Transmudados escrita por Dafira M


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hi galera! Bom, dessa vez não demo rei tanto certo? Bom em todo caso... Boa leitura!



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Corri pela ilha até os trilhos, pegando o caminho mais longo e torcendo pra que a garota bizarra não tenha me seguido, ou pior: que ela não esteja lá quando eu chegar,o que era muito provável que acontece-se. Agora que estava sozinho tirei a touca da cabeça para conferir se havia sofrido algum dano e passei a caminhar. Olhei mais atentamente o possível, sem encontrar nada de especial. Suspirei com certo alívio, não era muito fácil conseguir toucas novas, já que não passávamos muitas épocas de frio intenso, e querendo admitir ou não a vestimenta tem certo valor sentimental para mim. Desperto de meus pensamentos quando ouço um som de murmúrios inquietantes a alguns metros a frente, e tive certeza de que havia chegado nos trilhos. Coloquei ela de novo na cabeça enquanto fazia a promessa vazia de que não me distrairia com tanta frequencia.

A poucos metros de distância noto que o trem já estava partindo e chinguei. Parecia que meu azar seria eternamente ligado a trens, cabelo claro e toucas velhas, talvez seja um karma meio estranho, mas cada vez mais real a possibilidade dele existir. Apos pensar pelo menos umas quatro vezes, sai correndo atras da locomotiva que ainda ganhava velocidade. Não gritava para não desperdiçar energia, sabia muito bem que não havia nada a ser feito mesmo se alguem me notasse por cima do som que o transporte fazia. Digamos apenas que muitas vezes eu via pessoas correndo desesperadas, assim como eu agora, e sendo simplesmente ignoradas, o trem tinha ordens de nunca parar mais tempo do que o programado: 10 minutos. Em pensar que eu enrolei dez minutos. Um comportamento digno de um marginal. Voltei toda a minha atenção para controlar o meu fôlego e para correr o mais rápido possível, sabia muito bem que quando começassem a andar de maneira constante e em alta velocidade minhas chances de alcança-los seria inexistente. Sorri, Math sempre dizia que eu parecia um idiota metido a esperto quando usava o termo "inexistente", para isso que serviam os amigos: distrair você sem estarem ali enquanto você corria para não perder o trem.

Ergui a mão na direção de uma falha no metal e agarrei ali. Agora só faltava achar um suporte para os pés e estaria tudo resolvido. O problema é que quanto mais eu procurava mais eu notava que não tinha esse tal suporte. Resolvi improvisar. Com o sangue explodindo nos ouvidos e o corpo tremendo com o esforço localizei outra falha um pouco mais a cima e a segurei com a outra mão ao mesmo tempo que erguia os pés que não conseguiam mais acompanhar o ritmo do trem. Eles se chocavam com tal força no chão que a poucos segundos achei que iria perde-los. Aquilo não valia tanto esforço, não mesmo, tento lembrar porque estava dando tanto assim de mim, e por mais que me tenta se não conseguia. Essas seriam sem duvidas as palavras e suas variações que tenho usado mais: tentar, lutar, correr, lembrar, distrair, achar, encontrar... Fechei os olhos tudo doía, mas agora que tinha chegado ate aqui não podia parar. Puxei o ar com toda força enquanto pegava fenda a fenda ate chegar ao teto do trem. Coloquei um joelho e me arrastava sobre o teto. Quando dei por mim todo meu corpo com exceção dos pés estavam ali, cansados, machucados e acima de tudo vitoriosos. Deixei com que relaxassem parcialmente, já que ainda corria o risco de voar dali. O sol cortante do meio dia estava lá, normalmente eu o evitaria, mas alem de não ter o que fazer contra ele, seus raios estavam me passando a sensação equivocada de estar bem. Depositei minha testa sobre o metal que não estava nem frio nem quente, dessa vez eu não queria olhar ao redor, eu simplesmente queria me concentrar em não me concentrar em nada. E foi assim que eu me senti tranquilo e agitado, temeroso e aliviado, cansado e ativo, idiota e vitorioso.

Quando senti que o trem diminuía a velocidade comecei a me sentar. E a calcular o estrago, ainda estava dolorido, as minhas mãos estavam cheias de pequenos cortes, não conseguia me lembrar de ter ralado o joelho, mas ali estava minha calça rasgada em um dos lados comprovando a quase formada por completo casquinha de sangue. Porém a não ser as mãos mais nada me incomodava, e tinha certeza que se ao molar elas e enrola-las, estaria perfeitamente disposto ao segundo turno. O trem parou completamente e eu passava as mãos na testa um pouco rígida por ter ficado tanto tempo pregada na superfície que agora residia meu traseiro descansado. Observei os outros saírem do trem e agradeci de certa forma por ter passado a viagem no "capô". Todos estavam tensos e estressados, era uma massa de puro mau humor. Mas não podia culpa-los nós raramente tínhamos que fazer algo do gênero, acho que era literalmente possível contar nos dedos todas as vezes se pode passar por isso. Apesar de ser um pouco idiota, o aperto no peito que eu não havia percebido se desfez olhando para as testas franzidas de mau humor, ou os cochichos vorazes, porque parte de mim achavam que eramos todos zumbis seguindo ordens, sem revolta alguma, e de certa forma eles já estavam revoltados. Analisando o quadro poderia até dizer que eles seriam capazes de uma revolta de verdade. Pena que "poderia" é um termo um tanto... Relativo.

O trem demora 10minutos para partir, os passageiros saíram em menos de 2 minutos, o que só indicava que não fui o único a achar o estado de espírito do pessoal claustrofóbico. Virei a cabeça em um ângulo meio de lado por pura mania.

—Agora que todos estão aqui, gostaria de não ser interrompido.- fala repentinamente uma voz, que quase me fez cair do trem pelo susto que levei. Assim que me recuperei procurei a caixa que se parecia com um radio, e antes mesmo de ve.-la já sabia que estaria ali, fazendo companhia para a ferrovia.- Vamos direto ao ponto: Vocês foram trazidos ate aqui para cortar madeira como eu já havia dito, porém ao cortarem uma árvore terão que trazer o tronco ate esse descampado e cortem os pedaços até que fiquem do tamanho em que estão vendo bem ali ao lado da pequena cabana. Lá dentro vocês encontrarão ferramentas para fazer o trabalho, porem o uso do machado é obrigatório quando forem cortar as árvores, outras ferramentas serão permitidas apenas quando os troncos já estiverem aqui. Após a madeira ficar no tamanho exigido, e já tiverem alcançado a meta será trago mudas TODAS deverão ser plantadas. Em caso de dúvida tem instruções, regras em placas de ferro do lado de fora da cabana ao lado da porta. Todos devem se revesar nas tarefas.- então explodiu espalhando mais fumaça do que eu achava ser possível, algumas pessoas soltaram gritinhos, outras quase pularam de susto, e eu soube exatamente como se sentiam...

Ninguém se moveu por alguns segundos, parecendo que estavam esperando outra voz do além para mando-los ao trabalho, notei que eu havia começado a me mover, me lembrei que meu tempo estava se esgotando, não havia passado 10 minutos, disso eu tinha certeza. Pulei do trem do lado oposto s multidão de adolescentes paus-mandados e segui correndo para que o enorme saco de metal me e cobrisse, não queria me arriscar a ser visto pela menina, e não havia como evita-la porque já não me lembrava de suas feições. Quando deixei eles longe deixei com que meu sistema de camuflagem se afasta-se de mim, continuei seguindo os trilos, pois sabia que no final do "arco íris" tinha sal e água, remédio para minhas mãos ardentes. Aproveitando que minha calça já estava rasgada, terminei de rasgar as perna para formar uma bermuda molhei o tecido na água e voltei para a cabana o foco de pessoas já não existia, todos já haviam começado. Entrei e peguei um machado sai de fininho depois de olhar a meta que cada um teria que ter. Usei a lâmina para cortar em tiras os pedaços que ja havia retirado ra minha roupa, depois amarrei as tiras como se fossem ataduras na mão e no joelho machucado.

Relativamente restaurado peguei o machado e fui ao trabalho, não precisava escolher a árvore certa, pelo que notei todas da região eram plantadas para o corte.

Passar mais da metade de uma tarde concentrado na mesma coisa era exaustivo, felizmente depois de um certo ponto você deixa seu corpo tomar conta e fica apenas divagando. Quando um garoto me pede para ajuda-lo a levar um tronco até o descampado, eu já não sabia quantas árvores tinha derrubado, só sabia que meus membros estavam rígidos, cansados o que dava a impressão de estarem extremamente pesados. Depois disso eu ajudei a cortar os troncos com os equipamentos elétricos, este exercício necessitava de mais atenção, por isso logo eu já estava ajudando a carregar troncos, e mais tarde ajudei a plantar as mudas. O sol havia se posto quando o trem chegou ali com um monte de garotos suados que estavam fazendo hora no setor primário, imagino eu.

A viagem de volta foi como sempre, sem nenhum vento cegante, ou a suposta ameaça de que a qualquer momento cairia e seria estrassalhado, a única coisa em comum era que sentia dor, cansaço e uma grande nesse cidade em dormir. Então apos alguns momentos desisti de lutar contra o sono e tudo perdeu a importância, e tudo que queria fazer era respirar.

"—Você não pode.

—Porque não?

— Ainda não entende não é mesmo?

—O que não entendo?

— Tem que aguentar, não pode deixar que eles dominem você, não pode parar, a correnteza nem sempre deve ser seguida querido. Você deve lutar contra ela, mas não se deixe afogar. - a voz doce desaparece, me deixando sozinho, com meu próprio espanto. Estava escuro e eu não conseguia pensar em que fazer, precisava sentir a voz novamente. Apalpei o espaço ao meu redor, apenas para não encontrar nada. Olhei ao redor esperando qualquer coisa, mas não havia nada. Aquilo tudo era agonizante. Não ouvia minha própria respiração, por mais que tentasse, nem meus batimentos cardíacos, logo o desespero, a agonia, curiosidade, tudo foi indo embora. E enquanto me sentia sendo esvaziado meu corpo se encolhia. Não conseguia me lembrar de como era a dor, ou qualquer outra emoção, mas sabia que quando alcancei o chão eu daria tudo, para sentir qualquer coisa. Então tudo se esvaziou, não precisava, não queria, não deveria, não importava. Apenas existia para não existir. Mas havia algo, algo que não se pode sentir, nem ver, muito menos tocar, algo que você não sabe, mas esta ali.

E aquilo lutava.

Então eu soube, que o que eu não podia sentir, ouvir, tocar, ver, era tudo que eu era, não porque me fazia ser do jeito que eu sou, mas sim porque sempre estaria comigo. Aquilo, aquele vazio tão cheio, não poderia ser esvaziado nem preenchido. Então como um sopro final eu soube o que nunca saberia."

Não conseguia respirar. Cerrei os olhos e me forcei a puxar o ar. Minhas costas encharcadas estavam precionadas contra uma poltrona de trem. Suspirei e fiquei prestando nas batidas de meu coração. Sabia que tinha dormido, porque já era possível ver o meu ponto onde desceria e iria para casa. Mas sentia como se tivesse piscado com força.

Me foquei em descer do trem, o ar estava melhor do que eu conseguia me lembrar, comecei a andar na direção de casa puxando o ar cada vez com mais vontade, e ficava tentando localiza-lo passando pelas minhas veias, mas não conseguia, só sentia a sensação dos pulmões puxando e soprando, a sensação do coração contraindo e dilatando. Não fazia ideia de porque, mas sem duvidas, aquele era o momento mais feliz que eu sentia desde um certo tempo. E eu estava me dedicando plenamente naquilo. Nem percebia as pessoas me olhando de olhos arregalados e se desviando com grande velocidade de mim ou o fato de que alguns meninos puxavam o ar e estuvam o peito erguendo a cabeça e depois fingiam cair no chão gargalhando. Percebi apenas que agora já estava na minha cama, e que fiquei inspirando e expirando, como um retardado, por vários minutos até cair no sono, só que dessa vez, realmente tive certeza de que dormi, não pensei sequer um momento que havia apenas comprimido as pálpebras com força, para depois abri-las. E isso me deixou completamente feliz, tão feliz que nem me importei com o filete de baba seca que estava na minha bochecha, o que a deixava meio grudenta, ou a minha garganta seca demais provocando uma rouquidão desconfortável, ou o fato de que os testes para o casulo eram obrigatórios este ano, e que estavam cada vez mais próximos.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Não? Coloquem ai no comentário o que pode ser melhorado para aumentar a qualidade da fanfic, se não acharam nada a ser "aprimorado" coloquem o que gostariam que fosse mantido, o seja: o que mais gostaram na trama! De qualquer forma, se não puderem comentar, apenas espero que tenham gostado! É isso ai! Ate o próximo cap. Galera!



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