A Fabulosa Cova Da Incoerência escrita por blblblbl


Capítulo 12
Ordinário


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Tempos nebulosos por aqui.



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“Parabéns. Você conseguiu...”

“Mas, e agora?”

“Ela já ouviu demais consolos desse tipo...”

“E eu também...”

–--------//----------

Eu te amo.

Esta frase parece significar muito, certo? Mas não para mim. Eu sinto que seu significado literal é vazio. Ela é dita de uma forma tão simples, superficial e ordinária.

Alguém que realmente ame, talvez, entenda isso. Vai além de dizer uma simples frase.

Eu não sou domador de palavras. Eu não sou um poeta. Sou sentimental, mas preso em mim mesmo. Eu me pergunto, como um coração tão quebrado e triste como o dela conseguiu ligar-se ao meu. Pena? Necessidade? Eu poderia dizer que foi coisa do simples acaso? Não, nesse mundo não existe acaso. E não foi acaso, eu ter conseguido a chave de seu coração.

Ela chora, mas está calada. Já chorou demais. Poderia eu dizer-lhe que não era culpada? Eu sabia que não adiantaria... É um acontecimento ordinário. Ela está triste, por causa de um motivo ordinário. Eu queria me compadecer disso, mas eu sei que muitos já o fizeram. Ela não quer um consolo, ela quer um impulso. Ela não quer esquecer, ela quer enfrentar. Tudo o que ela precisa é....

– ...É isso que deveria me contar? – pergunto.

– Sim. – ela não me olha nos olhos; ela sente medo de eu ter pena.

– Eu nunca tive um amigo de infância, Mimi. Eu não entendo essas coisas... – eu devo ser sincero. – Eu poderia dizer que isso não é culpa sua, e que deveria esquecer o passado e seguir em frente. Mas deixe eu lhe contar um segredo: nós nunca devemos nos esquecer, pois são essas coisas que nos tornam fortes...

Ela me olha nos olhos; não está surpresa. Ainda não.

– Eu sei o que você espera. – digo – Que eu tenha pena, e lhe abrace, dizendo palavras de carinho ou algo do tipo. Mas eu não estou aqui para isso, eu estou aqui para convencer você de levantar dessa cama e dar-me um sorriso. O que aconteceu com você foi ordinário, ridículo e ordinário, eu diria...

– ...A que ponto quer chegar? – ela pergunta.

– Coisas ruins acontecem, Mimi. Elas vêm todos os dias, atrás de postes, ou debaixo de nossas camas. Quando assistimos TV ou limpamos o ar-condicionado. Sim, coisas ruins estão em todo o lugar...

Ela não esbossa reação. Ela ouviu o que não esperava. Eu a entendo.

– Talvez eu nunca saiba a dor que você sentiu; Talvez, você encontre outro jeito de se levantar. Mas eu quero que você nunca se esqueça: você não é a única. Ressentimento é algo ordinário. Não adianta esquecer a mágoa. O perdão não é uma opção. Tudo o que você precisa fazer é...

– Levantar.

Ela me interrompe. Seus olhos brilham como nunca o fizeram. E ela sorri.

– Hum, eu já estava cansada de consolos. – ela diz. – Mas eu não esperava uma bronca. Que monstro seria eu, que trata tudo isso de forma natural?

– ...Não sou eu quem decido.

– Eu sei. Se eu não posso me perdoar, então o que posso fazer?

– Advirta a si mesma. – respondo. – E encontre nessa auto advertência o próprio consolo. Você não precisa das palavras dos outros para seguir em frente, Mimi. As asas são suas, pegue o impulso você mesma.

Eu nunca a entenderei. Mesmo que eu consiga salva-la, e Anonyme me agradeça eu nunca vou conseguir entender essa situação. Quem sabe, não há a necessidade de ser entendida.

Antes que eu me desse conta, eu dei um abraço apertado em Mimi, e algo quente escorreu sobre meu ombro.

–--------//--------

– Onde estou?

– ...Em lugar nenhum.

– E o que faço aqui?

– Você conseguiu.

Olho para a figura cabisbaixa e envelhecida em minha frente, presa por correntes que ela mesma ata.

– Quem é você? –pergunto.

– ...Apenas um coração partido, que não tem capacidade de se consertar...

E nos encaramos por certo tempo.


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Notas finais do capítulo

Só pra constar, algo ordinário é algo comum, ok?



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