A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 3
Dias Nublados


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês, UFA! Quero agradecer o review de James Martin Cumberbatch ^^ , não respondi porque meu pc está tão ruim que no máximo só consigo postar, e com sacrifício XD.
Boa Leitura.



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— Eu. Não. Vou. Fazer. Terapia!

Lestrade revirou os olhos.

— John, você precisa entender que...

— Não preciso e nem quero entender nada – interrompeu – Mary te contou não foi!? Argh, teria sido melhor eu postar no blog. Menos gente saberia, certeza.

O inspetor pousou o copo de cerveja no balcão e olhou algum ponto ao longe. John sabia o que aquilo significava. O homem estava pensando no melhor jeito de dizer que Watson enlouquecera e que precisava de tratamento. Primeiro, sua velha amiga terapia. Depois, uma camisa de força.

— Mary está preocupada. Mrs. Hudson também, na verdade todos estão!

— Por que!? – ergueu as mãos como um refém – Pelo amor de Deus! Estou ótimo, e se você se lembra não é a primeira vez que eu passo por isso. Chame de força do hábito. E eu não preciso de terapia!

A última frase fora alta demais e as pessoas pelo pub o encarou. John encolheu no banco, fitando seu copo intocado. Virou-se para Greg.

— Espere, quantas pessoas sabem disso? Aliás, o que ela te contou?

— Nada além de... Você ter visto Sherlock.

John suspirou.

— Mary queria que eu te convencesse por que sabia que você rejeitaria a ideia na hora. Mrs. Hudson também quer dar uma palavrinha contigo, melhor você passar lá depois. Não, fique quieto, estou falando sério, John! Não é só por que sua esposa me contou suas façanhas, eu vejo que está agindo diferente, sei que é pior do que da outra vez, mas você precisa tentar...

— Não diga seguir em frente – cortou ríspido – nem superar ou algo do gênero. Tenho ouvido tanto isso que estou quase escrevendo um livro de autoajuda.

Por um tempo ficaram em silêncio. Watson afastou o copo e colocou os braços cruzados no balcão. Apoiou a testa neles. Sentia-se extremamente cansado. Desde que acontecera, sempre estava cansado pra tudo, o que era estranho já que ele praticamente não fazia nada. Nada a não ser receber visitas. E ver fantasmas.

— Sabe por que está sendo pior do que outra vez? – John se viu dizendo numa voz fraca – por que eu sei que nenhum milagre vai acontecer. Não que eu o esperasse da outra vez, mas eu tinha esperança. Não sei pelo quê, mas toda vez que pensava nele e acreditava que ele fora real, eu tinha esperança. Mas agora... – apoiou a cabeça na mão, os olhos vagos – Agora, eu sei que nada vai mudar. Sei que ele morreu e que não há nada a se fazer quanto a isso. Ele não está aqui para ouvir meu desejo e concedê-lo de novo.

— Sabe do que precisa? – Greg disse após alguns segundos.

— Do quê?

— Terminar esse copo e fingir que ele vai recupera-lo – deu batidinhas amigáveis em seu ombro – nunca falha.

Os próximos dias passaram-se não tão ruins quanto supunha. As manhãs vinham mais rapidamente como se o tempo agora passasse normalmente para ele. Tão normalmente quanto para as outras pessoas. Estava melhor. Porém, sabia que Sherlock Holmes tinha o nome totalmente vetado nas conversas. Mrs. Hudson e Molly fingiam não estarem constrangidas por quase terem falado o nome e logo mudavam de assunto. Seria engraçado aquelas visitas e vendo as conversas mudarem abruptadamente de rumo para o nome proibida não ser dito.

John percebia isso. Todos percebiam. E ninguém falava nada.

Tudo estava bem. Tão bem quanto a superfície da realidade pode estar. No fundo, onde guardava pensamentos obscuros até mesmo para si, John gostaria que as coisas estranhas voltassem a acontecer. Valeria a pena se conseguisse ver o amigo de novo. Mas sua vida estava entrando nos eixos, podia ver nos olhos de todos que ele seguia em frente, pelo menos para eles. Já havia ido a Baker duas vezes e nas duas se obrigou a ir somente á antiga senhoria. Tudo estava melhorando e o desejo de nada retrocedesse o fazia quase se esquecer da imagem no vidro.

Quase. Mary podia ter se esquecido. Lestrade podia ter se esquecido. Todos podiam ter se esquecido. Mas ele não. Nunca acreditara nessas coisas de espírito. Sempre fora o típico religioso cristão, que acreditava na maravilha da Criação, mas que raramente ia á igreja. Fantasmas era uma história completamente diferente. Histórias que recheavam livros e filmes para pessoas que curtem fantasia. Porém, não podia ignorar o que tinha visto.

Por que de fato, vira.

Se ele só tivesse a certeza verdadeira do que vira, ficaria bem. Bem de verdade. Ou ao menos, ele achava. O cachecol ainda permanecia no armário, devolvê-lo de vez seria um símbolo de superação que Mary ficaria feliz em ver. E John poderia entrar no 221B novamente com uma ótima desculpa. E talvez...

Obrigou-se a parar. Sim, coisas podiam acontecer. E também podia não acontecer por que fora sua imaginação que as produziu. Não. O cachecol azul não surgiria magicamente na mesa só por que sua imaginação queria. Era real. E isso era a única coisa que parecia convicta.

Fora até lá no modo automático. Só pensou realmente no que estava fazendo quando recolocou o cachecol na mesinha de centro. Foi pura sorte não topar com sua antiga senhoria, pois era fim de tarde, nem muito tarde e nem muito cedo para não se deparar com ela. Mas como das outras vezes, ele se andou silenciosamente até o flat. Tentou botar na cabeça que fora lá somente por Mary; ela merecia alguém muito melhor do que um tapado caçando coisas paranormais. Não, certamente ele não procurava nada disso.

A peça azul estava devolvida e agora restava somente ir embora. É isso. Olhou a porta ao longe. Parecia estar à milhas de distancia. Por uns instantes, só ficou parado e escutando sua respiração. Tudo estava absolutamente normal, a não ser pelo frio concentrado que passara a ser costumeiro. Soltou os ombros em ondas de decepção.

— Lestrade está certo – murmurou – talvez eu precise mesmo de terapia, de preferência num sanatório.

Foi em direção à porta. Colocou e girou a chave. Jamais voltaria, e dessa vez seria pra valer. Devia deixar os mortos em paz e continuar vivendo. Todo mundo conseguia, e além do mais, ele já havia passado por isso outra vez. Era pior agora, mas estava melhorando. Dias atrás quase ficava em paz ali dentro, mas não podia ficar visitando um apartamento vazio só pra preencher lembranças que nunca mais voltariam. Precisava deixar o amigo em paz.

Aqueles pensamentos eram certos. Uma dor profunda e genuína o tomou. Respirou fundo. Um, dois, três. Ficaria melhor se saísse dali. Rápido.

Homens como Sherlock Holmes não deveriam morrer.

Balançou a cabeça, um sorriso triste. Era o tipo de frase cafona que Holmes riria. Agarrou a maçaneta e a moveu. Mas a porta não abriu. Um mini onda de pânico o tomou.

Mantenha a calma. Você só não enfiou a chave direito!

Colocou e girou de novo a chave. Era a chave de sempre, tinha até mesmo a manchinha de sangue de um caso. Era a certa, sem sombra de dúvidas. Porém John não estava com tanta sorte quanto supunha. Apesar de a chave ter encaixado perfeitamente, a porta não abria. Puxou com força a maçaneta e nada.

Depois de falhar várias vezes, aceitou a derrota. Tinha algumas opções. Gritar até ser resgatado por Mrs. Hudson ou pular da janela. Vislumbrou a porta do quarto entreaberta. Sherlock tinha uma chave reserva em algum lugar. Estava preso, então tinha tempo suficiente para procurar. Coçou o queixo e depois entrou. O frio ali era um pouco mais intenso, mas ele ignorou. Olhou em volta e resolveu procurar num lugar obvio, o criado-mudo. Ficou surpreso por estar lá. Se aquela chave não funcionasse...

Andou em direção à porta, jurando que aquela seria a última vez que faria esse caminho, quando ouviu algo. Não, alguém.

— John, se isso continuar assim, juro que vou achar que está me ignorando.

A voz. Por um mísero segundo, pensou que todo seu processo vital tinha estacado junto ao corpo. Coração e respiração cancelados. Processos mentais cortados. Só havia aquela voz e seu corpo congelado pelo choque. Depois da lentidão, seus pensamentos tomaram tal velocidade que quase sentia pontadas na cabeça. Mal se sentia capaz de mover algum músculo.

— Pela sua posição corporal, vejo que me ouviu – continuou o tom normal, como se fosse uma simples conversa de esquina – Já não era sem tempo.

Watson forçou-se a se mexer, moveu o corpo em marcha lenta até a cama surgir em seu campo de visão. Sentado nela, com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas nos tornozelos, Sherlock Holmes o fitava a espera de alguma reação.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu amei acabar nessa parte. Há-ha.
Reviews? *-*



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