Before we fall apart. escrita por ChemicalPeace


Capítulo 2
Come again.


Notas iniciais do capítulo

Não acredito que é a última fanfic que eu faço desse ship ;; mas ok.



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— Meia hora! — um dos roadies da banda grita, avisando o horário pela terceira vez e escancarando a porta do camarim, para tornar a batê-la com força depois.

Eu me viro, um pouco assustada e ainda dominada pelo nervosismo que antecede um show, quando pela brecha da porta fechada já consigo ouvir o barulho e algazarra dos fãs que lotam o festival. Me jogo no sofá do camarim, abraçando uma almofada aleatória em formato de nuvem. Pelo menos eu tenho um camarim, e só pra mim, mesmo que seja praticamente minúsculo. E tem comida, isso já é muita coisa perto dos pequenos shows que a minha banda fazia por Ooo há algum tempo atrás.

Ouço o meu celular tocar incansavelmente sobre a almofada, um toque alto e irritante, mas não estou com vontade de atender. Na verdade estou com vontade de sair correndo e gritando. Tiro uma caixa de chicletes do bolso e começo a mascar alguns pra disfarçar a ansiedade, mas eles me lembram a Bonnie, e isso adiciona mais sensações conflitantes ao que eu já estou sentindo. Quase não conversamos na última semana por causa dos meus ensaios constantes e das obrigações dela como princesa. Sinto uma dor no peito, e acho que é saudade. E aflição. E preocupação. Por que eu sempre me torno essa bagunça de sentimentos quando tenho que encarar responsabilidades?

Me levanto quando meu celular começa a vibrar outra vez, e o desligo sem nem ao menos ver o número. Deslizo as mãos pelo rosto, impaciente, assim que volto a me sentar no sofá, e depois tento me distrair puxando um fio da minha calça jeans preta, rasgada nos joelhos. Encaro o nada através do espelho da penteadeira, fecho as fivelas da minha bota, jogo o cabelo para o lado, tento descobrir que música estão tocando no palco. Tenho que parecer alguém completamente confiante. Acho que o melhor seria pegar o baixo e ensaiar pela última vez, mesmo que sozinha. Outra batida na porta me deixa alerta, e eu me levanto de novo pronta para pedir que me deixem em paz pelo menos um pouco, ou vou acabar tendo um surto.

— Mas que droga, eu já...

Eu congelo, respirando fundo. Não dessa vez. Com a mão na maçaneta, a garota na minha frente hesita, deixando cair no chão um pequeno embrulho em uma sacola, seu constrangimento bem evidente nas bochechas rosadas. Eu me sobressalto, surpresa, tentando disfarçar meu equívoco, e pego o embrulho do chão para devolvê-la.

Bonnibel.

— Ah, Bonnie... achei que era o roadie, vindo me avisar de novo... — eu tento explicar, mas minha voz falha um pouco. Ela não tinha dito que viria. Nem de longe eu estava esperando que aquilo acontecesse, mesmo que no fundo tudo o que eu mais queria era vê-la antes de tocar no festival. Colo o chiclete disfarçadamente no batente da porta e sorrio, abrindo espaço para ela entrar. Socorro.

Preciso me conter pra não abraçá-la e pular de alegria ali mesmo.

— Ah — ela olha em volta do pequeno camarim, cautelosamente, um pouco envergonhada. — Estou atrapalhando você?

— C-claro que não, Bonnie! — eu fecho a porta e indico o sofá para ela, afastando as almofadas, tentando deixar o lugar apresentável. Somado ao nervosismo de logo ter que estar em cima do palco, agora eu tenho esse sentimento familiar, esse aperto no peito misturado com euforia, que eu não faço a mínima ideia de como ela consegue fazer vir à tona com toda essa intensidade. Consigo falar mais alto dessa vez — É que faltam poucos minutos pra minha banda entrar e um dos roadies vem aqui o tempo todo me dizer a mesma coisa, achei que fosse algum deles tentando me perturbar de novo — cala a boca, Marceline. — Enfim, já tocaram umas três bandas antes da gente, você só chegou agora?

— Ah, eu não me importo muito, só vim ver você. Te liguei antes, pra avisar, mas ninguém atendeu — ela alisa o tecido de uma almofada, com o olhar distante, deixando o embrulho ao seu lado. Depois se volta para mim e completa: — Tem sido meio difícil conseguir me encontrar com você desde que você ficou tão... ocupada. Assim como eu.

Então ela sente falta de mim? Por um momento minha mente fica tão em branco que tudo o que eu consigo escutar são os ecos da bateria que vem lá do palco. Só consigo me concentrar nos olhos dela, no cabelo preso despreocupadamente, na roupa que ela está vestindo — uma blusa preta com saia plissada xadrez e botas de couro — coisas que eu jamais imaginaria vê-la usando e impressionada de como ela fica perfeita nelas. E... naquele batom vermelho.

Glob.

Então todos aqueles sentimentos que me dominaram antes me atingem de uma vez só. Eu preciso beber alguma coisa. Preciso comer alguma coisa. Preciso ficar invisível e voar para longe.

Por sorte eu só abro o frigobar e pego uma maçã, sorvendo a cor dela lentamente, organizando meus pensamentos. Prendo o cabelo com um nó, inconscientemente imitando-a. Pergunto se Bonnie quer alguma coisa para beber, mas ela recusa. Talvez esteja se lembrando da última vez em que derramou vinho na própria blusa, então eu agradeço por ali só ter cervejas e refrigerantes, mesmo que aquele déjà vu não me incomodasse. Minha mente se acalma, e eu me permito flutuar até me sentar ao lado dela no sofá como uma pessoa civilizada. Preciso parar de deixar meu lado vampiro falar mais alto quando estou apaixonada por alguém.

— E então, como vão as coisas? — ela se encolhe no sofá, deixando a cabeça pender no encosto, um ligeiro sorriso brincando em seus lábios rubros. — Você estava bastante ansiosa da última vez que te vi.

— Bem, dessa vez vamos tocar pra uma plateia maior, então todo mundo está um pouco apavorado — eu confesso, pegando o meu baixo o colocando entre nós duas, dedilhando a primeira música do set dessa noite. — Você ainda não se arrependeu de ter participado daquele ensaio?

— Nem um pouco, Marcy — ela nega com a cabeça, sorrindo. Eu sorrio também, mostrando sem querer meus caninos afiados. — Eu gosto de te ouvir cantar.

Acho que não parei de pensar naquela noite um minuto sequer. Ao olhar para ela já consigo lembrar como era sentir a pele dela contra a minha, os lábios dela nos meus, o sabor doce do beijo dela. Recordo de cada sorriso envergonhado, de cada gesto, de cada segundo. As lembranças me atacam como uma crise de abstinência, e o sangue corre em minhas veias como se desejasse com todas as forças tê-la novamente como daquela primeira vez.

Mudo a música de repente, sentindo as cordas na ponta dos dedos, deixando uma parte de mim ter com o que se focar além daquela beleza estonteante. Mas ela se aproxima um pouco mais, quase me fazendo errar a melodia de novo.

— Eu não me arrependo de nada do que faço — Bonnie completa, brincando rapidamente com uma mecha do meu cabelo que se soltou e emoldura o meu rosto, depois voltando a me encarar. — Mesmo que às vezes eu tenha obrigações demais pra poder fazer o que eu realmente quero.

Ela suspira, sua voz sobrepondo-se ao barulho que vem lá de fora:

— Eu queria te encontrar de novo, quando você estivesse menos ocupada e sem estar prestes a fazer um show. Quero dizer, da próxima vez.

Percebo que ela sempre fica mais corada que o normal quando está comigo. Paro de tocar quando uma sensação estranha me invade e dissipa meu nervosismo. O que é estar na frente de milhares de pessoas quando tenho na minha frente a garota que mais me causa arrepios só de estar perto de mim?

— Você não devia usar um batom vermelho quando for encontrar uma vampira — eu sussurro próxima aos lábios dela, prendendo-a com o olhar, deixando o baixo de lado para tocá-la levemente no queixo. — É um pouco injusto.

— Eu estou falando sério, Marceline — ela começa a rir, e eu adoro esse som. Eu sei que o que ela diz é verdade. Sei desde a noite do ensaio.

— Eu também. — Deslizo o indicador pelo lábio inferior dela, manchando-o com a cor. Me sinto faminta só de olhar para ela, mas de um modo diferente. Preciso tanto tocá-la, estar perto dela, tanto, que não me reconheço mais. Já faz muito tempo desde que estive tão de joelhos por alguém.

Eu não aguento mais me segurar. E sei que logo vamos ter que sair daqui.

Não espero ela me dizer mais nada, apenas movo minha mão para a nuca dela, desfazendo o cabelo preso, deixando-o deslizar em ondas cor de rosa pelas costas e ela faz o mesmo comigo, acabando com aquela pequena distância entre nós duas que nunca deveria ter existido em primeiro lugar. Logo nossos lábios se tocam, vorazes, de um modo mais profundo do que estava gravado em minha lembrança. Chega de disfarçar o quanto precisamos disso.

Deixo-me levar completamente. Não me importo que as minhas botas e as dela estejam sobre o sofá no momento em que eu me viro por cima dela, deitando-a entre as almofadas, derrubando algumas no chão. Ela estreita os olhos, sorri, sabe que exerce algum poder sobre mim, se aproveita disso. Sinto todos os sabores dela em minha língua e ela desliza as unhas pela minhas costas e meus braços. Minha boca se move para a pele macia do pescoço dela, e tenho certeza que posso ouvir sua respiração e os batimentos de seu coração ficarem mais rápidos. Gosto de deixar a minha marca, mas por mais que eu tenha vontade, não vou mordê-la. Não agora.

Sei que ela está tentando ao máximo fazer com que eu não perca o controle, se refreando quando me toca ou quando sua mão se prende aos meus cabelos ao intensificar o beijo. Não ligo pra nada disso. Rapidamente eu movo as mãos dela para cima, removendo a blusa dela sem hesitar. Bonnie usa um sutiã preto dessa vez. Eu sorrio, jogando meus cabelos compridos para o lado. Se fosse vermelho eu realmente não iria conseguir me comportar.

Ela suspira, sua pele se arrepiando sob a minha. Meus braços trilham o corpo dela, só um pouco, pra saber como ela vai reagir. Talvez estejamos indo rápido demais...

Mas uma batida na porta me deixa alerta. E outra e depois outra. Mais cedo do que eu esperava, me trazendo à realidade sobre onde nós estamos. Ela me encara, com a mão sobre os lábios, lembrando de que eu não deixei a porta trancada, então eu corro até lá com toda a pressa que consigo reunir. Vejo Bonnie olhar ao redor, procurando a blusa, mas como não encontra, acaba pegando o embrulho que trouxe, tirando de dentro o casaco que eu havia emprestado da última vez.

Abro a porta, o suficiente para que só eu possa aparecer. Lá fora as pessoas gritam como se o mundo estivesse acabando naquele exato momento, provavelmente com alguma banda famosa se despedindo do palco.

— Dez minutos, Marceline! — o roadie me olha de cima abaixo pela brecha da porta, e eu tenho esperanças que ele não note nada estranho. — E esse batom vermelho ficou ótimo. Esse borrado dá uma impressão bem punk, não?

— Ah, ok. Foi essa a intenção. — Aceno com a cabeça, trocando um breve olhar com Bonnibel, que agora está escondida atrás da porta, e tento manter minha voz normal. — Hm... Já estou indo.

Bonnie sufoca uma risada.

Eu bato a porta e nos entreolhamos. Um segundo de silêncio depois e começamos a rir juntas, e eu deslizo porta abaixo, sem conseguir me conter. Corro os dedos pelo cabelo, que agora sei que deve estar completamente bagunçado. Será que nós duas atraímos esse tipo de situação sempre?

— Onde foi parar a minha blusa? — ela diz, terminando de colocar o casaco e ainda sorrindo enquanto procura atrás do sofá, mas eu ainda a puxo pela mão para um último beijo, que não se parece nem um pouco com um beijo de despedida.

É simplesmente um “até logo”.

— Fica com o meu casaco mesmo, você pode me devolver mais tarde — dou de ombros, pegando o meu baixo e entrelaçando os dedos dela nos meus, levando-a para fora junto comigo, onde me aguardam, onde me esperam. — Preciso de uma desculpa pra levar você pro meu quarto depois do show.

Nos separamos no corredor, onde ela vai para a plateia, e eu para o palco. Bonnie ainda me lança seu último sorriso encorajador quando se afasta, mesmo que eu não queira deixá-la ir.

Se eu posso me sentir viva, sei que é com ela que isso acontece.


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Notas finais do capítulo

Fico impressionada como as coisas fluem fácil quando escrevo no POV da Marceline. Acho que somos parecidas. Olha só, acabou que eu ainda vou conseguir postar mais um capítulo depois desse. Talvez eu demore um pouco de novo, mas sabe como é, inspiração vai e vem (mesmo pra escrever coisas clichês, sorry). Comentem ;)



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