaturas. A lua iluminou a clareira e o vento forte da floresta fez o capuz tremular e voar pela clareira, revelando o rosto do homem, ou melhor dizendo: menino.

Ele tinha cabelos dourados e reluzentes na luz prateada da luz, seus olhos eram cor de mel assim como os farrapos que estavam no seu corpo, ele estava com uma calça de algodão branca com alguns detalhes amarelos e na cintura estava uma espada embainhada, estava também com um par de luvas brancas com o símbolo de um sol na parte traseira da mesma e estava sem camisa, mostrando apenas o tórax e a barriga, ele tinha bastante músculos, o peitoral era forte e a barriga tinha algumas divisões não tão visíveis, porém dava para se notar caso fixasse atenção nele e uma estranha energia amarela emanava dele, era visível como se o ar tivesse ganhado um brilho e emanava lentamente do corpo dele e ia caindo sobre a neve.

- Está aqui, o seu prêmio! – Gritou ele com as forças que restavam, uma lagrima descia dos olhos amarelados do garoto e caiam na neve – leve minha cabeça ao seu rei, espero que faça bom proveito – Os joelhos do garoto cederam a pressão que os lobos faziam e o mesmo se ajoelhou com os braços abertos e a cabeça tentando esconder as lagrimas que escorriam pelo seu rosto e pensando em como isso teria acontecido, em um momento ele estava no castelo do sol e tudo apagou e ele foi parar no norte, em um templo em meio as montanhas de onde ele escapou, mas todos que pisavam no Norte sem autorização eram executados e esse era o fim que o esperava

- Príncipe André Solari – A voz vinha por entre as árvores, chegando cada vez mais perto até que a fonte do som fosse enfim revelada, era um garoto, um pouco mais velho que o chamado príncipe e bem mais alto, ele estava com um longo casaco branco que ia até o chão e apagava as pegadas na neve, um símbolo de uma boca de lobo repousava no peito e acima dele estavam os botões do casaco que ficam perto do ombro, ele tinha cabelos pretos e ondulados que iam até o pescoço, a franja cobria o olho esquerdo, porém o direito estava a vista e deixava ver os olhos acinzentados dele, como os pelos dos dois lobos gigantes que o acompanhavam. Assim que ele foi iluminado pela lua deu para notar uma energia também emanava do outro garoto, era azul escura e preenchia com muito mais voracidade o espaço.

O Perseguidor estava parado observando o garoto de cima a baixo e se aproximando cada vez mais até chegar a alguns metros e os lobos deixarem as mãos do Príncipe livres, ele caiu no chão com os pulsos em carne viva, ele tremia por causa do frio da neve e por causa da presença esmagadora que o perseguidor impunha.

- Eu, príncipe Noah Schnee, herdeiro do trono de gelo, senhor dos lobos do norte e protetor das fronteiras te condeno – A voz do Perseguidor ecoou pela clareira como um ultimato, a espinha do loiro tremeu ao ponto que ele mal conseguiu levantar a cabeça para encarar seu perseguidor, seus olhos voltaram a marejar, não era culpa dele nem do nortista, o norte e o sul eram separados por uma fronteira fortemente guardada, mas ele não sabia como tinha parado no extremo norte, fazia dois dias que ele havia acordado ali e sua presença fora notada e a caçada por ele tinha começado.

O Nortista se aproximou e desembainhou a espada, ela era um pouco fina com algo em torno de quatro centímetros de largura e uns noventa centímetros de altura, a arma tinha uma boca de lobo como guarda e seu cabo era grande com algo em torno de doze centímetros e revestido por couro preto e no final do cabo repousava uma gema azul escura da qual emanava energia do garoto, porém parecia que era liquida e envolvia a lamina.

O som do aço sendo retirado da bainha arrepiou os pelos da barriga do garoto que já estava parcialmente morto pelo frio e cansaço, ele encostou a lamina no pescoço do garoto ao ponto que dava para sentir o frio do aço que fez ele estremecer

– Você estará cometendo um grande erro caso me mate, príncipe do Norte – O Loiro tentou se levantar, mas não conseguiu, caiu de joelhos novamente e seus braços já não se moviam mais, só restava explicar sua inocência.

– Então, O Príncipe do império magicamente aparece nas áreas do Norte, em um templo sagrado, foge de um inquisidor e espera sair vivo? – Desdenhou o Nortista. Ele levantou a espada acima de sua cabeça, pronto para aplicar a punição ao Sulista

– Isso tudo foi uma armação dos inimigos de meu pai, eles me mandaram para cá com algum feitiço desconhecido para provocar minha morte e uma guerra e assumir o controle dos dois reinos quando eles estiverem mais fracos.

Ele embainhou a lamina, o loiro suspirou e sentou- se no chão e fitou o Nortista, ele se aproximou e tirou as luvas para estender a mão gelada até o rosto dele.

[Príncipe André Solari]

Ele começou a falar palavras que que eu não conhecia, não era a magia que eu conhecia e soava como uma música melancólica de um piano, nota por nota a minha energia voltou a fluir pelo corpo e a minha energia que fluía pelo ambiente agora se tornava mais forte, contrastando o amarelo dele com o azul da energia que vinha do Nortista, os olhos dele estavam cintilando em azul escuro por causa da magia, foi quando percebi que ele também era abençoado pelos deuses com o dom que no Sul é chamado de “Eternum” e apenas as famílias que descendem de antigos heróis tem, igual a mim.

– Você vem comigo loirinho – Disse ele, estendendo a mão para me levantar – Você vem comigo para interrogatório, isso caso não queira morrer – Ele continuava de joelhos me fitando com os olhos agora azuis dele e continuaria caso um dos lobos dele não tivesse chegado e feito ele levantar e ir de encontro com ele. Ele falava com o lobo como se ele estivesse entendendo cada palavra dita e o lobo mexia a cabeça como se concordasse, o lobo se virou para as árvores que circundavam a clareira e uivou a espera que os outros lobos aparecessem, mas sinto que ele não queria ter chamado “Aquilo”.