A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 26
No distrito 12


Notas iniciais do capítulo

Voltar ao 12. Voltar ao começo de tudo. Será que a vida é assim? Sempre voltamos ao início da tragédia...?



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Voamos em silencio. Só se ouvi o zumbindo da aeronave. Estão todos apreensivos, concentrados, tentando adivinhar o que nos espera e isso deixo o ar como desse para fatia-lo de tão pesado. Engulo em seco várias vezes, acho que já não tenho mais saliva. Sinto um peso no peito, um presságio talvez. Começo a esfregar as mãos ansiosa, na calça. Peeta segura uma delas e me olha.

– Fique calma. - sussurra para mim.

Sorrio para ele e me levanto, tento olhar pela janela minúscula. Não vejo nada pois estamos acima das nuvens para ficar fora dos radares da Capital. Me sento de novo agarrando a mão de Peeta, ele afaga minhas costas. Só nesse momento percebo que Gale está nos olhando ou melhor, nos fulminando com os olhos.

– O que foi? - Peeta pergunta ríspido.

O queixo de Gale se contrai. Não gosto do que estou vendo.

– Passageiros devem permanecer sentados para a sua segurança. - diz Gale num tom provocador.

– Isso aqui não é uma viagem de turismo, somos soldados. - rebate Peeta.

– Sério? E o que você vai fazer quando um soldado da Capital te encostar? Vai sair gritando e se esconder atrás da Katniss?

– Talvez eu me esconda atrás de sua cabeça depois de arranca-la fora.

Gale levanta. Peeta também. E eu mais uma vez tento impedir. Estão todos nos olhando.

– Para com isso Gale. Peeta por favor... - peço.

Gale fez um gesto lançando um beijo para Peeta.

– Adorei o beijo. - me olha. - Podemos repetir quando quiser.

Eu baixo os olhos envergonhada e Peeta se lança sobre ele. Os dois se agarram, passos pesados como chumbo ressoam pelo corredor de metal e Boggs separa os dois. É impressão minha ou ele pode levantar um em cada braço, a milímetros do chão se quiser?

– Que droga está acontecendo aqui?

Peeta e Gale se afastam. Boggs nos olha, irritado.

– É a segunda vez. - faz uma pausa e continua. - Se houver uma terceira, vou descer aqui mesmo e expulsa-los como desertores, os três e eu tenho autoridade para fazer isso. Fui claro? - grita.

Um "Sim senhor." É ouvido sonoramente. Puxo o braço de Peeta e nos sentamos. Boggs chama com a mão um rapaz de aparência latina.

– Fernandes, troque de lugar com Gale.

Gale abre a boca para protestar, mas Boggs o encara incisivamente e ele desiste, indo para o lugar de Fernandes.

Olho para Peeta. Ele da um breve sorriso e segura minha mão. Me sinto mais aliviada, a ansiedade diminuindo um pouco. Preciso dele perto de mim. Nunca poderemos nos separar. Mas a Capital é ardilosa.

Estávamos preparados para receber uma tropa de resistência da Capital assim que chegamos ao extinto distrito 12. Mas não havia nada.

Apena os escombros da destruição e o vento soprando e erguendo insistentes redemoinhos de cinzas no ar, que nunca desapareciam. Ver aquilo de novo faz meu estômago revirar e Peeta está chocado, engolindo em seco várias vezes diante do cenário de morte.

Não sobrou ninguém da sua família. Vejo uma lágrima solitária correndo pelo seu rosto com uma expressão sofrida ao ver o que restou de sua casa.

– Sinto muito. - digo e aperto sua mão.

Ele apenas acena, sabe que realmente sinto de verdade.

Nas entranhas da montanha, o túnel é escuro, frio e tem um cheiro estranho que ninguém consegue identificar, por isso estamos usando máscaras contra qualquer tipo de gás tóxico. Pedras e escombros da explosão na mina estão espalhados como pequenos lembretes.Algumas são brancas e as acho estranho, mas passa despercebido. Preciso ficar concentrada. Foco.

– Está silencioso demais. - Peeta comenta.

Estou do seu lado e me sinto tensa com um mau pressentimento.

Gale revira os olhos com seu comentário e segui mais a frente com outros soldados.

O ar fica mais pesado.

De repente, ouço uma espécie de silvo, tão baixo que penso ser alucinação. Então torna-se mais alto e todos ouvem, olhamos uns para os outros e a nossa volta, procurando, assustados pois não vemos nada e aquilo parece estar em todo lugar. O som continua, um sibilar que agora parece dizer algo ainda indecifrável.

– O que é isso? - não gosto da expressão do rosto de Boggs. Não gosto nem um pouco.

O sibilar desaparece. Tudo fica em silencio.

Até que eu ouço. "Katnisssss." E todos ouvem.

"Kaatnissssss, morraaa Kaatniiissssss".

Numa fração de segundos, alguns soldados gritam, vejo-os cair no chão se contorcendo.

Percebo então que as pedras brancas não são pedras, mas estranhos casulos que se abrem e deixam escapar uma nuvem branca, expeça, como a névoa venenosa da arena, porém, essa é ainda pior pois ela não causa só queimaduras, ela corrói tudo. Roupas, carne, músculos, até os ossos.

Os primeiros soldados que caíram são mortos instantaneamente, sem tempo de fazer nada por eles. Corremos todos em meio aos gritos de dor. Sempre gritos de dor. Peeta me puxa para fora, Gale e Boggs dão ordens ao berros.

Estou ofegante e todos arrancam as máscaras pois elas estão derretendo em nossas caras. Está quente, meus braços queimam.

– Corre. - grita Peeta. - Vai pra fora, vai.

Mais casulos se abrem. Nossa formação de combate, agora parece um bando de formigas alvoroçadas pela fumaça no formigueiro. Corremos em direção a saída e lá, algo nos espera.

Planadores da Capital." Estamos mortos".

Vejo nossas aeronaves nos dando cobertura do jeito que podem. Não vejo Peeta, nossas mãos se soltaram.

– Peeta! - grito entrando em pânico e penso em nossa filha. "Aconteça o que acontecer vamos voltar ...".

Mal tenho tempo de lembrar das palavras dele direito e sinto o chão tremer. Um clarão explode, me arremessando contra alguma coisa e não vejo mais nada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por todos estarem acompanhando, comentando e gostando tanto. Meu imenso carinho para vocês.



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