Before we fall apart. escrita por ChemicalPeace


Capítulo 1
I'll sing for you.


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma shortfic sobre bubbline (que eu jurei que não ia mais escrever), mas ok. Meu OTP merece.



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As notas saem do violão como se por vontade própria, harmoniosas e ritmadas que mudam de acordo com suas cordas. Melodias criadas na minha cabeça para tentar traduzir em sons aquilo que eu não consigo colocar pra fora.

Papéis caídos pelo chão da sala estão cheio de rabiscos e novas tentativas de que as próximas letras não vão ser tão pessoais assim. Mas não dá certo.

Como se faz pra tirar uma pessoa da cabeça?

Eu não quero pensar nela, mas então me vem uma sensação estranha, não ruim, mas estranha – e alguma coisa vai fazer me lembrar dela. Qualquer coisa.

Se eu pudesse me ver no espelho agora mesmo, eu não me reconheceria mais. Não que isso seja algo ruim. Depois que eu conheci essa garota, toda aquela apatia, instabilidade, raiva e rancor que me faziam mais um monstro do que a minha pequena parte humana, havia desaparecido. Ou se escondido. Todos os demônios se foram, e só sobrou… eu mesma.

“Olhe em meus olhos e verá que eu não estou tão morta assim” eu escrevo com minha caligrafia despreocupada em um dos papéis largados no chão. Deve ser a terceira letra que escrevo na mesma noite.

Deito no sofá de cabeça para baixo, pernas sobre o encosto, o violão sobre o colo numa posição esquisita, mas que me deixa trabalhar do jeito que gosto. Meus cabelos longos e escuros varrem os papéis riscados do chão, ignorando todos eles, porque ela está lá de novo, e ela é o que eu preciso, mesmo que não queira admitir.

São todos aqueles sentimentos que eu não queria sentir de novo.

São todos aqueles sentimentos que eu não deveria sentir de novo.

Nunca tive boas experiências sobre me apaixonar por alguém.

Mas o nome dela sempre permanece na minha mente, e é sempre a parte mais bonita e não existente de qualquer música que eu consigo escrever. Minha inspiração, minha redenção.

– Bon... ni... bel.

Eu deixo o violão de lado e fecho os olhos. Já escrevi demais.

–--------------

Não sei se foi uma boa ideia.

Tenho certeza que não foi uma boa ideia.

Por Glob, é óbvio que não foi uma boa ideia, mas eu estou aqui. Mais um ensaio da banda, um dos poucos antes do show no festival na próxima semana, e eu não estou fazendo parte de um monte de músicas dessa vez. Eles sabem o ritmo, eu não preciso cantar agora, está tudo bem. Mas como as coisas chegaram a esse ponto?

Bonnibel olha pra mim de um jeito curioso, do tipo, o que ela está pensando ao me encarar assim?

Eu também não sei o que estava pensando quando a convidei pro ensaio na minha casa, mas ela aceitou, então eu achei que dessa vez as coisas dariam certo.

Na minha cabeça, aquilo havia saído mais como um “Oi Jujuba, quer ir ao ensaio da minha banda lá em casa? Vai estar cheio de vampiros, mas te garanto segurança, bebidas e quem sabe uns beijos durante a noite. Ok? Ok”.

Eu suspiro e fecho a porta do banheiro, abafando o som que vem de fora.

– É só uma mancha de vinho – ela tenta me tranquilizar, passando uma toalha úmida na frente da sua blusa cor de rosa. Eu a encaro através do espelho, de braços cruzados e encostada no batente da porta pra ter algo em que me apoiar e tentar parecer legal em minha calça jeans básica e All Stars pretos. Ela se vira para mim com a mesma expressão curiosa de antes, depois de tentar ver algum reflexo meu. – Que estranho você ter um espelho.

– Às vezes eu convido princesas, e elas sempre precisam se arrumar depois... – eu respondo, mas logo depois vejo que saiu mais como um duplo sentido estranho. Espero que ela tenha entendido isso como uma piada. – Hm... Jujuba, posso te ajudar?

– Pode começar me chamando de Bonnie – ela sorri e me estende a toalha. – Mas não sei se você vai conseguir fazer algum progresso aqui.

Bonnie. Eu gostaria de rir e dizer que eu já sei de quase tudo sobre ela, e fico ainda mais impressionada quando ela não pede que eu a chame de Bonnibel. Acho que é um grande avanço. Não faz tanto tempo assim que a gente se conhece, mas já conversamos muitas vezes e saímos juntas. A maior parte do tempo eu fiquei apenas me perguntando como essa garota conseguia prender tanto a minha atenção onde quer que estivesse, porque nós não tínhamos quase nada em comum. Depois que descobri que o motivo de Bonnibel não sair da minha cabeça não era porque eu a detestava, eu tentei me afastar – o que não funcionou também.

Só de ficar mais próxima dela eu começo a ficar vermelha e não sei bem como agir. Sinto um perfume doce me envolver quando puxo aquela parte do tecido em minhas mãos e começo a esfregá-lo com a toalha, mas tudo o que acontece é a mancha passar de vermelho-vinho para uma cor mais alaranjada. Depois de algum tempo ela desiste, percebendo que não ia conseguir ir muito além daquilo.

Eu fico tão nervosa perto dela que nem me reconheço.

– Vamos tentar de outro jeito – ela diz, virando de costas para mim e tirando a blusa, deixando à mostra a pele deliciosamente rosada das costas e dos ombros. Ela me entrega a peça de roupa com as bochechas levemente coradas de vergonha e eu acho que estou parada no ar há uns cinco minutos sem nem piscar. – Ei, o que foi?

– Bonnie! – eu começo a rir, entendendo aos poucos o porquê de eu gostar tanto dela. Nunca conheci alguém tão impulsiva assim. – Eu ainda sou uma vampira, sabia? – digo, sem tirar os olhos de seu pescoço que me parece perfeitamente macio. Mordo o lábio inferior meio que inconscientemente por causa disso, imaginando certas coisas um tanto impróprias.

E também... De um encontro amigável a ter a princesa dentro do meu banheiro no meio de um ensaio da minha banda de rock, usando um sutiã rosa que combinava perfeitamente com os shorts – mas acho que não foi de propósito – e se divertindo com a minha falta de jeito? É, as coisas se intensificaram bem rápido.

Ela sorri de novo, ao ver que eu me perdi em algum lugar dentro da minha cabeça. Por Glob, como ela consegue ser tão... tão... atraente?

Eu abro a torneira e tento me concentrar na água caindo sobre a blusa e nos acordes de guitarra abafados que vem da sala, mas só presto atenção na voz dela e no quanto eu gostaria de estar realmente sozinha com ela e de preferência em outro lugar.

– Eu me sinto à vontade perto de você, Marceline – ela diz, enrolando uma mecha de cabelo no dedo, ainda virada de modo que não ficasse muito exposta perto de mim. – Nunca conheci uma garota vampira como você.

Talvez o motivo seja que não sou uma vampira, eu pensei, mas não disse nada, porque é a primeira vez que ouço alguém dizer algo do tipo para mim e isso me deixa estranhamente feliz. Não queria estragar tudo o que já estava estragado tendo que revelar a ela de cara que eu sou filha de Hunson Abadeer. Nem ter que revelar também que eu não fazia ideia de como agir diante de uma princesa do Reino Doce. Ou diante de qualquer princesa, quando se tinha passado a vida inteira lidando com criaturas da Noitosfera.

Xingando mentalmente a maldita mancha de vinho que se recusava a sair, deixo a blusa de lado. Já estava ensopada o suficiente para que Bonnibel não conseguisse usá-la pelo resto da noite ou pelo resto do século, então daria no mesmo. Fazendo um esforço indescritível para sair do lado dela, eu digo que vou até o quarto buscar alguma blusa para emprestá-la. Praticamente desabo no meio do corredor, sem saber lidar com tudo isso que está acontecendo, correndo as mãos pelos cabelos de tão irritada comigo mesma, e ainda por cima ansiosa. Um ganido irritado escapa da minha boca. Por que eu não consigo agir pelo menos um pouco normal perto dela? E por que ela fica dizendo essas coisas que sabe que vão mexer comigo?

Anoto mentalmente que preciso voltar o mais rápido possível para o ensaio e começo a procurar qualquer blusa dentro do armário, alguma coisa menos dark que eu possa ter e que combine com ela. Acabo escolhendo um casaco fino verde-claro – talvez fique um pouco grande já que Bonnie é um pouco mais baixa do que eu, mas sem problemas. Quando abro a porta do banheiro de novo, ela está sentada na bancada em cima da pia, com as mãos unidas perto dos joelhos, parecendo um pouco constrangida. Me arrependo imensamente de tê-la deixado sozinha.

– Uma das poucas vezes que eu consigo ficar a sós com você é porque eu fiz alguma coisa errada, Marceline – ela desvia o olhar, o cabelo comprido deslizando em ondas sobre os ombros. – Não é uma coisa muito típica, sabia? Ainda por cima estou atrapalhando o seu ensaio.

Chego mais perto dela, ainda não sabendo se eu deveria, e faço com que ela olhe para mim. As outras vezes em que estivemos juntas não chegaram nem perto disso, mas sempre deixei bem claro que eu sentia algo a mais, bem além de amizade, e ela também. O que faltava era a coragem mútua, o pontapé inicial, e eu senti que se não fosse naquele momento, não seria nunca mais.

– Para de dizer isso, tá? Você não está atrapalhando nada – eu sorrio, colocando minha mão sobre a dela. Os dedos dela se entrelaçam nos meus de um modo delicado e eu fico surpresa com isso, como ela aceita o meu contato de imediato. – Ainda temos o resto da noite, se você quiser. Nossos horários não são os mesmos, afinal.

Bonnie estreita os dedos nos meus e retribui com um sorriso tão doce quanto ela. Consigo perceber que seu rosto fica ainda mais corado a cada segundo que se passa, como se ela estivesse se contendo ao máximo para não ficar completamente vermelha.

– Eu achava que você não gostava de mim, no início – digo, um pouco na defensiva. Ela olha para mim como se aquilo a surpreendesse também. – Mas eu também não gostava de você. Nós somos muito diferentes.

Ela ri. “É bem óbvio”, ouço-a dizer, quando olha para as nossas mãos juntas. Foi difícil e demorou muito até que começássemos a nos dar bem, a gostar da companhia uma da outra, a entender o que se passava nas nossas mentes tão confusas.

O quente e o frio, o diurno e o noturno, o rosa e o preto, uma vampira... e uma garota doce.

Alguma coisa no sorriso dela me prende, me deixa mais leve saber que, apesar de todas as nossas divergências ela se sente bem ao meu lado. Bonnie se encosta na parede de azulejos do banheiro, me lançando um olhar tão adorável que não penso duas vezes e flutuo um pouco até ficar da altura dela, até conseguir olhá-la nos olhos e ter certeza que toda a atenção dela é para mim.

– O que acontece comigo quando estou perto de você? – eu suspiro, me inclinando de leve, deixando um pouco dos meus cabelos cobrirem minha expressão repentinamente envergonhada.

É praticamente uma declaração. Ela desfaz o laço que era o aperto de nossas mãos, por um instante, avaliando minhas palavras, antes de respondê-las.

– É o que eu estou tentando descobrir também.

Com os olhos brilhantes fixos nos meus, seu dedo desliza uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. Ela passa a língua pelos lábios, de um jeito um pouco nervoso, e eu me aproximo um pouco mais. Esqueço do casaco em cima da bancada, esqueço da música alta que entra através da brecha da porta, esqueço que ela é uma garota doce e eu uma vampira.

Nada mais importa quando os lábios macios encostam nos meus, tímidos no começo, como se estivesse com medo de ir além. Mas depois, como se ela deixasse de se conter, entrelaça os dedos no meu cabelo e me puxa mais para perto, aprofundando o beijo. Estou acostumada com garotas vampiras, com seus beijos quentes e toques frios, mas não existe nada igual ao beijo dela, tão doce e tão delicado, ao mesmo tempo em que ela é segura e decidida. Bonnie respira fundo quando minhas mãos começam a trilhar a pele arrepiada dos braços, depois pelas costas e então param na cintura, e eu a puxo ao meu encontro só para provocá-la ainda mais. Sinto que talvez eu vá perder o controle primeiro quando minhas mãos se prendem em seus cabelos e sigo o caminho do canto de seus lábios até o pescoço, e ela suspira e arranha de leve as minhas costas sob a regata enquanto meus dentes afiados tocam sua pele o mais leve que consigo.

Nós nos separamos, mas ainda ficamos a poucos centímetros uma da outra, e nos entreolhamos um pouco assustadas com o rumo que as coisas levaram tão rápido.

– Eu acho que não ia aguentar esperar mais – eu digo para quebrar o gelo, e ela sorri também. Dessa vez eu que coloco uma mecha de cabelo rosa para trás da orelha dela, adorando como fui capaz de mexer com ela e tirar seu fôlego com as minhas pequenas intenções.

– Bem, eu acho que valeu a espera, por mais que eu não tenha imaginado que seria assim – ela ri, colocando os braços na frente do corpo, percebendo que havia se esquecido completamente de que estava sem blusa. Bonnie desce da bancada da pia e veste o casaco que eu trouxe, e realmente fica grande, mas combina perfeitamente com ela.

E antes de sairmos daquele lugar, não resisto em puxá-la pela cintura e beijá-la de novo, porque eu quero ter certeza de que tudo aquilo é verdadeiro, e não mais um dos meus sonhos protagonizados por ela. E Bonnibel retribui o beijo com a mesma intensidade, não me deixando dúvidas que não era só eu que já queria isso há muito tempo.

Eu passo o resto da noite cantando todas as músicas que, por mais que ela não saiba – e talvez um dia eu confesse – em algum momento ela foi a inspiração. O olhar dela me acompanha como se não houvesse ninguém ali além de nós duas, e eu preciso me beliscar umas duas ou três vezes para me certificar que essa é a realidade. Bonnie é a minha realidade.

E isso me faz sorrir.


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Notas finais do capítulo

Reviews são bem vindos (sério). Posto o próximo assim que puder~ Informação útil: http://www.viticultura.org.br/noticias/index.php?id=292



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