A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 8
Voto


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por não ter conseguido postar semana passada, odeio não cumprir meus próprios prazos. Mas finalmente consegui e posso publicar. Os capítulos prontos acabaram (na verdade eu tinha mais dois escritos, mas não gostei do resultado final deles), então agora precisarei escrever. Este capítulo é o primeiro de A Beautiful Winter Day que escrevo este ano, espero que tenha conseguido manter o estilo dos outros.
Pretendo postar todas as sextas - tentar, claro. Escrever dá trabalho, vocês sabem.

Boa Leitura :)



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Mrs. Hudson colocou uma bandeja na mesa, com um prato de biscoitos. Dizia o quanto satisfeita estava por fazer duas semanas que não usava suas “substâncias” secretas. Seu rosto parecia feliz e brilhante, o que deixava John com um fundo de inveja. Provavelmente também estava satisfeita por ele ainda vir visitá-la, apesar do que acontecera. Bem, não era como se ele fosse egoísta o suficiente para repetir a ruptura de dois anos atrás. Mary também não queria isso; assim, ambos foram para o 221A. Tornou-se tão comum eles agirem evitando o assunto de discussões passadas, que poderiam haver mil cachecóis pendurados no teto, e ainda seria ignorado.

É claro, aquilo podia ou não continuar para sempre. Achava que a existência de Holmes só dizia respeito a si próprio, mas ela parecia permanecer entre eles numa névoa de indiferença; deviam parecer ao público como aqueles que não se importavam. John não poderia concordar menos.

— O Dr. Hiller me disse que estou desenvolvendo compulsão por açúcar – Hudson disse um pouco indignada – disse a ele que não poderia estar mais errado.

Ela depositou o bule de chá na mesa e um potinho cheio de cubinhos de açúcar, que certamente não eram light. Hudson sentou-se em frente ao casal, no melhor estilo quero-ouvir-boas-notícias-desse-casal-perfeito. Bem, pelo menos Mary atuava melhor que ele.

— Estamos procuramos nomes – informou ela, mais para iniciar uma conversa do que para colocar o papo em dia – Gosto de Samantha. John também, mas ele fica mudando de opinião a todo o momento.

— Só não inventem algum nome na hora que a criança nascer. Nunca dá certo; os pais acham que se virem o rostinho do bebe terão algum tipo de inspiração – aproximou a boca dos lábios, como que para contar um segredo – Bobagem!

John olhou para o próprio chá, vendo seu reflexo sem vida, totalmente alheio à conversa. Depois de um tempo, Mary se despediu de Mrs. Hudson, pretendo ir embora. Lembrou-se que ela havia dito que dormiria no flat de Emily, uma enfermeira do Bart’s, gestante de nove meses. Como mãe solteira, Mary pediu para ficar com ela, já que as contrações se tornavam frequentes. John não se importou muito com isso, havia aprendido a gostar da solidão. Era o único lugar onde não precisava falsear um sorriso.

Com sua bolsa e tênis marrons, ela se foi. A porta se fechou tão silenciosamente quanto seus passos.

Não demorou muito para Hudson se virar para ele e perguntar:

— Vocês estão bem, meu querido?

— Estamos ótimos.

Hudson não parecia convencida.

— O que aconteceu?

— Coisas ótimas.

Ela suspirou, relaxando os ombros. Olhou-o um pouquinho preocupada e se inclinou um pouco, como se fosse contar um segredo.

— Ela ainda está preocupada com sua sanidade mental? – sussurrou, apontando para a própria têmpora.

John deixou escapar a sombra de um sorriso.

— Não, ela... Sabe que estou perfeitamente sã.

— Você tem certeza disso? Que você está são?

— Claro. Eu tenho a completa... Certeza disso. Com certeza.

— Que bom que você tem certeza, querido – tomou um gole da xícara – Tem entrado no seu blog?

Foi uma pergunta que parecia despretensiosa. John notou que Hudson tinha uma idéia diferente de sua sanidade. Ou a falta dela.

— Não – apoiou a cabeça na mão – Não é como se eu tivesse alguma coisa pra escrever lá. Ou vontade de reler qualquer coisa.

— Eu tenho entrado de vez em quando. Vou parar de fazer isso, porque sinto muito mais falta dele quando leio tudo aquilo.

John afastou sua xícara, certo de que não beberia nada. Se Hudson estava comentado sobre aquele assunto com ele, então não estava fazendo um bom trabalho tentando aparentar ser um homem feliz. Bem, não que tenha tentado de fato. Os olhos de Mrs. Hudson tornaram-se lacrimosos e John ficou mal por ela.

— Sonho com ele bastante – prosseguiu – Eu também sonhava da outra vez. Fico tão triste por ele – balançou a cabeça – Ele sentia sua falta.

Watson ergueu os olhos para ela, incerto se falaria ou não, optando por ficar calado. Sabia que falta era uma coisa que Holmes provavelmente não sentia. Hudson continuou.

— Você sabe, ele tirou sua poltrona da sala, você havia ido embora, não havia sentido em deixá-la lá – olhou ao longe - Mas depois ele colocou de volta. Acho que queria se lembrar de você.

Desviou os olhos dela. Não Havia qualquer tipo de acusação em sua voz, só o lamento de uma senhoria que perdera um dos filhos de seu coração. John sentiu uma ponta de culpa por ser o único que sabia que o objeto da conversa estava no andar de cima.

— Eu... Tenho que ir – disse John, já se levantando.

Mrs. Hudson não o impediu, estava satisfeita pela visita. Droga, estaria satisfeita mesmo se ele só viesse dizer boa tarde e seguisse caminho. Eles se abraçaram e John pegou o casaco da cadeira.

— Espero que vocês se acertem – disse Hudson – Você e Mary – completou, como se quisesse deixar claro que falava do casal. Certamente, ainda tinha dúvida sobre sua sanidade.

Foi nesse momento que escutou um barulho. Estrondo. Ambos olharam instintivamente para o teto, em diagonal. Tinha vindo de cima. Ou do lado? Talvez...

Sherlock. Saiu do 221A apressadamente, esquecendo-se momentaneamente da antiga senhoria. Subiu as escadas, chegou até a porta e certa e abriu. Holmes estava sentado no sofá, o rosto duro e concentrado, as mãos no sofá de um jeito atípico.

— Sherlock, eu escutei alguma coisa vindo daqui e...-

— O que está fazendo aqui? – Sherlock se levantou, parecendo nem um pouco feliz pela companhia.

John franziu o cenho; o amigo geralmente sabia quando ele vinha.

— Vim aqui ver Mrs. Huds... -

— Bom pra você, vai embora – fez um movimento significativo com a cabeça, indicando a porta que Watson ainda não havia ultrapassado.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não – mexeu em seus cachos, exasperado.

— Acha mesmo que eu acredito em você?

— Ás vezes eu queria que você não me enxergasse – fechou os olhos, os dedos nas têmporas.

Uma mínima parte de John ficou ferida com aquilo. Escutou passos atrás de si. Virou rapidamente e viu Hudson, hesitante. Olhou novamente para Sherlock dentro do flat.

— Quero ficar sozinho – o amigo anunciou e a porta bateu, de um jeito mais violento que John se lembrava. Se tivesse mais perto, teria sido atingido.

— Mas o que foi isso!? – Hudson tinha uma mão no coração e a outra na cabeça, completamente apavorada.

John passou os próximos quinze minutos tentando acalmá-la. Tentou convencê-la de que foi o vento, e que não, não estava falando com ninguém. Ele pensou que tipo de reação a senhoria teria caso contasse a verdade. Talvez surtasse menos se Holmes tivesse sido um pouquinho mais delicado.

Resolveu voltar para casa. Se Sherlock queria ficar sozinho, então seria feito! Havia ficado com um mal humor crescente; não se importava com a falta de sutileza do amigo, mas bater uma porta – o maior clichê de assombração no mundo – perto da senhoria que ainda a pouco ponderava se John acreditava nesse tipo de coisa, não era algo muito sensato. E claro, mesmo depois de anos de convivência, ainda não gostava de ser expulso.

Pelas janelas via o céu nublar mais ainda. Tomou um banho, comeu alguma coisa, começou a ler um livro. Mas uma sensação irritante atrapalhava sua atenção. Não conseguia parar de pensar se Sherlock estava tendo algum problema. Bem, não foi difícil de notar. Se fosse qualquer outra situação, poderia inferir que o amigo só tinha se estressado por causa de um caso. Mas não havia mais casos. Hum, talvez esse fosse o motivo do estresse.

As gotas de chuva começaram a pinicar a janela no instante em que Sherlock apareceu ao seu lado. Virou-se para ele, no sofá.

— Você precisa parar de fazer isso – protestou – surgir assim do nada.

— John, preciso que faça algo pra mim. Preferencialmente rápido. E preferencialmente agora.

— E por que eu faria o que você quer?

— E por que você não faria? – estreitou os olhos.

John suspirou.

— Você deixou Mrs. Hudson assustada hoje, Sherlock. Não sabe o trabalho que tive pra con...-

— Foi um erro de cálculo, seu cálculo na verdade. Não devia ter trazido ela consigo enquanto falava com um flat tecnicamente desabitado.

— Eu nem sabia que ela estava vindo!

— Ainda me surpreendo com o tanto de coisas que não sabe. Um tornado poderia se formar ao seu lado e eu não ficaria chocado se você não percebesse.

Watson poderia muito bem ter saído de casa e deixado o detetive para trás. Poderia, mas não estava no 221B e sim em sua casa, com alta possibilidade do chuvisco aumentar. Levantou-se e atravessou a sala, sendo automaticamente seguido pelo companheiro.

— Vamos lá, não fique bravo. Você sabe que é verdade!

Subiram as escadas.

— O que você de fato veio fazer aqui!? – parou e o fitou.

— Ver você – sorriu e depois ficou sério – E te pressionar a fazer o favor que pedi.

John balançou a cabeça. Sherlock era o mesmo de sempre. Entrou no quarto dele e Mary e ficou parado vendo os arredores.

— É a primeira vez que vem aqui – disse – na minha casa, quero dizer.

— Não era como se eu tivesse um bom motivo pra ficar vindo pra cá.

— Você tinha – reforçou – Eu moro aqui. Eu disse que nada ia mudar quando me casasse, mas ficou difícil quando você passou a me ignorar e se afundar nas drogas! Mrs. Hudson me contou que sentia minha falta, mas se sentia mesmo, então por que não...-

— Porque eu não podia! – demandou – Se Magnussen soubesse que eu me importava minimamente com você, então sua vida seria colocada em risco e...-

— Por que simplesmente não diz que odeia a vida que eu escolhi?

Holmes hesitou por um instante. Só um instante.

— Eu não odeio, essa é a questão. Se estava contente com a vida agradável e sem graça que escolheu, não seria eu que invadiria seu espaço perfeito.

— Perfeito? Não seria perfeito se você não estivesse lá. Se uma das duas pessoas mais importantes da minha vida não estivessem lá.

— As duas pessoas mais importantes da sua vida estão contigo, e nem assim você está feliz.

— Uma delas está morta.

— E a outra? – perguntou com um certo tipo de autoridade que Watson não gostava.

Não queria responder, mas não encontrava motivo bom o suficiente para não fazê-lo. Sherlock acabaria descobrindo de qualquer jeito.

— Ela quer que eu me esqueça de você. Eu sei que ela quer.

Uma sombra entristecida passou pelos azulíssimos olhos de Holmes. Rápido como uma gaivota cortando o céu. Sabia que enquanto estivesse olhando, Sherlock não se permitiria aparentar tristeza por mais que poucos segundos.

— Você vai fazer isso?

— Não – respondeu com uma sinceridade que esquecera possuir – Eu não vou.

Esperava manter o juramento. Para sempre.

(...)


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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