A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 7
No Inverno também há Flores


Notas iniciais do capítulo

Ai, é um dos capítulos que mais gosto. *-*
Boa Leitura :)



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John Watson depositou as flores amarelas no túmulo.

Não se sentiu tão mal quanto supunha a princípio, o fato de estar se acostumando àquilo amenizava bastante. Sempre fora o tipo de pessoa que se acostumava com a morte, mas não deixava de pensar que se acostumar com aquela morte específica era mais estranho do que tudo. Parecia-lhe de algum modo errado. E não podia fazer nada quanto a isso, só continuar vivendo a vida e morte sem contar nada a ninguém, pois a pessoa viva que mais confiava queria que ele se esquecesse do eterno amigo.

Ficou olhando a lápide, a mesma de dois anos atrás. Foi conveniente utilizar a mesma, até por que John na época não se preocupava com os ritos funerários. Na época, fabricara uma cortina de gelo ao redor de si. Agora, não sabia se a barreira ainda permanecia, é claro que havia melhorado. Porém, ainda não chegara à primavera. Ainda permanecia no seu próprio inverno, habitado por ele e seus sentimentos amargurados.

Na verdade, nem era um inverno tão ruim. Havia sido anos atrás, mas pelo menos Sherlock estava lá agora. Isso amenizava as coisas apesar de tudo. Ele e Mary mal trocavam algumas palavras, as pessoas ainda hesitavam a falar certos assuntos com ele, distraia-se facilmente no trabalho, e o inverno interior continuava, mas se olhasse de certo ângulo, até poderia dizer que a estação era bonita. Fria, porém bela.

Por isso não queria seguir o conselho da esposa. Não podia esquecer-se de seu amigo, seu melhor amigo, mesmo que fosse a coisa mais certa a se fazer, mesmo que fosse ele que tivesse lhe provido tanta dor. Não podia dar as costas a Holmes e fingir que tudo estava bem.

E suas dúvidas quanto a Mary não cessavam, mas não gostava de pensar nelas. Como previra, Sherlock negou qualquer tipo de conflito que eles tiveram, e sempre que John levantava o assunto, a conversa era habilmente desviada pelo detetive, e John fingia não perceber. Também não podia deixar de imaginar que Mary estava certa, que ela apenas estava triste como qualquer outra pessoa que convivera com Holmes ficaria. Podia se apegar a isso e deixar de lado o conselho de Mycroft. Seria melhor.

— Eu não gosto de amarelo – escutou perto dele, nem precisando se virar para saber de quem pertencia a voz com o costumeiro quê de arrogância.

— Pode comprar suas próprias flores, se quiser.

Sherlock apanhou uma única pétala e a analisou entre os dedos com se fosse muito mais interessante do que parecia.

— Amarelo – disse como que para si – As pessoas apreciam essa cor pela súbita e inconsciente alegria que ela impõe. Alegria e o oposto a energias negativas é o que elas buscam quando escolhem esse tom gritante. Na verdade, John, parece que é você que está gritando o quão não infeliz você está.

Era por isso que John não gostava quando o amigo resolvia fazer visitas surpresas. A vida – pode-se chamar assim? – de fantasma devia ser um tanto entediante e Sherlock compensava isso fazendo observações e comentários sobre John ao invés de um simples e inofensivo oi. Preferia ir a Baker Street e encontrá-lo, mas por motivos óbvios evitava ir para lá.

— Há quanto tempo você está aí!? – perguntou não querendo conversar sobre cores e flores.

Holmes ainda olhava a pétala.

— 120 segundos.

Ficaram em silêncio e John matutou o quanto era esquisito a situação de falar com o fantasma do melhor amigo sendo que ambos estavam de frente ao túmulo do dito cujo. Era quase como se devesse explicar a ele suas ações.

— Eu sei que é estúpido e que você acha isso, mas eu só quero despistar olhares e suspeitas inconvenientes, que devo dizer, quase tomaram forma antes e quase me obrigaram a fazer terapia – fez uma pausa e mesmo Sherlock não parecendo prestar atenção, continuou – Só quero... Agir como um amigo normal que não fala e nem vê amigos mortos.

— E então vieram as flores amarelas e seu grito desesperado em silêncio – soprou a pétala e John a pegou.

— Juro que da próxima vez eu compro cor-de-rosa.

— Se eu tivesse morrido de uma simples doença, o que é totalmente hipotético, pois não acho que meu corpo se subverteria a moléstias comuns e humanas, você ficaria tão mal quanto está agora?

A pergunta veio rápida e imprevista. John fez o que pode para acompanhá-la.

— Se fosse uma simples doença, Sherlock, eu poderia te salvar. Não sei se percebeu, mas eu sou médico.

Holmes se aproximou um passo, seus olhos o fitando intensamente.

— Não, você não salvaria. Não conseguiria ou pelo menos é isso que acha.

— Mas o que você...

— Tenho pensado nisso há um tempo e sei que você não vai se abrir por si próprio, mas seria... Como dizem? Indelicado não deixar as coisas claras. Não estão tão obvias pra você, como sempre, a diferença aqui é...

— Deixar as coisas claras – interrompeu – não sei do que está falando.

— Quando deixou a sala de cirurgia, com meu corpo sem nenhum sinal vital, diga-se de passagem, o que você pensou?

John desviou os olhos automaticamente. Havia passado noites inteiras acordadas só tentando afastar as imagens do hospital de sua cabeça. Não tinha nenhuma vontade de revivê-las.

— Nada.

— O que sentiu? – perguntou como se fosse a questão mais complexa do dia.

— Não quero entrevistas com um psicólogo agora, Sherlock!

— Vou dizer o que você sentiu. Raiva.

— Sempre com ótimas deduções! Estou com raiva e não quero conversar sobre isso!

— Até a sala de Magnussen você ficou comigo o tempo todo, mas pouquíssimos minutos longe foram o bastante para voltar e me ver baleado. Isso já podia te deixar um pouco desequilibrado se não tentasse ligar seu lado médico e tentasse curar um ferimento que teoricamente é tratável.

Desequilibrado – repetiu não gostando do rumo que Holmes queria tomar – Eu vou embora.

Virou as costas e começou a caminhar. Não ouvia passos, mas sabia que Sherlock o estava seguindo.

— Mas você não conseguiu, John – escutou e apertou os passos, querendo estar em qualquer outro lugar a não ser ali - Poderia ter evitado que a queda se repetisse, mas não evitou. E isso te assombra. Não conseguiu me salvar.

O louro parou. Sabia, sempre soube da verdade, mas ouvi-la de Sherlock era uma história diferente. E não havia um pingo de ressentimento na voz dele, o que parecia deixá-lo pior. Sherlock se calara como se quisesse que o amigo registrasse suas palavras e falasse por si próprio. Porém, não queria falar ou pensar naquilo. Não queria que a culpa daquele hospital voltasse, o sufocando. Porque sabia que era verdade. Ele sabia, Mycroft sabia e o outro Holmes também sabia. E o que podia fazer, a não ser dizer que sentia muito por não sido competente o suficiente para salvar a vida do melhor amigo?

— Sinto muito – mas a voz não viera dele e sim do amigo, o que o surpreendeu.

Não conseguiu pensar em nada de errado que Sherlock pudesse ter feito para pedir desculpas, tirando a costumeira arrogância e jeitos irritantes.

— Não foi você que não conseguiu, John – continuou – fui eu.

John se virou e olhou para ele. Seus olhos azuis encaravam o chão.

— Eu estava no meu Palácio Mental e sabia o que estava acontecendo comigo. Havia várias pessoas lá, nenhuma realmente me ajudou muito, mas eu tentei, até quando eu não via saída eu tentei. Foi mais forte do que eu, mais forte do que qualquer coisa que você possa imaginar...

Sua voz morreu. John mal podia acreditar que todo o tempo Sherlock pensava isso, como se morrer tivesse sido um extremo fracasso que ele não conseguira evitar, como se tivesse de cumprir uma missão em vida que não pode realizar.

— Acho que chegamos num outro impasse – John ouviu-se falar – Nós dois culpamos a nós mesmos.

— A diferença é que de sua parte ficar culpado é estupidez, John.

John quis protestar, mas o detetive foi mais rápido.

— Você foi a única pessoa próxima a mim que não apareceu em meu Palácio Mental. E também foi a única por quem eu senti que deveria viver.

O silêncio que se seguiu foi o mais confortável possível. Um sorriso fugitivo surgiu no rosto de Watson. Inevitável, pois geralmente era ele quem dizia coisas cafonas. Olhou dentro dos claros olhos do outro, que logo disse em seu tom normal e não emotivo:

— É melhor que você tenha gravado isso na memória, porque eu nunca vou repetir, nem sob tortura – Sherlock andou pelo gramado, a caminho da saída, com John em seu encalço.

John queria dizer que jamais se esqueceria, mas não disse. Não era preciso. Seu melhor amigo sabia, tinha certeza disso.

(...)


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Notas finais do capítulo

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