Illinois – Chicago

KATE

Eu sempre fui o que chamam de “garota perfeita”. Certinha, responsável e sonhadora. Sempre tive muitos sonhos, objetivos e ambições. Queria muito ser advogada ambientalista. Sabe aquelas pessoas que sabem desde cedo o que querem fazer da vida? Eu era uma delas.

Sempre que tentava imaginar meu futuro daqui dez anos, conseguia visualizar facilmente como seria. Com certeza estaria casada com Brian, meu namorado desde os meus quinze anos e meu melhor amigo desde que me entendia por gente. Estaria fazendo planos para ter filhos. Um casal de preferência. Não que isso fosse importante, mas era como eu imaginava.

Não sei se você reparou, mas eu QUERIA ser advogada ambientalista, ESTARIA casada com Brian, e IMAGINAVA que era assim que seria minha vida. Todos os verbos conjugados no passado.

Sempre planejei minha vida desde pequena, sempre fui muito resolvida comigo mesma e sempre estive certa do que queria pra mim. Mas de uns meses pra cá as coisas estão bem diferentes. Meu mundo mudou e eu também.

Todos os planos que fiz na minha vida foram de água abaixo, e as pessoas que faziam parte dos meus planos não estão mais em minha vida.

Agora você deve estar se perguntando, porque? O que aconteceu?

Há alguns meses atrás, no dia do aniversário do Brian, especificamente dia 11 de março, eu estava indo em direção a casa dele depois de comprar algumas coisas para comemorarmos a data. Ele havia me dito que não conseguiria chegar do trabalho no horário de sempre, mas que me avisaria quando chegasse. Então, tomei a liberdade de ir até o apartamento dele, já que eu tinha uma chave reserva, e preparar uma pequena surpresa pra quando ele chegasse.

Entrei, coloquei as sacolas no chão e fui até o quarto dele para usar o banheiro da suíte. Quando abri a porta ouvi um grito feminino e me assustei. Naquele milésimo de segundo nada me passou pela cabeça, só olhei para frente em direção à cama. Vi Brian com uma mulher. Mas não era qualquer mulher, e sim minha melhor amiga, Jenna. Levou alguns segundos para que eu conseguisse processar o que eu estava vendo.

– Há quanto tempo? — Eu disse com a voz trêmula.

– Kate... — Brian me olhou nos olhos.

– Não responde, eu não quero saber.

– Kate, não é nada disso que você está pensando, eu só estava...

– Cala a boca. — Virei e olhei para o Brian — Feliz aniversário. – Disse seca.

Foi naquele momento que meu mundo parou de fazer sentido. Pode parecer besteira ou pouco pra alguns, mas aquela traição tirou um pedaço de mim. Uma traição em dose dupla, das duas pessoas que eu mais confiava.

Eles eram tudo o que eu tinha. Minha mãe morreu quando eu tinha sete anos de idade, e meu pai está sempre viajando a negócio. São raras as ocasiões que o vejo em casa. Quem me criou foi minha babá, cuidou de mim como se eu fosse sua própria filha. Mas isso nunca foi um trauma na minha vida, sempre fui muito independente e compreensiva.

E agora, 3 meses depois eu nem me reconheço mais. Virei uma pessoa completamente diferente. E sinceramente? Não sei se isso é bom ou ruim. Mas às vezes sinto falta do que eu era.

– Mas que droga de despertador! Quem ativou essa merda? — Ótimo, agora estou falando sozinha.

Saí da minha cama, e no momento em que me levantei senti uma dor de cabeça enorme. Desci as escadas tentando encontrar da onde vinha aquele som. Como sempre, não tinha ninguém em casa. O alarme continuava a disparar e eu não conseguia encontrar em lugar algum. Subi as escadas novamente, entrei no quarto e me joguei na cama.

Após alguns minutos – que na verdade se pareceram segundos – o alarme disparou novamente.

Levantei, e a essa altura já havia desistido de procurar e fui ao banheiro. Lá dentro encontrei uma jaqueta estranha jogada no chão, uma jaqueta masculina. E para minha surpresa o alarme vinha dali. Enfiei as mãos nos bolsos e lá estava um celular, um celular que não era meu. Ao olhar para a tela, percebi que na verdade aquele som não era o alarme, e sim alguém ligando. Resolvi atender.

– Alô?

– É, oi... Kate né? – Uma voz masculina respondeu.

– É – Respondi confusa.

– Ontem à noite esqueci minha jaqueta na sua casa e meu celular estava no bolso, como você já reparou... – ele fez uma pausa – Será que você poderia descer e entregar minhas coisas? Eu estou aqui no portão.

– Tudo bem.

Isso é muito estranho! – Pensei sozinha.