Some Hearts escrita por Kleia Santos


Capítulo 6
Capítulo 6




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                         Capítulo 6

 

Confie em você. E confie nela.”

Confiar. Aquela parecia mesmo ser a palavra-chave para as decisões que Clark precisava tomar em seu relacionamento com Lois, mas não era tão simples. Não que ele não confiasse nela, muito pelo

contrário.Temia que o peso de seu segredo a colocasse em risco tal como fizera com todas as outras pessoas que passaram por sua vida. No entanto, ele disse para si mesmo, seria diferente com ela. Só não sabia por onde começar.

Eram quase onze da noite quando Clark retornou para a fazenda naquele Domingo. Lois havia adormecido sobre o sofá diante da TV ligada em algum programa de notícias internacionais, e ele a carregou para o quarto como costumava fazer naquelas ocasiões. Tal como das outras vezes, Lois estava cansada demais para acordar com o movimento. Ou com a ausência dele, já que Clark o fazia tão rápido que ela mal poderia perceber que saiu do lugar. Ele a acomodou na cama e

seguiu para o seu próprio quarto, imaginando que seria questão de tempo até eles começarem a discutir acerca do assunto que já começava a entrar em pauta.

E ele estava certo. Apenas alguns dias depois, Lois se levantou não muito certa de seu estado de humor. Embora aquele tenha sido um Domingo maravilhoso, sequer viu a hora que Clark voltara para casa.
Esperava ficar com ele, nem que fosse para fazer nada juntos, mas ele simplesmente

desapareceu em sua rápida ida a Metrópolis. Aquilo, no entanto, não era o suficiente para incomodar Lois. Ela já estava acostumada com os sumiços repentinos de Clark e ele com certeza

tinha uma boa razão para demorar. Ela jamais faria o papel de namorada grudenta, ainda mais considerando que eles só estavam oficialmente juntos há um pouco mais de 24 horas.

Agora, entretanto, era diferente. A atitude se repetia a cada dia e ela não sabia bem o porquê. Duvidava que o próprio Clark tivesse uma boa explicação também, mas ela precisava saber o que estava acontecendo, pois lhe era incoerente que, diante da forma como se sentiam diante um do outro, estivessem passando por aquilo.

Clark desceu para a cozinha praticamente pronto para o trabalho. Apenas a gravata azul marinho ainda não estava devidamente posta, mas todo o resto se colocava impecável. E ele devia isso a Lois, sem dúvida, pois ela a tirou do ramo das camisas de flanela para a alta costura, ou pelo menos, para uma aparência respeitável. Ela com certeza concordava com aquilo, pois estacionou ao pé das escadas admirando-o enquanto ele colocava a comida de Shelby.

“Alguém já lhe disse o quão gato você fica com essa calça de cambraia?” ela comentou chamando a atenção dele.
Clark olhou para ela, igualmente admirado pela forma como ela estava vestida:

uma suntuosa blusa cor cereja e calça de linho preta.

“Você gostou?...”, ele perguntou arrumando a gola da camisa enquanto ela se aproximava, “Comprei como você me ensinou. Lisa com corte baixo na cintura.”

“Sério?” Lois chegou bem junto dele, puxando a gravata que estava pendurada em seu ombro, “A vendedora deve ter achado que você era algum tipo de metrossexual...”

“Ou que possuo uma namorada cuidadosa...”, ele sorriu para Lois enquanto ela preparava o nó da gravata em si própria.

“Ou que tem uma parceira na mesa em frente que quer ter algo para admirar durante o expediente...” Lois concluiu sorrindo de volta e colocando a gravata em Clark. “Deixa eu apertar isso...”

Ela segurou a mão no nó, puxando Clark para si. Ele entendeu o recado e a beijou ternamente, lançando os braços para a mesa de modo a prendê-la ali. Lois deixou-se invadir pelo beijo, sentindo sua língua indo de encontro a ele, seu corpo arrepiando-se por aqueles braços fortes

imobilizando-a junto a mesa. Clark então ergueu Lois facilmente pela cintura e a sentou sobre a mesa, beijando-a de acordo com o desejo que crescia pelo seu corpo. Era a resposta que Lois precisava e, mais do que rapidamente, começou a desabotoar os botões da camisa de Clark, puxando-a de dentro das calças e levando suas mãos de encontro ao peitoral maravilhoso dele.

Clark sentiu um arrepio gostoso correr seu corpo ao ter as mãos de Lois sobre ele, mas aquilo o despertou para a realidade. Afastou sua boca da dela por um instante, tentando colocar alguma razão em meio aquilo.

“Lois...”, ele disse entre beijos, ele próprio incapaz de tirar as mãos dela, “A gente não...”

“Hein?” Lois disse de forma quase incompreensível, beijando-o e correndo as mãos pelo peito dele.

“A gente vai se atrasar”

“Quem se importa?”, ela disse praticamente em outra dimensão, mas Clark se afastou dela, desta vez por cerca de meio metro.

“Sério, nós vamos nos atrasar”, ele disse arrumando a camisa, desgostoso consigo próprio.

Lois permaneceu incrédula sentada sobre a mesa. Estava acontecendo mais uma vez.

“Ok, Clark. O que está havendo?”

“O que quer dizer?”, ele perguntou sem ter muita coragem de encará-la. Ele sabia exatamente o que ela queria dizer.

“Quer dizer, eu não sou leprosa, e você não me considera leprosa porque praticamente já beijou todo o meu corpo. O que é sensacional, porque você tem essa boca maravilhosa que consegue me atiçar por inteiro e então... Você pára.”

“Lois...” ele tentou dizer algo, mas ela continuou a falar, gesticulando sobre a mesa.

“E olha que eu sou altamente flexível, porque eu tento compreender que você pode ter algo que te inibe, ou sei lá, mas você é sempre o primeiro a partir para além da primeira base! E eu não entendo o que acontece, porque eu sei que você é perfeito, eu já vi”, ela apontou discretamente para as calças de Clark.

“Então se você não é impotente nem está com algum tipo de trauma, o que diabos está acontecendo? Por que você está me evitando?”

“Eu não estou te evitando, Lois”

“Oh não? E como você chama quando um homem deixa uma mulher em ponto de bala e depois aperta o pause? Ou pior, você aperta o stop, rewind, play e stop de novo, sem direito a áudio!”

Clark a encarou um tanto assustado e Lois se acalmou um pouco, dando um longo suspiro.

“Me diga, Smallville... É comigo?”

“Não, Lois...” ele finalmente foi capaz de dizer algo no sentido da conversa, “A culpa é minha. É que eu... Eu só quero que seja perfeito, só isso.”

Lois desceu da mesa, tocada pelas palavras dele. Aquilo realmente parecia de grande importância para Clark e ela se sentiu feliz por ele a ver daquela forma. Caminhou até ele novamente, “Já está sendo perfeito, Clark. Eu não poderia querer nada mais perfeito...”

Lois sorriu e depositou um beijo nos lábios parcialmente sérios dele. Clark acabou por sorrir pela compreensão de Lois, embora tenha dito apenas meia-verdade sobre o que de fato lhe afligia.

“E então”, ela continuou de forma meiga, seus olhos verdes acesos sobre ele,
“Eu terei um dia cheio no Daily Planet, mas acho que podemos combinar um almoço especial...”

“Eu vou adorar.” Ele respondeu passando as mãos pelos cabelos dela, “13 horas no Pestana?”

“É um encontro!” ela concordou para receber um beijo apaixonado na seqüência. Abraçou Clark e seguiu para a sala, deixando-o só com seus pensamentos.

Só havia uma solução para os seus problemas.

***

Lois chegou ao DP tentando sentir-se um pouco menos preocupada. Estava decidida a dar uma chance a Clark, mas ainda não estava certa do que os impediam de seguir adiante em seu relacionamento. Era tão fantástico quando estavam juntos, no entanto, a qualquer sinal de maior

intimidade, Clark daria um break que faria qualquer um se espatifar contra o vidro. Será que estavam indo rápido demais? Será que era ela a tarada, desesperada por uma noite de amor com Clark Kent? Tudo isso vinha à mente de Lois em ondas complexas que não se desmanchavam, e sim cresciam após cada investida fracassada de sua parte.

Clark ficara pelo caminho para resolver uns problemas, o que significava uma manhã inteira longe da tensão sexual que a estava fazendo perder as estribeiras. Lois seguiu para a sua mesa convicta de que iria trabalhar, até que avistou um pequeno cartão vermelho. Gravado na frente do mesmo, com letras pequenas, lia-se
“Srta. Lane”. Lois sentiu um frio na barriga ao imaginar que aquele cartão poderia ser dele.

“Besteira de sua cabeça, Lois”, se corrigiu antes mesmo de abrir. Olhou por um instante e finalmente deslizou o dedo por dentro da aba, abrindo o envelope enquanto se sentava em sua cadeira. Dentro, um pequeno papel cartão azul imergiu com uma curta mensagem:

“Recebi sua carta, Srta. Lane.

Me encontre às 20 horas entre a

4th Avenue e a Maine.

RBB.”

“Oh meu Deus...”, Lois disse para si própria lendo e relendo o pequeno bilhete. E se fosse uma piada de mal gosto de alguém? E se não fosse? Lois não pensou mais a esse respeito. Sua intuição lhe dizia que era sim dele e que estava mesmo disposto a conversar. Ela tentou conter o sorriso que brotava de ponta a ponta em sua face, mas era mais forte do que ela.

Estava diante da história de sua vida.

Seu primeiro impulso foi pegar o celular e discar para Clark. Interrompeu a ligação, no entanto, guardaria a notícia para o almoço. Do jeito que ele era pouco fã do borrão, seria melhor que ela falasse pessoalmente, já tendo toda a entrevista bolada em sua cabeça. Sim, a entrevista! Precisava pensar nas perguntas que o faria: era casado? Tinha namorada? Lois se sentiu uma tarada ao ver aquelas perguntas lhe ocorrendo em dianteira a outros questionamentos mais

importantes. Era uma chance única e ela não poderia falhar. Voltou-se para o monitor do seu computador e começou a digitar as perguntas que lhe ocorriam à mente.

***

Clark passou praticamente toda a manhã refletindo sobre sua atitude. Se aproximar de Lois como o RBB ainda não era o ideal, mas era um passo na direção da verdade. Pensou que poderia se expor a ela, mas percebeu que ainda não estava pronto. Por isso,seguiu até o jato de Oliver Queen a fim de pedir ajuda a ele.

O bilionário se aproximou de Clark com um dispositivo eletrônico acoplado ao celular. O entregou a Clark explicando-lhe como funcionava.

“É um dispersor de chip e modificador de voz ao mesmo tempo. Ninguém poderá rastrear seu número, sua localização nem mesmo identificar sua voz com isso.”

“É perfeito”, disse Clark olhando o dispositivo. “Obrigado, Oliver”

“Tem certeza de que quer fazer isso?”, o arqueiro questionou uma última vez.

“Não, mais é o melhor que posso fazer por Lois agora...”, Clark se convenceu. Colocou o celular no bolso no exato momento em que um dos homens que trabalhava para Oliver saiu da cabine em direção ao chefe.

“Parece que houve um acidente grave no metrô de Star City! Estão tendo problemas para resgatar o pessoal das ferragens.”

Oliver ouviu a notícia espantado e voltou-se para Clark, mas este já havia superacelerado ao primeiro escutar da notícia.

***

Lois chegou ao Pestana com alguns poucos minutos de atraso por causa do trânsito. Ainda assim,

foi a primeira a chegar. Sentou-se na mesa reservada pelo próprio Clark e pediu uma bebida

enquanto esperava. Viu na TV a notícia sobre o acidente em Star City e os relatos de como o

borrão azul e vermelho de Metrópolis estava ajudando no resgate das vítimas. Ainda assim, ninguém conseguira uma única foto daquele misterioso herói, o que só deixou Lois mais intrigada. Ela teria, entretanto, a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Isso, claro, se ele estivesse disposto a se revelar por completo. O lugar do encontro era uma cabine telefônica, Lois naturalmente tratou de averiguar enquanto ia para o restaurante. Provavelmente ele ligaria para

ela e daria a entrevista sem se revelar, mas ela iria querer alguma prova de que ele era mesmo quem dizia ser. Precisava desesperadamente acreditar que ele era mesmo o RBB.

Lois se perdeu em seus devaneios e não se deu conta de que já havia passado quase uma hora, e nada do Clark. Não era do feitio dele se atrasar para compromissos, e ela imaginou que aquele era mais um episódio do famigerado problema dos dois.

Lois ainda esperou por mais algum tempo, mas nem mesmo seu celular dava sinais de Clark. Olhou aborrecida para o lugar vazio em frente a ela e procurou visualizar o que faria Clark deixá-la plantada em um restaurante em plena luz do dia.
Se ele queria irritá-la, enfim conseguira.

***

Clark superacelerou de volta para Metrópolis, passando antes na fazenda para trocar de roupa. Parou próximo ao restaurante, mas não encontrou Lois por lá, como já era de se esperar. Três horas haviam se passado desde o horário em que marcada de se encontrar com ela e ele sequer se lembrara de dar um telefonema diante da confusão que encontrara em Star City. E nem poderia,

como explicaria a Lois uma ligação de outra cidade? Teria que se virar como lhe era possível.

Clark chegou ao DP e logo encontrou Lois. Estava em sua cadeira e digitava algo no computador. A força com que seus dedos batiam nas teclas mostrou a ele o tamanho do problema que teria pela frente.

“Lois?” ele se aproximou com cuidado, e ela apenas sorriu sarcasticamente, sem dar-lhe atenção.

“Que barulho é esse, tem alguém falando?”

“Lois, me desculpe, eu sei que eu deveria ter ligado pra avisar que não daria para chegar, mas aconteceu uma coisa que me impediu de ligar. Me perdoe, Lois..”

Ele falou à vontade, mas Lois não lhe deu atenção. Ele a fitou invocado.

“Você não vai poder me ignorar para sempre, Lois.”

“Poderia ser pior. Eu poderia te ignorar em um restaurante por duas horas.”

“Lois...”, Clark tentou se explicar novamente, mas desta vez Lois reagiu erguendo-se da cadeira.

“Escuta, eu não sei qual é o seu problema, mas essa foi o fim da picada. Me largar plantada em um restaurante por duas horas? O que está tentando fazer, a versão caipira de ‘como perder uma garota em dez dias’? Porque se continuar nesse ritmo, você nem vai precisar levar o poodle sem pêlos para a fazenda!

Clark a segurou pelo braço tentando contê-la em seu acesso, “Você precisa se acalmar, Lois!”

“Eu não quero me acalmar!”, ela esbravejou chamando a atenção de algumas pessoas em volta, “Eu quero entender porque você está me evitando!”

“Lois--“

“A não ser que você tenha uma resposta honesta para mim, Smallville, te aconselho a manter distância...” ela disse se desvencilhando dele e saindo do escritório sob o olhar dos curiosos. Clark, no entanto, não estava preocupado se havia alguém olhando.
Ele simplesmente não sabia o que fazer.

Iria perdê-la.

***

Lois passou o resto do dia tão chateada quanto estava ao reencontrar Clark. Não queria ser dura com ele, mas era inevitável pela forma como ele a fizera se sentir. Não entendia o que havia de errado, com certeza era mais do que o que havia dito.
As inúmeras hipóteses continuaram a varrer sua mente: e se ele ainda estivesse apaixonado por Lana? E se toda a história de não se envolver tivesse a ver com o trauma da perda de seu primeiro amor? Lois achou um tanto absurdo que aquela fosse a razão, mas se tratando de Clark Kent, tudo era possível.

Ela precisaria deixar aquele assunto para um outro momento, entretanto. Já eram quase 20 horas

e ela estava parada próxima à cabine telefônica entre a 4th Avenue e Maine. Fora sozinha, sabendo que se ele fosse realmente o borrão, precisaria confiar nela. As palavras de Clark retornaram a sua mente:

“Eu procuraria saber quais as suas intenções... E se você fosse inofensiva, eu a procuraria no momento certo.”

Smallville tinha razão quanto a isso e Lois seguiu sua recomendação à risca. Ansiava por aquela entrevista mais do que quase tudo na vida. Precisava vê-lo, conhecê-lo, se conectar a ele como ninguém jamais o fizera. Queria que ele mostrasse a ela o que ele não poderia mostrar a mais ninguém.

Nenhum minuto a mais se passou e o telefone tocou dentro da cabine. Assim como Lois imaginara, ele não iria aparecer pessoalmente. Ela entrou na cabine, atendendo o telefone com cautela.

“Alô..”

“Esta é Lois Lane, a repórter?” uma voz grossa e indecifrável soou do outro lado da linha.

“Quem quer saber?”, Lois questionou insegura.

“Aqui é o Borrão Azul e Vermelho”

Lois sorriu ao ouvi-lo em sua identificação, mas precisava ter certeza.

“Ah, claro... E como eu posso ter certeza de que você não é um copiador com tempo de sobra?”

“Olhe para trás...”

Lois fez o que a voz ordenou, olhando para trás sem sair da cabine. O que se seguiu a fez derrubar o telefone, tamanha a estupefação.

“... Clark?” ela disse incrédula ao vê-lo parado a poucos metros dela, vestido em uma combinação de calça e blusa azuis com uma jaqueta vermelha. Em suas mãos, um celular com um dispositivo que ela imediatamente reconheceu como sendo um modificador de voz.

“Hei, Lois...”, ele emitiu cauteloso com a reação dela.

“Que brincadeira é essa, Clark?”, ela perguntou sem acreditar que ele era mesmo quem dizia ser.

Clark já imaginava a reação dela e em um movimento realmente rápido, superacelerou com ela e foi embora dali. Freou na Fazenda Kent, tendo uma Lois inteiramente atônita em seus braços.

“Eu sou o borrão azul e vermelho”

***


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