Íris escrita por Sienna


Capítulo 1
Carry your World


Notas iniciais do capítulo

Olar rçOs trechos no decorrer da história são das músicas Atlas e Easy to Please, ambas do Coldplay ♥Espero que se divirtam :3



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Carry your world.

Ele sempre foi muito cabeça dura. Como ela. Talvez por isso brigassem tanto. Mas não importava o quanto brigassem no final ele acabava cedendo deixando ela pensar que estava certa. Certo ou errado, ele sempre estava ali por ela. Sempre esteve. Korra sabia que Mako jamais mediria esforços para lutar. Nunca recuou. Nunca pensou no perigo ou temeu por sua própria vida, pois, para ele, a vida das pessoas que amava eram mais importantes.

“Você é um idiota”. A Avatar murmurava para si mesma. Sentia um peso tomar conta de si, toda vez que olhava para Bolin. O dobrador de terra nunca procurou deixar seus sentimentos ocultos, e não fora diferente naquela tarde. As lágrimas teimavam em escorrer quando olhava a foto do irmão, rodeada de flores e incenso, no meio de tantas outras fotos das vidas perdidas na batalha contra o Império da Terra. Agora era apenas ele contra o mundo. Não acreditou na chefe de polícia até fazer a verificação do corpo. Dentre tantos outros, Mako estava lá. Os olhos fechados, jamais abririam novamente. Sentiu-se culpado. Culpado por tê-lo deixado tomar a decisão mais importante. Culpado por não ter conseguido voltar. O irmão mais velho sempre fez o papel de protetor desde a morte dos pais. Não foi diferente naquele momento. Pensou que jamais sentiria aquela dor de estar sozinho novamente. Agora não restara ninguém. Nem mesmo Opal ou qualquer um de seus amigos poderia mudar aquilo. Sentia-se agradecido pela namorada estar agarrada a seu braço. Ela era compreensiva, e passara a noite toda com ele ali, velando o corpo do irmão.

Korra não tinha forças para expressar qualquer reação. Queria dizer a Bolin que estaria ali para o que ele precisasse, queria que ele soubesse que poderia contar com ela, mas sentia que não seria capaz de tentar suprir a dor dele. Sentia-se fatigada. Quando Lin a informou sobre a morte do detetive, foi como se todas as suas lembranças, até as mais remotas se passassem em sua mente. Era difícil acreditar. Pensava que passaria a vida ao lado de todos os seus amigos. Mas não seria bem assim. Mako havia morrido e Asami estava no hospital em estado grave. A repentina explosão no protótipo tirou a vida de seu pai e a deixou em coma. A Avatar não sabia o que fazer. Não sabia como recomeçar. Sempre que perdia o chão, seus amigos estavam lá para trazê-la de volta. Mas não agora. Era como se aquele vazio jamais fosse passar. Em toda sua vida, nunca teve uma perda como aquela. Mako uma vez seu amado, seu amigo, seu protetor. Não sabia definir o que sentia por ele. Desde que terminaram nunca soube. Era confuso e reconfortante estar perto dele. Era perturbador pensar que jamais saberia se ele sentia o mesmo. Só conseguiu acreditar em sua morte ao vê-lo ali, sendo velado. Agora, só lhe restaram lembranças.

×××

Sentiu suas pernas tremerem. Era como se novamente tivesse perdido o chão. Seus olhos estavam vidrados, não conseguia esboçar qualquer reação enquanto ouvia as palavras do médico. Quando foi convocada a comparecer no hospital, esperava receber boas notícias.

–Eu sinto muito mesmo. Foi uma grande perda para a cidade. Nós tentamos de tudo, mas a hemorragia interna estava se agravando, e a maioria dos órgãos internos estavam danificados. No estado em que ela estava não poderíamos fazer muita coisa. Apenas um milagre poderia tê-la salvado.

–Entendo doutor. - Su procurou tentar esboçar um sorriso de compreensão, mas na presente situação não havia como. Olhou para sua irmã que ainda mantinha o olhar baixo. Pensou em Bolin. Ele já havia perdido o irmão. Como seria quando soubesse que Asami também tinha partido? Ela mesma deveria se encarregar de lhe contar isso. -Obrigada.

–Eu vou preparar a papelada, e pedir que os outros médicos acelerem a autópsia para liberarem o corpo o mais rápido possível.

Korra ainda não conseguia acreditar. Precisava ver para poder crer. Mas ao mesmo tempo se recusava a ver o corpo morto e destruído de Asami. Nos últimos dias se manteve firme por ela, não perdeu o equilíbrio por ela. Acreditou que se fosse forte o suficiente, sua amiga se manteria viva. Mas ser forte não foi o suficiente para salvá-la. Já não era o suficiente? Já não bastava tantas pessoas terem perdido suas vidas naquela batalha? Uma onda de culpa invadiu seus pensamentos. Talvez se tivesse se entregado como Kuvira ordenou, seus amigos ainda estariam vivos. Levou seu olhar a Su e Lin. Os olhares de condolência sobre ela era o que faltava para sentir o equilíbrio esvair. Logo, a luz começou a desaparecer de sua visão. Seu corpo atingiu o chão gelado. As vozes desesperadas das irmãs ficavam cada vez mais baixas. Não via nada, não ouvia nada, não sentia nada. Em sua mente, apenas as lembranças do dia em que chegou a Cidade República. Engraçado. Uma lembrança tão boa em um contexto tão tenebroso.

I hope I can find a way, of letting you see…

–Acha que agora vai ser capaz de esquecer o que o Zaheer fez a você? – Mako perguntou curioso depois de vê-la ficar em silêncio após sua conversa com o dominador de ar.

–Não... – sorriu voltando seu olhar a ele. – Mas finalmente consegui aceitar o que aconteceu comigo. O passado agora está apenas no passado.

–Entendo. O que vai fazer agora?

–Preciso falar com o Tenzin. Precisamos de um plano para impedir o avanço da Kuvira com a nova arma espiritual.

– Eu te acompanho. É melhor andarmos rápido. Está armando chuva.

–Você por acaso é de açúcar? – deixou uma leve risada escapar.

–Não! –vociferou um pouco indignado. – Você gosta de se molhar? (depende do contexto ( ͡° ͜ʖ ͡°))

–Quem sabe. – começou a caminhar. – Eu não tenho medo. –percebeu que ele continuava parado. – Você vem ou não?

Mako bufou. Mesmo depois de três anos ela ainda era capaz de deixa-lo nervoso e desconcertado. Preferiu apenas segui-la. Teriam um longo caminho para casa.

×××

–Eu disse que deveríamos ter andado mais rápido. – Afirmou Mako com uma ponta de ódio, se abrigando das gostas em uma espécie de espaço de meditação. As paredes de pedra abrigavam a imagem de um buda. O teto de madeira ainda deixava algumas gotas escorrerem. Não entendia o porquê de a Avatar andar tão tranquilamente por entre as gotas que teimavam em cair.

–Você é muito esquentado. É só uma chuvinha.

–Uma chuvinha?! –não se surpreendeu muito, afinal, Korra sempre foi o tipo de pessoa que não se impressionava fácil, e não ligava para quase nada. – Olha para você, está encharcada.

–Eu sou uma dominadora de água lembra? – cruzou os braços encarando-o profundamente. – Por que se importa tanto?

–... – ele se calou. Desde que eram jovens tinha essa preocupação com ela. Mas não era o momento de relembrar o passado. Queria dizer a ela. Mas não tinha coragem, não achava que ela poderia sentir o mesmo por ele depois de tantos anos. Logo, a viu esfregar os braços afim de se aquecer. Os ventos começaram a ficar mais fortes. – Por isso. Olhe para você, agora está molhada e com frio.

–Isso não é nada! – tentou retrucar, mas ele estava certo. – Tudo bem, acho que eu exagerei um pouco.

–Um pouco? –deixou escapar uma risada irônica. – Você continua a mesma. – tratou de retirar a parte de cima de seu uniforme, ficando apenas com a fina blusa de linho por baixo, envolvendo-a com a outra camisa para que se aquecesse. – Fique com isso, vai ficar aquecida.

Korra pôde sentir o calor dele. Agradeceu o gesto com um sorriso. Porém, ao envolvê-la completamente, não se afastou. Os olhares se encontraram. Por um minuto ela pôde sentir aquele ardor que sentira quando jovem. Era tão bom estar perto dele, sentir seu cheiro. Sentia-se segura perto dele. Queria negar, queria se afastar e dizer que não deveriam fazer aquilo, mas sentiu o equilíbrio desaparecer de seu corpo quando ele colou seus lábios no dela. Logo seus corpos partilhavam do mesmo calor, do mesmo desejo. Mako deslizou as mãos até sua cintura. Conhecia cada parte do corpo dela. Ao faltar ar em seus pulmões voltaram a se encarar. Não havia como negar, não havia como fugir.

–Como nos velhos tempos? – perguntou fitando os orbes azuis.

–Como nos velhos tempos. – afirmou convicta, motivando-o a tirar sua blusa.

Certo ou errado, naquela tarde chuvosa, no meio de um lugar qualquer não eram o Detetive e a Avatar, eram apenas Mako e Korra. Eram apenas dois. Apenas um. Estavam vivendo o mesmo prazer que partilharam há anos atrás. O que aconteceria depois? Poderiam pensar depois.

…that I'm so easy to please… So easy...

–Como assim??! – Lin vociferou. – Como ela está grávida?

–Nós fizemos vários exames Chefe Beifong, - o médico explicava calmamente. – o exame de gravidez deu positivo. Ela está com doze semanas.

–Mas como ela não percebeu isso?

–Talvez o estresse, a tensão com o conflito com o Império da Terra, podem ter sido fatores que ajudaram. Muitas mães de primeira viagem não percebem os sinais, ou apenas ignoram considerando ser um mal estar.

–Mas o bebê está bem doutor? – Su perguntou com a calma costumeira.

–Até agora não encontramos nenhuma anomalia, o feto parece ser saudável, mas vou pedir mais alguns exames. É melhor que ela passe a noite aqui por garantia. Agora ela já se estabilizou, se quiserem, podem falar com ela. As enfermeiras estão preocupadas, ela não esboçou qualquer reação até agora. –percebeu o olhar de preocupação das duas. -Se me dão licença, preciso visitar outros pacientes. – se retirou do local.

–Mais essa agora. – Lin suspirou profundamente. – Como ela conseguiu lutar nesse estado?

–Korra é mais forte do que qualquer um pensa Lin, - fitou a irmã. – Ela teve sorte de não ter sofrido nenhuma lesão que pudesse machucar ela e o bebê.

–De quem acha que é esse filho?

–Só tem uma pessoa Lin, você sabe quem é.

– ... – a chefe abaixou o olhar. Aquela criança cresceria sem pai. Como ela. Imaginava o quão seria doloroso para ela quando começasse a entender, e perguntar pelo pai que jamais iria conhecer. – Eu vou falar com o Tenzin, ela vai precisar de apoio agora.

–É ela vai mesmo. Eu vou falar com ela.

Lin se retirou. Su foi à procura da Avatar. Ao entrar no quarta, se deparou com Korra sentada encarando o nada, enquanto tentava retirar a pulseira de identificação em seu pulso. Seu olhar parecia sem vida. Talvez só estivesse em choque ainda. A notícia da morte da amiga, a notícia da gravidez. Muita tensão para um dia só. Aproximou-se sentando- a seu lado. Não hesitou em abraça-la. Sentiu que ela precisava daquilo naquele momento. Korra não deixou de envolvê-la também. Há semanas precisava que alguém fizesse aquilo por ela. Sentia-se sem chão. Não sabia o que fazer dali em diante. Estava perdida e sentia que ninguém poderia ajuda-la. Queria chorar, mas engoliu seco. Segurou o quanto pôde. O Avatar não deve chorar. O Avatar deve ser invencível. Por que ela tinha de carregar um fardo tão pesado?

– Korra, estarei aqui para o que precisar. – Desfez o abraço para fita-la. – Pode contar comigo.

–... – seus olhos já estavam marejados. Não, ela não conseguiria conter aquela dor dentro de si por mais tempo. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto involuntariamente. Resolver ceder e deixar que caíssem. Talvez assim, sua dor também fosse embora. Novamente abraçou a dominadora de metal, dessa vez com mais força. Precisava sentir aquela segurança novamente.

I'll carry your world

Pema chegou à cozinha com a bandeja cheia novamente. Tenzin a encarou retirando os utensílios. Massageou a nuca tentando na tentativa de diminuir a tensão.

–Não quis comer de novo?

–Não. – respondeu com um pesar em sua voz. – Tenzin, ela não come, não dorme, não sai daquele quarto. Isso não é bom para ela nem para o bebê. Se continuar assim eu não sei o que pode acontecer.

–Tudo bem. – se aproximou da esposa tocando seus ombros. – Eu vou falar com ela. Não se preocupe.

Os últimos quatro meses foram de aflição. A separação dos estados no Reino da Terra estava sendo mais trabalhosa que o esperado. Várias rebeliões foram surgindo ao longo das missões diplomáticas. Na Cidade República, o povo ainda se mantinha indignado com o remanejamento. Protestos, reclamações. A situação só piorava. Varrick temendo a reação do povo abandonou a cidade e se mudou com sua esposa para a Tribo da Água do Sul. Ele não estava errado em temer. Muitas pessoas estavam regressando para suas nações de origem, pois a cada dia as tensões entre humanos e espíritos aumentavam. Temendo pela saúde de Korra, Tenzin pediu que ela não se envolvesse em mais nenhum conflito até o nascimento da criança. Ela não gostou da ideia. Afinal, era a Avatar, o mundo precisava dela. Mas novamente se sentia inválida, descartável. Não sabia o que sentir ao olhar para a protuberância em seu ventre. Não sabia o que era aquele sentimento de mãe que todos diziam. Senti-lo se mexer, só a fazia se lembrar que Mako jamais voltaria para conhece-lo. Às vezes se perguntava como ele reagiria. Se ele iria amá-lo. Se ele a amava. Jamais saberia. Sentia que aquele bebê era uma barreira que a impedia de seguir em frente, que impedia de deixar a dor. Pensar no bebê apenas a lembrava que Mako e Asami nunca voltariam.

–Korra...?! – Tenzin adentrou no pequeno quarto. Ela estava sentada na cama, observando o portal de sua janela. Sentia seu coração apertar ao vê-la daquela maneira. Os ossos dos ombros e do rosto já estavam visíveis, as olheiras preenchiam seu rosto. As pupilas uma vez portadoras de uma azul exuberante estavam cada vez mais apagadas.

–... – a Avatar voltou seu olhar a ele. Nada disse. Apenas se recontou novamente na cabeceira.

–Korra eu... – sentou ao lado dela. – Eu sei que mal, sei que tudo parece sem sentido agora. Mas se torturar dessa maneira não vai ajuda-la a melhorar. Ficar sem comer não vai ser bom para você e nem para o bebê.

–Tanto faz. – desdenhou. Não conseguia encara-lo.

–... – Ficou um pouco surpreso pela resposta dela. – Eu... Todos os seus amigos estão aqui Korra. Todos que te amam e se preocupam com você. Eu sinceramente não sei mais o que fazer. Por isso, conversei com seu pai, ele achou melhor que você voltasse para o polo Sul e passasse o restante da gravidez lá. Minha mãe vai saber o que fazer. Você parte amanhã. Tudo bem?

–... – hesitou por alguns segundos. Novamente as pessoas estavam tomando as decisões por ela. Novamente ninguém além dela mesma poderia ajudar. Dessa vez, sentia que não haveria cura para sua dor. – Tudo bem.

–Não precisa se preocupar. – segurou uma de suas mãos. Logo depois se levantou e foi em direção à porta. – Vamos tomar conta de tudo até você voltar.

– Eu sei que vão. – forçou um sorriso.

–Ah, antes que eu me esqueça. – retirou dos bolsos um pequeno pacote dourado e entregou a ela. – Bolin esteve aqui mais cedo, mas você estava dormindo. Deixou esse embrulho e disse que escolheu uma cor neutra, pois não sabia se era menino ou menina. – Sorriu para ela e deixou o cômodo.

Korra abriu o pequeno embrulho e se deparou com um pequeno par de sapatos amarelos feitos de crochê. Observou o presente por alguns minutos. Eram lindos. Sentiu certa culpa por ter uma lástima. Não via ali um motivo para felicidade. Bolin fora muito atencioso com ela desde que soube da gravidez. Parecia até mais animado que ela. O jovem dobrador de terra viu naquele bebê um recomeço. Não entendia por que não conseguia pensar assim. Ele era muito gentil e fez de tudo para poder agradá-la, mas com o tempo, foi percebendo seu desdém com todos à sua volta. Ela mesma afastara todos de si mesma. E dessa vez não tinha com quem compartilhar sua dor. Estava sozinha. Observou novamente os sapatinhos. Colocou-os no embrulho novamente e deixou que caíssem no chão. Deitou-se e tentou dormir. Mas tinha certeza que seus olhos teimariam em ficar abertos, remoendo as lembranças das pessoas que amava.

Heaven we hope is just up the road

A água brilhava em torno de si. Outra vez estava na cabana da velha mestra, esperando que de alguma forma ela trouxesse sua vida de volta.

–O bebê está saudável. – Katara disse interrompendo os movimentos. – Mas estou preocupara com você.

–Não há nada de errado. – perguntou voltando seu olhar à mestra.

–Korra... Todos nós gostamos de você. Todos nos preocupamos. Sua mãe só conseguiu acreditar no seu estado ao ver você. Sei que a morte de Mako e Asami foi uma grande perda. Sei que havia acabado de superar um trauma, e logo depois... – hesitou por alguns minutos. A Avatar não exibia qualquer reação. Suspirou. – Sabe que não precisa esconder nada de mim.

Voltou seu olha a Katara. A velha mestra sempre teve um grande papel em sua vida. Poderia considerar como uma segunda mãe. Não tinha com quem se abrir. Sabia que poderia confiar nela.

–Eu não sei o que estou fazendo da minha vida.

–Não sabe?!

–Não sei. Eu não entendo como todos estão tão felizes com esse bebê, mas eu não consigo. – afirmou frustrada. -Eu não consigo me ver feliz cuidando dessa criança, eu não consigo ver a minha vida com ela ao meu lado. Ela está dentro de mim, mas mesmo assim eu estou sozinha. A única pessoa com quem pude ter algo próximo de amizade se foi, o pai dela, a única pessoa que amei também se foi. O que eu vou dizer quando ela perguntar por ele? E se eu me esquecer deles até lá? Eu não consigo imaginar ela trazendo alegria para mim, pois toda vez que eu sinto ela se mexer, é só mais um lembrete de que Mako e Asami jamais vão voltar. – sentia as lágrimas escorrerem por seu rosto. Manteve o olhar abaixado. Não queria encarar outro olhar de piedade.

–Korra, você mais que qualquer um, sabe que as coisas ruins sempre trazem algo bom.

–Está querendo me dizer que Mako e Asami tiveram que morrer para esse bebê nascer?? – Vociferou entre lágrimas.

–Não, - levou a mão a um dos ombros dela. – estou dizendo que você pode não enxergar agora, mas esse bebê vai ser capaz de trazer a sua paz.

–Como?? Como acha que ele pode me trazer paz, sendo que ele só me faz lembrar da morte deles?? Como??

–Está olhando pelo lado errado. – levou uma das mãos ao ventre dela. – Já parou para pensar que mais do que uma lembrança triste, esse bebê carrega um pouco do Mako dentro de si? – percebeu o olhar surpreso da discípula. – Veja bem, depois de tanta coisa que você passou, depois de tanto sofrimento, depois de tantos traumas, você ainda é capaz de gerar vida. Veja, sinta. – pressionou uma das mãos da Avatar no próprio ventre, fazendo-a sentir os movimentos dentro de si. – Consegue ver? É um parte de você e Mako que vive aqui. Asami iria querer que você cuidasse dessa criança com todo o amor que existe dentro de você. Mako iria querer isso. O nascimento desse filho não vai apagar a memória dos dois. Vai fortalecê-la. E pode ter certeza que ele te amará, e quando perguntar sobre o pai, você saberá exatamente o que lhe dizer, pois o amor é a essência mais pura entre duas pessoas. Você não precisa viver do passado Korra. Use-o para construir o seu futuro. Agora mais do que nunca, você precisa manter o equilíbrio. Por você e por esse bebê.

Ela ficou em silêncio. Por meses pensou que a falta que sentia dos dois amigos jamais seria suprida. Mas pela primeira vez, ao sentir o filho se mexer, pôde sentir algo semelhante a amor. Katara estava certa. Mako e Asami iriam querer que ela fosse forte. Iriam querer que ela amasse incondicionalmente aquela criança. Passou tanto tempo culpando-a por sua dor que não foi capaz de enxergar que ainda havia vida dentro dela. E mesmo que ela a negasse o tempo todo, o filho se manteve forte. As lágrimas preencheram seu rosto ao senti-lo chutar novamente. “Teimoso... Igual ao pai.”

×××

A dor que sentia era infinita. Passou a madrugada ao lado de sua mãe, enquanto as contrações só aumentavam. Katara disse que seria necessário ela aguentar mais tempo, pois ainda não havia dilatação. “Isso deve ser alguma espécie de castigo.” Pensou enquanto apertava fortemente a mão do pai.

–Querida, vai passar, apenas respire. – Tonraq segurava firme a mão da filha. Era um pouco angustiante saber que não poderia fazer nada para que a dor passasse. A única coisa que poderia fazer era ficar ao lado dela.

–Eu estou fazendo isso pai. – afirmou com a respiração ofegante. Já estava suada e sentia várias partes de seu corpo dormente. – Mas não para de doer.

–Isso é normal querida. – Senna acariciou a testa da filha, retirando alguns fios de cabelo. – Katara já está a caminho. Fique calma.

Carry your world and all your hurt. Carry your world

Horas de dor e força recompensadas. Ouvir o choro do filho, foi como ouvir uma melodia. Sentiu seu corpo relaxar. Sua mãe estava a seu lado zelando por seu bem estar.

–Parabéns querida. – Senna depositou um beijo leve em sua testa.

–Fez um ótimo trabalho Korra. – Kya sorriu gentilmente para ela.

–Tem uma pessoa que quer te conhecer. – Katara se aproximou com o pequeno ser enrolado em mantas. – É uma menina.

Ao tê-la em seus braços, Korra pôde sentir aquela paz. Sua filha. Sua e de Mako. Era tão pequena e tão frágil. Naquele momento, seu coração se encheu e amor. Daria a ela todo o amor que tinha. Por Asami e por Mako. Amaria por eles. E quando ela perguntasse quem fora seu pai, teria orgulho em contar que ele fora um herói que preencheu sua vida de amor.

–Que nome vai dar a ela?

–Miya. – Sorriu. Não havia outro nome que lhe cairia tão bem.

×××

–Essas são as preferidas do papai. – a garotinha de aproximadamente cinco anos deixava um arranjo de rosas vermelhas no sepulcro. – Não é mamãe?

–São sim querida. – Korra fitou a filha. Os cabelos curtos e escuros como os seus. Os profundos orbes âmbar dele. Era linda. Queria poder ficar mais tempo ali com ela, mas já era tarde. – Vamos? Seu tio deve estar te esperando. Ele quer que você conheça o bebê dele.

–Ah é. – Levantou-se rapidamente agarrando uma das mãos da mãe. – Ele vai poder brincar comigo?

–Agora não amor, mas em breve vai poder sair correndo com ele.

–Legal... Depois vão devolver ele não é? – Indagou fitando a expressão de graça da mãe enquanto começavam a andar. – Mamãe... Me conta como você conheceu o papai?

–... – Korra parou de andar. Aquela pergunta seria feita mais cedo ou mais tarde. Mas do contrário do que pensara há anos atrás, estava feliz em contar. Pegou a filha nos braços e voltou a caminhar. – Sabe Miya, é uma história linda.

“You can say what you mean but it won't change a thing

I'm sick of the secrets stood on the edge, tied to the noose

Oh, you came along and she cut me loose.”

Coldplay - Amsterdam


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Notas finais do capítulo

Miya = Esperança.Até a próxima :D



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