A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 25
Partida


Notas iniciais do capítulo

Chega o momento. O chamado é feito. O Tordo conseguirá vencer?



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Me mexo nos braços de Peeta. Estamos de frente um para o outro, nossas pernas entrelaçadas, Ele me aconchega mais, sua pele está quente, cheira a suor e alecrim e amo esse cheiro, por que é dele e agora está em mim também. Seus dedos traçam desenhos suavemente em minhas costas, deslizando pelas curvas do meu corpo e descendo até mais embaixo, me causando arrepios e sensações em lugares que eu não sabia que podia sentir. Assim como eu ele está quieto. Memorizando, absorvendo, aproveitando esses últimos instantes que temos de estarmos juntos. Ver o céu, sentir o calor do sol e um pouco de ar puro vindo do interior da floresta.. Do lado da margem onde estamos já está todo sombreado. Olho no meu relógio e vejo que são quase três horas. Devem estar nos procurando.

– Temos que voltar. - digo contra a vontade, não querendo quebrar o clima calmo e feliz.

Ele respira fundo.

– Você tem razão.

Ainda com um sorriso bobo, nós dois recolhemos nossas roupas e nos vestimos. Ele me olha enquanto visto a roupa íntima sorri e eu coro. Peeta ri mais ainda. Também olho ele se vestindo, mas com olhares furtivos e mesmo com a cueca boxer, me lembro daquele bumbum e que minhas mãos estiveram ali acariciando-o, e eu gostei muito, mordo o lábio para não deixar escapar um sorriso e ele me pega no flagra.

– Também gostei. - diz e me dá uma piscadinha.

Balanço a cabeça rindo e revirando os olhos e nesse momento, um tordo canta no fundo da floresta. Peeta e eu nos entreolhamos. A calmaria se foi. O ar está tenso, misterioso. Parece um chamado. Peeta pega sua camisa vestindo-a, fechando só alguns botões e de mãos dadas refazemos todo caminho que Beetee nos ensinou.

Ao sairmos da academia, damos com uma leva de pessoas que correm para o salão oval. Boggs para a nossa frente e nos olha desconfiados.

– Onde estavam? Não ouviram o comunicado pelo alto falante?

Só ai percebo a voz metálica dizendo algo que não consigo prestar atenção vendo o corre corre das pessoas.

– Não ouvimos, o que está acontecendo? - Peeta pergunta rápido antes que mais perguntas embaraçosas seja feitas.

Como todo militar, Boggs parece indignado com aquela falta de disciplina, mas responde assim mesmo.

– Vão todos para o salão oval, a presidente Coin vai fazer um comunicado. - se vira andando de pressa.

Peeta e eu o seguimos. O salão está lotado.Vejo Gale encostado num canto com os braços cruzados. Ele está com um olho roxo, outra mancha roxa no canto esquerdo da boca e um curativo no supercílio. Agora entendi o que Peeta quis dizer que havia esclarecido algumas coisas para ele. Desvio o olhar pois Peeta está olhando na mesma direção e não quero mais encrenca. Presto atenção na presidenta.

– Me escutem todos. - começa ela. - O distrito 5 nos mandou os suprimentos que precisávamos. A partir de agora, todos que estão nos pelotões se preparem para embarcar.

Muitos vozes enchem o salão. Famílias com medo, soldados vibrando com a expectativa da batalha. Mas eu sei que agora é hora do Tordo mostrar sua força. Aperto a mão de Peeta, por que tenho medo de falhar, tenho medo de derramar mais sangue inocente.

– Vai dar tudo certo. - diz ele para mim. E a serenidade em seus olhos me diz que sim.

– Por favor Katniss, não vá.

Abraço minha irmã. O gato choraminga como se repetisse o pedido de Prim.

– Vamos ficar bem. Tudo vai dar certo. - repito a frase de Peeta.

Me dou conta de estar agindo do mesmo modo antes da Colheita e ela ter sido indicada como tributo. Só mudei as palavras.

Ela se lembra.

– Você devia ter me deixado participar dos jogos. Seria apenas uma morte.

Seguro seus ombros com força. Eu a acho bem mais adulta do que eu, mas nesse momento ela parece assustada.

– Nunca mais diga isso entendeu? - digo firme. - Não é culpa sua. Tudo isso que está acontecendo não é culpa sua, a Capital nunca mais vai brincar com nossas vidas apenas para se divertir.

Os olhos dela cheios de tristeza e lágrimas olham para a minha alma.

– Você não vai voltar até matá-lo não é?

Ela está falando do presidente Snow e eu balanço a cabeça confirmando. Estou vestida com o ultimo uniforme do Tordo que Cinna criou. A ultima roupa para o ultimo ato. Faz sentido. E depois? Quando as cortinas se fecharem, ainda estarei viva para receber os aplausos? Todo o elenco dessa mórbida peça estará no palco? Não tenho resposta. Sei apenas que preciso lutar.

Peeta chega com nossa filha nos braços. Minha mãe e Gale estão com ele. Desamarro a pérola negra do meu pescoço e entrego a Prim.

– Quero que guarde para mim. Por que eu vou voltar para pega-la de volta. Tudo bem?

Ela apenas guarda o cordãozinho em silêncio, mas vejo a verdade em seus olhos, ela sabe que na verdade a pérola negra é uma lembrança para minha filha se... se acontecer alguma coisa. Pérola parece sentir o clima pesado e começa a chorar e quando eu a entrego para minha irmã, ela se curva esticando os bracinhos querendo voltar para Peeta e eu.

Nós dois damos um beijo nas bochechinhas rosadas.

Gale assiste aquela cena, mudo, seu rosto está endurecido e não faço ideia do que está pensando. Olho um instante para minha mãe com sua expressão vaga e distante.

– Mãe, precisa cuidar delas certo? - olho para Prim segurando minha filha. - Elas vão precisar de você, não pode fazer de conta que não está acontecendo nada.

Ela me olha e pela primeira vez vejo que está presente.

– Eu sei Katniss. Não vai ser como da outra vez. Eu vou cuidar da sua irmã e da minha neta.

Assinto várias vezes, em silencio, piscando e engolindo em seco, não quero chorar. Não posso fazer isso, tenho que ser forte.

Nos afastamos, ouvindo o choro de Pérola. Meu coração está esmagado, mas não olho para trás pois se fizer isso sei que não conseguirei partir, então penso em Snow e nas vidas que ele tirou tão precoce para seu divertimento e punir aos distritos. Meus passos se tornam mais decididos até que estou correndo em direção a plataforma de embarque.

Ah uma enorme movimentação de soldados, armamentos e caixas sendo carregadas para os planadores e Boggs divide os pelotões aos berros com um megafone.

– Pelotão em direção ao 12 embarcar agora.

Respiro fundo e subo a rampa seguida por Peeta, Gale e outros soldados. Sinto um bolo no estômago. Voltar ao meu distrito e rever tudo aquilo, as cinzas, destroços e o cheiro de carne queimada me deixa apreensiva. Tenho medo de surta e sair correndo feito uma doida varrida.

Nós acomodamos nos assentos e Peeta que estava tão silencioso, pega minha mão de súbito, me olhando intensamente.

– Katniss me prometa que seja como for, nós dois vamos voltar. Não importa o que tivermos que fazer, nós dois vamos voltar por nossa filha.

Eu confio nele. E me encoraja ouvi-lo falar assim. É bom tê-lo perto de mim outra vez.

– Eu prometo. - respondo fitando em seus olhos azuis que estão bem escuros.

Continuamos nos olhando, em silêncio, com aquela promessa nos olhos.

Sobre as cinzas do distrito 12, nas entranhas de sua montanha mais íngreme, ficava o túnel do trem que dava acesso a Capital. Foi para lá que a presidenta Coin e Plutarch, junto com o conselho organizou e mandou as tropas em peso, com um plano de invasão que à seus olhos parecia infalível.

Só parecia...


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer a todos os meus leitores que comentam fielmente e desejar boas vindas aos novos que estão chegando. Um abração enorme. Vocês me incentivam e escrever cada vez melhor.