Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 29
Comemoração


Notas iniciais do capítulo

Esse é o capítulo final do Primeiro Livro



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/622033/chapter/29

Fim da luta! Fim do Torneio! A vitória vai para a Immortal Star! Juro que minha empolgação de agora não foi nem metade do que estava naquela época. Ver aquela Final onde ninguém nunca sabia quem se levantaria ou quem continuaria tinha sido uma das coisas mais emocionantes já vistas no Coliseu dos Deuses.

"Mas e agora? É o fim da sua história?". Ahahahahah! Meu caro ouvinte, ela é só o COMEÇO do que eu tenho para lhe contar. Esqueceu do que eu disse quando comecei a lhe contar? Sobre o que eu realmente queria contar?

A guerra! Sim, a maior guerra que já houve no planeta! A guerra que envolveu tantas pessoas que é praticamente impossível chegar a uma conclusão numérica. A guerra que destruiu reinos. Que destruiu Guildas! Mas também foi a guerra que criou a paz que hoje podemos usufruir.

É dela que eu quero tanto lhe contar. Mas tem uma coisa que você está esquecendo. Não posso apressar as coisas desse jeito. A batalha do Torneio tinha terminado sim... Mas não o Torneio em si! Deixe-me lhe dizer como tudo aquilo realmente terminou.

~~~~~~~~~~~~xXx~~~~~~~~~~~~

Ela estava se sentindo bem mal naquela noite. Se é que ela sabia que era noite. Havia muito calor em seu corpo. Um calor diferente, mágico. Ela não conseguia se livrar daquele incômodo. Isso era estranho. Não porque eles estavam no meio de uma estação com clima estável e em uma cidade com uma média de temperatura bem aconchegante. Era estranho pelo fato dela não lembrar qual foi a última vez que sentiu tanto calor.

Provavelmente foi quando ela ainda morava com os pais. Faz quanto tempo? Dez anos? Talvez mais. Ou talvez ela esteja exagerando. Sentiu saudades da comida e dos abraços de sua mãe. E por mais incrível que pareça, também sentiu saudades das lições rígidas do pai. Era uma família simples. Simples até demais se for comparar o que ela faz hoje, ou o que ela é hoje.

Se virou para o lado, tentando se lembrar do rosto dos pais. Viu que estava mais confortável agora. Antes ela estava deitada em uma coisa mais dura e ela não podia nem se mexer. Parecia travada na cama, amarrada. E tudo doía. Agora não. A dor tinha dado uma pausa, mas aquele calor chato continuava lhe tirando a paciência.

Ela estava toda suada. Se mexeu algumas vezes para tentar tirar o cobertor que estava em cima dela. Talvez fosse aquilo que estivesse lhe causando tanto calor. Mas estranhou quando percebeu que não havia nada em cima dela. Então o que era aquilo que estava tão preso ao seu corpo? Tentou puxar uma coisa que estava incomodando seu braço direito. Tocou em algum tipo de tecido, mas falhou em sua tentativa de se livrar do incômodo.

Abriu os olhos pela primeira vez há muito tempo. Escuro. Piscou três, quatro, cinco vezes. Seus olhos foram lentamente se acostumando com o breu. Havia um feixe de luz entrando por uma janela que estava a uns dois metros de distância de sua cama. Espere um pouco... Cama?

Sim, cama. Uma bem aconchegante. Ela se lembrava muito bem daquela cama. Estava no quarto que seu time havia ficado todos esses dias? Com certeza.

Alisou os braços e depois o peito, entendendo que aquilo que lhe causava o calor e o incômodo eram as ataduras que a transformavam em uma quase múmia. Por debaixo daquelas coisas amarradas nela, Kula Chikigane conseguia sentir uma coisa viscosa, líquida. Tinha um cheiro forte, como se fosse um chá de ervas. Medicamento pra machucados? Provavelmente.

A maga começou a querer saber mais sobre o local de seu despertar. Pelo pouco que conseguiu enxergar, ela identificou a mesa que tinha servido para algumas conversas extremamente importantes de seu time, que ficava no canto direito do quarto de espera de seus companheiros. Não só isso. Olhando para o lado, ela encontrou uma cama à sua esquerda e duas à sua direita. Haviam pessoas deitadas nessas camas. Elas estavam tapadas e dormiam pesadamente.

Eram seus companheiros, tinham que ser. Mas tinha algo muito errado com aquilo tudo. Vamos começar pelo fato de que ela se lembrava de estar combatendo um adversário muito poderoso. Akira era o nome dele. Cara maluco. Ela lembrava que para derrotá-lo, foi necessário ativar um modo de combate que ela raramente usava. E por um bom motivo: seu corpo era extremamente afetado por esse modo.

Ah! Era isso então! Ela sentia aquele calor tremendo por causa das queimaduras que sofreu durante o tempo em que permaneceu naquele modo! Claro, claro. Agora tudo estava começando a fazer sentido para ela.

Como foi o resultado? Ela atirou sua Magia Suprema... Ok. Daí ela viu que acertou Akira... Ok. Akira caiu no chão sem nenhum pingo de consciência... Ok. Ela desceu de seu voo mágico, extremamente exausta e só esperando algum tipo de anúncio... Ok. Ela se lembrava do "Fim da luta. Vitória da Immortal Star!". Ela ganhou? Claro que sim. Ela venceu a luta! Era tarde para comemorar? E o resto do torneio? E a luta de seu parceiro? Por mais que ela tenha vencido, Mulkior ainda lutaria!

A garota tinha uma sensação estranha que esteve presente na luta dele. Não conseguia descrever bem, ainda estava bastante cansada e tonta. Muitos remédios foram aplicados nela, e seu corpo estava em uma luta em larga escala para combater todos os tipos de atrocidades que aconteciam em suas artérias e músculos. Mas ainda sim, sua curiosidade foi maior. Sua preocupação também.

Kuchi se sentou na cama, indo na borda. Tentou ficar em pé no chão e viu que aquilo não tinha sido uma ideia tão boa assim. Era como ficar de coma por mais de um mês. Seus músculos não estariam preparados para aguentar todo seu peso de imediato. E foi exatamente o que aconteceu com a maga de fogo. Kuchi foi ao chão, mas não com um tombo que lhe machucaria. Ela tentou se levantar rapidamente. Não conseguiu. Dor agora. Não da queda. Da batalha.

Foi se arrastando até a porta do quarto. No meio do caminho, ela teve uma ideia melhor. Começou a se arrastar para sua esquerda, indo na direção da mesa de madeira. Chegou até uma das cadeiras e a usou para se levantar. Assim que ela estava de pé e sofrendo pela dor nas pernas, ela começou a usar a cadeira como se fosse uma muleta. Agora sim ela alcançou a porta.

Seu objetivo era o lampião que ficava pendurado bem do lado da entrada. O aparato de iluminação estava com uma chama bem pequena, para não atrapalhar o sono de ninguém. Era um lampião daqueles que se via só em castelos muito ricos. Na lateral de baixo dele, havia uma válvula que servia para aumentar e diminuir a intensidade da chama.

Kula a aumentou devagar, tendo que ir se acostumando com a claridade pouco a pouco. Deixando a chama em seu nível máximo, era possível ver todo o quarto quase que perfeitamente. As pessoas deitadas nas camas se remexeram um pouco quando a luz chegou até eles, mas ainda continuaram inertes. A garota foi se aproximando de sua cama, parando no meio do quarto. Ela puxou a cadeira e fez um esforço fora do normal para subir na mesma. Havia um gancho no teto, exatamente no meio da sala que servia para manter o lampião preso lá.

Depois de ter certeza que o objeto luminoso ficou fixo em seu local, ela desceu rápido, quase indo ao chão novamente. Ela nem se deu o trabalho de colocar a cadeira no lugar. Usou-a para ir até a beirada de sua cama. Agora ela tinha uma clara visão do local e era claro que aquele, de fato, era o quarto de seu time. As quatro camas estavam um pouco mais afastadas umas das outras por causa das mesas médicas que tinham ao lado delas. Parece que houve tratamentos que precisaram se manter até mesmo aqui.

A primeira coisa que chamou a atenção dela foi que a última cama do lado direito estava vazia. Quatro camas, três pessoas. Era a cama de San. Ele não estava sentado junto à mesa, comendo alguma fruta como sempre. Ele não estava no quarto.

Kuchiki voltou sua atenção para a cama do lado esquerdo da sua. Se aproximou e puxou um pouco a coberta para baixo, bem devagar. Era o rosto que ela queria ver. Precisava ver. Mulkior estava dormindo muito calmamente, como se fosse um anjo. Sorrindo, Kula pousa sua mão ternamente na testa do garoto, alisando e tirando alguns poucos fios de cabelo que ali estavam.

Ao contrário dela, Mumu estava um pouco frio. Nada alarmante. Ele também parecia um pouco pálido, mas não precisava ser um gênio para saber que aquilo era pelo fato dele ter perdido uma grande quantidade de sangue durante seu combate. Mas ele estava respirando bem calmamente e silenciosamente. Aquilo era um bom sinal. Mostrava que ele não passava por nenhum perigo enquanto dormia. Seus ferimentos não devem ter sido tão ruins assim. Ou pelo menos ela esperava que não.

— Não deverias estar de pé, Kuchi.

A voz baixa assustou a maga imediatamente. Kuchi se virou esperando encontrar uma assombração daquelas bem clássicas. Como se fosse alguém usando uma cortina branca por cima do corpo, com dois furos no lugar dos olhos. Mas não. A voz feminina não tinha sido reconhecida imediatamente por ela só por causa do susto mesmo. Assim que se virou, ela viu que Mana se arrumava em sua cama, ainda lhe encarando.

— Mana! Você está bem? — o tom de voz de Kuchiki era baixo também, para não ter que acordar seu parceiro daquele sono merecido.

— Típico de você se preocupar com os outros antes de você mesma. — respondeu Mana, sorrindo. Ela também estava passando a mão pelo peito, vendo que seu maior ferimento ainda não estava completamente curado. Ela não se lembrava muito do que havia acontecido depois que entrou na tenda médica de onde saiu San, mas não parecia tão perdida quanto a maga. — Sim, eu estou bem. Ainda me dói o peito, mas estou muito melhor agora.

— Onde está San? Você o viu?

— San? — Mana, estranhando a pergunta, olhou para o outro lado. A cama ao lado da dela era a do garoto de cabelos compridos. Ele não se encontrava lá naquele momento. — Não! Onde ele está? — a voz dela se alterou significativamente aqui.

— Era o que eu queria saber. Quando acordei, a cama dele já estava vazia. Será que ele não veio pro quarto assim como a gente?

— Eu não sei... Aquele idiota! — a mistura de sentimentos de Mana estava fazendo ela perder a cabeça e com isso, as dores estavam piorando. — Ele voltou pro ringue usando o Anel só para que nós pudéssemos ganhar o Torneio!

— Espere, como assim? Voltou para o ringue? Do que você está falando?

Era esperado que a maga ficasse totalmente confusa sobre o fato. Mana se calou por uns segundos para voltar a se concentrar e enfrentar as dores sem ter que gritar desesperadamente. Assim que sua respiração voltou ao normal, ela olhou para a companheira e pediu para que a maga voltasse para sua cama, que a explicação poderia vir a demorar. Kula era uma pessoa que iria querer saber sobre cada detalhe quando o assunto era Mulkior. Então foi por ele que a assassina teve que começar a contar.

Contou primeiramente que ela só acordou no final da luta dele e que estava completamente perdida em dores e pensamentos. Contou que aquela luta havia dado em empate e que um desempate precisaria ser feito. "Mas as regras dizem que o desempate é feito com membros escolhidos aleatoriamente!" foi o que a maga disse. Afirmando a lembrança da colega, Mana disse que o escolhido tinha sido Mumu, que decidiu voltar ao ringue mesmo tendo acabado de sair.

A reação de tristeza e preocupação no rosto do Anjo de Fogo provavelmente mereceria um prêmio dado para atores de teatro. Enquanto Mana contava a luta dele, Kuchi chegou a derramar poucas lágrimas. Só foi ficar mais tranquila quando soube que ele tinha aguentado e feito de tudo possível para manter a honra do time e de seus amigos.

A assassina e maga de gelo continuou sem fazer pausas. Disse que foi a vez dela subir ao ringue, contra o oponente que Kuchi tinha enfrentado. Essa parte foi mais fácil para que a maga entendesse porque ela mesma tinha visto e sentido os golpes do darkmancer. Mas sua expressão de preocupação não sumiu nem por um segundo. Mana deu uma descrição tão bem detalhada de sua luta que sua colega de time sentiu como se estivesse assistindo. O ritmo da história durou até a parte que ela começou a ser tratada ali fora mesmo.

— Daí ele foi pro ringue, mesmo naquelas condições! E usando o Anel que lhe tira a própria vida! — dizia Mana, voltando a se irritar. — Eu tentei me desvencilhar dos médicos e ir até ele, mas uma enfermeira me deu uma injeção e eu comecei a ficar com sono imediatamente. Só acordei agora.

— Ele deve estar na enfermaria recebendo algum tipo de tratamento especial. — disse Kuchi. Ela esperava acalmar a colega. E se acalmar também. — San foi muito ferido em sua luta e os médicos disseram que ele iria ficar em coma por alguns dias.

Mana ainda não acreditava no que o parceiro tinha feito. Ela estava tão nervosa que esqueceu completamente que havia tido um resultado da Grande Final. Então... Como foi? San tinha que ter vencido, já que seu oponente estava morto. Ah não ser que ele não se aguentou em pé até a contagem do outro time se esgotasse. Mas isso acabaria em um empate e... Não, não. Droga! Agora nada tinha resposta! Onde estava ele quando as pessoas mais precisam?

Era uma pena que nenhum membro da Immortal Star estava presente na finalização do Torneio. Aconteceu algumas coisas interessantes assim que Pablo, o Apresentador profissional, anunciou que aquele time tinha sido o grande campeão daquele torneio. Pablo começou um tipo de discurso animador bem longo que foi quase que totalmente ignorado por todos.

Os torcedores da Zero Soldier estavam irritados. Insatisfeitos com aquele resultado babaca. Seu lutador não compareceu ao ringue quando foi chamado? Covardia! Eles começaram a debandar rápido, saindo do ringue com cabeças baixas e inquietos. Já os torcedores mais fervorosos da Immortal Star estavam gastando as últimas salivas para gritarem os nomes de seus combatentes favoritos.

Os fogos de artifício não cessaram. Houve explosões aéreas por mais de cinco minutos, fechando o dia com chave de ouro. Tinham umas e outras pessoas que não estavam ligando para o que acontecia em cima deles. Era o caso de Geovanna. Ela estava em pé agora, gritando o nome do garoto que tinha sobrado.

San tinha desmaiado no ringue e logo foi socorrido por novos médicos. Mesmo de longe, a garota conseguiu ver que ele continuava muito ferido e que não era para ele estar de pé tão cedo. Mesmo com toda aquela torcida, Geovanna virou as costas e começou a correr. Ela iria tentar ir para a ala médica dentro do Coliseu.

Ela tinha acesso à área interna do Coliseu ainda, mesmo que seu time já tivesse sido desclassificado. Era uma regra de conduta do local. Todos os times poderiam ficar nos alojamentos internos até o final do Torneio, a não ser que quebrem alguma regra específica de permanência dos quartos ou uso não autorizado dos locais.

Assim que desceu um grande jogo de escadas e entrou em um dos corredores que levavam para as áreas internas, ela viu que havia outra mulher indo à sua frente com bastante pressa. Geovanna não reconheceu vendo só as costas. E nem estava muito atenta ao fato. Vai que ela era amiga de alguém do outro time?

A maga só foi estranhar quando ela entrou no corredor que levava para a enfermaria. Naquela parte, já era exclusiva para os combatentes ou pessoal do Coliseu. Ela não parecia ser alguém que trabalhava ali, e com certeza absoluta, não era alguma combatente.

O corredor das alas médicas estavam uma bagunça catastrófica. A quantidade de médicos correndo para lá e para cá, lendo suas pranchetas, assinando demandas para remédios e entradas de novos pacientes, enfermeiras com bandejas cheias de seringas e ataduras, soldados sendo levados para outros quartos ou andando com muletas... O caos era tanto, que ninguém prestaria atenção em algumas pessoas totalmente estranhas andando pelos corredores. As alas médicas do Coliseu eram provavelmente as maiores ocupações do local. Era como uma grande clínica médica, com mais quartos e macas do que se esperava encontrar.

Enquanto andava se esquivando dos médicos e médicas infinitos que cruzavam os corredores em passos rápidos, Geovanna se bateu com uma questão bem simples em sua mente: para onde os times estariam sendo levados, com todo aquele caos? Geralmente, os times ou pessoas que acabavam de lutar no ringue, eram levados para o que eles chamam de "Consultórios Primários", que ficavam bem na entrada do ringue para acelerar os atendimentos e não deixar ninguém morrer no caminho.

Geovanna começou a andar para a direção desse local porque a mulher apressada em sua frente parecia estar indo para lá também. Depois de se empurrada algumas vezes e ter que pedir desculpas por esbarrar em outras pessoas, ela virou o corredor e viu que a tal mulher conversava com uma médica que estava bloqueando a porta dupla da UTI. A conversa estava com um tom sonoro elevado.

— Ele está na Unidade Intensiva! Como você quer que eu acredite que "está tudo bem"? — disse a mulher apressada. Ela estava um pouco ofegante e claramente nervosa.

— Senhorita, eu entendo sua preocupação com seu tio, mas devo lembrá-la primeiramente que estamos em um recinto médico e que você deve manter a voz baixa. — respondeu a médica de prontidão. A mulher colocou uma mão à boca, assustada consigo mesma. Ela estava tão nervosa que havia esquecido o respeito por outros pacientes que repousavam ali por perto. — E em segundo lugar, o Combatente Mulkior já foi medicado antes do fim do Torneio e só está na UTI para receber uma transfusão sanguínea.

— E San? — Geovanna se intrometeu no meio da conversa, ficando ao lado da mulher que estava se acalmando. — Como ele está?

— Você é uma das combatentes desse Torneio, não é? — perguntou a médica, se lembrando vagamente da maga controladora de energia. — Escutem: todos os membros do Time Immortal Star estão bem machucados, mas nenhum deles corre risco de vida. Mas se vocês continuarem a atrasar o caminho de outros médicos, eu não vou mais poder confirmar isso! Então sentem-se ali e esfriem a cabeça!

Foi a primeira vez que as duas mulheres receberam tamanho sermão de uma médica. Geovanna não fazia ideia, mas aquela médica que agora havia desaparecido de suas vistas era a Enfermeira-Chefe encarregada do setor de Restauração Óssea. Em suma, ela também era considerada uma maga com magias de curas específicas para recuperar ossos.

Mas antes de ser uma médica ou curandeira, ela era uma mulher imponente. A pior coisa que um paciente poderia fazer contra ela era agir teimosamente contra suas indicações. Alguns diziam que era melhor deixar seus inimigos quebrarem MAIS ossos do que irritá-la.

Com a cabeça baixa, as duas moças deram passos para trás e se sentaram no banco de espera que ficava na frente da Unidade de Tratamento Intensivo. Bufaram as duas, liberando o estresse que pesavam suas costas. Não demorou outro segundo para que uma puxasse assunto com outra.

— Você parecia bem preocupada com o San. É seu amigo? — perguntou a mulher que tinha chego antes.

— Ahm, ah... Não. Mais ou menos. — Geovanna não sabia como responder a pergunta e ficou vermelha. — Mas e você? Ficou preocupada com ele também? Conhece ele?

— Ah, conheço ele sim. Também fiquei preocupada com aquele machucado no olho dele, mas o que me fez correr o mais rápido possível até aqui foi por causa do meu tio que teve que lutar duas vezes seguidas.

— Tio? Você é... Sobrinha do Mulkior? — aquilo tinha soado mais como uma afirmação própria do que uma pergunta propriamente dita. Regi respondeu a pergunta balançando positivamente a cabeça, e as duas voltaram a olhar para o chão. — Achei impressionante ele aguentar duas lutas seguidas.

— Ele tem uma resistência que não se compara com ninguém! — disse Regi, orgulhosa. Conversar daquele jeito estava fazendo-a ficar finalmente mais calma. — Ele provavelmente vai vir pedir uma nova armadura para eu fazer. Queria poder falar com ele...

— É, eu sei como você se sente. Mas a médica tem razão. Tudo o que podemos fazer é esperar aqui até que eles saiam daí.

Haviam ainda outras coisas importantes acontecendo no mesmo momento em que as duas mulheres saíram correndo, com suas preocupações estampadas em seus rostos. Umas eram mais importantes que as outras.

Era bom destacar que, assim que foi anunciado os vencedores, umas pessoas suspeitas, vestindo roupões grossos com capuzes e máscaras, se levantaram depois de escrever alguma coisa em suas cadernetas. Haviam duas duplas dessas mesmas pessoas.

Shiro estava-os observando muito atentamente. Uma das duplas estava ligeiramente perto dele, sentados mais acima nas arquibancadas. Com essa dupla, Shiro teve que tomar cuidado com suas olhadelas para não levantar bandeira. A outra dupla estava sentada quase do lado inverso, nas arquibancadas mais em baixo, do outro lado do Coliseu. Essa era a dupla que veio todos os dias do Torneio, observando cada luta e fazendo inúmeras anotações.

O ninja sentia uma aura estranha vinda dessas duplas e alguma coisa lhe dizia que ele poderia se meter em algo bem grande. E perigoso. Mais perigoso do que grande, para ser mais exato. Ainda sim, ele pediu para que sua acompanhante se levantasse com ele assim que essas pessoas começaram a tomar seu rumo para fora do Coliseu.

Agora sua missão começava a ficar mais tensa. Mumu tinha sido específico com relação à essas pessoas. Eles estavam claramente obervando todos os lutadores por algum motivo bem especial, e que pareciam ter nenhum objetivo muito bom para tal. A missão era descobrir quem eles realmente eram.

Normalmente, isso seria uma tarefa extremamente fácil para alguém como ele. Shiro era um dos melhores ninjas que uma guilda já teve, ou seja, ele se achava grandioso porque realmente tinha uma base gigantesca de missões concluídas com sucesso. Só que ali, naquela situação e contra aquelas pessoas, a coisa era um pouco diferente. Todos os sentidos dele estavam aguçados. E aquele frio na espinha não queria desaparecer de jeito nenhum.

Depois de se levantar e seguir uma das duplas de uma distância segura, eles passaram pelos corredores de saída do Coliseu. Nesse ponto, aquilo estava uma zona de estresse. Centenas de pessoas se empurrando para poderem sair dali o mais rápido possível, gritaria de pessoas nervosas, outras gritarias de pessoas que se perderam de suas companhias, até crianças chorando desesperadas por soltarem a mão da mãe ou do pai e agora eram levadas pelas ondas de empurrões.

Foi nesse ponto que aconteceu a primeira coisa sinistra. A dupla que estava sendo seguida pelos olhos perspicazes de Shiro entrou no meio daquelas pessoas e... Desapareceu como se nunca tivesse existido. Mas não se engane. Não foi um desaparecimento qualquer, daqueles que a pessoa usa a quantidade de pessoas a sua volta para se camuflar e sumir. Não, foi algo místico. Mágico.

Shiro teve certeza disso quando deu alguns passos já dentro do empurra-empurra e sentiu resquícios de energia mágica no ar. Alguma magia tinha sido usada ali, de maneira discreta. Eles tinham lhe visto? Não, não. Isso era impossível. Shiro não deu nenhum sinal de que estava os seguindo. Se foi usada alguma magia ali, foi para que eles pudesse atravessar aquela multidão de uma maneira mais rápida ou segura.

O ninja mordeu o lábio inferior e começou a fazer uma varredura pelos cantos do corredor. Como será que eles fizeram aquilo? Não havia desvios e nem portas. Eles foram reto, de alguma forma ignorando as pessoas, como se fossem fantasmas. Era plausível. Com magia, tudo era plausível.

Seus músculos ficaram rígidos. Suor escorreu de sua testa. Era isso! A adrenalina! Eles estavam o testando! Shiro sorriu. Fazia tempo que não era desafiado. Aquilo era um modo de viver! Liberdade! Não tinha ordens de aceitar ou recusar aquele "convite" proporcionado pelos seus alvos. Era algo que ele podia ou não fazer.

Enquanto andava já tendo que empurrar algumas pessoas, ele puxou a filha de médica que tinha lhe salvado a vida a uns dias atrás e a olhou os olhos. Eles estavam quase abraçados. Tão próximos que poderiam se beijar em um piscar de olhos.

— A situação mudou. — disse Shiro, falando em uma velocidade acelerada. A garota precisou focar toda a sua atenção para poder entender o resto. — Eles estão fugindo e eu não posso deixar isso acontecer. Volte para a enfermaria como combinado, ok? MERGULHO DAS SOMBRAS!

Ele não esperou ela responder. Concentrou energia no corpo todo e sumiu diante dos olhos dela. Algumas pessoas que estavam mais próximas não sabiam o que tinham visto exatamente. Alguém estava ali e de repente não estava mais. Como a situação era um pouco estranha para se ficar ponderando, muitas pessoas simplesmente ignoraram. Menos uma.

— Se você me der licença, eu vou me retirar por hoje. — disse Bart, respeitosamente. Pablo se levantou da cadeira também e apertou a mão do soldado. — Foi uma honra estar aqui com você.

— Ah por favor! A honra foi toda minha! Se possível, volte amanhã para ver o grande encerramento. Aposto que será uma grande vista para você.

Sorrindo, Bart respondeu que voltaria amanhã para encerrar de vez seu trabalho como Comentarista. "E como Soldado.", pensou ele. O homem nobre teve que admitir que gostou muito de ter estado ali. Não era a primeira vez que ele via um Torneio daquele nível, e não seria a última também. Mas ele nunca se sentiu tão empolgado.

Ele tinha um trabalho dado por seu Líder, o Comandante Geral da Planetarium, de observar atentamente os lutadores. Todos eles. Bart fez isso com muita dedicação, que duplicou quando ele bateu os olhos em Mana. Em todas as lutas da mulher, o Soldado analisou cada movimento de seu belo corpo. Suas magias, técnicas, habilidades defensivas. Tudo o que se tinha para chegar em uma conclusão sobre o tamanho de poder, ele observou. Para ele, Mana seria mais que uma simples adição na Planetarium.

Ele sorriu de novo, dessa vez com desejos em mente. Iria pedir para que ele fosse responsável direto dela. Ele tinha essa autoridade. Além de treiná-la em todas as formas secretas de sua organização, ele ficaria constantemente de olho no crescimento dela. Isso o ajudaria a se aproximar dela. Ele tinha tempo. Iria fazer tudo devagar, para que ela visse o quão grandioso ele era. Iria fazer ela se apaixonar. Iria torná-la mais do que uma discípula. Iria tomar a mão dela para todo o sempre.

— Que raro ver você sorrindo.

Bart levou um susto. Era importante ressaltar que ele não é pego assim, desprevenido, já fazia alguns anos. Para ser mas exato, desde que passou pelo treinamento da Planetarium, ele estava com a percepção tão afiada, que se uma barata passasse pelo lado dele, ele a ouviria.

Outra coisa muito mais importante que deveria ser comentada, era o fato de que ele não tinha sido pego de surpresa pela voz masculina simplesmente porque estava com inúmeros planos na cabeça. Ele não sentiu a pessoa. O homem. Bart se virou com olhar tão afiado que seria possível cortar uma árvore só olhando para ela.

— Não me olhe assim. — disse o homem, com as mãos para frente, acenando como se estivesse se rendendo.

O homem magricelo a ponto de ser esquelético vestia uns trapos bem não característicos daquela região. Falar "trapos" era o ideal. Ele vestia faixas pelo peito, braço e pernas. Nada de camisas ou calças. As mesmas faixas subiam pelo seu pescoço e tampavam seu rosto até o nariz. Na sua cintura havia um cinto camuflado cheio de pequenos saquinhos ao redor. Os outros acessórios que ele possuía eram um sapato fino sem salto, duas pulseiras prateadas e ligeiramente grossas, uma em cada braço e um tipo de turbante na testa, daqueles que faziam um tipo de cortina ao redor da sua cabeça. Todo seu conjunto de roupas era da cor mais negra possível. A pessoa parecia uma sombra viva.

Urano. — disse Bart, relaxando um pouco os músculos. Ele estava tão nervoso que se ele não conhecesse a pessoa, ele teria a decapitado. Era óbvio que ele não tinha sentido a presença daquele homem. Urano era o espião da Planetarium e uma das habilidades únicas dele era esconder completamente sua presença. Alguns diziam que ele conseguia chegar a ponto de fazer sua própria existência se perder no nada. — O que você faz aqui?

— Vim observar a Final e ver quem era a pessoa que tinha te chamado tanta atenção. — a expressão de Bart ao ouvir o comentário do companheiro de trabalho tinha acabado de mudar de olhar afiado para olhar espantado. — Plutão insistiu. Ele disse que você parecia uma criança apaixonada quando falava dela.

— Não teste minha paciência, Urano! — não era típico de Bart se irritar. Mas quando o assunto envolvia Mana... — Não preciso de suas brincadeiras quando---

— Espere, essa não foi minha intenção. — disse Urano, cortando a fala do colega. — Eu observei a final inteira. Todos os oito combatentes são poderosos o suficiente para conseguirem a aprovação de todos os membros da nossa organização. Os mais habilidosos, Mana e Chang, já estão com habilidades rivais à alguns de nossos membros. Eu mesmo não tenho tanta certeza se ganharia um duelo limpo contra os dois. — ao ouvir o elogio dele, Bart conseguiu se acalmar por completo. O Soldado sabia que Urano era um dos membros mais fracos da organização porque ele era especializado em espionagem tática, busca de informações e comunicação. Ainda sim, ter o mesmo nível dele já era algo absurdo. — Eu entendo o porque essa mulher lhe chamou tanta atenção. Todos sabemos que só "beleza" não seria um fator determinante para você.

— Mesmo que ela seja de fato bonita, suas técnicas são realmente fabulosas. Eu quero investigar mais sobre ela e descobrir como ela conseguiu se tornar tão forte.

— Posso te ajudar nisso. — antes mesmo que Bart pudesse sorrir, alegre com a boa vontade do companheiro, Urano continuou falando outra coisa que mudou totalmente de assunto. — Mas não é exatamente por isso que eu vim falar com você. Eu tenho uma mensagem do nosso Comandante. — o ar mudou, ficou mais pesado. O olhar dos dois soldados se tornou mais sério. — Precisaremos nos reunir no Quartel General hoje, exatamente as onze da noite. Será uma reunião com todos os membros. Vai ser histórico, não acha?

Bart entendeu a última pergunta tão bem, que nenhuma resposta foi necessária naquele momento. A Planetarium era uma organização quase solitária. Todos os membros trabalhavam longe um do outro, em reinos específicos onde sua presença era requerida. A junção de alguns membros era bem normal. As vezes, dois membros se uniam para combater ou defender uma certa região de bandidos numerosos ou até outros reinos. Agora... Reunir todos os membros em um só local era algo que nunca acontecia. Não existia motivos para isso. A não ser que fosse algo GRANDE. E sério. E talvez perigoso.

Pense assim: o que seria sério ou perigoso o suficiente para juntar os guerreiros mais poderosos do mundo em um só local? Chegava a dar arrepios. Em todo seu tempo dentro da organização, Bart só tinha visto todos se reunirem apenas uma vez. Só uma. Nem mesmo quando um novo membro entrava, era necessário que todos participassem de sua nomenclatura.

Por algum motivo desconhecido, o soldado imaginava que essa reunião não era devido ao fato de que não apenas um, mas quatro novos integrantes se juntariam à equipe. Sem dizer mais nenhuma palavra, Bart se virou e caminhou para fora do Coliseu. Seu destino: o Castelo. Urano não o seguiu. Ele precisava avisar outra pessoa.

Shiro saiu com muita pressa do Coliseu. Ele teve que usar sua magia mais três vezes para que pudesse evitar o máximo possível de pessoas na fila. Aquilo fez mais gente se assustar com o ninja simplesmente sumindo de uma hora para a outra, mas nenhuma confusão maior foi criada.

Estando finalmente ao ar livre, a primeira pergunta que Shiro se fez foi "E agora? Para que lado?". Haviam muitas pessoas por aquela área. Mais do que tinha lá dentro. A entrada do Coliseu era algo extremamente belo de se ver e por isso era considerado como um ponto turístico da grande capital. Ou seja, além da incontável quantidade de espectadores saindo nervosas do local, haviam turistas, vendedores de rua, jornaleiros gritando e acenando, soldados fazendo suas rondas e até pintores concentrados em suas obras, criando um cenário realmente horrível para qualquer pessoa claustrofóbica.

Shiro olhou para todos os lados, mas não encontrou nem sinal das pessoas que eram seu alvo. Ele precisava dar um jeito de ir a algum lugar alto, para fazer uma varredura completa daquela área. Mas como fazer isso sem chamar tanta atenção? Haviam muitos lugares que ele poderia simplesmente se pendurar, logo ali nas paredes do Coliseu dos Deuses. Mas com toda certeza isso só faria com que ele tomasse uma espetada de um dos guardas.

"Ali!". Os olhos afiados e bem treinados do ninja encontraram um lugar perfeito para uma pequena varredura. Era um hotel que ficava bem próximo aquela praça e por uma sorte absurda, uma das janelas do terceiro andar estava aberta. Ele andou rapidamente até perto do local e usou sua habilidade de mergulhar nas sombras para subir o andar até a borda da janela. Antes mesmo de entrar no quarto com tudo, ele espiou por dentro de sua sombra, analisando o local.

Era realmente um quarto de hóspedes e a pessoa que estava ocupando aquele quarto permanecia na cama de casal, bem no canto esquerdo do quarto. Ela parecia desacordada, o que era uma mão na roda para o ninja. Uma dica para os visitantes de Capitais era que você sempre deve manter tudo trancado e junto a você. Nunca se sabe quando um cara que controla sombras pode aparecer e invadir sua privacidade para querer te roubar ou até pior.

Shiro entrou no quarto e se virou para janela sem fazer nenhum barulho. Era bom que não tivesse mais ninguém que ocupasse aquele quarto. Imagine você sair do banheiro e dar de cara com um ninja espiando pela sua janela? Seria uma cena mais sinistra do que hilária.

Os olhos de Shiro percorreram os cantos dos becos e ruas que davam saída para o Coliseu. Ele sorriu quando encontrou o alvo se locomovendo rapidamente por um dos becos ao norte do Coliseu. Eles estavam longe, mas não o suficiente para despistarem o Grande Shiro.

O ninja colocou uma pé na borda da janela e forçou todo seu corpo para dar um pulo até o telhado de uma casa que ficava na frente do hotel. Ninguém o viu. A luz do sol já tinha quase que se escondido totalmente e já estava difícil de se ver muito ao além com a vinda da noite. Ainda sim, ele precisava tomar cuidado com os guardas. Eles ainda estavam alertas por causa do atentado ao Castelo, e provavelmente prenderiam qualquer um que ficasse andando pelas telhas.

Sabendo disso, Shiro desceu em um beco para que ninguém o visse. Depois saiu correndo em direção ao norte, seguindo fielmente as coordenadas marcadas pelo seu cérebro. Não demorou nem três minutos para que ele avistasse as duas pessoas suspeitas andando de beco em beco, seguindo para um caminho que sabe-se lá onde iria dar.

Agora chegava a parte mais perigosa. Usar furtividade em um local com muita gente para seguir alguém de longe era muito fácil. Agora quando não havia ninguém por perto ou o local não disponha de nenhum canto para se esconder, o bicho pegava. Shiro se concentrou em deter sua presença, se tornando um só com as sombras sem usar magia nenhuma.

Ele sabia que aquelas não eram pessoas normais. Elas usavam magia. Provavelmente teriam alguma habilidade de luta e não era pra isso que Shiro tinha sido contratado. Sua missão era descobrir quem eram e talvez, para quem trabalhavam sem levantar suspeitas.

Depois de segui-los por mais de dez minutos de caminhada, eles finalmente se encontraram com alguém. Ainda era em um beco no meio do nada, onde a escuridão já estava fazendo um trabalho profissional. Isso ajudava Shiro. O que não o ajudava foi a tremedeira que começou a lhe tirar a concentração. O problema? A pessoa que eles encontraram era Athena.

— ... E eu acho que provavelmente conseguimos mais do que o esperado. — disse uma das pessoas que usavam as roupas e máscaras para não ser identificada, continuando uma conversa que já tinha começado antes de Shiro prestar atenção. — Principalmente na terceira luta, onde nem a barreira conseguiu deter aquela magia exagerada.

— A senhorita Katherina já tinha nos dito que apenas nos três primeiros dias do Torneio, ela já tinha conseguido juntar o suficiente para quase completar o plano inteiro. — disse a outra pessoa suspeita. Athena ouvia os comentários com o braço cruzado, prestativa. — Com toda certeza nós conseguiremos realizar o Projeto com sucesso.

— Aqui estão as anotações de hoje. — disse o primeiro, entregando uma prancheta para Athena, que começou a folhear imediatamente. — Como ordenado, nós dobramos a atenção na Final e não deixamos nenhum detalhe passar despercebido.

— Ótimo trabalho. — respondeu Athena. Ela não tinha realmente lido tudo naqueles poucos segundos. Ela nem precisava ler nada, na verdade. O trabalho dela era outro. — Agora só precisamos resolver um último problema. — ao ouvirem o comentário da Soldado, os dois mascarados se olharam, confusos. Se perguntaram do que ela estava falando. Não era só entregar o relatório e esperar a próxima missão? — Temos um ratinho travesso que está saboreando o aroma de um queijo realmente gostoso.

Shiro congelou. "Não! Impossível!" foi que ele pensou. Um ratinho. Era ele! Mas como? Shiro estava em uma distância segura dos três e escondia perfeitamente sua presença. Dane-se que ela era de uma das organizações mais poderosas do mundo!

Quando Athena deu um passo para frente, virada na direção do começo do beco onde o ninja se escondia, Shiro não pensou duas vezes. Concentrou muita energia nas pernas e deu um dos maiores saltos que já tinha dado em sua vida. Antes de se virar, ele sentiu uma presença ameaçadora como se fosse um rato olhando para um gato que adorava brincar com sua presa antes de matá-la.

No momento em que ele pisou no telhado, já tinha tudo ido para os ares. Ele estava cercado. A cinco metros à sua frente estava parada uma daquelas pessoas com máscaras. E ele não precisou se virar para saber que Athena estava logo atrás dele, e mais uma pessoa se aproximava pelo seu lado direito.

— E onde você pensa que vai? — perguntou a voz feminina, obviamente da Soldado da Planetarium. — Achou mesmo que conseguiria escapar de mim?

— Olha... — disse Shiro, se virando bem devagar até estar frente a frente com aquela presença ameaçadora. Olhando mais de perto, Athena não parecia um gato olhando para um rato. Parecia mais um tigre olhando para uma barata. — Por um breve momento, eu realmente achei que conseguiria.

— Ahahahah. Engraçadinho. — riu a garota. Os outros dois mascarados permaneceram quietos e imóveis, mas estavam preparados para tudo. Era um espião. E todos sabiam que a vida de um espião tinha tendência de ser curta. — E então? Vai me contar para quem você trabalha da maneira tranquila, ou vou precisar usar a maneira complicada?

— Ah, eu posso escolher? — disse Shiro, quase sendo cego por uma gota de suor que correu de sua testa e pingou de seu queixo. Ele estralou os dedos e olhou para baixo por um mini segundo. — Eu acho que vou ficar com a maneira complicada, obrigado.

Shiro não precisou ver de frente o que um soldado da Planetarium poderia fazer. Ele não estava com muita vontade de descobrir. Então ele precisou de um plano de fuga. Infelizmente para ele, não haviam muitos caminhos a serem percorridos. Ele estava em cima de uma casa grande, cercado por três lados. Pular para outro telhado? Totalmente impossível. Mesmo que ele pulasse na direção de um daqueles caras mascarados, ele seria bloqueado.

Então se não dava para ir para frente, nem para trás e muito menos para os lados, o que restava? Em baixo, claro! Shiro carregou um pouco de energia mágica na mão direita e deu um soco no telhado exatamente no meio dos dois pés. Foi um movimento muito rápido, que era exatamente o que ele precisava ali. Ele chegou a pensar em usar sua magia de mergulhar nas sombras, mas assim que começasse a se concentrar, os três inimigos o atacariam sem dó nem piedade. E seja lá o que Athena fosse capaz de fazer. Com certeza ela conseguiria matá-lo em um piscar de olhos, se desse tempo.

Então a ação que ele teve aqui foi a mais correta. Shiro era especialista em fugas, das mais diversas até as mais perigosas. O soco carregado destruiu o telhado embaixo dos pés do ninja, o fazendo cair imediatamente, enquanto milhares de fragmentos de telha e madeira foram jogados em todas as direções, fazendo os três se alarmarem.

Assim que Shiro sumiu da visão deles, Athena foi a primeira a correr até o buraco deixado pelo fujão, olhando por ele. Havia uma densa concentração de energia mágica vindo de lá de dentro, o que fez a mulher liberar sua aura defensiva em todas as direções. Os dois mascarados congelaram nesse momento. Não que fosse a primeira vez que eles viam alguém do Alto Comando da Planetarium lutar a sério, mas era sempre uma visão tenebrosa. O ar ficava até menos existente, deixando problemas para respirar para qualquer ser vivo que estivesse ao redor.

Athena se afastou dois passos daquele buraco e se preparou para levar qualquer ataque que Shiro estava preparando. Ela esperou. E esperou. E esperou. E nada aconteceu. Estranhando, ela voltou bem lentamente até o buraco e olhou para baixo mais uma vez. Estava muito escuro lá. Mas não havia mais nenhuma emanação de energia mágica. Nada.

Com um aceno, ela pediu para que um dos mascarados descesse e verificasse. Meio duvidoso, ele se aproximou, verificou com os olhos e desceu. O negrume total não o deixava ver nada, mas pelo menos, ele não sentia nenhum tipo de intenção assassina. O mascarado viu um filete de luz saindo de uma suposta porta no outro lado do cômodo. Foi andando devagar até lá, e quando puxou a maçaneta, abrindo totalmente a porta, ele deu de cara com uma senhora de idade que trazia uma vela na mão. Os dois tomaram um susto juntos.

— Quem é você? O que está fazendo na minha casa? — perguntou a senhora, com uma voz tremida.

— Se acalme. — disse ele, com uma voz mais delicada. — Eu trabalho para o Rei e estou perseguindo um espião. Pra onde ele foi?

— Espião? Do que você está falando? Foi você que quebrou meu telhado?

— Senhora, preste atenção! — o homem mascarado não queria perder a paciência, mas não podia ficar perdendo tempo ali. — Estamos perseguindo um espião com informações confidenciais que afetam diretamente a Família Real! Se a senhora continuar atrapalhando, seremos obrigados a prendê-la também!

— E eu lá quero saber sobre Família Real! O que eu quero saber é quem vai pagar aquele estrago ali!

Em outra rua, longe da discussão sem sentido naquela casa, Shiro estava correndo o máximo que podia, para o mais longe possível. Ele estava fazendo contornos de beco em beco, fazendo um caminho que dificultava qualquer perseguidor ou rastreador que viesse atrás dele.

O que ele está fazendo aqui, você pergunta? Era simples. Assim que caiu no cômodo daquela casa, Shiro começou a concentrar muita energia mágica, liberando toda sua aura de propósito. Isso lhe daria um tempo. Nenhum guerreiro era louco o suficiente para pular em um buraco com alguém preparado para atacar com tudo.

A ideia de Shiro saiu tão perfeita que mesmo ele não acreditava. Assim que carregou bastante energia, ele usou seu mergulho nas sombras para fugir do cômodo onde estava. Ele parou em um corredor comprido, ainda escuro. Deu as costas e começou a correr em direção a uma janela aberta que tinha no fim do corredor. Ele colocou o pé na borda e saltou para o chão, caindo sem fazer nenhum barulho.

Deu uma rápida olhada para trás, sentindo uma aura intensa logo acima dele. Era ela. "Mas que se foda!", pensou ele. Olhou para frente e correu como nunca. Ficou preocupado que eles o seguissem ainda, mas assim que virou algumas esquinas, ele percebeu que não havia mais ninguém correndo ao seu encalço. Mesmo assim, o ninja não parou de correr enquanto não se viu em um lugar seguro, que era o consultório médico que ele tinha ficado no dia anterior.

Quando Mulkior abriu os olhos, ele parecia ter acabado de acordar de um pesadelo. Ele tentou levar a mão esquerda ao rosto, mas viu que alguma coisa a prendia. Virou a cabeça e encontrou Kula com a cabeça deitada em cima de sua mão, dormindo calmamente. Antes mesmo de poder rir e sentir todo o carinho da garota, Mulkior sentiu a dor no peito que lhe lembrou das duas batalhas seguidas que ele teve que travar.

Tinha sido uma loucura. Mas era uma loucura NECESSÁRIA. Ele precisava levar sua honra até o último suspiro. Mas... O que deu? Qual foi o resultado? O que tinha acontecido?

O filho de nobre tentou ficar estático para não sentir as dores novamente. Virou a cabeça para sua parceira novamente. Ela estava enfaixada e com ataduras. Machucada demais. O mago girou a mão devagar e depois a puxou, sem acordar Kuchi. Depois, ele pousou sua mão na cabeça dela, fazendo um leve carinho sob seus fios de cabelo. Ela pareceu reagir positivamente ao ato, resmungando alguma coisa inaudível e sorrindo logo em seguida.

Mumu tentou se restabelecer geograficamente. Ele estava em sua cama. Aquele era o quarto do time. Havia muita luz entrando pela janela do quarto, que estava meia aberta. Era luz do sol. Mas o torneio teria acabado no início da noite! Então... Já havia passado um dia? Será que ele dormiu por tanto tempo assim? Kula estava ali dormindo agarrada a ele, e os outros?

O mago ferido tentou puxar o corpo para cima muito devagar. Olhando mais para o lado, ele viu que Mana dormia em sua cama. Ela estava bem tampada, então não era possível ver sua condição. E a cama onde San dormia estava vazia. Por quê? Onde ele estava? Será que já tinha acordado e saído do quarto? Mas era pra ele estar em coma por uns dois ou três dias! Se bem que...

A porta se abriu quase que abruptadamente, interrompendo o pensamento do mago de ferro. Com o barulho, Kuchiki acordou e Mana também estava se remexendo em sua cama. Da porta, entraram três médicos empurrando uma maca com soros e sangue em tubinhos passando para o paciente deitado e inerte. O paciente foi levado até o lado da única cama que estava vazia e foi movido para ela com uma delicadeza absoluta.

Os médicos ainda começaram a fazer medições de pressão e temperatura no paciente, enquanto outro colocava os saquinhos de soro e sangue pendurados em hastes especiais que jaziam nas paredes. Eles fizeram tudo muito rápido, deixando todos os três residentes do quarto de bocas abertas e quietas. Depois de tudo arrumado, o paciente parecia bem e tranquilo na cama, fazendo dois dos médicos se retirarem imediatamente.

O paciente em questão era San. O médico que havia permanecido no quarto se virou para os três membros da Immortal Star que ainda estavam com uma expressão de puro sono e cansaço em seus rostos, e perguntou:

— Todos os três estão bem? Ainda sentem alguma coisa? Dores de cabeça? Febre?

— Doutor! O que aconteceu com o San? — perguntou Mana, ignorando totalmente as perguntas do médico. — Como ele está?

— Bom... Ele vai sobreviver. — respondeu o médico, criando ainda mais expectativa e suspense nos corações do pessoal. — Seu amigo tem uma força vital bem fora do comum. Ele teve que passar por diversas séries de recuperação mágica e isso provavelmente afetou sua cura natural. Mas mesmo assim, ele parecia continuar lutando, mesmo desmaiado. Ele quase teve paradas cardíacas durante a madrugada e precisou ser observado por três médicos constantemente. Ele só foi liberado agora. Sua condição está estável, mas seu corpo provavelmente sofrerá uma mudança drástica assim que ele acordar. É melhor que mantenham ele descansando assim, sem acordá-lo por uns dois dias. Acho que mesmo que vocês tentem acordá-lo antes disso, vocês não irão conseguir.

— Mas Doutor, e o olho esquerdo dele? — perguntou Kula. — Ele ainda está usando as ataduras ali! Aquela parte não foi curada ainda?

— Ah... — o médico ficou totalmente desanimado. Ele precisava dar uma notícia para eles e não estava com a mínima vontade. Era como falar para a família que o paciente não aguentou e morreu. Sempre era difícil. — Me desculpem. Conseguimos estancar o vazamento de sangue, mas... O olho esquerdo dele... Não pode ser completamente curado.

— O QUÊ? COMO ASSIM!? — gritou Mumu, nervoso. O grito não fez bem a ele, que levou a mão no peito tentando se aliviar da dor que tinha acabado de voltar.

— Se acalme. Não é culpa nossa. Fizemos de tudo que podíamos. — o médico trocou algumas folhas que estavam na sua prancheta até achar a que queria. — O olho dele recebeu uma maldição mágica, de um nível que nenhum médico ou mago daqui do Coliseu já viu em toda sua carreira. E esse tipo de maldição só pode ser removida pelo próprio usuário.

— Ah não... — disse Mana, baixando sua cabeça e começando a tremer.

— O que foi? O que aconteceu Mana? Por que você ficou triste?

— Mumu, se essa maldição precisaria ser removida pelo usuário, então Chang precisava... — dizia Kuchiki. Ela parou no meio do caminho porque começou a chorar. — Chang está morto, Mumu.

Houve um silêncio forçado naquele momento. Kula tentava controlar as lágrimas enquanto Mulkior tentava controlar a raiva. Os médicos não eram culpados. Eles realmente "lutaram" para desfazer a maldição. Mas era um Golpe Supremo de um lutador de nível Mestre. Alguém que era chamado de Punho Maldito. Ninguém no mundo teria forças o suficiente para remover uma maldição daquelas. Como último golpe, Chang deixaria uma cicatriz em San que nunca seria curada. Era como se fosse um pagamento por ele ter matado seu neto.

Mana não tinha contado para ninguém, mas ela tinha uma leve impressão de que aquilo iria acontecer. Ela já tinha visto algumas vítimas de maldições antes. Ela teve muito medo de que aquilo acontecesse, mas ela se manteve na esperança de que os médicos iriam dar jeito. Teve esperanças de que o golpe não tinha sido perfeito o suficiente. Mas não. Não, não, não! Tudo tinha dado errado! Eles tinham lutado tanto naquele bendito Torneio e San perdeu um dos olhos! Isso não era justo! Não tinha valido a pena! Não precisava ter terminado dessa forma!

— Bem, eu preciso voltar ao trabalho agora. — disse o médico, indo até a porta e parando. Ele se virou novamente para o pessoal. — Ah sim. Quase me esqueço. Vocês foram os Campeões do Coliseu e a cerimônia de premiação será feita hoje, as duas horas da tarde. Só um de vocês é obrigado a ir, caso os outros estejam muito cansados e queiram permanecer aqui, fiquem a vontade. E por fim, eu sei que não é a melhor hora para lhes dizer, mas... Parabéns pela sua vitória.

Aquelas palavras não foram bem vindas para nenhum dos três combatentes. Assim que a porta foi fechada, Mulkior voltou a se acomodar em sua cama, tentando se acalmar. "Então nós ganhamos...", pensou ele. Até aquele momento, ele não tinha descoberto nada sobre o que aconteceu depois que ele desmaiou na sua segunda luta. Essa foi a primeira questão levantada naquele quarto, meia hora depois.

Mana se levantou e foi até a cama de San para vê-lo mais de perto. Assim que teve certeza que ele respirava normalmente, ela se aproximou da cama de Mumu e começou a contar o que ele não tinha visto. Era impressionante o que uma situação complicada poderia fazer com uma pessoa.

Eles venceram o torneio. Ganharam de um time quase invencível, com membros de nível Mestre. Mas nenhum deles parecia contente o suficiente. Não houve muita conversa naquele ponto. Os três ficaram em suas camas, quietos e pensativos. O silêncio só foi quebrado uns dez minutos depois.

— Que silêncio incomum.

Mana deu um grito e quase caiu da cama. Com o grito de Mana, Kula levou um grande susto e também quase foi ao chão. Mulkior só virou a cabeça para o lado, encarando as duas mulheres assustadas. Elas tinham motivos o suficiente para estarem daquele jeito.

San, o Defunto. Ele estava se levantando, ficando sentado em sua cama como se nada tivesse acontecido. Os três companheiros de time ficaram estáticos, o analisando dos pés à cabeça. Talvez eles estivessem sonhando. Mas não. Era de San que estávamos falando. As coisas mais absurdas sempre vinham dele.

— San! Era pra... Era pra você... — começou a maga de fogo, que de tanto gaguejar, não conseguiu nem raciocinar direito para fazer uma pergunta simples e definitiva.

— Era pra eu estar dormindo por sei lá quantos dias? — perguntou San, encurtando o trabalho da maga ter que completar a pergunta. Kuchi se calou e balançou a cabeça afirmativamente. — Provavelmente sim. Mas não tenho tempo de descanso. Pelo menos não ainda.

— San! — era Mana que tinha gritado. Ela não era desse tipo. Nunca se irritava com algo banal. Só San tinha uma "mágica" especial que a lhe tirava do sério. — Você tem que ficar deitado até estar totalmente recuperado!

— Eu não posso. — disse San, apertando uma das mangueirinhas de soro que estava ligada a ele. Ele fechou a mangueira e removeu a agulha que estava dentro de seu braço, que ligava o soro à suas veias. — Nosso trabalho ainda não está finalizado.

— Do que você está falando, cara? Nós ganhamos o Torneio! — disse Mumu, não tão empolgado quanto pareceu.

— Sim, ganhamos. Mas ainda não reivindicamos nosso prêmio e não deixamos claro nossos verdadeiros objetivos, não é? — perguntou o garoto de cabelos compridos, removendo a outra mangueirinha que estava em seu braço direito. Essa o alimentava com uma mistura especial que levava sangue. Aquilo combatia hemorragias.

— Se você pensa que vai sair desse quarto para alguma coisa, deixe-me alertá-lo de que você não irá conseguir! — disse Mana, ficando de pé na frente do companheiro.

— Eu não vou sair, Mana. Relaxe. — disse ele, se levantando e ficando cara a cara com sua parceira. — Não se altere desse jeito. Você também está bem machucada e precisa de descanso. — San se virou e andou bem devagar até a mesa de madeira que tinha no quarto. Ele puxou uma cadeira e se sentou. Depois pegou uma maçã que tinha em uma fruteira que ele mesmo tinha pedido para que colocassem em seu quarto.

— O que você quer dizer com "nossos verdadeiros objetivos", San? — perguntava Kuchi. — Você está querendo se referir a Guilda?

— Exatamente. — disse o garoto, mordendo a maçã. Nenhum dos três conseguia acreditar que aquele garoto todo machucado estava ali, sentado e comendo como se nada tivesse acontecido. Do que o corpo dele era feito? Os três já tinham feito essa pergunta para si. — A ideia é anunciar a nossa Guilda para a maior quantidade de pessoas possível, correto? Então isso vai precisar ser feito hoje a tarde, na hora da entrega dos prêmios. Provavelmente vão nos fazer falar alguma coisa para todo o público. E não existe melhor hora.

— Ta, eu até concordo. — disse o Líder do time, tentando deixar de lado toda aquela agitação que estava em sua mente. - Mas como o médico que estava aqui disse: só um de nós é obrigado a estar lá.

— Esse não é meu ponto. — continuou San. — Pense na primeira impressão que daremos ao povo. Se só um de nós ir lá e anunciar a Guilda, não haverá força. O povo precisa ver que nós quatro aguentamos a final juntos e ganhamos ela juntos. Todos nós precisamos voltar ao ringue e anunciar a Guilda, para que ela fique marcada como algo poderoso, imbatível. É como provar que nenhum membro da Guilda irá cair ou ser deixado para trás.

— Desse jeito, a primeira impressão que nós passaremos será de uma Guilda que sempre irá vencer...

O último comentário foi feito por Mana, e depois de tê-lo dito, ela se sentou em sua própria cama e baixou a cabeça, pensativa. Ela não queria ter que admitir, mas seu parceiro tinha um tanto de razão. Afinal, esse era o plano inicial de Mulkior. Era o motivo para ele ter entrado nesse Torneio. Não dava pra contrariá-lo logo agora, nessa altura do campeonato.

A assassina voltou a olhar para San, que estava terminando de devorar a maçã. Ele parecia bem. Mas só parecia. A preocupação dela era que ele não deveria sair daquele quarto. Não era pra ele estar de pé, pra começo de conversa! Ele era um teimoso, ela sabia disso. Mas quem daquele time ali não era? Cada um tinha um tipo único de teimosia que ficava mais forte dependendo da situação.

Adiantaria debater aquilo? Ela se virou e encarou os outros dois. Mulkior estava com um olhar sério. Aquele olhar já era a resposta que Mana procurava. Era o olhar de determinação. Como se ele PRECISASSE fazer aquilo. Kula estava com a mesma expressão do que Mana. Ela estava pensativa. Provavelmente pensava o mesmo que a amiga.

— Também precisamos debater sobre nossa entrada e nosso "discurso". — disse San, voltando para sua própria cama. Ele se sentou nela, virado para o resto do time, e continuou. — Escutem só.

O Castelo Real estava finalmente tendo um descanso. Desde o ataque, os corredores contaram mais de mil pessoas passando a cada quatro horas. Estava tão complicado, que muitos ajudantes foram dispensados para dar passagem aos soldados. Alguns nobres ainda estava estacionados nos quartos privados, o que fazia ainda mais volume nos corredores e outros quartos, pois muitos desses nobres não saiam de casa sem ter no mínimo dez guarda-costas o acompanhando.

E isso era só o lado de dentro. Fora, o alvoroço não era brincadeira. Além de uma quantidade absurda de soldados recebendo novas instruções, havia uma grande quantidade de construtores e reparadores em cada canto dos muros e paredes do castelo. Nesse ponto, não restava muita coisa para ser reparada e provavelmente no dia seguinte, as coisas se acalmariam bem mais.

Raziel tinha acordado muito cedo nesse dia. Ele não conseguiu dormir muito bem, para ser mais exato. Ele sabia que tinha um compromisso com o Conselheiro Real bem cedo, então antes mesmo das sete, ele já estava com sua armadura colocada e espada embainhada, sendo levada em sua cintura.

Ele não gostava nada daquele alvoroço todo no Castelo. Mesmo naquele horário, havia gente perambulando para lá e para cá. Mas não era culpa deles. Camareiras e empregadas só estavam fazendo seu trabalho. Muitas delas, ao passarem pelo General, abaixavam suas cabeças como uma rápida reverência. Outras mais corajosas ou mais conhecidas chegavam a lhe dar bom dia.

Raziel nunca respondia com palavras. Sempre com um rápido aceno de cabeça. Não era que ele estava bravo nem nada do tipo. Era o jeito dele. Poucas pessoas no mundo conhecem BEM Raziel. Nem mesmo sua própria família sabia o que se passava com o General, principalmente depois que ele começou a ter que fazer muitas escoltas de soldados para os frontes de combate.

Depois de subir um jogo de escadas, ele virou um corredor e começou a caminhar mais rápido. Aquela parte estava mais tranquila, pois era a parte militar-estratégica do castelo. Ele estava se dirigindo para a sala de planejamento. Chegou na porta dupla e a encontrou aberta. Sem esperar, ele passou por ela e a fechou em suas costas. Quando olhou para dentro da sala quadrada e bem arrumada, Raziel teve um leve susto.

A sala de planejamento militar era simples. Era quadrada, como já dito, e no meio dela, havia uma mesa também quadrada, com dez cadeiras. Em tempos de guerra, aquela mesa ficava empilhada de mapas, folhas e pequenos alfinetes marcadores. Hoje estava limpa. Isso poderia significar um tempo de calmaria... Se não fosse a pessoa que estava de pé, ao lado da mesa.

— Aha! O homem que eu procurava! — disse a pessoa em questão. — Raziel! Como é bom vê-lo!

— General Berul! — falou Raziel, com toda a surpresa que ele conseguiu exibir. — O que faz aqui? Achei que estava liderando as defesas no sul.

— E estava, meu grande amigo. Aliás, AINDA estou. — o homem deu alguns passos na direção de Raziel, retirando o sorriso inicial.

O General do Leste teve que olhar para cima para poder encarar seu companheiro. Berul Arkmankar era quase uma besta em forma humana. Ele era ridiculamente grande — maior até que Arian —, chegando a passar de dois metros. Mas além disso, ele era robusto como um ogro e forte como um titã. Aquele homem, sozinho, devia pesar uns duzentos quilos. Ele não tinha cabelo e não usava o seu clássico capacete com máscara demoníaca. Ninguém sabia se era por causa do capacete que ele havia recebido o Título Único de "Titã Demoníaco".

Raziel preferia acreditar que era devido ao fato dele ser um monstro em combate. Berul usava uma armadura que não protegia os ombros e nem os braços, mas era por um bom motivo: ele precisava de mobilidade para manejar seu machado gigantesco de dois gumes. Aquela arma deveria pesar uns setenta ou oitenta quilos, só pelo tamanho. Poderia parecer exagerado, mas Berul realmente usava uma das armas mais pesadas do mundo. E usava como se fosse feita de madeira, inclusive.

Raziel acreditava firmemente que seu companheiro General era o homem com a maior força física do mundo. Em combate, Berul conseguia destroçar três soldados com um só manejar do machado. Isso quando ele não cortava um homem e um cavalo ao mesmo tempo.

Berul tinha uma fama grandiosa não só pelos seus feitos em combate, como também ser um ex campeão do Coliseu dos Deuses, invencível nos ringues. Ele deixou a arena para servir ao Rei há mais de vinte anos atrás, sendo o General ativo a mais tempo. O respeito que ele tinha adquirido ao longo desses anos tinha o feito um homem quase tão importante quanto o Rei em si.

Com mais alguns passos, ele ficou frente a frente com Raziel, colocando a mão em seu ombro.

— A situação no meu posto se intensificou. Aconteceram muitas coisas imprevistas.

— Algo tão grandioso que fez você se preocupar? Eu não achei que viveria para ver esse dia chegar.

— Hahaha! Você me superestima demais, meu velho companheiro! — depois da risada, Berul fechou o rosto. A intensidade da conversa estava preste a mudar naquele instante, e até mesmo Raziel engoliu seco. A voz do General Gigante já era grossa por natureza, imagine em uma situação séria? — Todos achávamos que Semangard não iria passar de pequenos blefes contra nosso reino. Bom... Estávamos redondamente enganados. Eu não sei como, mas eles juntaram um número fora do comum de soldados e conseguiram fazer nossa defesa recuar para a Muralha de Niar. Mas esse não é o único problema. — Raziel fechou a cara também. "O que poderia ser pior do que isso?", pensou ele. — Semangard fez aliança com duas guildas poderosas, provavelmente lhes prometendo fama e muito dinheiro.

— Guildas? Que Guildas seriam intolerantes o suficiente para se juntar em uma guerra contra Riven?

— Essa é a parte estranha, General. — disse um outro homem, que tinha acabado de se aproximar dos dois Generais. Ele era Quantis, um dos Conselheiros diretos do Rei e Estrategista das Tropas Estacionárias das Bordas. — As Guildas que estão ajudando Semangard tem muita fama e estão ativas há anos, além de estarem entre as Dez Maiores Guildas. Estamos falando da White Lotus e a Devil Trigger.

— Mas o quê? — perguntou Raziel. Foi mais como um suspiro de susto do que uma pergunta em si. Era realmente difícil de acreditar. Ele olhou para Berul, que só balançou a cabeça rapidamente. — Mas... Como? Elas são Guildas que não estão ligadas a nenhum reino propositalmente!

— Agora você entendeu o porque eu estou preocupado? — perguntou Berul, dando um tapinha de leve no braço do amigo. — Nós não sabemos como eles se uniram, mas sabemos que eles já fizeram movimentos muito antes de sabermos dessa junção. Eu soube que o Castelo sofreu um ataque de rebeldes há poucos dias, não é? Não duvido nada que uma dessas Guildas estava por trás disso.

— Pegamos três espiões no Grande Salão naquele mesmo dia. — disse Raziel, pensativo. — As duas Guildas são famosas por terem um centro de informações grandioso. É possível que seu pensamento esteja certo, General.

— Certo ou não, o fato é que estamos em uma certa desvantagem aqui. — continuou Berul. — Nosso reino é famoso pelo nosso poderio militar, mas isso quando não contamos nenhuma guilda nesse fator. Vendo por esse lado, Semangard foi classificado como "Alto Perigo" e agora estamos em Guerra em Grande Escala contra ele. Foi isso que me trouxe aqui. E me trouxe até você também, claro.

— Quer que eu retire tropas do leste para marcharem para o sul?

— Isso seria bom, mas eu sei da situação no Leste. Não podemos diminuir as defesas de lá ainda, e você também não pode ficar aqui por muito tempo. O que eu quero é ativar o Planetarium.

Raziel trancou os lábios naquele instante. Tinha sido algo direto demais. A notícia sobre a intensificação dos ataques no sul já era ruim o suficiente. Agora tinha mais essa.

Parecia normal para você? A Planetarium era um grupo criado para proteger todos os reinos dentro do Triângulo do Universo. Então era normal que eles fossem movimentados caso uma guerra dessa escala acontecesse. Sim, esse pensamento está certo. Mas havia algo que Berul não sabia e que Raziel não poderia falar. A Planetarium estava em um trabalho grande. Estavam com as mãos cheias. E era um trabalho que fazia jus a palavra "ultra secreto".

Berul tinha vindo até Raziel pois ele era o principal mediador entre Riven e o grupo. Não era surpresa para ninguém que ele fosse chamado várias vezes para ter que resolver algo envolvendo a Planetarium.

— Inicialmente, eu gostaria de te perguntar por quanto tempo você pretende ficar na Capital. — continuou Berul, se afastando um pouco dos dois homens. — Eu sei que você deixou um dos Soldados da Planetarium comandando lá no Leste para poder vir até aqui.

— Entendo. Você quer que eu envie ele para o sul assim que eu voltar para meu posto, correto?

— Exatamente, meu grande amigo. Além disso, gostaria que você passasse todas essas informações que comentamos aqui para o grupo e faça um pedido oficial de suporte. Eu gostaria de ter pelo menos três membros da Planetarium no fronte de combate comigo.

— Será feito, General. E respondendo sua primeira pergunta: eu estou voltando para o Leste hoje no fim da tarde. Farei uma viagem rápida para não lhe deixar esperando por muito tempo.

— Ah, ótimo! — depois de abrir um sorriso e os braços, Berul volta a andar na direção de Raziel. Ele coloca mais uma vez a mão em seu ombro antes de falar. — Estou contando com você, General. Agora se me derem licença, eu irei prestar minhas condolências a Vossa Alteza.

Os dois Generais bateram continência um para o outro e se separaram. Berul saiu da sala pela mesma porta que Raziel tinha entrado e seguiu rumo ao Salão Principal.

Raziel ainda estava estático no mesmo lugar. Era informação demais para uma manhã turbulenta como aquela. Ele estava com trabalho demais nas mãos. Era um homem respeitado por sempre terminar seus deveres com perfeição. Era assim que gostava de fazer as coisas. Apertando as mãos e os dentes, o General disse que estava de saída e fez o mesmo que o colega. Estava na hora de voltar ao trabalho. O verdadeiro trabalho dele.

Nenhum dos quatro membros da Immortal Star jamais tiveram uma tarde tão animada quanto aquela. Antes mesmo do início da premiação, o povo reunido nas arquibancadas já fazia uma bagunça quase descontrolada.

Ah, era bom deixar claro que todas as arquibancas estavam cheias. Isso era devido ao fato de que a entrada para aquele dia era gratuita, então qualquer um que estivesse afim de ver como era o Coliseu em si, poderia entrar e sentir na pele como seria assistir às lutas mais impressionantes do mundo.

Todos os torcedores estavam ali, não só do time campeão. Eles eram torcedores reais. Mesmo que o time que eles torciam tivesse perdido, o "espírito competitivo" os fazia voltar as arquibancadas e parabenizar os vencedores. Não existia angústia, nem vingança. Era tudo um jogo. Um jogo que valia a vida de muitas pessoas, claro.

E não só de torcedores os bancos se enchiam. Muitos dos participantes estavam ali presentes, testemunhando a grande finalização. Jimmy era um que tinha chegado bem cedo. Ele queria ter conversado com Mana sobre o acontecido lá em sua guilda, mas naquela manhã, todos os quatro membros do time vencedor estavam declarados como "incomunicáveis". Jimmy não se abalou. Haveria tempo para isso. Não é como se ela fosse fugir logo depois que essa finalização terminasse de vez. Agora ele só queria descansar a mente e ver como era realizada uma comemoração de final do Coliseu dos Deuses.

Por outro lado, Geovanna sim, parecia totalmente emburrada com a situação. Ela também tentou falar com o pessoal... Ta, com San, mais especificamente. Mas não conseguiu. Nem no dia anterior, que ela ficou no corredor da ala médica, ela conseguiu sequer vê-lo. Uma médica explicou a situação dele para as duas mulheres e disse que ele não ganharia alta tão cedo. Desde aquela hora, Geovanna vem se sentido totalmente deprimida. Se ela não o visse agora, ela jurou que sairia correndo e invadiria aquele consultório para pelo menos olhar para ele!

Regi não precisava fazer isso. Ela também não tinha conseguido falar com seu tio, mas quando a médica veio falar com as duas garotas, uma das coisas mais importantes ditas foi que Mulkior estava fora de qualquer risco de vida, se recuperava bem e que ganharia alta na madrugada. Ela também tentou falar com o pessoal do time naquela manhã, mas teve o mesmo azar que Jimmy. Ainda sim, ela não se entristeceu. Era só esperar mais um pouco.

O que era uma coisa que Shiro NÃO iria fazer. Ele não estava presente no Coliseu nesse dia. Ele sabia que ainda estava sendo perseguido, então o melhor a se fazer era ficar trancafiado em seu "esconderijo". Para ele, sua vida era mais importante do que ver a premiação para alguém que não fosse ele mesmo.

Dos outros times, era possível ver David e Sayuri bem na primeira fila da arquibancada da esquerda. Eles tinham vindo os outros dois dias, querendo saber quem iria vencer o Torneio. Ficaram muito felizes com a vitória da Immortal Star, já que existia aquela coisa de "nós perdemos para o time campeão".

Kiirara e Reita estavam lá também, mas não sentavam juntos. Eles também ficaram curiosos sobre quem ganharia no final, mas ambos tinham outros planos em mente. Kiirara inclusive já tinha pedido seu afastamento da Key of Gold. Estava pronta para seguir seu sonho como dançarina profissional. Reita tinha planos mais ambiciosos ainda. Depois de sua derrota, ele percebeu o quanto tinha piorado em questão de combate. Sua guilda era muito boa, mas muitos dos trabalhos que ele acabou pegando não envolviam lutas, o que fez ele ficar um pouco "enferrujado". Mas nada grandioso. Sua ideia agora era virar um mercenário por um tempo, ou um caçador de recompensas e criminosos.

Muito em cima ao norte, perto da sala especial onde ficavam o Apresentador e Comentarista, estava Vinnicius. Ele ainda estava com faixas e curativos, mas não parecia estar tão mal assim. Além de tudo, o mais estranho é que ele não sentia aquele "peso da derrota". Ele sabe que todas as lutas foram justas, limpas e sem trapaças. E a vitória foi decidida por um leve azar. Além disso, era seu grande amigo que estaria subindo ao pódio, então não era uma derrota completa.

Seus dois companheiros, Himi e Akira, não se encontravam mais na cidade. Os dois seguiram rumos diferentes e não falaram nada sobre onde iriam para o Líder do time. Vinny não se preocupou com eles, e disse que levaria flores a mais para o túmulo de Chang. Outros combatentes também marcavam presença lá, mesmo que tenham saído na primeira fase do Torneio. Os motivos deles terem vindo hoje eram diversos.

Não que alguém estava prestando atenção nisso, mas naquele dia, nenhuma "pessoa mascarada e suspeita" foi encontrada nas arquibancadas. Talvez mesmo que alguém procurasse, existia a possibilidade de não encontrar pela ampla quantidade de pessoas com bandeiras e cartazes.

E então começou. A Grande Cerimônia de Finalização, assim como anunciou Pablo, começou com uma quantidade exagerada de fogos de artifício estourados exatamente acima do ringue. Desenhos eram formados no céu quando as explosões aconteciam. Era tão bem feito, que algumas sequências de fogos chegaram a escrever "Immortal Star" no céu azulado.

Só aqui, o público já tinha ido à loucura. Era o esperado. Um trabalho realizado há dezenas de anos com perfeição. O Coliseu só estava mostrando aquilo que tinha melhorado com a vinda dos novos torneios e competições. E isso era só o começo.

Assim que a saraivada de foguetes estouraram, uma banda marchou para dentro da arena, fazendo uma música com muitas batidas e sons de corneta. Era uma música tão única que não dava para saber se era mais militar ou mais nobre, como aqueles anúncios da vinda do Rei ou Rainha. A banda era grande. Marchava em fila dupla, circulando o ringue. Eles fizeram duas voltas inteiras, e no final do percurso, separaram as duplas e cercaram quase que totalmente o ringue, deixando só um espaço de uns dois metros na parte sul.

E então, outra música foi tocada. Essa foi mais reconhecida. Era uma música de anúncio de chegada. Eram eles. O grande portão da esquerda foi aberto bem devagar, criando um suspense que todos já estavam acostumados. Assim que ele foi totalmente aberto, o time apareceu. Marchando também. Mas com uma performance própria.

Os quatro usavam o mesmo sobre-tudo que mostraram no dia anterior, sem nenhuma modificação. Havia algo importante que precisava ser mostrado com aquilo. A ordem de entrada foi diferente dessa vez. Na frente, uma do lado da outra, vinham Mana e Kula, com cabeças erguidas e olhares firmes. Alguns passos para trás, seguindo como se fosse uma fila, vinham San atrás de Mana, e Mulkior atrás de Kula. Os dois homens traziam consigo uma bandeira grande com o mesmo símbolo que carregavam nas costas.

Os aplausos, assovios e gritos foram intensos, os mais fortes e sonoros que o time já ouviu em toda sua vida. Eles não queriam demonstrar, mas estavam realmente contentes de ver toda aquela gente os glorificando. Mas não. Eles precisavam manter uma compostura firme. Era parte do plano.

Ah sim, outra coisa importante a se comentar era o fato de nenhum deles estarem usando ataduras ou qualquer tipo de faixas que demonstrassem ferimentos. Não haviam arranhões e nem arroxeados em sua pele. Claro, o sobre-tudo tapava todo o corpo deles, mostrando só o rosto, pescoço e as mãos. A única coisa que era mais visível de diferente era o tapa-olho que San trazia, escondendo o olho esquerdo.

Também era bom dizer que ele estava totalmente ciente de sua situação. Quando Mana lhe contou que ele ficaria cego daquele olho para sempre, tudo o que ele fez foi dar de ombros e falar: "Ah, acho que eu mereci isso.". E sim, essa reação deixou todos os três enfurecidos. San ainda teve que explicar que no fim, ele mesmo tinha se cegado, já que matou Chang durante o combate. E ele ainda disse que não havia outra alternativa. Mesmo que ele tivesse deixado-o vivo, Chang nunca retiraria a maldição que implantou no garoto, além de fazer de tudo para caçá-lo e matá-lo. "É o preço que eu tive que pagar para viver.", disse ele por fim.

Geovanna chegou a estranhar o acessório na cabeça do garoto, mas decidiu não chegar a nenhuma conclusão por si só. Ela já estava feliz só de poder vê-lo em pé novamente. Era uma pena que nem gritando com toda a força pelo nome dele, o fez virar para sua direção para pelo menos acenar. Ele nunca ouviria com toda aquela gritaria.

Enfim, os quatro andaram até a única entrada que tinha para subir ao ringue, e assim que as duas garotas colocaram o pé nele, a música parou. No meio do ringue, havia um pedestal estranho, com algum tipo de... Coisa... Era um aparelho bizarro, pequeno e preto.

Aquilo já tinha sido explicado para o time. Era um aparelho de emissão de som, igual ao que Pablo e Bart usaram todo esse tempo. Ou seja, qualquer coisa dita ali seria imediatamente transferida magicamente para os objetos de reprodução de som que estavam espalhados acusticamente pelo Coliseu.

San tinha acertado em cheio quando disse que eles teriam a possibilidade de falar alguma coisa para todos. Os quatro se redirecionaram para o meio do ringue, cercando aquele pedestal, ficando um de costas para o outro.

E aqui estão eles, Senhoras e Senhores! — começou Pablo. Sua animação era tamanha que só nessas primeiras palavras, ele já tinha conseguido passar um pouco de adrenalina para os ouvintes que estavam nas arquibancadas. — O Time Campeão desse Torneio único! Um time feito de pessoas fortes e determinadas. Não se renderam em nenhum dos combates! Tiveram apenas uma derrota em todas as lutas, desde a inicial até a final! Um time digno de sair daqui como verdadeiros vencedores! O Time IMMORTAL STAR!

Houve, claramente, uma algazarra e um acúmulo impossível de gritos de todos os tipos e tonalidades. Mais fogos de artifício foram soltos, aumentando ainda mais o cenário festivo. Os quatro integrantes estavam fazendo como o planejado. Eles ficaram estáticos, não exibindo nenhum sorriso e nem mesmo um único aceno para a multidão. Mas você acha que eles se importavam com isso? Nem um pouco. Eles continuaram lá, fazendo o que sabiam fazer de melhor. Não houve música dessa vez, mas toda a banda continuava lá, estática também.

Vamos apresentar, por uma última vez, os integrantes do time e um pouco de seus feitos. — mais por uma questão de respeito, o público começou a se silenciar e deixar o Apresentador fazer o trabalho dele. — Em primeiro lugar, aquela que lutou bravamente desde sua primeira luta. Uma assassina nata, com uma história de vida totalmente escondido pelas sombras. Também uma das únicas sobreviventes da Guilda Dead Blade, que sofreu uma terrível tragédia há muito pouco tempo atrás. Suas principais lutas foram com dois combatentes com estilos muito parecidos com o dela. Ela nos mostrou magias de gelo na terceira fase do torneio, tirando muitos suspiros de surpresa de todos. Eu lhes apresento a Lâmina Sanguinária, Mana!

Foi a primeira vez que um membro do time fez algo diferente e sem ser seguido pelos outros. Mana deu dois passos para frente e levantou a mão direita, dando um "tchau" bem curto. Os fãs da assassina eram muitos. Os gritos foram grandes e prolongados. Bart, que ainda estava em sua cadeira de Comentarista, deixou escapar um largo sorriso. Ele tinha pedido especificamente que Mana fosse a primeira a ser apresentada. Quando perguntado o porque daquilo, o Soldado só falou que foi por ela fazer os combates mais intensos do Torneio. Por mais que os organizadores concordaram com esse fato, o motivo real de Bart era outro.

Em segundo, falo daquele que sozinho, aguentou todo o time adversário na segunda fase, chegando a derrotar um dos oponentes com um só golpe. Um mercenário andarilho e um homem temido por sua força, não há indícios que ele já tenha se alistado em nenhuma guilda ou reino. Seu passado também é um mistério completo, o fazendo um homem com muitos segredos. Eu lhes apresento o Lobo Solitário, San!

O garoto de cabelos compridos e tapa-olho fez o mesmo que Mana, a imitando totalmente. Houve bem menos algazarra comparado com a assassina, e provavelmente era por causa do que ele fez com Lumi. Alguns homens não conseguiam esquecer daquela raiva.

Por terceiro, aquela que conseguiu um feito tão grandioso, que fez todo o Coliseu tremer com seu poder. Uma maga controladora de chamas poderosas que nos surpreendeu quando mostrou que seu fogo não servia apenas para queimar coisas. Também não há indícios de que ela já tenha se aliado a alguma guilda ou reino, mas seus atos são reconhecidos em muitas regiões. Eu lhes apresento o Anjo de Fogo, Kula Chikigane!

Kuchi fez o mesmo que os outros dois colegas, e mais gritos foram ouvidos aqui. Não dava para saber se ela tinha mais fãs do que Mana, mas provavelmente não, devido ao caos que ela criou com sua Magia Suprema. Mas não parecia que alguém sentia algum tipo de resentimento com a garota.

E por fim, mas não menos importante, o líder do time! O homem de ferro! Um mago que se recusava a ficar no chão mesmo depois de ter atingido seu limite. Suas habilidades mágicas só são superadas por suas técnicas incríveis de inúmeras armas diferentes, criando um guerreiro apto para todas as situações. Membro de uma das mais conhecidas Famílias Reais de Riven, parece que ele decidiu seguir um caminho diferente da nobreza. Eu lhes apresento o Garra de Ferro, Mulkior Musubi!

Não dava para saber se era esperado ou não, mas a quantidade de gritos aumentou aqui. Antes mesmo dele dar os passos à frente e imitar os amigos, já haviam centenas de gritos do seu nome. Aquilo o deixou um pouco sem graça, mas ele se manteve firme.

Vocês nos trouxeram muitas surpresas durante suas lutas. Continuaram nos proporcionando um show que nunca iremos esquecer. Lutaram e sobreviveram juntos até o final, demonstrando um companheirismo fenomenal. Todos estão de parabéns pelo esforço. Realmente esperamos que vocês voltem a pisar no ringue no futuro, nos trazendo ainda mais surpresas. Agora eu peço para que todos de pé, os saúdem com palmas para parabenizá-los.

E assim aconteceu. Todos os espectadores se levantaram imediatamente e começaram uma salva de palmas que poderia ter sido ouvida lá do Castelo. Nem os integrantes e nem a banda se movimentou um milímetro. Estava tudo indo conforme o planejado. E agora viria a parte mais importante.

Agora por respeito aos combatentes, cada um de vocês tem total liberdade de nos contar qualquer coisa que queiram. Por favor, faça-nos a honra.

Era hora. Essa era a parte que teve que ser mais ensaiada por eles. Ou por "ele", mais especificamente falando. Só Mulkior se mexeu. Ele saiu de sua posição estática e se locomoveu até o pedestal, ficando de frente para o aparelho que transmitiria sua voz para cada pessoa naquele Coliseu. Ele estava nervoso demais e tentava fazer de tudo para parar de suar. O coitado não tinha culpa. Por mais que fosse uma pessoa de presença, Mumu ainda era alguém que não gostava de se exibir tanto. Era uma complicação, mas ele precisava superar. Pelo bem do seu sonho.

— Boa tarde a todos os espectadores e combatentes que aqui estão. — começou ele. Por não ter gaguejado, ele acreditava que seu início tinha sido ótimo. — Antes de mais nada, eu preciso agradecer aqueles que torceram por nosso time desde o começo até o final, nunca perdendo as esperanças nos nossos membros, mesmo quando nos encontrávamos em uma situação desesperadora. — as palavras dele atingiram muitas pessoas. Seria um discurso forte, bem típico dele. — Eu vou falar pelo time todo e vou tentar ser breve. Nós temos três coisas de extrema importância que gostaríamos que todos ficassem sabendo. — nesse momento, quem reagiu foram os membros do time. Todos eles pensaram: "Três?". — A primeira é que nós estamos gratos de receber tamanho prêmio e juramos usá-lo com toda a consciência e para um bem maior. Mas RECUSAMOS o convite para a Planetarium. Isso é uma decisão unânime de todos os membros do time.

Era esperado que algumas pessoas não acreditassem no que tinham acabado de ouvir. Umas chegaram até a se engasgarem com algo que comiam ou bebiam. Todos aqueles que tinham lutado nesse Torneio acharam que estavam tendo um sonho bizarro e alguns deles chegaram a se beliscarem, para terem certeza de estarem acordados.

Uma das reações mais engraçadas foi a de Bart, que deu um grito de "MAS O QUÊ?", sendo ouvido por todo Coliseu. De todos, ele era o que menos acreditava no que tinha acabado de ouvir.

As pessoas começaram infinitos murmúrios sobre o fato, alguns dizendo que o time tinha enlouquecido de vez. Outros se perguntavam o por que deles quererem perder uma oportunidade gigantesca dessas. E só uns poucos imaginavam que existia algo muito específico para eles terem recusado isso e que provavelmente isso seria explicado na "segunda coisa" que Mumu falaria. Essas pessoas estavam certas.

— O motivo para recusarmos tal convite é a segunda coisa que queremos deixar claro. — continuou o mago, chamando a atenção de todos. O pessoal pensou que ele precisava de um PERFEITO motivo para recusar isso. — A partir de hoje, eu oficializo a criação da Guilda Immortal Star! — a reação que os espectadores tiveram era de um silêncio estático. Os membros do time esperavam por isso. — Ela será uma Guilda de múltiplas funções, abrangendo desde caças, pedidos secretos, guarda-costas, guerrilha e eliminação de monstros. E para melhor localidade, estaremos criando a sede exatamente aqui nessa cidade, em um ponto ainda não especificado. Assim que escolhermos o local, daremos um novo anúncio por muitos reinos, fazendo um convite para qualquer guerreiro habilidoso e corajoso que esteja com vontade de se juntar a nossa futura grande guilda!

Houve uma nova reação depois que o Líder terminou de falar. O pessoal ainda estava de boca aberta. Mas alguns conseguiram ignorar todo esse papo de "convite para a Planetarium" e se focaram só no fato de uma nova grande guilda sendo criada. E com membros poderosos! Seria interessante! Talvez ela fosse longe! É!

E esse tipo de pensamento levou algumas pessoas a darem novos gritos, assovios e palmas. Inicialmente, foi uma coisa bem baixa, mas ao ver essas pessoas se animarem, outras decidiram fazer o mesmo. Umas foram se juntando à outras, e as palmas, gritos e assovios foram aumentando. Não demorou nem três minutos para que mais da metade do Coliseu estivesse os parabenizando e desejando um rico e promissor futuro.

Não tinha como ficar triste com aquilo. Era escolha deles. Só que era melhor que eles nunca se arrependessem dessa decisão, porque não existiria uma "segunda chance".

— E a terceira e última coisa a ser dita... — era isso. Os três outros membros do time estavam esperando por aquilo. O que era essa terceira coisa? Não tinha sido combinado! A curiosidade estava dando coceiras neles. — Eu gostaria que minha parceira ficasse ao meu lado, para que pudesse continuar. — Kuchi teve um susto misturado com um espasmo. Ela se virou e encarou San e Mana, que tinham uma cara que lhe dizia "O que diabos está acontecendo aqui?". Ninguém sabia. Era algo que só Mumu tinha planejado. A maga obedeceu o chamado e foi até a frente do pedestal, junto com o amado. — Agora... O que eu vou dizer aqui é algo que eu nunca disse a ninguém e que eu precisei de muita coragem para conseguir juntar as palavras certas, já que elas estariam sendo ouvidas por toda essa gente. — ele se virou para a garota, a olhando nos olhos. Kula ainda parecia totalmente perdida e não sabia o que esperar. — Kula Chikigane... — ele se ajoelhou, segurando as duas mãos da garota. Isso trouxe um misto de sentimento na maga que ela nunca em sua vida conseguiria decifrar. — Você aceita passar o resto de sua vida ao meu lado?

Os maiores suspiros de surpresa do mundo foram ouvidos nesse exato momento. Foi histórico. Ninguém jamais esqueceria daquele dia. Não pela entrada triunfal do time, pelos fogos de artifício ou pelas músicas bem trabalhadas. Aquele dia seria marcado como um dia que um homem pediu a mão de uma mulher em pleno ringue do Coliseu.

As pessoas comemoraram sem nem ao menos entender o que estava acontecendo. Era um pedido de casamento? Namoro? Sei lá! Haviam palmas, então era algo importante! Quem mais comemorou ali nas arquibancadas foi, sem sombra de dúvidas, Regi. Ela chegou a chorar de tão feliz que estava. Ela estava certa! Ela sabia que havia algo especial entre aqueles dois! Seu instinto feminino nunca falhava.

E que por falar nisso, era uma coisa que Mana não tinha se tocado. Geralmente, ela era lenta para esse tipo de coisa. Adicione isso ao fato de que ela tentava ficar totalmente concentrada nas lutas. Quando isso não acontecia, ela estava tentando se lembrar de Aozaki ou se irritando com San. Ela não teve tempo nem para ter uma conversa decente com sua querida amiga.

Mas o que isso importava? Mana também estava feliz ao ponto de não aguentar as lágrimas. Ela olhou para San sorrindo e o pegou colocando as mãos nos bolsos e dando de ombros. Ainda sorrindo, Mana tentou entender o que se passava na cabeça de seu parceiro de viagem. Ele... Já sabia? Não, não, não. San não tinha nenhuma sensibilidade para esse tipo de coisa. Mas ele era perceptivo, então...

E Kula estava tendo um ataque de felicidade descontrolada interior. Ela estava paralisada, na verdade. Sorria, mas não exibia nenhuma outra reação. Continuava olhando ele nos olhos. Mulkior continuava de joelhos, exibindo aquele sorriso que fazia ela esquecer de qualquer problema que ela tenha que enfrentar. Era realmente inacreditável, até mesmo para ela.

Seu corpo não estava obedecendo seu cérebro. Sua pele passou por quatro colorações diferenciadas, terminando em um vermelho vivo quase tão forte quanto a cor de sua roupa. Ela estava suando um pouco, mas nem sentia isso. Também não sentia as pernas e torceu para que elas não ficassem bambas naquele momento. Não seria nada romântico cair de bunda no chão depois daquele anúncio.

Mulkior, percebendo que o amor de sua vida permanecia paralisada com a notícia, se levantou bem devagar, deixando seu rosto bem rente ao dela. Kuchi o seguiu com os olhos, e foi todo o movimento que ela conseguiu fazer. O mago de ferro agarrou os braços da garota, a puxando bem de leve para perto de si. Agora eles estavam corpo a corpo. Olho no olho. E o que estava faltando veio logo em seguida. Agora eles estavam com boca a boca.

Mumu e Kuchiki tiveram o beijo que bateu o recorde de "mais assistido". Mais alvoroço se deu naquele Coliseu, com muitos gritos de "Parabéns" e "Vocês merecem". Agora só faltava uma última ação para deixá-los ainda mais contentes. Kuchi sabia disso. Tinha entendido a ideia do parceiro. Eles precisavam ouvir. Todos eles. Mana estava ali, com as duas mãos juntas ao corpo só esperando. San, ao ver que estava sendo encarado pela maga, tirou a mão direita do bolso e apontou o polegar para ela. Era isso então. O casal se olhou novamente, sorrindo. Kula chegou mais perto do pedestal, se enchendo de coragem, e disse por fim:

— Eu aceito!!!

FIM DO PRIMEIRO LIVRO


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No Segundo Livro, as coisas ficarão mais "gigantescas".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Immortal Star" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.