Diga Adeus à Inocência escrita por Mahfics


Capítulo 39
7.


Notas iniciais do capítulo

Genty linda, esse capítulo passou bem rápido. Espero que não tenha ficado confuso ou qualquer coisa do tipo, se estiver muito ruim, me avisem.
obs: este capítulo é a chave para as mudanças da Bianca pós-pequeno-trauma. Então o pensamento dela pode mudar um pouco, as ações e tudo mais.



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Não pude ir para a faculdade no dia seguinte porque minha faculdade continua sendo a cinco horas de distância de mim, mas minha mãe com seu ótimo jurídico irá conseguir me fazer ir para a faculdade amanhã ou depois. Acordei incomodada com meu próprio rosto, ele está estranho quando encarado, talvez porque estou cansada de meu próprio visual. Quero mudar alguma coisa, quero deixar tudo o que me lembre do passado para trás e isso se inicia com minhas roupas. Convenci minha mãe em dar as velhas para a filha da nossa empregada e me deixar ir ao shopping comprar novas, obviamente não irei acabar com o limite do cartão, tenho bom senso.

– Gostaria de ir com você. – ela acaricia minha cabeça – Mas tenho muito trabalho.

– Tudo bem. – sorrio sem mostrar meus dentes – Podemos ir no fim de semana de novo.

Ela sorri.

– Volto lá pras 19 horas.

– E o papai?

– Vamos torcer para ele voltar para casa.

Suspiro. Havia me esquecido de minha antiga rotina.

– Mas me diga: por que irá mudar de look ?

Encaro meu prato de comida.

– Acho que eu quero esquecer. – murmuro – Esquecer o que passei lá.

Ela suspira.

– Só não se esqueça da Bianca de antes.

Franzo o cenho. Bianca de antes? Desde quando existe um eu antes e depois? Continuo a mesma pessoa.

Assim que termino de comer, vou direto para o shopping começar a minha maratona de procurar roupas boas em um bom preço.

***

Voltar para cá me fez entrar nas redes sociais. Fazia tanto tempo que não entrava que eu tinha milhares de notificações e centenas de mensagens – todas com o mesmo assunto em comum: queriam saber mais sobre o caso de Villa Lobos, saber se eu estava bem e se conhecia o assassino intimamente. Não sinto um pingo de falta disso, ignoro todos e vou para a sessão das solicitações de amizade e uma dor atinge meu peito ao saber que Camila me pediu amizade. Aceito o Matt, a Ony, Mone e Juliana. Peço amizade para a Coraline, Michaela, Rafael e dou uma rápida olhada no perfil do Malic.

Minha mãe não conseguiu adiantar minha entrada na faculdade para essa semana, apenas para a semana seguinte, o que me fez ficar uma semana em casa. Por sorte, ainda estava matriculada na faculdade antiga, então tive acesso ao portal do estudante de lá e assim consegui o conteúdo online e foi assim que fui estudando até ter um lugar físico para ir. As meninas me ligaram quando souberem que eu não estava mais morando lá e quase foi morta pela chamada, compreendo a reação delas, nem me despedi – na verdade, nem sei o que aconteceu comigo aquele dia, foi uma decisão relâmpago necessária.

Minha primeira mudança ocorreu com minhas roupas e a segunda foi com meu cabelo. Descolori meu castanho natural até atingir o branco platinado. A raiz do meu cabelo ficou branca bem clara e conforme vai acompanhando o comprimento, escurece até que as pontas ficam cinzas. Não sei explicar o porquê estou mudando tanto, está mais para uma própria necessidade do meu corpo e o medo. É como se mudando de estilo e características ele nunca mais conseguirá me encontrar, como me apagar do mapa.

Poucas pessoas na rua conseguem me reconhecer como a modelo e testemunha do serial killer de Villa Lobos, umas até apoiam o novo visual e acreditam ser um tipo de proteção a testemunha. Talvez sim...

Vovó não me ligou mais, tento buscar coragem o bastante para falar com ela depois do que falei. Agi muito debilmente e magoei uma pessoa que amo, não queria ter a acusado de fazer esses crimes brutais, foi mais como um impulso do meu corpo. Preciso pegar as coisas que deixei em sua casa e pretendo fazer isso nas minhas férias.

***

Consegui ter dois primeiros dias de aula em um curto período de tempo, não estou nervosa como estava no primeiro. Tenho que concretizar na minha cabeça que nessa faculdade não terei as meninas ou o Matthew e o Rafael, muito menos o Malic. É até estranho admitir, mas sinto falta deles.

– Boa sorte, de novo. – mamãe sorri.

– Obrigada. – murmuro. Não preciso mais de sorte, mãe.

– Está indo para uma ótima faculdade. – meu pai ressalta – Encontrará ótimas pessoas lá também.

Meu pai e seu errôneo jeito de acreditar que o meio caracteriza as pessoas. O Jonas estava em uma federal, uma das melhores do país e era um serial killer – quer dizer, ele era um maníaco tarado.

Pego a chave do meu carro.

– Não vai tomar café? – mamãe questiona.

– Vou pegar só uma fruta. – pego uma maçã da fruteira – Estou sem fome.

Minha mochila já me aguarda no carro, só preciso colocar o endereço da faculdade no GPS.

Uma hora é bem diferente dos 15 minutos de antes. O trânsito daqui é bem diferente das ruas vazias de lá, até as pessoas desconhecidas da rua se comportam diferente. Estaciono meu carro em uma rua paralela a faculdade. Pego minhas coisas e as instruções e papeis que minha mãe deu.

Logo que entro, vou direto para a secretaria e mal tenho tempo de ficar um pouco no pátio, estou ligeiramente atrasada.

A sala de aula é maior que a minha passada e a quantidade de alunos também, entro depois de 15 minutos do início da aula, o que é suficiente para distrair os alunos. Arrumo uma cadeira o mais rápido que consigo e me ajeito, o professor mal se importa com minha presença e continua sua aula. Por instinto, procuro pela Amiony e sinto um aperto no peito por me lembrar que não a verei mais.

Villa Lobos foi uma parte necessária que precisei passar em vida para seguir meu medíocre destino. Tudo o que aconteceu lá foi transitório e nunca mais voltará.

No intervalo, não havia mais nosso banco costumeiro ou as mesmas conversas idiotas. Fiquei sozinha, observando o fluxo de alunos que passam. Céus, sou péssima em fazer amizades, nunca vou conseguir conversar com alguém aqui, em Villa Lobos as pessoas viam falar comigo, aqui eu preciso falar com elas. Acostumei muito fácil com o interior, nem parece que nasci em cidade grande.

Observo o lugar mais uma vez e noto uma menina sozinha. Está com o cabelo preso em um rabo de cavalo e lendo um livro, sua pele é da cor de café queimado. Respiro fundo. Eu estou sozinha, ela também está. Qual o problema de puxar assunto?

Levanto, pego meu refrigerante e me aproximo.

– Licença.

Ela ergue o olhar para mim. Tem um rosto redondo e olhos negros.

– Notei que você está sozinha e bem, eu também estou. – sorrio.

– Pode sentar. – ela oferece a cadeira ao lado – É nova por aqui?

– Como sabe? – sento.

– Nunca vi seu cabelo por aqui.

Rio.

– Cheguei hoje.

– Prazer, Alice.

– Bianca.

Ficamos em silêncio.

– Que curso está fazendo?

– Direito. – ela deixa o livro de lado – Quis fugir de exatas e mergulhei de cabeça nos livros, só não achei que seriam tantos.

Sorrio.

– Uma profissão muito bonita.

– Obrigada. – ela sorri – Veio de onde?

– Estava fazendo a federal de Villa Lobos.

– Tenso. – ela contrai os lábios – Acompanhei as notícias sobre o carinha lá que matou umas meninas.

– Pois é. – suspiro.

– Sabe, até parece que eu te conheço. – ela inclina a cabeça.

Franzo o cenho.

– Garanto que se eu te conhecesse, lembraria.

– Irei lembrar da onde vi você. – ela estreita os olhos – A propósito, minha amiga está vindo, algum problema?

– Nenhum.

Não demora nem minutos e a suposta amiga chega. Tem cabelo no corte chanel loiro, olhos castanhos e um grande sorriso, além de um estilo de roupa impecável.

– Quem é? – ela me encara.

– Bianca. – estendo a mão.

– É nova aqui. – Alice informa.

– Ludmilla. – ela aperta a minha mão.

Ela senta na mesa e suspira.

– Estou cansada do meu professor, gente, vou dar um tiro na cabeça dele. – ela passa a mão no rosto – Acredita que ele não gostou daquele esboço que eu fiz?

– Mentira! – Alice arregala os olhos – Estava impecável! Como ele não gostou?

– Ele é um corno lazarento. – Ludmilla resmunga – Aí, desculpa – me encara -, costumo falar muito palavrão.

Sorrio.

– Sem problemas. – tranquilizo-a – O que você faz?

– Moda.

Está explicado esse estilo impecável.

Um grito agudo me assusta e faz Ludmilla fazer uma careta. Olho para o lado e encontra Clarice. Meu deus, não...

– Não acredito que você veio para cá, viada! – ela coloca a mão na boca.

Levanto.

– Não sabia que você estudava aqui. – me aproximo – Não sabia que seu intelecto era capaz disso.

Ela estreita os olhos e acerta um tapa em meu ombro.

– Fui eu que indiquei essa facul pra sua mãe. – ela me abraça – Senti sua falta. Quem bom que não morreu com o maluco lá.

É tão bom conhecer alguém aqui. Abraço-a forte.

– Também senti. Foi pura sorte.

– Aliás, ainda estou esperando você atender a porta. – ela me empurra e cruza os braços.

Lembro-me da nossa conversa pelo celular de como ela foi interrompida pelo Malic. Minhas bochechas esquentam, mordo a lateral de meu lábio.

– Desculpa, esqueci completamente... – sussurro.

– Espero o boy tenha valido a pena. – ela sorri, lasciva – E esse cabelo?

– Quis dar uma mudada. – sorrio.

– Arrasou. – ela pega uma mecha – Um pessoal está me esperando, quer vir?

Olho para trás por cima do ombro e encontro o olhar de Alice.

– Preciso me despedir de umas meninas. – informo.

– Estamos ali no Starbucks . – ela informa e sai andando.

Volto para a mesa.

– Vocês querem se juntar?

Alice olha para Ludmilla e depois volta a olhar para mim.

– Não gostamos muito dela. – Alice dá um sorriso amarelo – Mas pode vir falar com a gente quando quiser.

Simpatizar com a Clarice é uma tarefa que requer paciência.

Despeço-me e vou para o Starbucks. Há uma roda de pessoas e Clarice está nela, sentada no colo de um cara. Reviro os olhos. Ela uma versão mais avançada que a Monique no quesito de sexo.

– Essa esquisita aí é minha amiga. – ela aponta para mim.

Sorrio e dou um rápido aceno.

– Bianca. – me apresento.

Sento um pouco afastada de Clarice e me perco nas conversas. Suspiro. Era melhor ter ficado com as meninas na mesa.

Passei o lanche a esmo naquela rodinha, perdi meu tempo escutando a conversa deles. O resto das aulas foram normais e tinha até algumas coisas que eu já havia visto.

Demorou duas horas para eu conseguir voltar para casa sem pegar muito trânsito; no primeiro dia já estou estressada. Meus pais não estão em casa, contudo, a empregada deixou minha janta no micro-ondas – como minha mãe avisou. Janto e dou uma revisada na matéria de hoje, tomo banho e vou direto para a cama.

Pego o celular fico mexendo em algumas coisas do facebook. Coraline já me aceitou e a Michaela também, o Rafael não tem mais perfil, ele criou uma página – ele está se achando super famoso agora. Reviro os olhos. Olho para a “busca” e tenho a vontade incontrolável de pesquisar por Malic. Para a minha sorte, ele não é privado, então tenho acesso a todas as fotos dele.

Vejo uma por uma e demoro mais de cinco minutos em cada, olho cada detalhe, cada feição. Parece que faz anos que eu não o vejo. O sorriso dele é tão contagiante que me faz sorrir só de ver pelas fotos. Há uma foto dele que me chama a atenção, é a caixa de cigarros e na mensagem: “ fumar pode causar uma morte lenta e dolorosa”, ele rabiscou um grande A, transformando-a em: “ Amar pode causar uma morte lenta e dolorosa”. Essa foto foi postada há umas semanas atrás.

Sempre depois dos términos dos meus relacionamentos, eu não demorava nem um mês para esquecer o palhaço que eu, supostamente, me apaixonei. Mas o Malic é diferente, por mais que eu tente superar, mais me apaixono. Talvez ele seja o único por quem eu realmente tenho sentimentos.

Paro em uma foto. Ele está ao lado dos amigos, sorrindo e um cigarro preso na lateral de seu sorriso. É a primeira foto que está sem camisa. Aproximo apenas nele; os olhos amarelos brilham como se tivessem luz própria. Tão lindo...

Quanto tempo vai levar para eu superar você?


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