Eu já estava pronta para descer para o baile.Mas aí alguém bateu na porta do meu quarto.E não era Ian.

–Senhora,a Marina correu para o quintal da fazenda,e já está escurecendo! -Era um dos funcionários,e se eu não me engano,era o rapaz que acompanhou Olga de volta até o seu pai. Ele parecia apavorado!E com razão,dada a capacidade da minha filha de aprontar certas coisas em momentos inesperados! Fiquei muito preocupada,mas tentaria manter a calma.Sabia que Marina não poderia estar muito longe,com certeza deve ter ido com alguma criança e...

–Há quanto tempo ela sumiu?E como vocês a perderam de vista??

–Senhora,eu...eu sinto muito,mas ela tem muito mais força nas pernas do que qualquer um de nós!

–Está certo.-disse,tentando manter a calma ,mas já começando a me apavorar.-Para qual direção ela foi?

–Na direção do poço,senhora.

–Eu estou indo pra lá.E você vem comigo.E por favor,não comente nada com o sr.Clarke.Eu não quero deixá-lo preocupado e tenho certeza que é apenas mais uma das travessuras da minha filha.-Disse,tentando convencer a mim mesma do que eu estava falando.

–E...está certo,Senhora.

–Eu vou descer.Me espere na escadaria.Daqui a pouco estarei indo para lá.-Eu desci,depois que o moço assentiu concordando comigo.Meu coração estava na mão!Marina sempre gostou de correr pela fazenda,mas nunca havia saído a noite.Devia ter alguma coisa errada! "Deus,que a minha filha esteja bem",repetia esse mantra enquanto descia as escadas para a sala da mansão ,que era enorme e havia espaço suficiente para acomodar a todos.

E lá estava ele,me admirando,com aquele olhar que fazia meu coração gelar.Se naquele momento ele já não estivesse congelado,só que ,desta vez,não era por algo muito bom.tentei disfarçar a minha preocupação.

–Você está...fascinante!incrivelmente linda!É incrível como essas jóias realçaram o seu encanto.

–Obrigada,meu amor...-Tentei sorrir,para disfarçar.Eu não podia deixar Ian preocupado justamente naquele momento! Simplesmente não podia! Eu daria um jeito de resolver tudo sozinha,e voltar para o nosso baile o quanto antes.Eu só precisava de uma desculpa para sair dali,sem que Ian desconfiasse,ou fosse querer vir atrás de mim!Simples!

–Bom,meu amor...-continuei,enquanto ele me estendia a mão como bom cavalheiro que era.-Eu preciso ...dar uma conferida se está tudo certo,cumprimentar os convidados,ver se está faltando alguma coisa e...

–Ei!-Ele disse,enquanto estendia o braço pelo meu ombro,tentando me acalmar.-Vejo que você está preocupada. Vai dar tudo certo,os convidados estão adorando,meu amor!Acho que você merece desfrutar deste momento,ao lado do seu esposo.Seu esposo que te ama muito!-Ele fez questão de ressaltar.

–Eu sei ,meu amor,eu só acho que...

–Dança comigo?-Eu não podia acreditar naquilo!Eu estava prestes a desmaiar com o sumiço da minha filha,e eu adoraria dançar com meu esposo,do fundo do meu coração,mas naquele momento,não era oportuno.no entanto,Ian parecia tão feliz e empolgado com o nosso aniversário de casamento!Me cortava o coração naquele momento imaginar seu rosto aflito por causa de mais uma das travessuras de nossa filha.Eu não queria estragar tudo.E sim,eu resolveria aquilo sozinha!E não havia o que temer.

Mesmo muito,muito preocupada e deixando o funcionário a espera,e se não me engano se chamava Carlos,eu aceitei dançar com Ian,nem que fosse para distraí-lo ,ou ao menos proporcionar um pequeno momento de felicidade e distração para mim mesma,ao lado do homem que eu amo.Só não sabia se conseguiria manter as aparências.

–Tem certeza que está tudo bem,Sofia?você me parece preocupada.Realmente tem a ver com o baile?Está tudo tão...incrível!-Disse Ian,me arrastando pela grande sala ao som da valsa.

–Sabe como é,né meu amor,eu estava me sentindo meio insegura.Mas está tudo bem sim!E graças a ajuda de Elisa e Teodora,se não eu estaria perdida!

–Ainda acho engraçado esse seu jeito de falar ás vezes.-Ele sorriu.

–Que bom que você já está...habituado com meu jeito de falar.-Dei uma risadinha para tentar disfarçar.

–Estou habituado com tudo em relação a você,meu amor.E cada dia mais apaixonado.-E me beijou de um jeito tão terno,tão doce. Ah,queria tanto poder ter aproveitado aquele momento,como havia planejado! Dessa vez Marina passara dos limites e com certeza levaria uma bronca e um castigo por ter feito aquilo!

–Eu amo quando você diz essas coisas.

–E vou dizê-las para o resto da vida,até você enjoar de ouvir.-Ah,meu Ian...como se isso fosse possível!Jamais poderia enjoar de ouvir uma palavra sequer que saísse de sua boca.Eu poderia ficar ali,a noite inteira em seus braços,ouvindo o que ele teria a me dizer,poderia não dar a mínima para os convidados ou para o baile,poderia...simplesmente dançar ao lado dele toda a noite.E,ah...como eu queria desfrutar daquilo.Queria, e muito!Mas naquele momento,eu estava preocupada,não com alguém mais importante do que ele,mas alguém tão importante quanto:Nossa filha.Além de não querer preocupá-lo,eu temia que ele me culpasse.Sim,eu temi!Que ele pudesse me achar uma mãe desnaturada,ou coisa assim,por ter largadoa minha filha com Madalena e ter ido me arrumar ,tive medo de que ele jogasse na minha cara o que eu já sabia:Se eu tivesse ficado de olho em Marina,ela não teria aprontado.Eu não aguentaria ouvir palavras tão duras vindas dele. Eu simplesmente não suportaria!E por isso,quando a valsa acabou de tocar,eu me soltei de seus braços.

–Eu te amo,Ian.Muito,e você sabe disso!E tudo que eu quero é desfrutar de tudo isso com você.Mas realmente,eu não vou descansar enquanto...não me certificar de que está tudo bem,e de que eu não cometi nenhuma besteira.-Menti.Em partes.

–Está certo.-Ele sorriu,desapontado.-Mas não demore muito.Não quero ficar longe de você esta noite,nem por um segundo.-E me beijou,eu sorri,concordando.E me enfiei no meio daquele monte de gente,cumprimentando um ou outro,até que Ian me perdesse de vista.

–Sofia!aonde você está indo?-Fui interrompida por Elisa,que estava ao lado de Lucas,também acompanhados de Teodora e Thomás.

–Está tudo bem,Senhora Clarke?-perguntou Teodora,preocupada.

–Está sim,eu...só estava precisando tomar um ar,e aproveitei para me certificar de que está tudo certo!

–Sim,está tudo certo!-Sorriu Elisa mostrando suas covinhas.-Pode ficar sossegada ao lado do meu irmão,e...-Eu puxei Elisa pelo braço,pedindo licença aos outros que estavam ao seu lado,e a levei para um canto aonde não tinha muito tulmuto.-Ai,Sofia!Desse jeito você vai arrancar meu braço!

–Escuta,Elisa...aconteceu algo.E eu preciso que me ajude.Mas por favor,não comente com seu irmão,eu não quero preocupá-lo.

–Você está me assustando...Aconteceu alg...

–Marina,aprontou mais uma!só que desta vez ela passou um pouco dos limites,e saiu correndo em direção ao poço,a essa hora!ela nunca havia feito isso.Eue stou apavorada,Elisa!

–oh,céus...meu irmão precisa saber,e...

–NÃO!-gritei,mais do que desesperada.Eu estava em frangalhos por dentro.-Por favor,Elisa...-tentei me acalmar.-Eu não quero que seu irmão se preocupe.Além do mais,não quero que ele diga que sou um péssimo exemplo de mãe.

–Meu irmão jamais diria isso,Sofia...tira isso da cabeça,e...

–Por favor ,Elisa!-Supliquei.-Olha,eu...estou dizendo tudo isso a você por uma questão de segurança.Eu vou até o poço e...

–Você vai sozinha?-ela me interrompeu.-É muito perigoso,uma mulher não pode ir até lá sozinha a essa hora!

–O Carlos vai comigo.Foi ele que veio me avisar do que a Marina aprontou.Ele disse que ela saiu correndo em direção ao poço,e ele a perdeu de vista! Estou com vontade de quebrar o nariz dele,mas não posso culpá-lo pelo sumiço da minha filha,se eu como mãe,não conseguir evitar.Elisa,se aconteceu alguma coisa eu...

–Calma,sofia!-Ela me abraçou,tentando reprimir as lágrimas de preocupação que queriam cair de seus olhos.-Não aconteceu nada.Eu vou junto com vocês.

–Não,Elisa!você precisa ficar aqui.

–Mas,Sofia...

–Escuta:Se em uma hora eu não voltar,você pode contar ao seu irmão.Conte tudo o que eu te disse,e diga a ele onde eu estou! E mesmo que ele me odeie por isso,ele vai acabar sabendo uma hora ou outra caso tenha acontecido alguma coisa.

–E...está bem.-concordou,enxugando uma lágrima.-Tenha cuidado,Sofia!vai dar tudo certo!-E me abraçou mais uma vez,me confortando,antes que eu partisse dali para a escadaria.

*

–Nossa,fazia tempo que eu não vinha pra esses lados!-Eu estava no caminho com Carlos,já havíamos feito uns quinze minutos de caminhada,e nada de chegar ao bendito poço!-como Marina aguentou correr tanto?-Meu coração parecia se deslocar para a garganta,só de pensar no pior.Imagens de Marina perdida no meio daquela mata,Ian me culpando,ou até mesmo...e se ela tivesse caído no p...?Não!Ainda era cedo demais para pensar no pior!

–Já estamos chegando,Senhora!

–E se ela não estiver lá,Carlos?-Eu estava as lágrimas.

–Nós a procuraremos,senhora.Até acharmos.-Ele desconversou.

–Você tem certeza que estamos indo na direção certa?Parece que estamos indo para fora da fazenda...-Perguntei,depois de mais uns dez minutos de caminhada.Eu tinha a sensação de que meus pés estivessem se cortando ao meio,e aqueles saltos não estavam ajudando! Então decidi tirá-los ,para tornar a caminhada mais fácil.

–A senhora quer ver a sua filha? Eu estou levando a senhora até ela.Fique calma.-Ele falou como se soubesse aonde minha filha estava,o que não seria possível.Ou seria? Depois de termos andado mais um bocado,estávamos alguns quilômetros longe da minha casa. E finalmente avistei uma casa simples,com as paredes brancas e janelas azuais,que parecia estar abandonada há algum tempo.

–Q...que lugar é esse,Carlos?

–A senhora quer ver a sua filha?Então,por favor,entre.-Respondeu Carlos,meio frio,enquanto abria a porta,que por sua vez fez um ruído como daquelas casas mal assombradas,me fazendo arrepiar. Eu entrei,e não via nada,a não ser sentir algumas teias de aranha sobre minha pele.Eu poderia ter ficado apavorada,mas encontrar minha filha era mais importante naquele momento.

E foi aí que eu senti a presença de alguém.A sombra de uma mulher caminhando e segurando uma vela,ficava cada vez mais visível na parede.Até que...Não seria possível! Mas naquele momento,foi.Olga estava ali,na minha frente.Sua aparência era de uma mulher com muita raiva e com vontade de vingança.Ela sorriu para mim.E em seguida olhou para Carlos.

–Pode fechar a porta,Carlos.Você fez um excelente trabalho.Será recompensado por isso.-Carlos fechou a porta,e ela se voltou para mim. Meu coração se trasnformou em gelo,só de pensar que minha filha pusse estar ali.Que diabos estavam acontecendo?!-Agora somos só eu e você,Sofia!-Ela fez questão de me chamar assim.Sofia.Nada de senhora Clarke.

–O que você fez com a minha filha,desgraçada??-Eu gritei.Mas antes que ela me respondesse,eu mesma me dei conta.Minha filha nunca estivera ali.E provavelmente,não havia sumiço nenhum.Eu havia caído em uma armadilha.