All you need is love escrita por Jowlly


Capítulo 1
Faça o que tem de fazer


Notas iniciais do capítulo

Sinopse:
Tanta coisa que a gente complica, sendo que é tão simples quanto somar dois mais dois. Tá ali, bem debaixo do seu nariz. A resposta que você sempre quis, a pessoa que sempre procurou. Já te disseram que o amor é cego? Pois é, ele não é cego. Ele nos cega. Malu pode dizer isso mais do que ninguém.

Cega por um amor obsessivo e impossível, ela não conseguiu notar o que estava bem na sua frente. Ela complicou as coisas que poderiam ter sido tão fáceis. Ter evitado tanta dor.

Ela só precisava fazer o que tinha de fazer.



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— Por favor, Malu. Volta pra mim — De joelhos, com um buquê nas mãos, Alex implora que eu o aceite.

Essas palavras de Alex me lembraram as que eu disse algum tempo atrás. “Eu não vou passar o dia dos namorados sozinha! Se não passei esses três anos, esse ano não vai ser diferente! Ele vai estar comigo!” E olha ele aqui, no dia dos namorados, com um buquê de rosas na mão.

Sei que sou alvo de muitos olhares. E que todas as garotas do colégio dariam tudo para estar na minha pele agora. Não é para qualquer uma que Alex Brimond, capitão do time de futebol, o garoto mais lindo e inteligente, em termos mais simples, um garoto perfeito, se ajoelha na frente de toda a escola, com um buquê de rosas nas mãos, implorando que uma garota o aceite como namorado.

Se isso tivesse acontecido uma semana atrás, eu teria me sentido a garota mais sortuda desse mundo, como todos agora devem achar que sou. Eu teria me jogado em seus braços e dito milhares de vezes que “sim”. Da mesma forma como idealizei por todos os meses que se seguiram. Alex Brimond e Maria Luíza. O casal perfeito.

Ah, se isso tivesse acontecido uma semana atrás.

Mas não aconteceu. Me lembro como se fosse ontem a noite que Pedro chegou em casa, há vários meses atrás, quando eu me negava a ver qualquer um. Me negava a comer, a sair de casa, e muito menos a ir a escola. Ele se sentou ao meu lado, me abraçou como sempre fez.

— Oh, Malu. Você precisa ver que isto, mesmo que não pareça agora, foi o melhor que poderia te acontecer. Alex nunca te mereceu, Malu. Ele não merece suas lágrimas.

Pedro nunca foi com a cara de Alex. Desde que ele tinha me pedido em namoro três anos atrás. Sim, três anos. No nono ano do Ensino Fundamental ele tinha me escolhido como sua namorada. Alex e Malu. O casal com que todos estavam acostumados. O casalzinho perfeito. Só Pedro que nunca foi com a cara dele. Dizia que ele era “perfeito demais”.

Eu ria na maioria das vezes em que Pedro torcia a cara quando falava dele. Eu dizia que ele só estava com ciúme por que sempre passei muito tempo com ele, e agora tinha outra pessoa pra conversar também. Ele nunca me desmentiu. Claro, sempre fomos amigos desde que me entendo por gente. Pedro e eu passávamos horas conversando. Não era de admirar que ele não gostasse da nova situação.

— Ele é um babaca.

Esse era sempre seu argumento. Não é que ele estava certo? Alex era um babaca mesmo. Quem diria que depois de três anos de namoro ele iria me dizer que se sentia preso demais a mim e que precisava “experimentar coisas novas”? Ah, eu nunca tinha me sentido tão mal na vida. Minhas notas caíram devido as muitas aulas que perdi. E o Alex? Se agarrando com qualquer menina que desse bola para ele — o que acontecia frequentemente.

A única pessoa que me sobrou foi o Pedro. Ele que ia me visitar e que passava horas conversando comigo, e suportando todas as lamúrias de uma idiota apaixonada. Foi o abraço dele, do meu melhor amigo de muitos anos, que estava sempre presente durante os muitos meses que fiquei depressiva por causa de um babaca. Já ouvi uma frase que diz que namorados vem e vão, mas melhores amigos permanecem para sempre.

E o Alex provou que ele não iria fazer aquilo. Afinal, foi por culpa dele que fiquei daquele jeito, não foi? Foi por esse garoto ajoelhado na minha frente agora que eu derramei um monte de lágrimas. Não que eu ainda tenha raiva dele. Por incrível que pareça, não estou mesmo. Tive muito tempo pra pensar no assunto.

E também pra pensar nas loucuras que fiz para tê-lo de volta. E que nunca vou voltar a repetir.

Eu estava mesmo louca. Acho que pelo fato de nunca ter me apaixonado por alguém da forma como me apaixonei por Alex. Não sinto vergonha, mas nunca farei aquilo de novo. Pelo menos, não por quem não merece. Afinal, será que Alex merecia aquilo tudo? Primeiro, eu ter me humilhado até ficar do tamanho de uma mosquinha por ter mandado aquela mensagem implorando que nos encontrássemos na sorveteria para que ele apenas me explicasse o que tinha acontecido.

— Ele não vai, Malu. — Pedro disse simples enquanto eu corria de um lado a outro do quarto procurando o melhor brinco.

— Ai Pedro, é claro que ele vai! Ele nunca me deu um bolo nos três anos que ficamos juntos. Se ele não me mandou nem uma mensagem cancelando, é por que ele vai.

— Acontece que agora vocês não estão mais juntos.

Eu parei no meio do quarto e fiquei encarando-o. Eu não sei por que ainda me surpreendia com as atitudes de Pedro. Ele nunca se importou de dizer a verdade, por mais dura que fosse. Talvez seja isso que eu goste mais nele. Mas naquele momento, eu só queria que ele concordasse e dissesse “Ah, Malu. É claro que ele vai. Aquele cara te ama”. Ainda mais, por que eu mesma não tinha tanta certeza se ele iria.

— Qual é melhor, Pedro? A rosa ou azul? — Mostrei as duas pulseiras, ignorando totalmente sua ultima fala. Ele suspirou e girou os olhos.

— Eu não entendo nada disso, você sabe. A garota aqui é você.

Depois que eu já estava pronta e toda arrumada, eu pedi que Pedro me levasse até a sorveteria, já que eu ainda não dirigia. Assim que tínhamos parado em frente a sorveteria, ele só disse uma única coisa antes que eu saísse.

— É sério, Malu. Ainda da tempo de voltar. Eu não quero te ver do mesmo jeito que semana passada.

— Ele não vai me decepcionar, Pedro. Ele nunca fez isso.

Mas ele foi? Pelo menos não nas duas horas que fiquei ali.

Fiquei imaginando o que teria acontecido para ele não ir. Primeiro pensei que ele só tinha se atrasado. Só que depois de quarenta minutos, atraso não era uma desculpa boa o bastante. Comecei a pensar que talvez tenha acontecido alguma coisa na casa dele. Mas descartei a ideia, por que os pais do Alex são pessoas muito boas. Não impediriam ele de sair. Então só sobrou a única hipótese que minha cabeça iludida pensou: ele não está bem. Deve ter sofrido algum acidente ou então aconteceu alguma coisa com alguém. Esperei até dar duas horas depois que eu marquei e liguei para sua casa.

— Alô? — Ouvi a voz tão conhecida de Rose, a mãe do Alex.

— Oi Rose, é a Malu. Queria saber se Alex está aí. — Uma vozinha lá dentro da minha mente ainda dizia que talvez ele estivesse no hospital, ou doente. Pobre de mim.

— Ah Malu, ele saiu com Gabriele agora pouco. — Sua voz de pena me causou náuseas. Gabriele era uma das garotas-fãs dele.

— Ah — Foi tudo que consegui dizer ao ver meu mundo todo desmoronar na minha frente.

— Gostaria de deixar algum recado para ele, querida?

— Não, Rose. Obrigada. Eu só... Iria perguntar uma coisa sobre um trabalho. Nada demais. Até.

Eu chorei o resto da tarde inteira. Eu não acreditava, ou não queria acreditar, que ele tinha feito aquilo. Que ele tinha simplesmente me ignorado. Como se eu nunca tivesse pedido, da forma mais humilhante possível, que ele fosse me encontrar. Eu só queria entender o porquê dele ter desistido de mim. Mas ele não foi.

E agora, ele está aqui, me pedindo que esqueça tudo e volte para ele. Me implorando que eu volte para ele. Da mesma forma como fiz diversas vezes durante esses meses atrás. Mas ele nunca fez uma menção de que notasse meus esforços para tê-lo de volta.

Não ligou quando eu deixei bem claro num poema de trabalho escolar, que eu pedia desculpa por qualquer coisa que eu tenha feito para fazê-lo se afastar de mim. É claro que eu não disse clara e abertamente que era para ele. Mas qualquer um naquela sala sabia da nossa situação. Não precisa que eu explicasse para que todos entendessem que eu queria ele de volta. E quando ele me chamou depois da aula, pensei que eu tinha alcançado a vitória. Pobre de mim, novamente.

— Por que fez aquilo, Maria? — Até meu apelido ele não usava mais.

— Como “Por que”? Não é claro? Você terminou comigo sem nem ao menos me explicar por que. Você acha que eu acreditei naquilo que você me disse? Por favor, Alex. O que foi que eu fiz?

— Você não fez nada, Maria. Mas por favor, não faz mais isto. O que você quer que todos pensem de mim? Eu te expliquei, Maria. Eu só não quero me sentir mais preso a ninguém. Quero curtir a minha vida sem ter que te machucar.

— Sem ter que me machucar? Você sabe o que eu fiz naqueles dias todos que faltei a escola? Eu passei todos os dias chorando por sua culpa. E você vem me dizer que não quer me machucar? — Eu estava segurando para não chorar na frente dele. Seria ridículo.

— Mas você não tinha por que. Eu rompi nosso namoro justamente por isso. Você não tinha por que chorar.

— Não estarmos juntos não significa que eu não amasse mais você! — Quase gritei. Sua calmaria me tirava dos nervos — Eu não vou desistir de te mostrar que você me quer! Eu sei que você ainda gosta de mim. Você vai ver.

—Eu só disse que não quero me sentir preso a ninguém. Nunca falei que não gosto mais de você. — Ele admitiu, e acredite, aquilo foi a pior coisa que eu poderia ouvir.

— Quer dizer que mesmo sabendo que você ainda gosta de mim, não te impediu de ficar com todas aquelas garotas? Quem é você, Alessandro?

— É por isso que eu digo que é melhor você desistir disso. Não damos certo juntos.

— Engano seu, Alex. Nós damos muito bem juntos. E eu vou te provar isto.

E foi isso que eu fiz. Ou pelo menos o que tentei fazer durante todos os meses até agora. Eu não parei de fazer loucuras. Só não as fiz mais em publico. Eu estava tão cega. Eu ficava todas as noites vislumbrando quando eu poderia pular nos braços de Alex e gritar ao mundo todo que estávamos juntos novamente. E como se se materializasse de minha mente, a possibilidade está bem aqui na minha frente, segurando um buquê de rosas.

Esperando que eu me atire em seus braços.

Assim como eu esperei que ele fizesse quando plantei guarda na frente da casa dele, aquela noite. Na maior chuva. Eu decorei tudo que eu iria dizer, assim que ele abrisse a porta. Eu sabia que ele não resistiria assim que ouvisse o que eu tinha que dizer. Passei dias e dias inteira escolhendo as melhores palavras.

— Você não pode se humilhar tanto, Malu! — Pedro gritou, assim que terminou de ler o texto que eu havia preparado — Isso é ridículo!

— Você acha meu texto ridículo? Obrigada, hein Pedro!

Ele esfregou a têmpora, como sempre faz quando eu faço merda.

— Eu não disse que seu texto está ridículo. Ele está lindo, maravilhoso. Você sempre sabe escolher as palavras certas. Eu disse que sua atitude é ridícula. Essa situação toda é ridícula! Esse cara não merece nem uma mísera palavra desse texto! Muito menos que você se humilhe tanto.

— Eu o amo, Pedro. E ele também me ama. Eu faço qualquer coisa para tê-lo de volta.

— Você fala como se ele fosse forçado a se afastar de você. Ele faz isso por que quer. Ele não te quer por perto. Mas esse amor está te cegando. Não te deixa ver o que está bem debaixo do seu nariz.

Eu não dei ouvidos a Pedro. Naquela hora, eu nem entendia o que ele queria dizer. Mas ele sempre esteve certo. Eu toquei a campainha milhares de vezes, enquanto aguardava naquela chuva. Eu sabia que ele estava lá. Eu tinha certeza de que ele não me deixaria naquela porta. Alex era cavalheiro demais para isso. E foi que o aconteceu. Mas juro que eu preferiria que ele em tivesse abrido a porta.

— O que quer, Maria? Está chovendo! — Ele perguntou, me puxando para dentro.

— Você precisa me ouvir! — Eu iria começar mesmo sem sua permissão, mas ele não me deu chance.

— O que quer que você tenha a me dizer, não vai mudar está situação. Eu espero que agora entenda isso.

Eu iria começar a falar mesmo assim. Foi para isso que eu tinha ido. Querendo ou não ele iria escutar tudo que eu tinha a dizer. Mas um motivo maior me fez fechar a boca no mesmo instante que a abri. Gabriele estava ali, descendo a escada como quem não quer nada. E soltou seu sorriso mais venoso. Consigo até lembrar da minha visão turva pelas lágrimas que eu idiotamente não segurei.

Ela não veio até ele. Nem o beijou e o abraçou. Só ficou lá. E isso foi o bastante para minha mente idiotamente apaixonada criar motivos para inocentá-lo. Pensei comigo mesma que ela estava apenas de visita. Ha-ha. Eu simplesmente saí de lá e fui pra casa, logo depois de Alex tentar me convencer mais uma vez de que acabara tudo, e que eu tinha que parar de agir como uma maluca.

Maluca, idiota, cega.

É nisso tudo que você se torna quando se apaixona, ainda mais se for pela pessoa errada. Eu tinha ido direto para a casa de Pedro depois que saí de lá. Lembro da mãe dele me ajudar a me secar da chuva, e quando sentamos em seu quarto tomando um chocolate quente. E Pedro não disse “eu te avisei”. Ele fez o que sempre fez: me escutou. E eu fui tão tola. Ele me escutou, quando eu mesma não podia me ouvir. Nem a mais ninguém. Não podia nem mesmo ouvir o bom senso e a razão da minha consciência que dizia que eu já estava indo longe demais com esse negócio de “amor”.

Mas eu estava tão convicta de que um dia Alex se daria conta de tudo que perdeu e se arrependeria, e que eu estaria de braços abertos esperando ele voltar.

Na verdade, cá estamos. Ele se arrependeu. E eu também.

Não posso negar que estou emocionada com o gesto que ele faz agora. Não quando eu sonhei tanto com esse momento. Se ajoelhar na minha frente. Lágrimas que eu nunca imaginei ver saindo de seus olhos azuis. Ah, seria uma bela cena de filme.

— Ah, Malu. Por favor, não chore. Sabe que eu não gosto de te ver assim — Pedro falou, enquanto eu tremia com a xicara quente nas mãos.

— O que quer que eu faça, Pedro? — Solucei — Eu o amo tanto que dói. Dói tanto.

— Mas o amor não é para doer, Malu. Não assim. Isso só prova que isso tá errado.

Levantei minha cabeça e deixei minha xícara na mesa de seu quarto. Ele fez o mesmo.

— Por que você nunca concorda comigo? Eu o amo o Alex, Pedro! Eu. O. Amo! Não vou desistir desse amor, por que eu sei que é amor! Não me importa se dói ou não! Vou tê-lo de volta! Por que você é tão contra isso?

— Por que eu sei o que é bom pra você! E tenha certeza, Alex não faz parte disso! — Ele falou, com a raiva conhecida que sempre aparece depois que a palavra “Alex” sai de sua boca.

— Você não sabe o que é bom pra mim! Se soubesse me apoiaria e me ajudaria a tê-lo de volta. Você sempre, sempre, sempre foi contra meu relacionamento com o Alex! Só por que eu não tinha mais tanto tempo pra passar com você? Por favor, Pedro! Isso é muito egoísmo!

Lembro de sua cara pasma. Ou incrédula. Ou furiosa. Ou os três juntos. Nunca tinha visto o misto dessas três coisas em Pedro. Mas como eu disse, estava cega demais pra perceber. Não percebi quanto eu tinha magoado.

— Egoísmo? — Ele repetiu, parecendo não acreditar no que eu disse.

— É, Pedro. Egoísmo! Você não quer dividir o tempo que eu passava com você. Eu entendo, eu sempre fui sua amiga. Isso não vai mudar. Mas você tem que entender, que eu o amo! Caramba, poxa! Pensei que você sempre fosse me apoiar!

— Eu te apoiei em tudo até agora, Malu. Tudo. Mas eu não vou continuar te ajudando a se enfiar nessa loucura. Você merece muito mais que isso. Que ele. Só você não vê. Tem tanta coisa que você poderia ter com um piscar de olhos! Tanta coisa que poderia te fazer muito mais feliz do que você acha que vais ser com o Alex. Mas você não vê. Acha que ele é bom o bastante.

— Viu? É isso que eu digo! Egoísta a ponto de achar que vai me convencer a desistir de meu amor! Pois esteja certo de que não vai! Eu não vou passar o dia dos namorados sozinha! Se não passei esses três anos, esse ano não vai ser diferente! Ele vai estar comigo! Nada vai impedir. Nem esse seu egoísmo enorme!

— Você chama de egoísmo. Eu chamo de outra coisa.

Eu nunca tinha brigado assim com Pedro. Nunca mesmo. Eu esta tão seriamente iludida pelo Alex que quase perdi meu melhor amigo. A única pessoa que tinha me apoiado e ajudado. Depois que todos meus “amigos” escolheram ficar do lado do Alex, Pedro foi o único que me consolou. E eu cheguei perto de afastar a pessoa mais importante da minha vida, só por causa de uma paixão idiota.

Pensando nisso, cometi minha última loucura.

Quem mais arrancaria o microfone do diretor da escola, na frente de mais de mil alunos, só para se declarar para um garoto que até agora mal notava sua existência? Mesmo que essa mesma pessoa seja a que te encheu de beijos e disse coisas lindas, pouco tempo atrás. Quem faria isso? Só uma louca como eu mesmo.

Mas não me julguem. Pelo menos não os que nunca se apaixonaram. Mas admito, eu vi meu erro. Demorei muito, mas achei. Vi que ele era idiota demais para merecer aquilo tudo. E que ele não dava a mínima para tudo que fiz em seu nome. E a pessoa que me fez ver foi a menos esperada para isso.

Alex.

— Er, atenção, por favor. — Eu comecei, quando todos exclamavam “oh” pelo meu pequeno roubo do microfone — Eu tenho algo a dizer. Para o Alex Brimond.

Eu o via do palco. Ele estava inexpressivo.

— Eu queria dizer que todos nós temos uma parte invisível por dentro. Uma que não raciocina direito. E eu queria agradecer a esta parte de mim, que me ajudou a pensar no que vou dizer aqui. Eu sei que todos sabem disso, mas vou repetir. Eu amo Alex Brimond. O jogador preferido da escola. O garoto que foi meu namorado alguns meses atrás. O mesmo garoto que me evita agora. E eu queria te dizer, Alex, que eu peço perdão por qualquer coisa que tenha te feito desistir de mim. Eu peço que você escute a si mesmo. Eu sei que o que você sente aí dentro. Eu sei que você me ama. Tá, todos dessa escola sabem. Nós sempre fomos o casal perfeito, não fomos? Não era assim que nos chamavam? Sabe por que, Alex? Por que nós escutávamos a parte invisível do nosso cérebro. Por que não dávamos a mínima para o que todos achavam da gente. Então — Eu já nem ligava das lágrimas escorrendo pela minha bochecha — Eu resolvi dar ouvidos a minha parte invisível. Ela me disse para não desistir de você. É isso que fiz até agora. É isso que estou fazendo agora. Eu estou escutando-a — Meus olhos desviaram por um instante para a cabeleira castanha de Pedro. O rosto pálido e fechado. Mas logo voltaram a encarar as íris azuis de Alex — Por favor, Alex. Escute a sua parte invisível. Ela está te dizendo algo, não está? Sei que está. Por favor, diga a todos o que ela te diz.

Sua única resposta foi puxar Gabriele pela mão, e sair do auditório, fazendo os olhares caírem todos em cima de mim. Eu estava anestesiada. Tanta dor me fez entrar em choque. Meus olhos acompanharam o par até sumirem de vista. Depois, eu não sabia o que fazer. Ele deixou claro que não me queria mais. E os olhares de todos era atormentador. Uns me olhavam com pena, outros achavam graça e alguns até riam.

“Por que ele fez isso comigo?” Foi o que me perguntei milhares de vezes, enquanto descia correndo do palco em direção ao fundo do colégio. Aquele lugar usado para guardar as coisas quebradas e o lixo da escola. Por que era assim que eu me sentia na hora. Um lixo.

Lembro que nem mesmo na noite que este rapaz aqui me deixou eu tinha chorado tanto. Eu chorava de raiva, de dor, de vergonha e de amor.

Engana-se Luís Vaz de Camões que diz que o amor é ferida que dói e não se sente. Eu senti a minha muito bem. Ardia, doía, machucava. Como nada mais dói no mundo. Só quem ama entende o que eu digo. Entende que você faria de tudo para ter quem ama.

No amor e na guerra, vale tudo. Mas eu tinha cansado de lutar.

Só fiquei lá, chorando igual uma boba. Até sentir dois braços me abraçarem.

— Eu estou sozinha, Pedro — Eu chorava enquanto ele me abraçava — A pessoa que eu mais amo na vida não me ama mais. Eu estou sozinha.

— Não, Malu. Você nunca esteve sozinha.

— Estou sim. Uma semana para o dia dos namorados e eu estou aqui, chorando igual a uma idiota. E o Alex nem liga. Eu briguei com você, e no fim era você que estava certo. Alex não me quer. Ele não gosta de mim — Eu soluçava.

— Por mais que eu odeie dizer isso, ele gosta de você. E eu sei que ele vai perceber o erro dele. Uma hora, ou outra. Você lutou muito, merece alcançar seu prêmio.

Eu lembro de olhar profundamente nos olhos negros de Pedro. Nunca pensei que um dia ele fosse dizer uma coisa daquelas. E parecia que dizer aquilo lhe arrancava um pedaço. Nunca vi Pedro tão aflito.

— Você já se perguntou no significado do dia dos namorados? — Ele perguntou, quando viu que eu não faria nada — Diz-se que Valentim, foi um homem que, contra as ordens do governo, continuou realizando casamentos. Ele era contra essa ordem. Foi punido com a morte, pois o “amor” era uma coisa proibida. Ele se apaixonou por uma moça, e antes de morrer deixou uma carta para ela, assinando como “de seu namorado”. E hoje temos a comemoração em seu nome. Sabe por que? Por que ele lutou. Então — Ele engasgou um pouco — Você lutou com todas as suas forças para ter ele de volta. E é isso que vai acontecer. Eu sei disso.

Eu continuava sem dizer uma palavra, apenas encarando meu melhor amigo. Era isso? Ele estava mesmo dizendo que eu teria o Alex de volta? Então, aquilo devia me deixar feliz, certo? Mas eu não conseguia ficar feliz. Talvez, por que eu já não acreditava que aquilo fosse acontecer. Ou talvez, pela cara de doente de Pedro.

— Mesmo que eu ache que ele não te merece, se você acha que vai ser feliz com ele, então vai em frente. Não é aquela simples saída dele que vai te fazer desistir. Faça o que tem de ser feito.

— Faça o que tem de ser feito — Repeti, ainda sem tirar os olhos dos dele. Eu estava hipnotizada.

Lembro como se fosse agora a surpresa que tive quando Pedro puxou meu rosto até o seu, e plantou um beijo ali. Nada nunca foi tão estranho para mim. Eu fiquei paralisada. Estava estática. Por isso, mal correspondi o curto beijo que ele tinha me dado. Assim que ele se afastou de mim, seus olhos eram ainda mais tristes do que antes. Não tinha o brilho costumeiro. Não era mais o Pedro que eu conhecia. Não o meu melhor amigo.

— Me desculpa, Malu. Mas eu tinha que fazer isso ao menos uma vez na minha vida. Não esquece. Faça o que tem de ser feito.

E ele se levantou e saiu. Foi naquele momento que eu percebi que eu tinha perdido meu melhor amigo. E acredite, foi graças a essa perda que agora eu estou tão certa do que eu tenho que fazer.

“Faça o que tem de ser feito”

— Por favor, Malu — A voz de Alex me chama de volta a realidade — Eu sei que eu pisei feio na bola. A pior coisa que eu fiz foi te deixar. Eu juro que estou arrependido. Por favor, vamos começar de novo, sim? Como sempre fomos.

Eu olho em volta. Está um silêncio absurdo. Todos estão nos olhando. Não há sequer um que não esteja. Eu posso observar a todos os rostos curiosos, esperando minha resposta. Posso observar uma Gabriele furiosa. Um Pedro desconsolado. Seus olhos me diziam apenas uma coisa.

“Faça o que tem de ser feito”

— Sabe, Alex — Eu comecei, certa de que todos podiam me escutar — Você não sabe o quanto eu sonhei com isso. Você nem mesmo imagina o tanto que eu esperei para que você me pedisse isso. Foram muitas noites desde aquele dia. E você agora está aqui, me pedindo exatamente o que eu implorei por meses.

Vejo um sorriso feliz insinuar em seu rosto. Eu tenho a chance de ter tudo o que eu sempre quis bem aqui na minha mão. Mas agora eu tenho certeza, de que nem sempre eu estive convicta do que eu realmente queria. Não como agora.

— Eu quis tanto, tanto que você um dia se arrependesse do que fez comigo e viesse me pedir desculpas. Do jeito que está agora. Desculpas são sempre bem-vindas. Mas algumas chegam tarde demais, Alex — Seu sorriso sumiu imediatamente, e vários “ooohs” se espalham por todo o lugar — Eu queria muito, muito mesmo não ter que te fazer passar por isso. Por que eu sei bem que isso dói — Pego o buquê de sua mão, e o ajudo a ficar de pé.

— Por favor, Malu...

— Eu não tenho raiva de você. E eu te perdoo por tudo que me fez passar. Mas eu aprendi umas coisas nesses meses. Umas coisas bem importantes. Primeiro, nem sempre aquilo que queremos é o que precisamos. Segundo, nunca, nunca mesmo, desista daquilo que você quer. Com muito esforço você vai alcançar seu prêmio — O meu estava ali, não estava? Eu enfim tinha conseguido fazer com que ele entendesse que me amava. Mas eu também percebi quem eu amava — E por último e mais importante: Faça o que tem de ser feito.

E com isso, devolvo seu buquê de rosas e começo a correr pelas pessoas.

“Faça o que tem de ser feito”.

Meus olhos vagam pelo local, a procura do alvo. E ele está ali, parado tão surpreso quanto todos. Tão surpreso quanto a mim.

Foi só há uma semana que eu consegui entender tudo direito. Desde aquele dia, Pedro nunca mais falou comigo. Sei que ele estava magoado, o conheço melhor que qualquer um. Todos esses sete dias que Pedro ficou sem trocar uma única palavra comigo me fizeram refletir. Consegui ver o que valia e o que não valia a pena. Eu percebi que eu estava cega pelo Alex. Eu tinha me tornado obsessiva, eu estava louca. E a única forma de eu ser feliz, estava bem embaixo do meu nariz.

A minha única forma de ser feliz sempre esteve. Sempre esteve comigo nos bons ou maus momentos. E quando eu mais precisei, estava ali. Como eu pude ser tão cega? Vi ele se definhar cada vez que eu insistia em dizer que amava o Alex. Como pude ser tão tola?

Pedro estava certo. Eu iria alcançar meu prêmio. Eu lutei por ele, merecia tê-lo. Só não sabia que estava lutando pelo prêmio errado. O meu prêmio sempre esteve a um passo de mim e eu nunca vi. Mas agora, é tudo tão claro quanto água.

E não me importa se eu tiver de lutar mil vezes mais para tê-lo. Pedro sim merece cada esforço da minha parte. Não me importo se tiver de me ajoelhar, de gritar ou qualquer coisa para fazê-lo entender que eu sabia o que ele queria dizer.

Faça o que tem de ser feito.

Pulo em cima dele tão rápido que o pobre garoto mal consegue me sustentar, caindo junto comigo no chão. Suas íris negras recuperaram o brilho que só agora percebi o quanto amava. Aliás, amava tudo nele e não sabia. Desde o fio castanho da sua cabeça. Até o comportamento excessivamente sincero. Por que eu demorei tanto de perceber o que estava em letras de néon na minha frente?

— Pedro, me desculpa! Me desculpa por tudo que eu te disse! Me desculpa por ter sido tão cega! — Minhas mãos apertam as duas laterais do rosto do garoto — Mas eu posso ver, Pedro! Você é tudo que eu queria! Tudo, tudo! Tudo que eu sempre precisei! Por favor, me perd-

— Shh — Ele me impede de continuar, colocando um dedo nos meus lábios — Você já falou demais. Só faça o que tem de fazer.

E sem hesitar, fiz o que deveria ter feito uma semana atrás. Beijar os únicos lábios que merecem. Me agarrar a única forma de ser feliz. Beijar aqueles lábios me fez sentir que enfim tudo estava em seu lugar, como tinha de ser. Tantos anos ao lado de Pedro, e só fui perceber isso agora. Eu nunca perdi meu melhor amigo. Agora tenho um namorado, que sempre será meu melhor amigo.

Os namorados passam, mas os melhores amigos permanecem para sempre.

Já ouviu alguém falar que o dia dos namorados é um dia cheio de mágica? Eu já. Da minha vó, claro. Ela falou que existe dois dias mágicos no ano. O Halloween, onde ficamos muito mais perto dos mortos do que em qualquer outro dia. E o dia dos namorados, onde ficamos muito próximos da pessoa que vai nos amar de verdade.

Eu nunca acreditei nisso. E continuo não acreditando. Mas o dia dos namorados tem um significado mais especial para mim. Foi o dia em que eu percebi, que a pessoa que vai me amar de verdade, sempre esteve do meu lado. E vai continuar estando.

Por isso, como experiência própria eu afirmo: Conseguir alcançar o que queremos, pode ser mais fácil do que pensamos. Resume-se a meras sete palavras.

Apenas faça o que tem de fazer.


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Notas finais do capítulo

Hey, darlings!

Pois é, eu não sei o que deu em mim quando pensei em escrever essa one xD Ainda nem sei como consegui termina-la. Está um super clichezinho, né? xD Mas vamos lá, quem discorda que o dia dos namorados é o dia mais clichê, cafona e meloso do ano todo? xD Pois é, aceitem.

Espero que tenham gostado dessa one que tive que doar o fígado e o rim pra terminar xD
Aguardo a opinião de vocês nos comentários, hein? E que tal dar uma passada na one da linda da Jowlly que tá diwaando? É só apertar o botãozinho aí em baixo, amores :3
Até uma próxima!

Abby :*



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