Era estranho morrer. Tudo que me lembro era de tomar aquele tiro, e depois tudo ficou escuro.

Mas então tudo ficou claro novamente, foi uma luz branca muito forte, será que essa era a tal luz que mandavam não andar para ela? Mas eu não conseguia andar, eu não sentia nada no meu corpo, e então logo depois da luz vieram os barulhos, eram máquinas, dava para perceber, elas faziam um barulho repetitivo, logo meus olhos começaram a se acostumar com a luz e pude ver que era só uma lâmpada, aquele não era o teto do meu quarto, isso eu tinha certeza. Começo a olhar ao redor, nada fazia sentido, eu estava em uma cama branca, vestindo um tipo de avental azul, ao meu redor várias máquinas apitavam, aquele som era estranho, mas logo minha audição se acostumou também. Eu estava em um quarto de hospital, haviam vários fios grudados no meu corpo, aquilo estava me assustando, do nada algo começou a apitar e em questão de segundos algumas pessoas começaram a entrar no meu quarto, eram médicos, eles me faziam várias perguntas, mas eu estava assustado demais para responder qualquer uma delas, uma enfermeira anotava algo em uma prancheta e dois homens que pareciam ser doutores insistiam em me fazer perguntas. Tentei falar algo.

- Onde... – Começo a dizer, mas me assusto com minha voz, estava fraca e parecia que eu havia engolido espinhos, doía para falar.

- Melhor não dizer nada ainda. – Falou um dos doutores. – Você ainda está muito fraco.

- Onde... – Tendo de novo, dessa vez ele responde.

- Você está em um hospital, você estava em coma, há dois meses você levou um tiro no pescoço, perdeu bastante sangue, por muito pouco não faleceu, te trouxeram para cá a tempo e conseguimos estabilizar sua situação, mas você entrou em coma.

Ok. Eu havia levado um tiro, e não havia morrido, mas havia entrado em coma e perdido dois meses da minha vida. Meleca.

- Iremos fazer alguns testes para ver como você está e se ficou com alguma sequela, sua mãe está lá fora logo deixaremos entrar. – Continuou o doutor. – Você teve muita sorte garoto, praticamente nasceu de novo.

Enquanto ele fala contínuo perdido em pensamentos, caramba eu havia levado um tiro e havia sobrevivido. Mas algo estava errado, ele havia falado pescoço, mas eu havia levado um tiro no peito, tinha certeza disso, afinal acho que da para saber onde se leva um tiro, pelo menos se você não morrer na hora. Eu não sabia se aquilo era verdade ou um sonho, tudo estava confuso demais.

Meleca.