A sementinha escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Pocket Monster getto daze! - significa "peguei um pokémon!"
Satoshi - Ash
Kazumi - Misty
Koratta - Rattata
Eievui - Eevee
Koiking - Magikarp
Pippi - Clefairy



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- Papai! – chamou a garotinha de cabelos negros, apoiando-se no braço do sofá – De onde vêm os pokémons?

O homem, que também tinha cabelos negros, levou alguns segundos para processar a pergunta. Lentamente, abaixou a revista – Pocket Monster getto daze! – e voltou seu olhar castanho para o olhar esmeraldino da pequena.

- Sim, Hana chan?

Ela inflou o peito de ar, fazendo uma leve careta. Soltou a pergunta mais uma vez, alta e pausadamente:

- De onde vêm os pokémons?

- Os pokémons! – Satoshi balançou a cabeça e colocou a revista de lado, parecendo perdido em pensamentos – O que quer saber sobre eles?

- Quero saber de onde eles vêm! – disse a menina, batendo o pé no chão.

- Quem vem? – o pai se fez de desentendido.

- Os pokémons! – gritou a garotinha, impaciente.

- Ah, os pokémons! – Satoshi balançou a cabeça novamente, mas não parecia ter se tornado mais intelectual com o gesto – Minha querida flor, os pokémons, eles vieram do espaço.

- Do espaço? – ela arqueou as sobrancelhas negras.

- Do espaço. – confirmou seu pai, erguendo os braços como se o espaço fosse uma matéria tangível e estivesse logo ao alcance de suas mãos – Do cosmos. Eles chegaram à Terra através de um cometa.

Satoshi abriu um sorriso, sentindo-se filosófico. A filha, porém, fazia beicinho.

- Não é disso que quero saber! – bateu o pé no chão mais uma vez – Quero saber como os pokémons nascem, papai.

- Aaaaaah!

Ele passou a mão pelos cabelos para ganhar tempo. Sempre soubera que aquele dia chegaria, mas não estava preparado ainda. Afinal, como conversar com a filhinha de cinco anos sobre... sexo?

Optou pela abordagem tradicional.

- Ora, florzinha. Eles nascem de ovos.

- Aaaaaaah! – fez a menina, soando exatamente como o pobre pai.

“Pronto.” pensou Satoshi, recostando-se no sofá para retomar a leitura “Agora posso voltar à tranquilidade da minha revista”.

Mas a pequena tinha mais perguntas na manga.

- E de onde vêm os ovos?

Ele fechou os olhos por um breve instante, invocando alguma ajuda divina que pudesse salvá-lo daquela situação constrangedora.

Onde estava a mãe da criança quando precisava dela?

- Ora, Hana chan... Os ovos dos pokémons vêm... dos pokémons. – disse com simplicidade.

- E como os pokémons botam os ovos? – ela perguntou de imediato, rápida e perspicaz como um Koratta.

Satoshi suspirou e olhou o céu azul pela janela da sala. De repente, o suicídio parecia uma alternativa interessante.

- Bom, eles... simplesmente botam os ovos. É como... fazer xixi!

- Xixi? – exclamou a menina, rindo com gosto – Eles botam ovo fazendo xixi?

- Não, não! – ele se apressou em dizer – Mas é como se fosse.

- Ah.

Hanako voltou-se para seus brinquedos. Esqueceu-se completamente da conversa. Satoshi sorriu aliviado e retomou sua leitura. Mal finalizara sua coluna favorita – PokéPuffs! – e a guria já estava parada diante dele, brincando com a renda do vestido. Jogou a revista de lado.

- O que foi agora, minha flor?

- E como os ovos chegam lá dentro?

- Dentro onde? – ele franziu o cenho.

- Da mamãe pokémon.

Talvez fosse melhor saltar do telhado.

- Como os ovos chegam dentro da mamãe pokémon? – ele repetiu a pergunta.

- É. – a menina acenou com a cabeça – A gente bebe água pro xixi sair. Se os pokémons botam ovos, é porque o ovo chegou lá dentro. Mas como os ovos chegam lá dentro sendo tão grandes?

Ela abriu um sorriso travesso, orgulhosa de seu brilhante raciocínio.

Satoshi deu uma olhada rápida no cesto do canto da sala, onde seu fiel Pikachu dormia profundamente. Não poderia contar com seu melhor amigo nessa árdua jornada.

- Bom, eles...

Hanako piscou seus olhos esmeraldinos, interessadíssima. O pai engoliu em seco, desejando que o Eievui de pelúcia que jazia sobre o tapete ganhasse vida e atraísse a atenção de sua pequena flor.

- O papai pokémon coloca uma... sementinha na mamãe pokémon. E essa sementinha vira um ovo.

- Como os PokéPuffs que o Pikachu come?

- Quase isso.

- Mas, papai.

- Sim, Hana chan?

- De onde vem a sementinha?

“Kazumi, onde você está?” pensou Satoshi, desesperado.

- Disse alguma coisa, Pikachu? – desconversou, voltando-se para o ratinho que parecia em coma, de tão profundo que era seu sono.

- Ele tá dormindo, papai. – disse a menina, sem sequer desviar os olhos da figura paterna – Mas de onde vem a sementinha?

- Bom... – ele hesitou – Isso eu já não sei, filha, são segredos dos pokémons.

- Ah... – ela pareceu decepcionada – Mas, papai, e os bebês?

- Bebês? – Satoshi franziu o cenho.

- É. Como os bebês nascem? Como eu nasci?

- Já dissemos. Você veio da barriga da mamãe.

- Mas como eu entrei lá?

- Bom... É... Então...

O som da fechadura sendo aberta preencheu a sala, e uma mulher ruiva abriu a porta. Hanako soltou um gritinho agudo e correu até ela, atirando-se em suas pernas.

Em seu cesto, Pikachu acordou, piscou seus olhinhos sonolentos e se acomodou de novo para mais uma soneca.

- Mamãe! – exclamou Hanako, esfregando o rosto nos joelhos da ruiva.

- Ei, ei. Cuidado. – avisou Satoshi, mas a filha não o ouviu.

- Olá, Hana chan. Como você está? – perguntou Kazumi, abrindo o sorriso mais gentil do mundo – Se divertiu com o papai?

Hanako deu um passo para trás e abriu um sorriso divertido.

- Sim! Ele me ensinou de onde vêm os pokémons!

- É mesmo? – Kazumi parecia se divertir também.

- Uhum! Ele disse que os pokémons vêm de ovos que o papai pokémon coloca na mamãe pokémon com uma sementinha! – disse alegre, erguendo os bracinhos no ar.

- Que legal, Hanako! Agora já pode ensinar a seu irmãozinho. – respondeu a ruiva, acariciando a enorme barriga.

- Quando ele vai nascer? Quando ele vai nascer? – exclamou a menina, pulando como um Koiking.

- Em breve. – garantiu a mãe – Logo você e Kaito serão amigos.

- Eeee! – fez a menina, rodando sem parar em sua alegria infantil.

- Agora, se me dão licença, eu preciso de um banho. – disse Kazumi, desviando-se da menina para ir ao banheiro – Amor, prepara o jantar?

- Aaaaaaaan. – lamentou Satoshi, largando a revista pela terceira vez naquela tarde.

- Por favor! Estou tão cansada! – pediu a ruiva, piscando os olhos esmeraldinos que ele tanto amava.

- Certo. Certo. Comeremos ramen.

- Ramen! – exclamou a garota, voltando a pular.

Pikachu bocejou longamente, espreguiçou-se e voltou a dormir com o corpinho todo esticado no pequeno cesto.

Satoshi suspirou e voltou à sua leitura. Ainda estava no segundo parágrafo de uma notícia interessante – Atenção, treinadores! A temporada de Pippis começa! – quando percebeu que olhinhos inquietos o observavam.

- Sim, minha flor?

- Papaaaaai.

- Diga.

- O meu irmãozinho tá na barriga da mamãe?

- Sim, querida. Você já sabe disso. Cansamos de te explicar.

- Mas como ele entrou lá?

Ele engoliu em seco.

- Da mesma forma que você entrou.

Hanako fez uma careta pensativa. Satoshi quase conseguia escutar seus neurônios funcionando.

- Papai?

- Siiim?

- Você colocou uma sementinha na mamãe?

Talvez ele tivesse de pular da Torre de Tóquio.


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