When I'm Gone escrita por Moliuóli


Capítulo 1
Capítulo 1




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Se alguém dissesse para Eloiza, há seis anos atrás, que quando ela estivesse no último ano em Hogwarts seria parte do grupo mais baderneiro da escola, que quebraria pelo menos umas dez regras por dia e encobriria a maioria das coisas ilegais feitas por seus amigos, ela com certeza riria da cara dessa pessoa, e a mandaria fazer algum tipo de tratamento para loucura. Mas, agora, ela diria que sua vida apenas deu uma boa reviravolta desde que ela conheceu as pessoas de quem se tornaria melhor amiga.

Ninguém nunca poderia dizer, quando ela era mais nova, que no primeiro dia de aula do seu último ano ela estaria dando cobertura para cinco pessoas que tentavam colocar bombas de bosta no teto de um corredor do terceiro andar, programadas para cair quando alguém passasse.

— Sabe, eu não acho que a gente realmente devia... — Ela falou, virada de costas para o grupo.

— Shh — Marcela, uma corvina também do último ano, interrompeu. — Fica quieta.

Ela olhou para a amiga. De todos os seis, ela e Arthur, seu irmão lufano, eram os que mais os agitavam para aprontar algumas coisas, na maioria das vezes. Ela era um ano mais velha que ele, e a única semelhança entre os dois era nos olhos, mas os dois tinham a mesma habilidade para fazer coisas ilegais dentro da escola e sair ilesos. Arthur era mais baixo que ela, e tinha os cabelos castanhos claros e enrolados, enquanto os dela eram lisos e mais escuros.

Marcela e sua outra amiga, Julia, estavam agachadas, bem concentradas em amarrar corretamente uma cordinha fina e quase invisível alguns centímetros acima do chão, que faria as bombas caírem quando alguém pisasse ou tropeçasse nela. Enquanto isso, Péricles e Arthur amarravam com um feitiço a munição no teto, tomando cuidado para não deixar cair alguma na cabeça das meninas.

—Vão rápido com isso, acho que alguém está vindo — Vitória, a meia irmã de Julia, que vigiava o corredor oposto ao de Eloiza, sussurrou. Ela era da Grifinória, e tinha a mesma idade que Arthur, mas era ainda mais baixa. Como era de costume, seus cabelos curtos e platinados naquele dia estavam completamente desorganizados, mas de um jeito bonito. Ela segurou sua varinha, só para o caso de precisar lançar algum feitiço abafador, e bagunçou ainda mais seus cabelos, deixando-os de um modo elegantemente desleixado.

Julia se levantou, seguida por Marcela, e as duas olharam para a corda no chão, avaliando-a.

— Acho que terminamos — Julia falou. Ela era mais alta que Marcela, tinha olhos castanhos e cabelos cacheados. Era monitora da Corvinal e estava no último ano, o que as vezes a fazia ter um ego um pouquinho grande demais, mas no geral era um amor de pessoa.

— Sério gente, está realmente vindo alguém — Vitória os apressou.

— Também terminamos — Péricles anunciou. Ele era o mais velho do grupo, e o único da Sonserina. Sua pele morena se esticou em um sorriso quando ele falou. — Agora só precisamos esperar alguém passar por aqui para ver no que dá.

— Vocês acham mesmo necessário jogar uma bomba de bosta na cabeça de alguém? — Eloiza retrucou, se aproximando do grupo.

— Por Mérlin, Elo, relaxe — Marcela respondeu. — Você já participou de coisas muito piores.

— Além disso, as bombas não vão cair em cima da pessoa — Vitória abria caminho pelo grupo para sair do corredor, que estava começando a cheirar um pouquinho mal. — Vão cair atrás, sabe, só para assustar.

— Tá, agora a gente sai daqui pra assistir ao show de longe — Arthur passou no meio das meninas, com um gesto de cabeça que as pedia para segui-lo.

— Esperem — Julia parou, procurando algo dentro do bolso das vestes. — Esquecemos uma coisa.

Ela tirou um pedaço de papel de uns dez centímetros do bolso, que tinha o desenho de marcas feitas por garras de tigre, e o encostou na parede, murmurando um rápido feitiço. Quando tirou, o desenho estava gravado em preto, em cima do local onde elas haviam amarrado a corda.

— Ok, agora vamos.

— Esperem aí — uma voz desconhecida chamou a atenção do grupo, vindo do fundo do corredor.

Eles se viraram e viram um garoto alto e forte, com cabelos escuros e uniforme da Sonserina, andando até eles com as mãos nos bolsos. Nenhum dos seis o conhecia, nem mesmo Péricles, e parecia que ele também não sabia quem eles eram.

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Pensei que os alunos ainda fossem permitidos a andar pelos corredores antes do jantar — Vitória retrucou.

— Não foi isso que eu perguntei.

— Quem é você, aliás? — Péricles se colocou um passo a frente. — Nunca te vi no Salão Comunal.

O menino apenas olhou para ele, desinteressado, só então percebendo que ele também vestia uniforme da Sonserina.

— O que vocês estão fazendo aqui? — repetiu.

— Eu acho que a minoria fala primeiro — Julia se interpôs.

Eloiza estava começando a não gostar daquilo. Já assistira os amigos começarem uma discussão a partir de coisas que poderiam ser resolvidas facilmente, e não era muito legal.

— Ok, vocês não vão colaborar, não é? — ele respirou fundo, entediado. — Gustavo, ex-Monitor Chefe. Estou substituindo o atual Monitor Chefe essa noite, portanto vocês já podem me responder o que estavam fazendo em um corredor que está fora de seu caminho para o Salão Principal.

— Estamos passeando pela escola. Sabe como é, saudades desse lugar, ficamos muito tempo fora...

Eloiza não entendeu se ele queria falar sério ou estava sendo sarcástico, mas viu que Gustavo não havia ficado muito feliz.

— Nós estávamos procurando por Filch — ela disse, antes que o garoto pudesse falar alguma coisa. — Queríamos que ele levasse um recado à professora Trelawney.

— E por que vocês simplesmente não foram... — ele parou de falar quando olhou um pouco para o lado, e percebeu o desenho na parede. Ele encarou aquilo por dois segundos e soltou uma risada.

Os seis se entreolharam, um pouco nervosos.

— São vocês? Os Harpias são vocês?

— De que está falando? — Vitória ainda mantinha um ar um pouco intimidador.

— Ah, você sabe, aquele grupinho que anda por aí quebrando mil regras da escola e bagunçando tudo que veem pela frente. Todos conhecem esse símbolo, depois que eles, ou vocês, o pintaram em tamanho gigante ao lado do nome do grupo no Salão Principal. Olha, devo confessar que estou impressionado que ninguém tenha descoberto que são vocês ate hoje.

Ele olhou para o desenho novamente, e procurou algo de diferente pelo corredor. Riu de novo quando viu as bombas amarradas no teto.

— E parece que dessa vez vocês foram bem maldosos, hein?
Eles ficaram quietos, aparentemente decidindo se negavam ou não. Eloíza torcia mentalmente para que eles negassem. Não queria que descobrissem àquela altura que eles eram realmente o grupo de baderneiros que se auto-intitulava Harpias.

— Na verdade — dessa vez Marcela foi quem falou. — Nós não somos os Harpias, e se fôssemos, acho que seríamos mais cautelosos, não? Eles conseguiram se esconder por seis anos, não iriam deixar um ex-Monitor Chefe os descobrir de uma hora pra outra.

Gustavo acenou com a cabeça, pensando no que ela dissera.

— Tem razão, eu também acho. Mas eu sou obrigado a discordar de você, por causa de uma coisa.

Ele apontou para a mão de Julia. Os outros também olharam, e somente naquele momento ela percebeu, junto com os amigos, que ainda segurava o papel com o desenho das garras.

Ela soltou um palavrão, e guardou o desenho. Gustavo riu.

— Tudo bem, agora vamos às apresentações formais. Nomes, por favor — ele disse, acenando com a varinha e fazendo aparecer um pedaço de pergaminho e uma pena na sua frente.

— Você não vai contar que somos nós — Marcela se postou à frente do grupo.

— Ah, é mesmo? E por que não?

— Nós podemos apostar alguma coisa. Ou te fazer algum favor. Peça o que quiser.

Ela pareceu se odiar por estar quase implorando para o menino manter segredo, mas não fraquejou.

Ele pareceu considerar a proposta por uns segundos.

— É, talvez tenha uma coisa que vocês possam fazer.

— Fale.

— Sabe, apesar de não concordar com o que vocês fazem, eu não posso negar que aquelas festinhas que vocês fizeram para os alunos no ano passado foram muito legais. E muito inteligentes, já que não chegaram nem perto de se revelar.

Ele fez uma pausa para pensar por mais alguns segundos, e todos ficaram em silêncio.

— Eu poderia não contar para McGonnagal que vocês são os Harpias, sim, desde que vocês me ajudem com uma coisa.

— Você está pensando em fazer uma festa daquelas?

— Tecnicamente, é algo um pouquinho mais complicado. Sim, é uma festa, mas com alunos que já se formaram. Eu queria trazer uns amigos meus pra cá para a festa que os alunos mais velhos da Sonserina costumam fazer antes do Natal. Sabe, para matar saudades...
Ele sorriu maliciosamente, e os amigos se entreolharam, pensando na ideia.

— Bom, caso vocês não queiram, eu estava indo agora mesmo para a sala da diretora... — ele começou a andar devagar para o corredor à esquerda.

— Espere — Eloiza chamou. — Nós fazemos.

Os outros cinco olharam impressionados para ela. Tudo bem, eles já estavam pensado em aceitar mesmo, mas não imaginavam que a primeira pessoa a dizer isso seria ela.

— O que foi? É fácil, não é?

Gustavo riu, satisfeito.

— Ótimo. Você — ele apontou para Arthur. — Eu te procuro no Salão Comunal essa semana para explicar os detalhes. E tirem essa coisa do teto. Não estou a fim de ver o zelador tendo outro chilique por causa de bombas de bosta no corredores.

Lançou um último olhar ao resto do grupo e se afastou, colocando novamente as mãos nos bolsos.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, observando o garoto se afastar.

— Uau — Péricles soltou. — Super simples, não é? Digo, trazer um bando de bruxos que não estudam mais aqui para dentro da escola.

— Pra quem já conseguiu dar três festas enormes aqui dentro sem ser descoberto, fazer eles usarem uma das passagens para Hogsmead que achamos e chegarem à Sala Precisa sem ser vistos, não deve ser tão complicado.

— Vocês fazem essa festinha da Sonserina na Sala Precisa? — Arthur perguntou.

— Geralmente. Eu nunca fui em uma, porque acho o pessoal da Sonserina meio chato, mas sei como elas são.

— Ok — Marcela interrompeu. — Podemos ir agora, ou vamos esperar mais alguém subir?

— Relaxa, senhora — Péricles disse, segurando sua mão. — Está todo mundo no Salão Principal a essa hora.

Eloiza observou por um segundo os dois caminhando de mãos dadas. Ainda não tinha se acostumado muito bem com o fato de eles serem namorados, apesar de conviver com os dois como um casal há um ano. Era estranho mudar a imagem que tinha deles de quase irmãos para namorados.

Ela olhou em volta, verificando se não haviam esquecido nada, e se lembrou da pequena armadilha que eles haviam montado.

— Ei, vocês não vão tirar as bombas do teto? — Perguntou.

— Depois de todo aquele trabalho para colocar? — Péricles a olhou como se ela tivesse dito algo ofensivo. — Nem mortos.

Ela deu de ombros e começou a andar. Já estava começando a pensar em algum plano para fazer o que Gustavo havia pedido, antecipadamente, como de costume. Caminhou em silêncio, alguns passos atrás do grupo barulhento que ia na frente.

Eles viraram em direção às mesas quando chegaram no Salão Principal para o jantar, mas perceberam que Eloiza foi para o outro lado.

— Elo — Marcela chamou. — Onde você vai?

— Ah, foi mal, eu esqueci de avisar. Fernando me pediu para encontrar com ele no Lago antes do jantar.

A amiga deu de ombros e Elo virou as costas, saindo do castelo para o vento de outono que castigava as árvores dos jardins.

Fernando era um menino da Grifinória do último ano, e seu namorado há dois anos, e era uma das pessoas mais especiais do mundo para ela. A garota tinha uma relação conturbada com os pais por não ter ido para a casa que eles queriam que fosse, Corvinal, então seus amigos e seu namorado eram seu porto seguro. Ela o conheceu no primeiro ano, já que estudavam juntos, mas só começou a conversar com ele depois do terceiro, um ano depois que seus amigos decidiram se tornar oficialmente os Harpias.

Ela começou a pensar nisso enquanto caminhavam, em como as coisas eram esquisitas. Desde pequena, ela fora uma menina certinha e super estudiosa, até conhecer aqueles cinco panacas, como ela os chamava. Tecnicamente, os quatro mais velhos do grupo viajaram na mesma cabine no primeiro dia de aula, e gostaram de cara um do outro, e o fato de terem ido para casas diferentes não os impediu de se tornarem melhores amigos. Arthur e Vitória, ou Gnoma, como seus amigos a chamavam, os conheceram no ano seguinte, e também simpatizaram imediatamente.

Ela nunca entendera porque o nome era Harpias, que é um pássaro, e o símbolo deles eram marcas das garras de um tigre, mas a única explicação que eles davam era que todos achavam aquelas coisas legais, e decidiram deixar assim. Bom, ela não poderia esperar outra resposta deles, de qualquer forma.

Andou apenas mais alguns passos até se sentar na grama ao lado de Nando, que estava de costas pra ela.

— Oi — ela disse, animada, dando um selinho nele.

Ele não respondeu, apenas a olhou por alguns segundos e voltou a encarar o lago, que começava a refletir a luz das estrelas.

— Está tudo bem? — Ela perguntou.

Ele demorou pelo menos dois segundos para responder.

— Está, sim — deu um sorriso fraco. — É que eu queria falar com você.

— E o que foi?

Ele respirou fundo e a encarou, com um olhar meio abatido.

— Eu acho que nós não devemos mais ficar juntos?

Elo ficou em silêncio por uns segundos, sem saber o que responder.

— Como assim? — Perguntou, finalmente.

— Eu não posso mais ficar com você. Eu sinto muito, mas não podemos.

— Não pode ou não quer?

Aparentemente, aquilo havia tido o mesmo efeito de um soco. Fernando desviou o olhar dela e abaixou a cabeça.

— Eu não posso. Eu ainda gosto muito de você, mas nós temos que terminar.

— Mas por que? — Elo o fez olhar de volta para ela. — Por que assim, de repente?

— Porque eu quero te poupar de algum sofrimento que eu poderia causar.

— Que sofrimento? Fernando, depois de dois anos comigo, o que você acha que faria de tão horrível que pudesse me fazer tão mal?
Havia indignação na voz dela. Ou uma pontada de desespero, talvez. Ela não conseguia entender o motivo daquilo.

Ele ficou em silêncio por um tempo, e enfim a encarou de volta.

— Eu estou doente. E é grave. E eu acho que se você se afastar, se deixar de gostar de mim, não vai precisar sofrer junto comigo. Isso é o que eu menos desejo.


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