.P.O.V. Liliana.

Estava no Purrfect, tomando um chocolate quente enquanto brincava com o Risca de Carvão, outro dos meus gatos, ele é o mais calmo, mas, se você irritá-lo, sai de baixo, porque vai leva patada (literalmente, porque ele é um gato e... deixa u.u), o Cat Café estava fechado hoje, então, estava aproveitando para descansar com os meus gatos. Olhei pelo vidro da janela ao lado da minha mesa e vi o amigo da July do lado de fora, indo em direção a porta, mas ele parou quando viu a placa de "FECHADO".

Fui até a porta de vidro e acenei para ele, que acenou de volta do outro lado, abri a porta com a minha chave e ele entrou, meio envergonhado.

– Hey, o que veio fazer aqui a essa hora? - sorri para ele, me sentando em um dos pufes.

– O pessoal saiu em uma trilha pra encontrar um riacho, ou algo do tipo, então, eu resolvi vir para cá, era isso ou ficar com o Alexy o dia inteiro sem fazer nada. Mas, estava fechado não estava? Por que me deixou entrar?

– Ah, sei lá... Eu estava sozinha aqui, na verdade, quase sempre eu estou sozinha, acho que os únicos que me aguentam falando sobre animes, filmes, livros, séries, e etc, são os gatos, e a July. - respondi, meio desconfortável. - Seria legal ter amigos que falam de vez em quando.

Ele ficou calado por alguns segundos, o que me deixou meio constrangida, ele parecia estar processando o que eu tinha dito, e eu realmente não queria que a impressão que ele tivesse de mim fosse de uma otaku que fala com gatos e não tem nenhum amigo humano.

– Mas, está tudo bem. - suspirei, forçando um sorriso feliz. - Não é como se minha vida fosse como o clipe de Pity Party, eu só gostaria de ter mais amigos próximos, de preferência humanos. - completei, pensativa.

– Entendo... - ele murmurou, por fim. - É quase igual, comigo, digamos que ser o representante do Grêmio não é muito parecido com ser popular. Estou mais para nerd. - sorriu fraco.

Depois disso, eu sorri de verdade, me identifiquei com aquilo, me levantei e fui para a parte de trás do balcão, o Mint estava sentado ali em cima, mas, assim que o Nathaniel se sentou, ele saiu correndo e deitou no colo do loiro, eu ri com aquela cena, virei para o Nathaniel, ainda sorrindo um pouco.

– Vai querer alguma coisa? - perguntei, olhando para o mesmo.

– Mas... eu não paguei nada. - respondeu, envergonhado.

– Ah, bem, o Purrfect meio que está "fechado" - fiz aspas com os dedos. - então, é como se não tivesse ninguém aqui, e eu sempre venho aqui beber chocolate quente quando está um dia bonito e eu não estou trabalhando, você é como se fosse um convidado, não precisa pagar.

– O-Obrigado. - ele gaguejou. - Vou beber um cappuccino, então.

Preparei um cappuccino na máquina e dei para ele, que fez um gesto com a cabeça, peguei o que tinha sobrado do meu chocolate quente e me sentei novamente, dessa vez em uma mesa, se eu manchasse algum dos pufes, meu pai me esganava! Decidi que precisava de algo para fazer enquanto tomava uma bebida quente, de preferência ler alguma coisa, fui até uma das estantes do café e peguei o primeiro livro que eu vi, não deveria ter feito isso...

O livro que eu peguei foi "Ponte Para Terabítia", eu adorava esse livro, mas chorava sempre que lia... Na verdade, só olhar para aquele livro me fazia chorar, às vezes, olhei para a capa, as letras que formavam o título estavam meio desbotadas, mas isso realmente não importava, eu sempre lembraria o nome daquele livro.

Pensei na pessoa que me deu aquele livro, minha avó, ela morreu ano passado, foi uma coisa bem triste, porque nós éramos muito próximas, os gatos dela também ficaram tristes, todo mundo ficou triste, e aquele livro me fazia lembrar dela. Fiquei encarando aquela capa por alguns segundos e, quando eu percebi, estava chorando.

– Ei, você está bem? - perguntou Nathaniel, que já estava do meu lado, com a mão no meu ombro.

– S-Sim. - sorri fraco, enxugando as lágrimas com a mão livre. - Não é nada de mais, não se preocupe.

Ele ficou em silêncio, me encarando, acho que ele estava esperando uma resposta, que, é claro, eu não daria.

– Ahn, bem, eu... vou guardar esse livro no lugar e pegar uma coisa, eu já volto, vai ser bem rápido. - subi as escadas correndo e entrei em casa, fui para o meu quarto e peguei alguns exemplares do mangá Fruits Basket, depois daquela cena, eu precisava de algo fofo e extremamente açucarado para voltar ao meu humor normal.

Desci as escadas, correndo também, e sentei novamente na mesa, coloquei a pilha de mangás do meu lado e peguei um, bebi um gole de chocolate quente e abri na primeira página (última se formos pensar na leitura ocidental).

– Você está bem, mesmo? - o loiro me perguntou, sentando do meu lado. - Você não parece estar bem...

Me gato, Risca de Carvão, parecia me falar exatamente a mesma coisa com os olhos, virei para os dois e fechei o mangá, eu odiava falar da minha avó, era doloroso, desnecessário e extremamente depressivo. Encarei os dois, pedindo com os olhos que arranjassem qualquer coisa para fazer e me deixassem em paz por alguns minutos. Risca de Carvão se aproximou e se enroscou no meu colo, fiz carinho nele e voltei o olhar para o Nath.

– Eu estou bem, sim, só tive um flashback... - murmurei, voltando a abrir o mangá e bebendo outro gole do meu chocolate quente. - Não e como se eu fosse me desfazer em lágrimas ou algo do tipo.

Ele riu um pouco e eu me virei, atônita.

– Você gosta dessa expressão, não? - ele sorriu para mim. - "Não é como se...".

– Sim, gosto, não é como se eu fosse obcecada por essa frase e... - ele voltou a rir, e eu acabei rindo junto, quando me toquei do que eu tinha falado.

Passamos o resto da tarde conversando, o que foi bem legal, afinal, eu quase não conversava com ninguém, eu quase sempre estava calada, ninguém falava comigo.