Diga Adeus à Inocência escrita por Mahfics


Capítulo 7
Capítulo 6




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Depois do almoço, passei o dia no meu quarto, encarando o teto branco e relembrando a reportagem. Muitas vezes esquecemos de como nossa vida é frágil e insignificante, vivemos alucinadamente, correndo e muitas vezes não prestamos atenção no que está embaixo do nosso nariz, ignoramos a essência, as cores e o significado de respirar, de viver. Eu poderia estar morta agora, com o corpo largado no meio da mata, esperando alguém me encontrar, esperando alguém me vingar, esperando alguém entender o porquê de tudo isso. O que leva alguém a matar um semelhante? O que leva uma pessoa assassinar a outra a sangue frio? Para mim, essa pessoa tem que ser, primeiro muito coragem e depois cruel. Corajosa porque muitas pessoas conseguem ser cruéis, mas poucas conseguem cortar a garganta de outra. É apenas com a morte que entendemos o significado da vida, que podemos ver que o fim existe e muitas vezes chega antes da hora e do pior jeito possível.

Viro de lado e abraço o meu travesseiro.

Por que estou tão incomodada com a morte dessa menina? Não a conhecia, não pegamos afinidade, não lembro nem o seu nome – se é que chegamos a trocar nomes, porém, lembro de seu rosto. Levemente corado pela bebida, olhos redondos e brilhantes, sorriso torto e embriagado, andar levemente caído para o lado, cabelo curto preso em um pequeno coque. Sua blusa estava manchada, como se ela tivesse derrubado algum tipo de bebida. Ela era bonita, jovem e tinha um futuro. Tenho uma sensação estranha, como se na próxima festa que eu frequentar, irei encontrar ela lá e escutar seu grito de entusiasmo mais uma vez. Nunca mais vou vê-la novamente.

***

Minha vó tem uma vida social bem ativa, hoje à noite ela terá um encontro às cegas com um amigo de uma amiga dela. Sempre tive o preconceito de falar que as pessoas da terceira idade vivem dentro de casa e seu único passatempo é cuidar dos netos, se o idoso ainda estiver lúcido. Morar com a minha vó está acabando com minhas impressões negativas de idosos.

– Então... Quem é o boy? – rio, a repugnância dela por palavras modernas é palpável e engraçado.

– Que boy o que. – ela coloca o brinco - Ele é o senhor de respeito.

Gargalho.

– Boy é só um jeito de falar sobre o cara que você está saindo e não que ele é jovem. – explico.

Ela ergue as sobrancelhas, mostrando que ela entendeu.

– Nunca o vi – ela vira para me encarar -, como estou?

–Está muito gata. – contemplo-a.

– Certo. – ela alisa o vestido e olha o relógio – Estou atrasada!

– Vamos. – levanto da cama e vou a empurrando escada abaixo enquanto escuto seus baixos resmungos sobre ter aceitado fazer isso – Quero que você use camisinha e não vejo problema nenhum em vocês transarem no primeiro encontro, troquem o número de telefone e quero que você beije muito.

– Não durmo com qualquer um. – ela replica, sorrindo.

Estreito os olhos.

– Essa frase é minha, irei de processar por plágio. – cruzo os braços.

– De acordo com a pensadora contemporânea Bianca: “eu não durmo com qualquer um”. – ela cita.

– Melhorou. – sorrio e a levo até a porta – Ele já chegou? – espio pela janela – Oh meu deus! Ele está aqui! Está aqui!

Ela dá um leve tapa no meu ombro.

– Não faça tanto escândalo.

Sorrio.

– Divirta-se. – abro a porta.

Espero ela entrar no carro para fechar a porta, tranco. Tranco a porta da cozinha e todas as janelas, deixo todas as luzes acesas e fico na sala, passeando pelos canais. Meu celular vibra, é uma mensagem de Clarice, uma amiga minha do colégio.

*Vc mudou de cidade e não de planeta*

*Ainda ñ senti sdd de vc*

*Vaca*

Rio.

*KKKKKK, vc e seus ótimos adj*

*tem mt mais da onde saiu esse*

*ñ duvido disso*

*alguma novidade?*

*Teve uma festa aqui perto ontem, só dei uma passada*

*Hm... HM... HMMMM, sinto cheiro de boy*

*KKKKKKKKK*

*KKKKK ah! Sua safada, quem é?*

*um carinha aí*

*pegou?*

*peguei*

*AAAHH sabia*

*ele é legal*

*pf, ñ se apague, só pegue*

*falou a super pegadora*

*kkkkkkkkk meus rolos são exceção, blz?*

*ñ falei nd*

*qual o nome dele?*

*Malic*

*é diferente esse nome, estrangeiro?*

*ñ, ele fala português*

*KKKKKKKKKKKKKKKKK mais anta que vc impossível, me refiro ao nome*

*ah, sei lá, talvez*

*pegaria mais uma vez?*

*sim*

*então o Malic tem pegada*

*ñ duvide disso*

Escuto a campainha tocar.

*Já volto, campainha tocando*

Levanto e vou até a porta, mas antes, dou uma espiada na janela para ver quem é. Malic... ?

Faz alguns dias que não o vejo. Abro a porta e sorrio.

– Desculpa, não tenho pão duro. – falo – Tenta pedir na próxima casa.

Ele ri.

– Você serve. – ele empurra um pouco mais a porta e entra.

Fecho-a e tranco.

Droga. Não estou com roupa para receber visita, principalmente a visita dele.

– Você gosta de decote. – ele observa.

Minha regata tem um decote lateral dos dois lados, o que deixa a lateral de minha barriga a mostra e como é meu costume, não uso sutiã dentro de casa, o que acaba deixando parte de meus seios amostra.

– Algo contra eles? – ergo uma sobrancelha.

– Claro que não. – ele sorri de lado.

Minhas bochechas esquentem, me aproximo da escada.

– Vou trocar de roupa e já desço.

Antes que eu possa começar a subir a escada, ele me puxa de volta. Ficamos a poucos centímetros de distância, prendo a respiração e sinto meu corpo formigar.

– Você está sozinha? – ele sussurra, próximo ao meu ouvido e depois deposita um beijo em meu pescoço.

– Estou.

Antes que eu possa pensar em qualquer coisa a respeito de nossa situação, seus lábios atacam o meu. Cambaleio para trás e enlaço meus braços em seu pescoço, tropeço nos degraus da escada e começo a subir. Finco os dedos em seu cabelo e puxo-os, a reação é imediata em Malic, que aperta ainda mais o meu corpo contra o seu. Cesso o beijo e o guio pelo corredor até o meu quarto. Entramos.

– Então é aqui. – ele observa o lugar.

– Ainda falta algumas coisas.

– Não é tão feminino quanto eu esperava.

– Ainda está em processo de construção.

Ele dá um rápido riso e me encara. Ficamos em silêncio, minha respiração está ruidosa e meu coração aos saltos, é a primeira vez que um menino que tenho interesse entra no meu quarto e já ouvi muitas histórias sobre como isso acaba. Minha garganta seca, mas não perco o contato visual. Oras, sei o que eu estou fazendo.

Aproximo-me e enlaço seu pescoço com os braços, mordo seu lábio inferior e o empurro para cama. Ele senta e me leva junto com ele, sento em seu colo – deixando um joelho de cada lado do seu corpo. Uma mão sua abraça minha cintura e a outra se dirigi para minha nuca, me imobilizando. Beijo-o e arranho a lateral de seu corpo por cima da blusa. Aperto-o contra o meu corpo. Estou quente e ofegante. A mão que estava em minhas costas para dentro de minha blusa, sinto um arrepio. Mordo seu lábio e abro os olhos, ele faz o mesmo.

Os olhos amarelados me paralisam. O que estou fazendo? Me entregando para o primeiro que aparece.

Limpo a garganta e desço de seu colo, recomponho-me e me afasto.

– Você quer beber alguma coisa? – sorrio amarelo – Acho que não tenho cerveja aqui... Você bebe cerveja?

– Não.

– Que bom – arrumo meu cabelo -, não que eu não gostaria de você se você bebesse cerveja... Digo, nada contra a bebida, mas é de velho... Não que eu tenha preconceito! É que homens mais velhos são mais propensos a beber cerveja... Enfim.

Ele ri brevemente.

– Você é virgem? – ele ergue uma sobrancelha.

Engasgo.

– Tenho certeza disso, nem sei porque perguntei. – ele dá de ombros.

– Como certeza? – encaro-o.

– Nenhuma menina tem o ataque que você teve na festa, como se fosse um crime transar, todas as virgens são assim. – ele dá um sorriso.

Crime?

– Isso não faz sentido. – franzo o cenho – Não considero sexo um crime, da onde tirou isso?

– Então por que está fugindo? – ele estreita levemente os olhos.

– Não estou fugindo. – tento passar confiança.

– Está sim. – ele levanta.

Meu coração dispara e recuo.

– Acabou de fugir. – ele comenta, vitorioso.

Um bolo sobe de meu âmago até meu peito. Não estou fugindo, acontece que fui preservada durante 18 anos e não pretendo ser estragada, como a maioria das meninas que se entrega no calor do momento e depois se arrepende, não quero carregar arrependimento para o resta da minha vida.

– Não estou fugindo. – cruzo os braços e me recuso a continuar recuando. Ele não pode me obrigar.

Ele se aproxima ainda mais. Prendo a respiração.

– Você não pode me forçar a transar com você. – falo.

– O que?! – ele pergunta surpreso – Não vou forçar você.

– Então por que está falando essas coisas?

– Não estou falando nada. – ele se aproxima ainda, não deixando mais espaço para outro futuro avanço – Não quero que pense que eu vou te estuprar. – ele ri.

Rio.

– O que quer fazer então? – ergo uma sobrancelha.

Ele não responde a minha pergunta. Ficamos em silêncio, encaro os olhos amarelos e respiro fundo. Ora vamos lá, não preciso ficar encanado com isso. Passo minhas duas para dentro de sua camisa e acaricio seu abdômen, fico na ponta do pé e mordo seu lábio, continuo encarando-o.

Os olhos de Malic lembra olhos felinos; frios, vivos e cruéis.

Passo minhas mãos para suas costas e colo nossos corpos, início o beijo. Suas mãos tocam minhas costas.

O único crime que irei cometer hoje será beijá-lo.


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