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Naquela cama, debaixo das grossas cobertas banhadas a ouro estava um dos homens mais importantes de Ilhéa, o Príncipe. Damon odiava ser o herdeiro do reino e ter que arcar com todas as responsabilidades de governar o povo, ele nunca teve o direito de escolher. Quando nasceu essa vida já estava preparada para ele. Aquele era o seu destino, afinal quem mandou ele nascer sete minutos antes de sua irmã? Caroline Schreave, sua irmã gêmea, não era tão diferente dele, ela odiava a vida no palácio e costumava dizer que o expulsou da barriga da mãe para não ter essa responsabilidade. Ele a invejava.

O moreno dormia suavemente quando foi acordado pelo calor do hálito da loira aquecendo a pele de seu pescoço. O resultado de mais uma de suas noites regadas a álcool e mulheres, apesar de odiar responsabilidades, não poderia negar que ser o futuro Rei tinha seus privilégios. A jovem pressionou seu delicado corpo contra o dele, fazendo-o gemer.

— Bom dia, Vossa Alteza — murmurou a jovem mergulhando seus dedos finos nos fios de cabelo do príncipe.

Um mar azul a encara a de volta, o sorriso malicioso brincava nos lábios de ambos. A outra jovem do lado aposto da cama continuava dormindo, de barriga para baixo, a cabeça pendia sobre o travesseiro e o braço estava largado fora da cama.

— Pronta para o segundo roun— o Príncipe foi bruscamente interrompido pela Rainha que abriu as portas e entrou em passos largos, o som do salto contra o assoalho límpido ecoava por todo o quarto.

Mesmo sem sua coroa, a magnitude da Rainha era capaz de esmagar qualquer um que entrasse em seu caminho. Seu olhos claros pousaram nas companhias do seu filho. Damon teve vontade de se enterrar debaixo das cobertas, não estava com ânimo para aguentar mais uma onda de sermão da Rainha sobre como um príncipe deveria se comportar. Estou fodido, pensou insolente.

— Mande essas vadias saírem daqui agora!

Diante da ordem incontestável da Rainha, as duas se levantaram da cama e pegaram suas roupas espalhadas pelo chão enquanto saiam envergonhadas.

— Não estão esquecendo de algo? — Grace, impiedosa como sempre chamou a atenção das garotas antes que passassem pelas enormes portas de madeira branca. As criadas apenas observavam resignadas, aquela não era a primeira vez que algo do gênero acontecia. Para uma Rainha que preza tanto a imagem como Grace, nada poderia ser pior do que ter dado a luz a um herdeiro como Damon. Na verdade, havia algo sim. A gêmea Caroline, era uma dor de cabeça ainda maior...

— Perdão, Vossa Majestade — disseram em uníssono e fizeram uma reverência atrapalhada.

A Rainha de Ilhéa rolou os olhos, mentalmente é claro, e fez um sinal para que elas fossem embora de sua vista. Sua atenção voltou para Damon.

— Nós precisamos conversar — determinou autoritária e passou os dedos pelo cabelo, alisando seus cachos ruivos que emolduravam perfeitamente o rosto sempre impecável.

— Sou todo ouvidos, Majestade — o moreno ironizou, nunca perdia uma oportunidade de provocar a sua mãe.

— Por anos seu pai e eu temos tolerado o seu comportamento... Leviano, mas o Rei foi atacado noite passada — os lábios perfeitamente cobertos pelo gloss não vacilaram em nenhum momento ao ver o choque e preocupação estampada nos olhos do filho — Se você não estivesse em uma de suas festinhas saberia disso mais cedo. O estado dele é estável, porém seus ferimentos são muito graves.

— Onde ele está!? — A única pessoa no mundo que fazia a vida no palácio ser ao menos tolerável era o seu Pai. O príncipe levantou da cama em um pulo. — Onde ele está!? — repetiu impaciente.

— Os rebeldes querem derrubar a monarquia mais do que nunca, seu pai nunca teve firmeza com os súditos e eles não te aceitam como Rei, devido ao seu comportamento. Eu sei que você não quer que as coisas mudem, mas elas já mudaram, se o seu pai sobreviver, a recuperação dele pode levar meses e até lá você deverá conquistar a simpatia do povo de Ilhéa. — informou.

— Como você pode dizer isso tão calmamente? Meu pai pode morrer! Seu Marido! — gritou Damon agora já vestido e apontou para a Rainha — Só você se importa com essa maldita Monarquia! Onde. Está. Meu. Pai?

— Não importa o que vai acontecer com o seu pai, quando você sair desse quarto vai perceber que o mundo lá fora mudou. — a Rainha se manteve firme diante do olhar acusador do filho mais velho — E na ausência do Rei, as pessoas vão olhar para mim e eu estarei inabalável e impecável. Por que ficar diante de um povo preocupado, confuso e diante de uma tragédia e inspirá-los com nossa força, nobreza e graça é a minha obrigação e a partir de hoje é a sua também. Nós adiamos a sua Seleção pelo tempo que conseguimos, a hora dela acontecer é agora. Quando a Seleção acabar você terá um anel no dedo, uma coroa na cabeça e governará o seu povo como nenhum Rei fez antes. — seus olhos suavizaram por um breve momento — Seu pai está na Ala Médica, pode ir vê-lo se quiser. — deu passagem para que Damon passasse, o que ele fez enquanto via sua vida desmoronar como um frágil castelo de areia bem em frente aos seus olhos.

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