Um alvoroço se instalou por todo o reino, as pessoas corriam de um lado pro outro gritando assustadas com a repentina escuridão.

–Foram os visitantes da lua!

–Essa história de casamento não passa de um plano para conquistar o nosso reino!

Élber e Santiago nem tiveram tempo para lhe dar com aquele beijo, voltaram correndo para o castelo onde uma briga estava prestes a começar.

–Nós os recebemos em nossa casa e vocês nos traem dessa forma! –Gritava o rei do sol.

–Não fizemos nada! –Retrucava o rei da lua.

De repente o aparelho de comunicação portátil do rei da lua tocou, ele atendeu e aflito comunicou as informações que acabara de receber.

–Acaba de se tornar dia no reino da lua! Veja que não foi nossa culpa! Como poderíamos fazer uma coisa dessas? É como se...

–Se o mundo começasse a girar –Disse Santiago chamando a atenção de todos.

–E como vamos resolver isso? –Perguntou a rainha do sol –Desse jeito vamos fazer o que? Mudar o nome dos reinos?

–Nossas plantas não sobreviverão sem a luz do sol! –Lamentou-se o rei do sol.

–Vem comigo! –Cochichou Santiago puxando Élber.

Os dois foram até o quarto do príncipe.

–O que aconteceu?

–Acho que o mundo girou quando nos beijamos.

Aquela parecia uma ideia ridícula, como um simples beijo podia fazer o mundo girar? Mas aquele não era um simples beijo.

–Me desculpe Santiago eu não sei por que fiz aquilo, eu... Nunca fiz isso antes.

–O que? Beijar ou beijar um menino?

–Já beijei antes, mas nunca um... menino.

–Então você acha que foi um erro!? –Gritou Santiago, ele estava com raiva, estava magoado com seu primeiro beijo, pensou em esquecer aquilo, em nunca mais...

Élber o abraçou, só então Santiago percebeu que estava tremendo.

–Desculpe, não acho que foi um erro, talvez... Devêssemos nos beijar novamente para ver o que acontece.

–Tem razão, sabe, de modo totalmente cientifico.

–Exatamente.

Os dois se aproximaram encabulados e novamente encostaram seus lábios, seus corações aceleraram e se aqueceram, foi um beijo mais longo e com mais vontade do que o primeiro. Pili e Lion se olharam e resolveram sair do quarto. Quando os dois garotos se afastaram se encaravam como se enxergassem o mundo de outra maneira.

–Funcionou –Disse Élber.

–O que? –Perguntou Santiago sem conseguir desviar o olhar daquele rosto bonito do outro.

–Voltou a ser dia.

–Que se dane isso de dia e noite.

Santiago puxou-o num beijo e Élber não mostrou resistência, eles caíram na cama se beijando e se acariciando, provocando sensações calientes em seus corpos, se beijaram por muito tempo e depois ficaram ali, abraçados por um tempo ainda maior.

–O que estamos fazendo? –Perguntou Élber.

–Bem, não tenho certeza, mas... Lembra que eu disse que minha mãe tinha raiva de mim? Foi quando ela descobriu que eu gosto de garotos e ficou toda: “O que os outros vão pensar?! Onde já se viu? Um príncipe ga...”. Você sabe.

–Então você já esteve como outros garotos?

–Não! Você foi o primeiro! Sempre tive vontade, mas...

–Como foi que sua mãe descobriu?

–Ela me viu olhando umas fotos de homens... De homens sem roupa!

Élber caiu na risada imaginando a cena. Cara que vergonha seria se a mãe dele o visse fazendo tal coisa!

–Mas como foi? –Perguntou Élber.

–O que?

–O beijo.

–Ahh sim, você beija muito bem. E o que você achou?

–Bem, a última pessoa que eu beijei tinha a língua parecendo veludo –Santiago não gostou muito da resposta do outro, mas resolveu dar uma chance para aquilo que estava sentindo.

–A gente se beijou tanto que o sol e a lua devem ter praticamente dançado no céu.

Eles saíram e descobriram que ainda era dia. Devido ao acontecido o rei da lua resolveu ir para casa, Élber ficou muito triste.

–Mas nós acabamos de chegar pai!

–Não se preocupe Élber, você verá a Luiza em breve, mas por enquanto é melhor nos retiramos, enquanto os ares se acalmam.

–Esperem! Élber! –Santiago veio correndo com um pacote nas mãos e o entregou para seu “amigo” –Um presente de despedida, desculpe a confusão, tenho certeza de que um dia nossos reinos se darão bem.

–Também anseio por isso –Ele abriu o pacote revelando uma caneca –Ela é linda!

–Foi feita com a melhor porcelana do reino do sol.

Eles se abraçaram se despedindo, Élber subiu na carruagem e foi segurando seu presente durante todo o caminho pra casa.

No reino do sol, a rainha foi falar com seu filho:

–Não estou gostando nada dessa sua amizade toda com o noivo de sua irmã!

–Qual é o problema em sermos amigos?

–Não tenho certeza se você pode ter amigos homens, afinal depois do que eu vi naquele dia...

–Mãe pode parar com isso!

–O problema é o que o povo vai pensar e...

–Que se dane! A senhora se preocupa mais com o que os outros vão pensar do que com minha felicidade! Eu não vou deixar de ter amigos por causa dos outros!

No reino da lua Élber estava deitado em sua cama segurando a caneca que ganhou de presente, era tão bonita e... especial. Se lembrou dos beijos que trocara com o Santiago, não conseguia parar de pensar nele. A rainha da lua entrou no quarto:

–Que milagre é esse que você esta ai tão quieto diabinho? Achei que estava por ai aprontando com o Pili.

–Só estou um pouco indisposto hoje mãe.

–Espero que não esteja ficando doente, toda vez que você fica gripado parece que esta com uma doença terminal, oh menino exagerado! E além do mais o dia do seu casamento logo chegará, vou realizar o meu sonho!

–O fim da guerra?

–Não, bem também, mas meu sonho é ser avó!

Danou-se!

Durante horas Élber ficou ali deitado.

–Me casar! Me casar com aquela chata da Luiza. Odeio essa história de casamento arranjado! Queria poder casar com quem eu bem entendesse! –Se lembrou de quando estava em Campos Formoso, de quando por impulso beijou o príncipe do sol –Santiago –Então lembrou de sua mãe dizendo: “meu sonho é ser avó” e sentiu seu estomago doer –Dois homens não podem gerar um filho.

A guerra só terminaria com a união das duas famílias, Élber teria que se casar com Luiza para salvar várias vidas, mas ele não poderia se casar com o Santiago? Ele balançou a cabeça:

–Esse sentimento deve ser passageiro vai passar.

Um semana depois, ou talvez duas, nunca se sabe, Élber ainda não parava de pensar em Santiago, sonhava com ele todas as noites, uma vez chegou a chorar. Certo dia, ou noite, seus pais anunciaram a data do noivado que aconteceria no reino da lua, já que o casamento seria no reino do sol.

O dia tão esperado chegou, ou noite, varias carruagens do reino do sol vieram para cerimônia de noivado, a noiva estava linda, mas com um sorriso bem falso e mal disfarçado. Élber ainda se arrumava de mal humor quando bateram na porta:

–NÃO VOU DEMORAR BASTARDOS DE MERDA!

–Nossa não conhecia esse seu lado tão arrogante –Disse Santiago entrando no quarto.

–Santiago! –Élber nem tentou esconder o entusiasmo e correu para lhe dar um abraço e quando o fez se descontrolou e começou a chorar.

–O que foi?!

–Eu não quero me casar com sua irmã, ela é feia e chata.

–Se acalme, olha pra mim –Ele segurou o rosto do outro e quando viu aqueles olhos verdes chorosos ao invés de consola-lo começou a chorar também –Eu não quero que você case com minha irmã feia e chata, quero que case comigo.

Ouvi-lo dizer aquilo, aqueceu o coração de Élber.

–Eu não parei de pensar em você nem se quer por um dia.

–Eu também não! Fui aos Campos Formosos várias vezes, o local se tornou ainda mais especial para mim, pois foi o lugar de nosso primeiro beijo.

–Não me importo se você é menino, quero ficar com você!

Os dois se beijaram como se estivessem com fome, com fome de toque, de desejo, de amor. Dessa vez esse desejo se manifestou sem controle, Élber trancou a porta e se entregou. Os beijos foram ficando cada vez mais quentes e logo os dois estavam sem roupa, deste modo foram conhecendo o corpo um do outro, tocando, alisando, beijando, chupando, enfiando. Os dois controlavam os gemidos, faziam caras e bocas enquanto davam prazer ao outro, se abraçavam, mudavam de posição, entendiam os limites entre a dor e o prazer e juntos chegaram ao ápice.

No final estavam abraçados pelados deitados na cama.

–O que vamos fazer Santiago?

–Não sei, nós podíamos fugir.

–Fugir pra onde? Só existem dois reinos, não tem como eu me esconder no meu todo mundo me conhece.

–No meu também.

–Talvez eu devesse mesmo casar com sua irmã e nós podíamos ficar assim em segredo –Santiago se magoou com aquela oferta.

–Eu não posso viver assim, como acha que eu me sentirei ao vê-lo beijando minha irmã? Ao vê-la grávida de você?

–Desculpe, eu...

Começam a bater na porta, os dois se levantaram num pulo e começaram a se vestir.

–Já vai!

–Que demora é essa Élber?! –Era sua mãe –A noiva já esta lá a quase uma hora!

–Eu tive uma daquelas minhas dores de barriga!

–Então se apresse! Eita menino cagão!

Ela foi embora e Santiago caiu na risada.

–Para de rir!

–Eu acho sua mãe bem legal.

–Ela é, mas não vai ficar nada feliz quando souber que gosto de você e não da sua irmã.

–Você pretende contar?

–Sim, um dia.

Eles desceram e participaram de toda aquela encenação de noivado, mas nenhum deles sabia o que fazer, queriam ficar juntos mais do que tudo, entretanto seu amor era mais do que proibido, era maléfico. Os convidados riam, era algo bonito de se ver, pessoas do reino da lua e do reino do sol, comendo juntos, rindo das mesmas piadas, estavam prontos para dar um fim àquela guerra sem sentido.

Quando todos foram dormir, Santiago saiu de mansinho novamente e foi para o quarto de Élber.

–Oi diabinho.

–Sabia que você viria anjinho.

Os dois príncipes começaram a se pegar novamente, entretanto Santiago foi seguido sem que percebesse, como todos estavam dormindo Élber não se preocupou em fechar a porta, ela foi aberta vagarosamente. O intruso viu os príncipes se beijando só de cueca.

–Nossa, por essa eu não esperava! –Os dois pularam num baita susto vendo o intruso ali parado.

–Luiza?! –Exclamou Santiago.

–Obrigada irmão, agora tenho um motivo real para acabar com essa baboseira de casamento.

Luiza tinha vontade de se casar tanto quanto Élber, ou seja, zero! Aquela notícia sem dúvida daria um fim naquele casamento, mas a que custo?