A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 2
A certeza cor de azul


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/623598/chapter/2

Chegar em casa. Esconder a peça de roupa azul. Dizer que queria ficar só. Tudo como planejara. Deitado na cama pensava sem sincronia. O cachecol não estava lá antes, assim como não havia vento. Não sabia ao certo por que essas duas coisas corriam em velocidade máxima em sua mente, como se delas dependesse tudo o que é de importante. Mas John Watson estava certo que não era importante, afinal de contas.

Em seu interior, uma sentença flutuava. O 221B estava estranho. E não era só aquele vazio esmagador. Algo mais. Algo acima da compreensão dele. Deus, o que ele estava pensando!? Prometeu si mesmo que deixaria a Baker em paz, salvo algumas visitas a Mrs.Hudson.

Os dias que se seguiram um tanto lentos. Parecia que toda a sua vitalidade havia ido embora junto com Sherlock. Não se animava para fazer nada. Ao completar uma semana, estava novamente no 221B. Era comecinho da manhã e os fraquíssimos raios de sol ainda não venciam as trevas da noite, o que tornava o apartamento um tanto sombrio. Observou tudo, desde os objetos intocados até o quarto e banheiro. Quando notou que agia como se procurasse algo, despencou no sofá. Colocou os pés na mesinha.

Por que havia ido pra lá? O cachecol, iria devolver, só isso. Alguma coisa começou a irritá-lo interiormente. Depois de um tempo, lembrou-se que tinha se esquecido da maldita peça. Estava de mãos vazias dentro do flat, sem nenhum bom argumento de estar lá, assim como na primeira vez, que alias, não fazia tanto tempo assim. Se as coisas continuassem nesse caminho, voltaria a morar nele.

Era tão diferente da outra vez. John Watson recordava muito bem que demorou dois anos para ele colocar os pés novamente no apartamento. Mas agora, quando tudo se repetia horrivelmente, sentia-se quase conectado com o lugar. Apesar de tudo, lá dentro as coisas não pareciam estar tão ruins; não se sentia bem, mas melhor.

A TV ligou e John levantou a cabeça. Passava algo sobre a morte de Sherlock. Incrível como sempre batem na mesma tecla só por audiência. Já havia recusado duas entrevistas nos últimos três dias, e a coisa não melhorava. Pegou o controle e desligou. Só para depois de alguns segundos, ela ligar sozinha de novo.

— Que inferno é isso? – murmurou pra si.

Tirou o televisor da tomada. Ótimo. Não ligou novamente.

— Isso. Está. Muito. Estranho.

Naquela noite, comia em silencio em frente à Mary. Ela ainda não sabia de suas pequenas aventuras no flat, mas John ficava cada vez tentado a contar. Não queria parecer fraco ou coisa assim, só tinha um imenso desejo de ser chacoalhado e ter o olhar de uma pessoa sã nos seus ‘probleminhas’. Se pensasse naquelas coisas, acabaria enlouquecendo aos poucos.

— Mary – começou, fisgando seu olhar – Estive na Baker Street.

— Eu sei – ele franziu o cenho – Oh, por favor, não sou você, John. Eu sei das coisas.

John ficou só a olhando.

— Deus, você encontrou.

— Quando furtar outra peça masculina, não esconda no armário de casacos – tomou um gole de suco – É óbvio.

— Foi um acidente.

A mulher forjou credulidade.

— Acidentalmente foi até o flat de Sherlock, roubou um cachecol e voltou lá hoje?

Ás vezes, ele não gostava de estar perto de pessoas mais espertas do que ele.

— Olha, não importa – seu tom de voz mudou – Veja, tem... Coisas estranhas acontecendo lá.

— Que tipo de... Coisas?

— Primeiro, a temperatura não está certa.

— A temperatura não está certa, chamem a SWAT.

Ele revirou os olhos. Explicou que o flat tinha agora uma temperatura alguns graus mais baixa do que lá fora ou mesmo nas escadas. Ela ergueu as sobrancelhas.

— Vou adivinhar. Você ouviu a porta bater?

John desviou os olhos. Batucou os dedos na mesa. Mary parecia incrédula e divertida ao mesmo tempo. Seu marido suspirou.

— Você não está pensando que... – ela começou, mas foi interrompida.

— Não estou pensando nada.

Silêncio. Ele ainda não olhava para a mulher.

— John...

— A droga da TV ligou sozinha várias vezes e o cachecol que você encontrou no armário apareceu na mesa, assim mesmo do nada! Tem alguma coisa acontecendo lá e não venha me dizer que é algum intruso, o flat fica trancado.

A loira o olhava como se estivesse em dúvida do que dizer. Seus olhos pareciam ter ficado mais brilhantes.

— Eu sinto muito.

Era a primeira vez que ela havia dito aquilo. De alguma forma, John sentiu-se pior com aquelas poucas palavras. Ela continuou, em voz baixa:

— Sei o que está tentando fazer – ela juntou as mãos, entrelaçando os dedos – acha mesmo que cutucar a própria ferida é o jeito mais fácil? Vamos, me diga.

Ele não respondeu. Apoiou o rosto em uma das mãos encarando a mesa.

— Apenas deixe Sherlock em paz pra você também poder ficar em paz.

Ela colocou sua mão por cima da dele por um instante, e depois se levantou. Ótimo. Se outra coisa estranha acontecesse no apartamento, não iria contar a Mary. Espere, não era como se fosse voltar. Ele não ia. Deveria ficar afastado e esquecer. E se fosse para lá de novo, o que esperava encontrar? Violino tocando sozinho e objetos caindo? Senhor, o melhor era achar um novo hobbie. Seria perfeito se o seu hobbie não fosse correr atrás de criminosos. Droga.

Assistia reprises de Doctor Who e Mary mexia no notebook numa mesinha ali perto, ás vezes rindo ouvindo o programa. John não conseguia se animar. Nos tempos na Baker, Sherlock sempre gostava de atacar todos os pontos surreais do show, que era uma tremenda perda de tempo para mentes sãs. Nessas horas, Watson o ignorava e aumentava o volume. Sorriu com a lembrança. Como uma simples bala pode tirar tudo isso?

Os créditos desceram. Mary fora para algum outro lugar da casa. Levantou do sofá e se dirigiu para a mesinha. Abriu o note. Iria se distrair um pouco. Estava prestes a pressionar o botãozinho de ligar quando a tela ascendeu. Na tela, estava a página de seu blog. Exatamente no caso do Homem Mariposa, onde as mulheres escolhidas por ele achavam se tratar de um fantasma.

— Mary – chamou alto – Você estava mexendo no meu blog?

— Não – gritou de volta – Eu controlo meu coração Johnlocker!

John revirou os olhos. A tela parecia estar travada. Fechou o notebook e depois o abriu. Tela escura. Bom. A luz branca da lâmpada incidia e John pode ver a forma disforme de seu quase reflexo no retângulo escuro da janela. Mas havia outra forma ao lado dele. Levantou os olhos da tela e olhou a janela á alguns metros da mesa. No vidro, ignorando o jardim atrás, Watson via a si mesmo detrás do computador, sua boca entreaberta. Ao lado, Sherlock.

O mesmo casaco escuro. O mesmo rosto. A mesma palidez transcendente. Sentiu segurar a respiração. Os olhos do reflexo de Holmes trocou um olhar com seu reflexo. John via sua expressão ficar cada vez mais chocada, enquanto o outro quase parecia estar se divertindo. Deu um sorrisinho. John conhecia aquele sorrisinho. Era o sorriso do “estou triste com isso, mas vamos fingir que está tudo bem?”. Mais tarde do que deveria, o médico virou a cabeça. Ninguém.

Olhou de novo o vidro. Ninguém, a não ser ele mesmo. A respiração retornou de forma rápida. Seu coração batia violentamente. Levantou-se desajeitado. Derrubou a cadeira. Encarava o vidro da janela como um viciado em drogas em recuperação encararia cocaína.

— John, o que aconteceu? Você está pálido... – nem percebeu que a loira havia voltado.

Ele nem conseguia olhar em seus olhos. Nada mais passava em sua cabeça além daquela imagem. Sentiu Mary colocando as mãos em seu ombro e peito.

— Acelerado demais –ela falou, preocupada – Okay, o que aconteceu aqui!?

Afastou a mão dela sem perceber.

— Sher... – o sussurro morreu.

— ...lock – ela completou – John Watson, o que diabos está acontecendo aqui!?

Ele passou as mãos no rosto. Mary não acreditaria, obviamente.

— Nada.

Seguiu rapidamente para o banheiro, jogando água no rosto. Sabia que sua esposa entrara no quarto deles, esperando-o para arrancar a verdade. Enrolou algum tempo e depois saiu. Mary estava sentada na ponta da cama. Ergueu os olhos para ele. Jamais acreditaria. Nunca.

— O que você faria – ele começou e voz baixa – Se visse o rosto de seu melhor amigo depois dele morrer?

Não conseguiu identificar a expressão de Mary. Parecia um misto de várias emoções e John não gostou de nenhuma.

— Então foi isso que você...

— Não – ele interrompeu – Estou muito cansado, vou dormir, okay?

Deitou na cama de bruços. Fechou os olhos. Foi a deixa para a loira resolver apagar a luz e deixa-lo em paz. Por enquanto. Não importava o que ela dissesse pela manhã. Não importava a irracionalidade da situação e nem a impossibilidade daquilo tudo.

Por um instante, um curtíssimo instante, ele vira Sherlock Holmes. Essa era a única e mais importante certeza naquele momento.

(...)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?? *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Beautiful Winter Day" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.