When I'm Gone escrita por Moliuóli


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/622267/chapter/2

Várias horas depois do ocorrido com o grupo no corredor do terceiro andar, depois de muitos gritos de Filch e episódios de histeria das duas garotas da Sonserina que foram atacadas com as bombas, Arthur finalmente decidiu ir para o Salão Comunal terminar o trabalho de Runas Antigas que ele deveria ter feito duas semanas atrás. Os outros ficaram no Salão Principal fazendo qualquer bobagem, dizendo que iam mais tarde. Exceto por Eloiza, que não havia voltado dos jardins até agora, mas como eles também não haviam visto Fernando, decidiram não ir atrás dos dois.

Mas mal ele pisara no Salão e uma figura alta segurou seu braço e o puxou para algum canto. Estava escuro o suficiente para que ele não conseguisse saber quem é.

— Que saco, cara, por que diabos demorou tanto? — A pessoa praguejou. Arthur reconheceu a voz e na mesma hora tentou se desvencilhar, mas bateu a cabeça em algum armário ou estátua, não soube distinguir.

“Estive tentando falar com Brooke desde que encontrei vocês no corredor, mas essa droga de lareira deve ter algum defeito...”

Gustavo, o garoto que haviam confrontado mais cedo no terceiro andar, socou a parede da lareira, que, só então Arthur percebeu, estava ao lado deles, com uma pequena faísca que quase não brilhava mais.

— Cara, não tem como uma lareira simplesmente estar com defeito.

— Não importa. A questão agora é que eu não consegui falar com ninguém, e nós precisamos avisar à que altura do plano estamos. Ramon é que sempre consegue um jeito de falar com alguém daquela casa, mas também não achei ele em lugar nenhum.

A casa em questão era uma mansão que o grupo de Arthur usava como sede de uma espécie de organização, à qual ele se juntou há mais ou menos um ano, depois que seu pai viajou para a França em um compromisso de trabalho e nunca mais voltou. Seus colegas de trabalho alegavam que ele havia sido morto por um gigante em um confronto após uma tentativa de acordo mal-sucedida entre as criaturas e o pessoal do Departamento de Criaturas Mágicas do Ministério da Magia, que era onde ele trabalhava.

Arthur descobriu sobre a organização quando viajou sozinho para a França após o enterro, a procura de sua avó materna, chegando à casa dela sem avisar, bem no meio de uma reunião dos membros com Brooke, que era quem comandava tudo. Sua avó participava ativamente do grupo, inclusive foi quem emprestou a mansão, que ficava na Inglaterra, onde vivia quando era mais jovem.

Arthur ficara completamente perdido no meio de tudo aquilo quando chegou lá, mas a avó, que não o via desde antes de o garoto sair das fraldas, o convenceu a entrar para a “barganha”, e repetia a cada minuto como seria bom ter um membro inteligente e ativo como ele e que, principalmente, ainda estudava em Hogwarts, e isso o convenceu. Embora no fundo ele soubesse que ela só o colocou dentro daquilo por que ele havia descoberto sobre tudo e ela não queria que o garoto espalhasse boatos sobre o que era pra ser altamente secreto.

Foi justamente por isso que Arthur teve que fingir que nunca havia visto Gustavo na vida quando o encontraram no corredor. O garoto havia mentido sobre ser ex-monitor chefe. Na verdade fora transferido da Beuxbatons, a escola de Magia da França, para Hogwarts naquele ano.

Gustavo morava na França antes de ir para Hogwarts, com o objetivo de ajudar Arthur e Ramon, um outro garoto que fora recrutado mais tarde, a atingir o alvo, que no momento era a diretora da escola. O grupo planejava derrubar o governo do Ministro Kingsley Shacklebolt, e não haviam pensado em maneira melhor de começar isso senão pela maior escola de Magia e Bruxaria da Europa.

E era isso que os três estavam tentando fazer naquele exato momento. Eles eram as únicas pessoas ali dentro que sabiam dos planos daquelas pessoas, e embora ambos não quisessem muito participar disso, suas famílias praticamente os obrigaram, então não tinham muita escolha.

— Então, vai me ajudar ou vai ficar me encarando com essa cara de idiota pra sempre? — Gustavo cortou o silêncio do lugar.

— Cara, eu não posso fazer muita coisa  — Arthur começou a se afastar dele. — E aliás, eu tenho um trabalho para terminar para entregar amanha...

Nesse momento eles ouviram a porta do Salão Comunal se abrir e cortaram qualquer sinal de que estivesses conversando segundos antes, até verem que era Ramon que entrava. No mesmo momento Gustavo começou com a mesma rodada de perguntas pra cima dele.

Arthur pensou em talvez levar alguma poção da paz para ele mais tarde, pra ver se acalmava os nervos, enquanto aproveitava o momento para ir para os dormitórios sem ninguém em seu encalço.

Como todos lá estavam dormindo e ele não estava com a menor paciência para escrever 30 linhas sobre a origem das Runas Antigas, pegou um pergaminho com o trabalho pronto de um colega qualquer e copiou para o seu, apenas mudando algumas palavras.

Escrevia o mais devagar que podia, pois sabia que uma hora ou outra ia ter que voltar lá pra baixo e se juntar aos dois, e não era isso o que queria fazer no momento.

Na verdade, aquele texto estava começando a deixá-lo com sono, e ele começou a pensar seriamente em terminar aquilo, se jogar na cama e não falar com nenhum dos dois até o dia seguinte. Mas bem quando estava na última linha de seu texto muito bem copiado, Ramon apareceu na porta o chamando, e ele o xingou mentalmente.

Os dois passaram do lado do dormitório masculino do sétimo ano, e Arthur pôde ver que a cama de Péricles estava vazia, o que o fez ter que se lembrar de ficar atento a qualquer barulho que não viesse dos três lá embaixo.

— O que foi? — Arthur perguntou, já impaciente.

— Conseguimos falar com Brooke — disse Ramon, sentando no sofá em frente à lareira, que agora estava acesa, iluminando a sala. — Dissemos que já pedimos ajuda para uma “festa”, e já podemos decidir quem e quantos vão entrar na escola.

— Só isso? Já posso subir?

— Você vai ter que começar a ficar cada vez mais esperto — Gustavo o interrompeu, sem olhar pra ele. — Eu sei que seus amigos não são burros, muito menos sua irmã. Eles não podem perceber absolutamente nada, entendeu?

— Você fala como se eu não soubesse. Por acaso acha que eu seria idiota o suficiente para deixar eles descobrirem?

Antes que alguém pudesse responder qualquer coisa ouviram o barulho da porta sendo aberta e rapidamente fechada. Péricles apareceu e quase tomou um susto quando viu três pessoas reunidas na sala em um completo silêncio. Quase não percebeu que um deles era Arthur.

 

 

*

Naquele mesmo momento, do outro lado da escola, Eloiza ainda zanzava pelos jardins, no escuro, sem vontade de voltar para dentro desde que Fernando disse aquelas coisas e a deixou lá fora sozinha.

Ela não sabia se ficava abalada pelo término ou extremamente preocupada pela história da tal doença que ele nem explicou e ela não conseguiu perguntar antes de ele se levantar deixando tudo pela metade. Na dúvida, fez os dois. Na verdade ela só sabia que precisava se jogar em algum lugar e chorar igual uma criança, mas ela não chorava por nada havia anos e não ia se deixar fraquejar tão fácil. Embora quisesse. Mas no lugar disso, continuou andando sem rumo, indo do campo de Quadribol até o Lago Negro e vice-versa.

Seus joelhos começavam a fraquejar quando ela sentiu mãos encostarem em seus braços por trás, e encolheu os ombros, assustada.

— Sou eu — a voz de Fernanda, sua amiga da Grifinória, a acalmou, e ela se virou. — Está tudo bem? Você não apareceu no Salão Comunal, então eu te vi aqui pela janela...

Eloiza não respondeu, apenas abaixou a cabeça e tirou uma mecha de cabelo do rosto com os dedos.

— O que aconteceu? — A amiga perguntou.

— Fernando terminou comigo — ela respondeu, com a voz embargada. — Eu acho. Não entendi. Ele está doente, mas não me disse o que está acontecendo, e eu também não perguntei, e ele simplesmente me falou que a gente não pode ficar junto e se levantou e me deixou aqui sozinha e eu não voltei pra dentro pra não ter que explicar pra eles o que aconteceu e...

Fernanda percebeu que a amiga estava ficando nervosa, então a abraçou, a fazendo ficar quieta.

— Eu só queria entender o que aconteceu — Eloiza disse depois de uns cinco segundos.

— Vai ficar tudo bem. O que acha de irmos lá pra cima pra você me explicar melhor?

Ela acenou com a cabeça e deixou ser levada para cima. Quase não sentia os passos que dava, apenas conseguia pensar no namorado e no que levou ele a fazer isso. Ela não fazia idéia do tipo de doença que ele tinha, e pensar nisso fez com que ela começasse a se desesperar um pouco, mas antes que percebesse as duas já adentravam o Salão Comunal da Grifinória, que, apesar de estar vazio e a chama da lareira estar quase apagada, ainda tinha um ar aconchegante e acolhedor.

— Vem, senta aqui — a amiga a puxou para um sofá, e só nesse momento Eloiza percebeu que estava morrendo de frio. — Você quer dormir agora ou me contar o que aconteceu?

Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, um barulho de passos na escada chamou a atenção das duas.

Era Jefferson, um amigo (que talvez seja mais que um amigo) de Fernanda, que coçava o olho conforme descia, sem percebê-las ali. Ele vestia um roupão azul que batia no seu tornozelo, já que tinha mais de 1,80 de altura. Isso combinado com sua magreza e seus cabelos castanhos espetados o deixava esquisito descendo as escadas meio desengonçado, mas na maior parte do tempo era super encantador, na opinião de Nanda.

Ele parou no último degrau, quando olhou para frente e viu que haviam pessoas na sala. Estreitou os olhos para poder enxergar melhor.

— Oh, são vocês. E aí?

As duas se entreolharam, confusas.

— O que você ta fazendo? — Fernanda perguntou.

— Ah, Fernando derrubou a jarra de água no chão e me acordou. Então eu fiquei com sede, mas como toda a água estava no chão, tive que descer pra pegar mais.

Ele olhou em volta e percebeu que não havia nada com água ali, e só então aparentemente se lembrou que nenhuma jarra ficava no Salão Comunal, apenas nos dormitórios.

— É, bom, talvez hoje não seja meu dia de sorte.

— Por que você simplesmente não pegou da torneira do banheiro?

Ele parou por uns segundos para pensar na pergunta, então deu de ombros e se virou para subir de volta. Aparentemente ficava mais lerdo que o normal quando estava com sono.

— Ah, alias — ele se virou de volta para as duas. — Vocês sabem onde Fernando está indo? Por que ele estava todo apressado arrumando o malão e não quis me contar nada...

— O que? — Eloiza imediatamente levantou o rosto, que estava até aquele momento escondido entre as mãos.

— Uh, pelo jeito não sabem... — O moreno tentou se virar de volta para subir as escadas, mas a garota já havia se levantado do sofá e andava rápida em direção a ele, sem se importar com a dor nos joelhos.

— Espera aí, como assim arrumando o malão? — Ela segurou nos ombros dele e o fez encará-la. — Ele vai sair daqui?

— Olha, eu não sei, eu só...

Nesse momento um barulho de algo batendo na porta de madeira do dormitório o interrompeu, e os três olharam para a escada. Ficaram involuntariamente imóveis até o momento que Fernando apareceu descendo as escadas com seu malão flutuando à sua frente.

Ele viu os três o encarando e exclamou algo parecido com “o-ou”, se distraindo e quase deixando o malão cair.

Fernando ficou parado por alguns segundos encarando Eloiza, sem saber o que fazer, até que decidiu tomar coragem e descer de uma vez.

— Aonde você está indo? — Ela perguntou no segundo em que ele pisou no último degrau.

Fernanda se levantou do sofá e foi até Jefferson, puxando seu braço e o fazendo voltar para o dormitório para que pudessem deixar os dois sozinhos.

— Olha, Elo... — Fernando começou.

— Você estava indo embora? Pra onde? Sem sequer me avisar?

— É complicado.

— Por que a essa hora? Por que não me deixou ao menos saber disso?

— Eu não queria que você visse...

— Eu acho que percebi isso — ela respondeu, em um tom áspero, e cruzou os braços. — Eu posso pelo menos saber o que está acontecendo?

— Não, olha... isso já é difícil pra mim, eu não queria tornar difícil pra você também.

— Ah, é? E como você acha que eu me sentiria quando percebesse que você não aparece em lugar algum a partir de amanhã? E que historia é essa de doença?

— Eu não posso te explicar isso. Na verdade nem eu sei direito o que está acontecendo. Olha — ele andou até ela e tentou segurar suas mãos, mas a garota recuou. — Eu não queria que você me visse ir embora para evitar ter que me despedir. Eu odeio isso, você sabe. E o fato de ser você apenas me faz querer ficar.

— Mas por que diabos você está indo? E para onde, por que?

— Eu preciso sair do país para fazer um tratamento. Acontece que eu nasci com um tumor no cérebro, e ele nunca havia dado sinal algum, até agora. Eu preciso ir embora, e não queria que você soubesse para te poupar do que fosse possível.

Eloiza não disse nada, apenas o encarou, surpresa.

— Então eu pedi para McGonnagal para aparatar para Londres comigo agora, porque pensei que você não veria, como aconteceria se eu fosse amanhã, mas não adiantou...

Ela continuou imóvel, apenas olhando para ele.

— Olha, eu preciso ir agora — ele soltou sua mão e guiou o malão até a porta, indo atrás dele. — Eu posso escrever pra você qualquer dia desses...

Ele esperou por mais alguns segundos, mas viu que ela não falaria nada.

— Me desculpe — ele disse, então saiu e fechou a porta atrás de si.

Eloiza não sabia o que sentir, muito menos o que dizer. Foi pega completamente de surpresa, e tudo aquilo embaralhava sua cabeça de um jeito que quase fez ela querer gritar pra ver se retomava sua consciência.

Ao invés disso, ela ficou parada, com os braços ao lado do corpo, pensando no que acabara de acontecer. Imagens de momentos que ela passara com Fernando naquela escola desde o primeiro ano iam e vinham na sua mente, tão rápidas que nem dava tempo de ela se dar conta do que estava pensando.

Quando finalmente percebeu o que ele havia feito, o modo como ele pudesse estar simplesmente deixando todos os sentimentos e histórias dos dois pra trás sem ao menos explicar a ela o que estava acontecendo, foi como se tomasse um choque de realidade.

Ela correu até a porta sem pensar duas vezes, atrás dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When I'm Gone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.