Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 28
Último esforço


Notas iniciais do capítulo

O Torneio chega ao fim. Qual será o resultado?



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Pelo que conta o "Histórico de Lutas do Coliseu", a luta entre Mulkior e Vinnicius foi uma das mais emocionantes já vistas em uma final. Muitas pessoas chegaram a comparar a habilidade dos dois parecida com a de Raziel, que era o atual Campeão dos Ringues. Acreditem, ser visto no mesmo patamar que o General era um dos mais prazerosos elogios que um guerreiro poderia ter.

A batalha foi triste por parte dos dois. Eram grandes amigos, lutaram juntos muitas vezes e compartilharam segredos que jamais falariam para outra pessoa. Foi duro lutar. Mas foi necessário. Cada um tinha um motivo. Um objetivo. Todos sabemos qual era o de Mulkior. Mas e a de Vinnicius? O que o fez lutar com tudo que tinha em cima daquele ringue, contra seu grande camarada? Está curioso? Eu irei te contar.

Mas não agora. Ainda existem coisas a serem finalizadas. Lutas a serem travadas. O Torneio de Times precisava ter um vencedor. A plateia ainda não havia parado de pedir uma continuação. A Grande Final tinha que continuar.

E ela continuou. Mas não foi "bonito" de se ver.

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— Me soltem logo! — clamava Mulkior Musubi, Líder do time Immortal Star. Ele estava sendo segurado por dois profissionais da saúde, mas combater a sua força física não era pra qualquer um. Mesmo que ele esteja cansado e machucado. O médico que foi ajudado por Mana se aproximou um passo e falou que era loucura que o mago voltasse para o ringue naquele estado. — Cale-se! Eu sei das minhas condições melhor do que ninguém!

— Mumu, se acalme! — falou Mana, ficando na frente do colega de time. Vendo-o de perto, a assassina pôde ver que o médico não estava brincando. Mumu estava totalmente machucado e ainda sangrava por uns ferimentos abertos no braço e no peito. Magias de curas faziam um milagre, mas até elas tinham limites. — Você não está em condições pra pisar no ringue e lutar contra a Himi! Ela vai te dilacerar!

— Não vai não. Eu estou com pouca energia mágica, mas não sinto mais dores no corpo. Eu posso lutar. E posso ganhar!

— Você não está sentindo dores graças às anestesias! — falou o médico que tinha sido jogado fora da tenda. Ele parecia ser o encarregado daquela sessão. Já tinha ficado abismado com o fato de uma pessoa conseguir praticamente "reviver" outra na frente de seus olhos. Agora ele estava presenciando uma múmia ambulante querendo lutar, mesmo estando sem fôlego nenhum. Aquele time era um amontoado de pessoas malucas. — Assim que começar a se mexer e a adrenalina aparecer, as dores virão novamente! Vai estar arriscando sua vida por uma simples vitória!

— Ah vou mesmo. Estou ciente dos riscos. E não estou disposto a mudar minha opinião. — o mago falou isso puxando os dois braços de uma só vez, se vendo livre das pessoas que o seguravam. Ele empurrou mais uma vez o médico em sua frente, ignorando totalmente Mana. Correu para o ringue e pulou no piso do mesmo, fazendo muitos torcedores se animarem por vê-lo ali de novo, mesmo não fazendo nem meia hora desde sua luta. — Mana, não se preocupe. Eu ainda tenho uma carta na manga pra ganhar dela! Confie em mim!

Mana pensou em falar alguma coisa, já que os três médicos se juntaram para tentar fazer o mago de ferro mudar de ideia. Era suicídio. Ela sabia disso. Mas ELE também sabia.

Olhando para Himi, dava pra ver que ela estava em melhores condições do que ele. Além disso, a assassina estava com duas novas wakizashis que só o Diabo saberia dizer da onde ela tirou aquilo. As habilidades daquela assassina não eram brincadeira!

Mumu viu a luta delas, sabia que estaria enfrentando um oponente perigoso. Mas ainda sim, Mana não disse mais nada. Ela lembrou que Kula uma vez disse que "quando ele coloca algo na cabeça, não tira nunca mais". Isso, somado a sua sede por vitória, iria acabar se mostrando um perigo sem volta. Um poço sem fundo.

Mana apertou as mãos, mais nervosamente. Era pra ELA estar lá! Só ela estava em condições de enfrentar Himi! Maldita seja aquela roleta aleatória! Por que dar logo essa combinação? Era injusto!

Ta... Poderia ter sido pior, claro. San e Kula não estavam nem conscientes. E não vão acordar tão cedo, principalmente a maga. Se caísse um deles... Não, não era hora de pensar naquilo. Foco.

Mulkior e Himi já estavam se aproximando um do outro, indo para o centro do ringue. Por mais machucado que parecesse estar, o homem tentou parecer uma parede de pedra, não demonstrando nenhum sentimento ou expressão. Foi até seu devido lugar com o peito estufado e cabeça erguida. Era assim que ele entrava em todas as lutas.

Himi, por outro lado, exibia seu sorriso padrão. Colocou as mãos na cintura quando chegou no centro do ringue, e abaixou um pouco o corpo, parecendo analisar seu oponente.

— Devo admitir que você é corajoso para estar aqui mesmo nesse estado. — disse ela, em um tom de voz que só ele pudesse ouvir. — Mas não sei se isso pode ser considerado coragem ou burrice. Eheheheh... Engraçado. Eu falei a mesma coisa pra sua companheira!

— Você não me conhece. — respondeu ele, prontamente. — Vou mostrar pra você que de coragem, eu tenho de sobra.

Lutadores prontos? — falou Pablo. Na verdade, ele queria apressar um pouco as coisas. Era mais empolgante quando os dois lutadores ficavam lá, cara a cara, trocando algumas palavras antes de começarem a tentar se matar. Criava um tipo de suspense nas pessoas. Mas o Apresentador já tinha sido ordenado para que não prolongasse essas lutas, já que os horários não estavam sendo seguidos conforme os planos. Para o Coliseu, seguir fielmente seus planos era algo indispensável para manter a fama do local. — Agora começa o desempate dos dois times finalistas. Do lado da Immortal Star, o Líder Mulkior Musubi. Do lado da Zero Soldier, o Lutador D, ou Himi Kausvainstein. — ao ouvirem seus nomes, os dois combatentes entraram em posição de combate. Himi deixou as duas lâminas para frente do corpo enquanto Mumu sacou seis esferas de ferro da bolsa na sua cintura. — COMECEM!!

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL TRÊS - AEGIS!

Mulkior passou as seis esferas para a mão esquerda e fez uma concentração de energia forçada. Isso era perigoso por diversos motivos, mas o principal era o fato dele não estar em boas condições físicas e nem mágicas para tal. Mas o mago já entrou no ringue com um plano em mente.

Mana se assustou ao ver tamanha liberação de energia como primeiro movimento na batalha. Mumu não era assim. Ele era um lutador fino, sábio. Era do tipo que calculava e media as habilidades do oponente com algumas trocas de golpes para aí sim, atacar com tudo. Mas tem duas coisas que fizeram a assassina da Immortal Star ficar calma e curiosa ao mesmo tempo.

Primeiro que era necessário ressaltar que o mago tinha assistido toda a luta das assassinas. Ou seja, ele já estava mais preparado para um combate direto contra ela, já que ele já conhecia suas magias e técnicas. A segunda coisa era a curiosa: a "arma" que Mumu tinha acabado de transformar em sua mão.

Tinha um formato mundialmente conhecido. Era largo, grosso e parecia ser ligeiramente pesado. E não servia para atacar. Sim, Mulkior tinha transformado suas esferas em um escudo. Um com formato conhecido, mas com uma coloração completamente diferente e chamativa. O escudo tinha a parte de cima ondulada, laterais retas até o meio e que afinavam quando chegavam na parte de baixo, criando um tipo de ponta. A cor? Era vermelho sangue com as bordas, marcas e linhas no roxo mais brilhoso. Parecia um item de colecionador, daqueles que ficam em prateleiras como demonstração. Não algo que você leva para o combate, especialmente uma final de torneio!

Para Himi, a cor, o formato ou o tamanho não faziam a menor diferença. Ela esperava que o mago transformasse alguma arma para atacá-la, então ficou um pouco deprimida por ver um escudo daqueles.

Mas quem ligava? Se ela o matasse de uma vez, a vitória seria dela e de seu time. Ela poderia finalmente realizar seu sonho de liberdade, além de ter uma possibilidade de entrar para um grupo onde ela trabalharia do jeito que mais gostava pelo resto da vida. Era uma oportunidade que ela não deixaria passar nunca.

Cruzou as espadas e avançou. Foi um ataque rápido. Seu ataque criou um "X" que cortaria o peito de seu adversário em dois. Ah, também era importante lembrar que Mulkior não estava mais com sua confiante armadura, já que ele a transformou em uma esfera na luta passada.

O golpe que parecia mortal criou um barulho contido, como se ela tivesse atacado uma parede de castelo. Mumu se defendeu com seu escudo, sem sofrer nenhum tipo de impacto forte o suficiente. Himi arregalou os olhos quando viu que o escudo tinha ficado totalmente intacto. Não, pior que isso. Ele não tinha nem arranhado! Como?

A assassina tirou o sorriso da cara e começou a atacar em uma sequência de golpes rápidos. Mirou três na cabeça, defendidos. Seis no meio do peito, defendidos. Três em cada braço, defendidos. Mais seis nas pernas e na cintura, também defendidos. Tudo defendido!

Himi deu um pequeno passo para trás, olhando atentamente o oponente. Tinha ficado um pouco ofegante, mas era mais por já ter entrado no combate ligeiramente cansada. Mulkior a encarava com o escudo levantado, como um templário enfrentando um herege. Ele continuava só com o escudo e não tinha tentado puxar outra esfera para fazer uma nova arma em nenhum momento. Estava em defesa total, protegido por uma casca mais grossa que diamante.

O escudo continuava intacto. Era impossível! Como poderia haver algo tão resistente a ponto de não sofrer nem arranhões? Os golpes de Himi não estavam com potência total, mas ainda sim, eles tinham força o suficiente para cortar membros, se fosse deixado.

Himi não queria perder tempo. Ela não queria admitir, mas também não estava em grandes condições de combate. A cada movimento que ela fazia, suas feridas anunciavam uma nova dor. Era melhor fazer um combate rápido.

CORTE DA ILUSÃO CENTENÁRIA!

Ela concentrou energia na lâmina da wakizashi de sua mão direita e depois a puxou para trás. O primeiro golpe foi de ponta, na altura do ombro direito do mago. Os outros noventa e nove foram em todas as outras direções que você pudesse imaginar.

O líder da Immortal Star se pegou observando aqueles cem ataques vindo em direções diferentes, todos mirados para matar. Mas ele já tinha visto esse golpe uma vez. Prestou muita atenção nas magias de Himi quando ela lutou com Mana. Foi por isso que o resultado foi inesperado.

Assim que a magia foi liberada, Mumu manteve o escudo em pé e avançou contra aquela montoeira de cortes em todas as direções. Mas ele não estava testando sua sorte. Ele sabia muito bem o que queria fazer. Ele bateu com o escudo na wakizashi que estava carregada de energia mágica, a jogando para cima, junto com o braço da moça. Assim que isso aconteceu, todos os outros golpes simplesmente desapareceram.

Com o oponente com a guarda aberta, Mulkior não esperou. Fechou sua mão direita e aplicou um soco na cara de Himi. A assassina cambaleou para trás, indo ao chão a uns dois metros depois. Mas imediatamente assim que tocou as costas no chão gelado, ela girou o corpo para trás em uma cambalhota e ficou de pé novamente, levando a mão até a boca que agora sangrava. Por pouco esse soco não a deixa sem alguns dentes.

— Essa magia é uma ilusão bem feita. — falou Mulkior, dando um passo a frente, sem fraquejar. — Você não ataca cem vezes. Você usa sua energia mágica para esconder uma série de golpes curtos que faz com a mesma lâmina. Mas eu já vi o truque dessa magia. Não vou ser enganado!

Ninguém ouviu a fala do mago para sua oponente, mas os seus fãs foram ao delírio ao ver o mago de ferro imponente. Parecia estar com toda sua energia, sem nenhum machucado.

Mana sabia que era tudo uma cena teatral. Um fingimento. Ela admitiu que o golpe tinha sido bem dado e Mumu pareceu declarar estar na vantagem, mas isso não mudava o fato de que ele já estava em seu limite assim que subiu ao ringue.

Agora ela sabia porque seu companheiro de time havia criado um escudo. Era porque ele não tinha forças nos braços para segurar uma arma pesada ou dar ataques precisos e potentes com uma mais leve! Essa luta não estava cheirando à nenhuma vitória. Principalmente agora que Himi pareceu enlouquecer.

A assassina começou a liberar sua aura toda de uma só vez, fazendo Mumu recuar dois passos. Na luta contra Mana, ela também tinha feito isso. Mais de uma vez, por sinal. A aura negra envolveu totalmente seu corpo, e ela travou sua visão no seu oponente. Iria matá-lo de qualquer forma. Vinny que lhe xingasse depois! Aquilo ali era um campo de batalha onde o resultado era incerto. Todos arriscavam suas vidas. Todos estavam preparados para o melhor e o pior.

CERCA DA CONJUNÇÃO!

Com a explosão de aura de Himi, Mulkior se viu recuado. Da garota, outras quatro "Himis" surgiram e correram na direção do mago. Mumu lembrava dessa magia muito bem. Ela criava cópias dela mesma e elas ficavam rodeando o oponente, procurando por uma brecha para poder atacar.

As cinco assassinas começaram sua dança da morte, correndo sem parar em volta do oponente. Estar no meio daquilo e assistir de longe eram dois mundos diferentes. Agora Mumu entendia o porque Mana não conseguiu detectar qual daquelas "Himis" era a verdadeira. Existia um tipo de distribuição confusa de energia entre elas, e todas pareciam ser iguais. O que era mais assustador ainda, porque assim parecia que todas eram reais.

Mas ele sabia que não. Tudo o que aquela magia conseguia fazer é misturar energia mágica com um trabalho de pernas fenomenal. Mas ainda sim, eram ilusões! Mulkior puxou o escudo para bem perto do seu corpo e se manteve fixo no mesmo lugar, como uma raiz de árvore. Liberou um pouco de aura no intuito de reforçar seu corpo contra ataques mágicos.

Quando o primeiro golpe acertou suas costas, Mumu teve uma certa ideia do perigo que tinha acabado de se meter. Ele tinha um plano sim. Ficar ali parado não era por estar tremendamente cansado e não poder se mover muito. Não... Existia uma saída para aquela situação. O segundo corte que ele recebeu foi na perna direita, o que o fez cair de joelhos, mais ainda em posição defensiva. "Ela é incrivelmente rápida... Mais rápida que Vinny!", foi o que pensou. O terceiro golpe ele o viu quase que perfeitamente, mas não conseguiu fazer nada contra ele. Seu ombro esquerdo tinha ganhado um novo corte. A magia de Himi não tinha um tempo exato de uso, então não dava pra saber por quanto tempo ela conseguia manter aquelas quatro ilusões correndo em volta dele. O quarto golpe foi defendido. O que, claro, deixou Himi de cabelos em pé. Seria engraçado se ela estivesse parada agora. Iria parecer que ela tinha levado um choque estático.

Mas o resultado tinha sido aquele mesmo. Ele tinha visto por entre o ataque dela e movido o escudo na direção do ataque para se defender. Tudo bem que ela não estava em suas melhores condições e que essa magia não estava sendo usada perfeitamente, mais ainda sim, era incrível o fato dele se acostumar tão rápido com a velocidade de ataques dela.

Isso irritou Himi ainda mais. Sua liberação de energia aumentou, fazendo as ilusões aumentarem a velocidade. Agora Mumu quase não conseguia ver o que exatamente corria ao seu redor. Se ele não soubesse, ele nunca adivinharia que aquilo é um ser humano, pra começo de conversa.

Daí os ataques voltaram, e dessa vez foi muito mais complicado. Começou com quatro golpes quase ao mesmo tempo. Nenhum deles o mago controlador de ferro conseguiu se defender. Sentindo a dor em todo corpo, ele não conseguiu nem definir exatamente onde tinham sido aqueles cortes, além de ter certeza que um deles foi na sua perna direita.

Mumu fez o que ele poderia fazer de melhor: protegeu sua cabeça. Um golpe naquele lugar, por mais fraco que fosse, poderia ser fatal. Depois vieram mais seis golpes, um seguido do outro com no máximo dois segundos entre cada um. No sexto, o mago quase não aguentou a dor. Seus olhos já estavam querendo se fechar e ele combatia uma nova batalha dentro de si.

Para poder lutar contra as dores, ele começou a concentrar um pouco de energia, com que fez que Himi parasse de atacar por cuidado. Mas quando viu que o mago se manteve ali ainda, simplesmente sangrando para sua morte, ela continuou.

Para Mulkior, estava na hora de concluir seu plano. Isso é: se ele sobrevivesse. Um novo corte em seu peito. Foi leve. Um outro no ombro esquerdo. Também leve. Olhou a mudança de pernas da oponente. Um novo corte nas costas, sabe-se lá em que lugar. Piscou e quase desmaiou. Mordeu o lábio inferior para se manter acordado. Dois novos cortes nas costas, um deles sendo já no pescoço. Troca de movimento. As pernas. Ataque. Himi avançou para dar mais um golpe.

ACERTO DA PAREDE!

Se era uma coisa que se via muito em arenas de gladiadores, era a improvisação daqueles homens sanguinolentos. Alguns deles decidiram fazer um uso novo do escudo que usavam. Um golpe horizontal e alto. Geralmente mirado na cabeça.

Usar o escudo como uma arma para dar um golpe impactante tinha sido uma criação de gênio, mas não era uma habilidade fácil de se aperfeiçoar. Alguns escudos são pesados demais para fazer tal manobra, então na maioria das vezes, ele era feito com broqueis ou escudos redondos de madeira. Era um golpe raro de se ver, já que era muito mais prático cortar seu inimigo em pedaços do que bater nele com algo plano. Mas se usado na hora certa, esse golpe se tornava avassalador. Foi o que aconteceu agora.

Mumu estava focado totalmente na mobilidade de sua oponente, observando o correr de cada uma das ilusões. Elas tinham um padrão esquisito, mas foi isso que as fazem diferente da original. O mago observador descobriu qual era a original e esperou que ela viesse para cima dele pela frente, tentando cortá-lo seriamente. Assim que ela subiu suas duas wakizashis para dar um golpe finalizador, o mago se levantou com seu escudo carregado de energia mágica e lhe acertou um golpe limpo no meio do peito.

O golpe foi tão poderoso que muitas pessoas que sentavam nas fileiras do meio das arquibancadas conseguiram OUVIR o impacto. Himi foi jogada para mais de oito metros de distância, batendo no chão de costas e ainda se arrastando por mais uns dois metros. No impacto, o escudo do mago também havia desaparecido, deixando-o totalmente desarmado e ainda de joelhos no chão.

Ah sim, era necessário dizer a mudança drástica nos torcedores que esse golpe conseguiu criar. Agora, só os fãs dos combatentes do time Immortal Star que gritavam e faziam vivas. Mumu tinha conseguido até a virar a maré de torcidas para seu favor. Ouvindo os gritos do pessoal, o mago se sentiu na necessidade de mostrar respeito pelas torcidas e isso lhe deu forças o suficiente para ficar de pé novamente, tirando ainda mais vivas deles.

Já Himi... Bom, ela tinha ficado sem ar no momento do golpe. Assim que voou, seus "clones" de energia desapareceram imediatamente. Quando caiu de costas, ela cuspiu sangue para cima e lá ficou. Três ou quatro segundos depois, vendo que a assassina não se mexia, o Telão Informativo se ligou e começou a contagem da moça. Foi quase ao mesmo tempo em que o mago ficou de pé novamente.

Mulkior a olhava de longe, respirando apressadamente. Estava exausto e sua cabeça parecia pesar duas toneladas. Ele estava pronto para desmaiar a qualquer momento, mas não podia. Ele estava tão próximo da vitória! Depois daquele resultado contra Vinny, ele PRECISAVA concluir o torneio de uma forma honrada. Por ele e pelos colegas. Por "ela".

A respiração do mago ficou pior quando ele viu Himi tendo um espasmo no chão e se virando. Ela estava consciente. Não, muito pior! Ela estava se levantando! Aquilo não tinha sido o suficiente para matar alguém do nível dela. Mumu tinha apostado nos machucados que ela tinha adquirido na luta contra Mana, e que depois de ter levado esse golpe em cheio, ela não estaria mais em condições de combate. Pensou errado.

Himi ficou em pé fazendo o contador parar no "4". Levou a mão esquerda no peito, onde sangrava bem chamativamente. Doía demais. Com certeza haviam ossos quebrados ali e agora a assassina sentia uma terrível dificuldade para puxar o ar para seus pulmões e depois soltá-lo no mundo a fora.

Respirando em pausas não calculadas, ela começou a juntar mais energia do que antes. A mulher estava ficando fora de si. O tremor começou novamente, fazendo Mulkior entender que seu plano não apenas tinha falhado como tinha criado um demônio sedento por sua vida e que agora lhe encarava com um fervor bem característico. Isso se colocarmos os animais selvagens nessa contagem, óbvio.

Himi enfiou as duas armas no chão em seu lado e estendeu os dois braços para cima e ignorou totalmente a dor que sentiu no tórax. Mandou toda a energia mágica para os braços em uma velocidade surpreendente. Parecia que quanto mais nervosa ela ficava, mais habilidosa ela se tornava. Era uma fera que não poderia ser domada. Ou você era comido por ela, ou a matava.

MUNDO PERDIDO!

Uma gigantesca quantidade de energia mágica foi liberada pela assassina de uma só vez. Himi controlou a liberação de aura de seu corpo, a fixando no chão e depois a expandindo de forma circular. O campo inteiro foi tomado por aquela aura sinistra que saia do corpo da mulher, e logo que completou seu círculo, ele adicionou um novo efeito: frio. A temperatura começou a baixar em um velocidade assustadora.

Apenas três segundos tinham passado e Mumu já estava batendo dentes. Ele olhou para o chão e percebeu que não enxergava mais o piso branco costumeiro do ringue. Olhou para trás esperando encarar Mana, mas viu que havia um tipo de cortina mágica que impedia a visão para fora. Ele estava em cima de um Campo de Efeito Mágico e sabia que a luta começaria a ficar desastrosa a partir de agora.

E começou com ele sentindo uma nova dor no ombro direito. O líder da Immortal Star escorregou para trás quase indo ao chão, depois levou a mão esquerda até o machucado. Olhou para o lado e viu Himi, que não estava lá há um segundo atrás. A assassina se virou e mostrou olhos diferentes, demoníacos. Ela estava possuída pela raiva e pelo desejo de matar.

O mais estranho era que Mulkior sabia bem que aquela mulher não estava "descontrolada". Era diferente. Ele já tinha enfrentado inúmeros oponentes em suas aventuras, e muitos deles, quando se vem quase derrotados, adquirem uma fúria que os torna quase cegos. Mas a assassina da Zero Soldier parecia conseguir controlar perfeitamente seu estado de raiva suprema. O que tornava tudo mais perigoso.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESPADA!

Mumu puxou uma esfera de sua bolsa da cintura e logo que colocou energia nela, a pequena bolinha se transformou em uma espada afiada. Mas isso teve um custo. O mago levou outro corte, dessa vez na parte debaixo da perna, quase no pé.

Ele não estava conseguindo enxergar os movimentos da assassina. Poderia ser porque ela estava mais rápida depois de criar esse campo mágico. Ou no pior dos casos, poderia ser que ele mesmo já estava tão cansado e exausto que seus sentidos estavam começando a adormecer.

Mas aquele homem não poderia ficar parado ali. Se ele não poderia ver os ataques dela, era só não deixar com que ela atacasse. O mago impulsionou o corpo para frente, tentando ir na direção da oponente. Tentando. Assim que colocou o primeiro pé para frente, ele escorregou na planície congelada e foi ao chão, quase batendo o nariz. Antes mesmo que ele pudesse pensar "o chão está escorregadio demais por causa do gelo", ele sentiu a intenção assassina logo acima de seu corpo.

Mumu forçou os braços e se empurrou ainda no chão. Himi caiu com tudo no exato ponto onde ele estaria se não tivesse feito aquilo, enterrando as wakizashis no gelo. Meio desengonçado, o mago se levantou e ficou em posição defensiva. Ele já tinha entendido que aquele Campo Mágico fazia com que o oponente perdesse a fixação dos pés, o que para um lutador como Mumu, era como pedir para um construtor reformar seu telhado enquanto você treme a escada onde ele está apoiado.

INVESTIDA ILUSÓRIA!

Himi não queria saber qual era a situação de seu oponente. O que precisava ser feito, precisava ser feito e ponto final. E o que precisava ser feito ali era um assassinato limpo.

Essa magia de Campo tinha sido uma das primeiras que ela aprendeu e desenvolveu. Ela não tinha usado na luta passada pelo óbvio. Himi já estava ciente das magias de gelo de sua oponente, e isso gerava a conclusão de que Mana não seria afetada pelo território.

Mas já é passado. A garota arcou o corpo e concentrou quase toda a energia mágica restante ao seu redor, segurando as duas espadas curtas com firmeza. Mirou e planejou. Mumu ainda estava desequilibrado, mas mantinha os olhos nela. Era um lutador de primeira. Mas mesmo isso não o salvaria do que estava pra vir.

Com mais uma liberação de energia, Himi "se" jogou contra seu oponente, criando uma ilusão única e ameaçadora. Essa ilusão de seu corpo voou rente ao chão na direção do mago, que manteve sua espada levantada para se defender. Nos olhos dele, um grande amontoado de energia mágica estava vindo em sua direção...

Mas no fundo, ele já sabia que não era tão simples. Ele tinha visto aquela magia antes. A ilusão frontal era só uma distração. A estratégia era que Himi usava era distrair o oponente com aquilo enquanto ela mesma passa energia para as pernas, fazendo um grande salto para chegar atrás ou no lado da pessoa e assim o atacar em um ponto cego.

Bom, aquilo não funcionaria com o filho de ferreiro. Mulkior fingiu que se defenderia da ilusão frontal, mas um segundo antes das duas armas se encontrarem, ele se virou e encarou o nada. E aí sim ele se arrependeu até os fios do cabelo.

Mumu cuspiu sangue no chão congelado, mas não antes de sentir a pior dor nas costas de sua vida. Olhou para baixo e viu duas lâminas encharcadas com seu próprio sangue atravessadas em seu peito. O ataque foi feito pelas costas. O que tinha dado de errado? A magia não tinha funcionado como ele imaginou. Além disso, sua percepção estava tão alterada por causa do cansaço que ele não conseguiu sentir que aquela ilusão frontal era, de fato, a própria assassina.

Himi colocou o pé nas costas do oponente e o chutou para frente, retirando as espadas ao mesmo tempo. Mulkior foi ao chão como se fosse uma rocha. O sangue começou a pintar o gelo assim que seu rosto encontrou o ex piso. Naquele momento, a temperatura já estava negativa. Mas Mumu não sentia mais o frio. Não sentia mais o corpo. Não sentia mais nada. Sua consciência estava apagando, e o sono que já o perturbava finalmente estava dominando seu corpo.

Por outro lado, Himi estava respirando rápido demais, aos pés do homem caído. Ela se arcou e segurou os joelhos, tentando reganhar o fôlego que tinha acabado de perder. As dores ainda persistiam, principalmente a do peito. O golpe com o escudo do maldito tinha fraturado algum osso ou deslocado outro. Não importava!

Olhou para o Telão Informativo e viu aparecer já o número "8". Centenas de pessoas faziam festa, com muitas bandeiras e cartazes com pinturas dela e com o nome de seu time. Tinha sido uma vitória difícil. Empate em pontuação. Mas uma vitória continuava sendo uma vitória.

A assassina se preparou para levantar a mão para o alto, em sinal de vitória mesmo. Mas não o fez. Assim que seu braço chegou na metade do caminho, ela ouviu o pessoal diminuindo os gritos de alegria. E viu o levantar de um morto.

Pablo anunciou que o Combatente Mulkior ainda não tinha desistido e tentava se levantar. Mumu estava de joelhos no chão, se virando enquanto se levantava. Quando ele encontrou os olhos aflitos de sua oponente, tudo o que ele conseguiu fazer foi sorrir, ainda com todo o sangue que escorria de seus lábios.

— Eheheh... — riu ele, pausadamente. — Não cante... Vitória...

Himi ficou sem reação por alguns segundos. Ela sabia que o pessoal daquele time tinha um certo problema com SABER quando era hora de parar e desistir. Mas aquilo era ridículo! Mumu claramente estava na beira do abismo entre a vida e a morte! Então por quê? Por que aqueles olhos exibiam tanta confiança? Um tipo de chama brilhante, aquela que se acende apenas quando a pessoa tem total certeza que vai conseguir completar algo. E para o mago controlador de metais, esse "algo" era sua própria vitória.

O Líder da Immortal Star estava preste a mostrar algo novo para todos os espectadores do Coliseu. Uma outra coisa além de não morrer de jeito nenhum, claro. Ele colocou a mão em sua bolsa de esferas, mas não dentro. A pegou por fora e a puxou, trazendo a bolsa até a frente de seu corpo. Com a mão esquerda, ele puxou um punhado de esferas cinzas de seu bolso esquerdo da calça. Olhou novamente para Himi, que continuava paralisada e sem fôlego.

Ela, por sua vez, estava pensando em algo como: "O que ele pensa que vai fazer com todas essas esferas, se ele não tem quase nenhuma energia mágica sobrando?". Mana também pensou isso, e forçou a se lembrar de tudo que seu time tinha conversado naquela manhã. Imediatamente ela chegou na conclusão que Mulkior estava preste a fazer algo que não tinha sido planejado nas táticas de San.

O mago colocou os dois braços para trás e então jogou todas as esferas da mão esquerda para o alto, sem nem ter carregado energia. Por puro instinto, Himi se livrou da paralisia temporária e deu um grande salto para trás, fugindo da chuva de bolinhas de ferro que caiam por toda a área congelada do ringue. Elas não caíram fixadamente no mesmo lugar. Foram jogadas aleatoriamente, sem objetivo. E é claro, era exatamente por esse motivo que trouxe ainda mais confusão na mente da assassina mestra.

E então veio a segunda ação do mago: ele abriu sua bolsa e fez a mesma coisa. Jogou todas as esferas que tinha dentro para o alto, sem mirar e sem se concentrar. Não havia energia nenhuma sendo liberada. Aquilo não era uma magia... Mas era algum tipo de estratégia.

Himi não era burra. Ela não sabia qual era o objetivo do mago, mas não iria funcionar. Ele quase não se aguentava em pé! Imagine tentar algo novo? Querendo ou não, era mais sensato não dar mais nenhum segundo para que o oponente pudesse agir de alguma forma.

A assassina colocou suas wakizashis para trás e partiu para cima dele. Ela não tinha mais nada de energia mágica. Zerada. Vazia. As dores permaneciam, mas não era nada comparado aos ferimentos do mago. Ela só precisava de mais um golpe bem dado. E dessa vez seria um golpe matador. Ela arrancaria a cabeça daquele homem fora. Era o único jeito da luta terminar de vez. A luta dos dois líderes tinha provado isso.

Himi não correu muito. No meio do caminho, Mumu ficou de joelhos e começou a concentrar toda a energia que tinha. Ele já estava cansado e machucado, mas a quantidade de energia que ele conseguiu acumular aqui era grande o suficiente para fazer a assassina pensar duas vezes antes de simplesmente atacar sem nenhum plano.

Ainda confusa, ela decidiu continuar seu avanço e preparar um salto para o lado, se esquivando de seja lá o que fosse que aquela múmia imortal iria atirar contra ela. Se ele simplesmente trouxesse outra de suas armas, era só se manter atacando até ele abrir a defesa e matá-lo de uma vez. Ela tinha certeza que ele não conseguiria acompanhar seus ataques e nem sua velocidade. Apertou o cabo da wakizashi de sua mão direita e mirou um corte vertical no pescoço. Só aquilo bastaria.

CENÁRIO DA GUERRA ESQUECIDA!

Todo mago tem pelo menos um segredo que ele deve guardar como se sua vida dependesse disso. Na maioria das vezes, é uma magia muito específica. Eles treinam essa magia secretamente e nunca deixam ninguém saber, nem mesmo seus melhores amigos. Aquilo é chamado de "Tesouro Arcano" em quase todas as Universidades Mágicas ao redor do mundo.

Como dito antes, nem sempre é uma magia. As vezes é um artefato mágico extremamente raro. As vezes é um ritual. O ponto é que sempre há uma carta na manga de um mago que se preze. Kula e Mana não eram exceção a essa regra. Nenhuma das duas chegou a utilizar ou sequer mostrar isso para ninguém, e talvez — muito TALVEZ mesmo —, elas realmente não tenham.

O importante aqui era que Mumu tinha. E usou agora. Ainda ajoelhado, ele bateu com as duas palmas no chão gelado e mandou toda aquela energia concentrada anteriormente para lá. O efeito foi imediato. Uma aura cinza com preto foi criada ao redor do mago, que se expandiu rapidamente para todos os lados ao mesmo tempo. Assim como tinha sido a magia de campo de Himi, foi essa.

O gelo começou a desaparecer onde aquela aura passava, mostrando novamente o chão branco do ringue que todos já estavam enjoados de ver. Só que agora tinha uma adição que era tão chamativa quanto o gelo que cobria tudo: todo o ringue estava infestado de armas enterradas no piso em lugares totalmente aleatórios. A diversidade era o que deixava tudo mais bonito. Sim, havia uma certa beleza de quem assistia das arquibancadas. Era como olhar para um quadro de alguém famoso.

Mas aquela cena não passava só o sentimento de beleza. Ela passava uma tristeza profunda que ninguém conseguia entender. Bom... Quase ninguém. Jimmy, Shiro, os dois Generais e Athena, junto com Bart logo souberam do que se tratava aquela magia. Era um Campo Mágico de Efeito. Isso era claro. Mas aquela cena, com todas aquelas armas parecendo abandonadas a própria sorte lembrava os fins de guerras, onde as armas dos soldados mortos jaziam esquecidas, esperando a podridão.

Ah sim, era necessário ressaltar que como todo o gelo sumiu de repente, Himi perdeu o passo e acabou pisando errado. Ela tropeçou em uma faca, cortando o pé e indo ao chão. Por três centímetros, ela não bate com as costas em uma espada curvada que estava ali, perdida.

Mana estava de boca aberta quando finalmente se tocou que aquela magia tinha feito muito mais que trazer uma ou outra sensação em seu coração. Fazia sentido pra ela o porque do colega ter atirado todas aquelas esferas aleatoriamente para o alto. Pela ideia dela, Mulkior conseguiria usar essa magia utilizando só energia mágica e talvez umas poucas esferas. Mas ele decidiu atirar as bolinhas de ferro para facilitar a distribuição de energia para o ringue e provavelmente para diminuir o consumo da mesma. Tinha sido um plano meio doido, mas tinha funcionado. O problema foi esse:

— Eu não acredito! — gritou Himi, sendo ouvida por metade do Coliseu. Aquela mulher tinha uma voz que era incrivelmente aguda e chegava a perfurar o tímpano dos melhores ouvintes do local. Ela se levantou em um pulo, não muito longe de Mumu. — Você usou uma magia de campo só para anular o meu!

— Ah, bancando a esperta? — retrucou o mago, com a voz extremamente fraca e cansada. Ele parecia ter passado do seu limite humanamente possível há alguns minutos atrás, e não conseguia mais controlar deliberadamente os seis sentidos. — Eu usei essa magia porque sei que você não pode mais usar nenhuma outra magia contra mim!

— Você ficou maluco? Já se olhou no espelho, seu maldito? Você mal se aguenta em pé! Como acha que vai me derrotar dessa maneira?

Mulkior não respondeu. Falar consumia muita energia, e ele já estava com essa contagem no negativo. Ele pegou uma lança fina que tinha ao seu lado, a desenterrando do chão. Assim que Himi piscou, ele pulou para cima dela.

Pulou mesmo, como um macaco. A lança veio como um raio na direção do olho esquerdo da assassina. Mesmo que estivesse melindrada, a mulher ainda conseguiu dar um pequeno salto para o lado, se esquivando da investida do homem machucado. Ele, sem esperar nem outro segundo, se virou e atirou a lança contra ela. Himi também se virou e aparou a lança no ar, batendo com sua wakizashi em um golpe vertical para baixo.

Mas Mumu não parou. Ele não iria parar. Não podia. Era sua última gota de fadiga. O fato dele não estar mais sentindo as dores era um sinal tanto bom quanto ruim. Então era melhor não pensar nisso. Melhor ficar focado no que tinha feito ele se levantar mesmo depois de ser perfurado de ponta a ponta. "Eu preciso continuar lutando!". E ele continuou mesmo.

Correu na direção dela e no caminho puxou uma katana simples. Aplicou um corte diagonal sem muita velocidade. Esse golpe foi aparado facilmente. Himi forçou os braços e fez a katana voar da mão do mago. Em um novo movimento, ela quis passar suas duas lâminas nas pernas dele. Esse movimento quase foi certeiro. Por muita sorte e talvez um pouco de desespero, Mulkior colocou a mão para o lado e segurou um cabo de alguma coisa. Não importava o que era. Ele colocou na frente do golpe, o defendendo.

Era uma outra lança, só que um pouco mais pesada porque ela tinha uma bola de ferro na outra extremidade do cabo. Era uma arma especial de um templo de artes marciais distintas. O mago girou a lança em cima da cabeça e aplicou três golpes de ponta em uma grande velocidade. Dois dos golpes foram defendidos. Os dois primeiros, no caso. O terceiro arranhou Himi na barriga. Não tinha sido uma grande coisa, mas para alguém que JÁ estava nervosa, aquilo era mais do que o suficiente para que a bomba do pavio curto explodir.

Himi ignorou totalmente sua defesa e partiu para um ataque total, começando com uma combinação excêntrica de golpes que mudavam de horizontais para diagonais. A garota conseguiu aplicar oito golpes naquela sequência. Os quatro primeiros foram defendidos. O quinto ela errou. O sexto ela cortou a parte de cima dos dedos do oponente, o fazendo largar a pesada lança no chão. E os dois últimos ela acertou em cheio no corpo dele: um na perna e outro no braço, ambos direitos.

Mumu deu vários passos para trás e encostou em uma nova arma. Era um machado leve com lâmina de um só lado. Ignorando as novas dores — se é que ele as sentia, para começo de conversa —, ele atacou firmemente com o machado, vindo de cima. Himi teve a ideia de segurar aquele ataque com a espada da esquerda e depois atacar com a da direita. Mas ela também estava exausta. Assim que o machado desceu, seu braço não conseguiu deter o peso da arma e um novo corte foi adicionado em seu peito.

Mulkior emendou esse golpe com um soco, mas esse foi esquivado. Foi então que Himi começou a enlouquecer. De verdade agora. Gritando como uma fera, ela partiu para cima mais uma vez, adicionando mais três golpes rápidos contra Mulkior. Os três golpes acertaram seu corpo, mas nenhum deles foi em cheio. Mumu soltou o machado e aplicou um chute no estômago da garota, a fazendo se afastar alguns passos.

Assim que a arma do mago caiu no chão, ela voltou a ser apenas uma esfera. Aliás, isso também tinha acontecido com as outras armas que ele havia segurado. Claro, nenhum dos dois estava prestando atenção nisso. Mumu estava com todo o foco na oponente. Não havia ar em seu pulmão. O machado tinha sido largado por causa do peso. Agora estavam os dois parados, respirando e se recuperando.

Ele quis agir primeiro. Mumu se abaixou e juntou uma faca de combate que estava bem ao lado de seu pé. Ele não tinha tempo para correr até ela, então só mirou e atirou a faca de ponta. Nesse ponto, o cansaço de Himi era tamanho que ela levantou a wakizashi para se defender... Um segundo depois da faca já estar em seu ombro esquerdo. Ainda gritando, ela removeu a arma de seu ombro, a jogando no chão. Partiu para cima dele mais uma vez, já totalmente sem forças. Ou assim parecia, pelo menos.

Ela aplicou um golpe em "X" contra ele, mas o líder da Immortal Star tinha sido rápido o suficiente para se afastar. Se abaixou e puxou duas armas, uma em cada mão. Na direita uma wakizashi e na esquerda uma kodachi. Duas armas muito parecidas e por sorte, leves.

Himi avançou de novo e aplicou mais um golpe na diagonal. Mumu aparou esse golpe com muita facilidade e percebeu que ela já não tinha forças para aplicar um golpe potente. Mas ele não podia comemorar. Nem ele tinha energias restantes para tal. Ainda sim, ele impulsionou o corpo para cima de Himi, jogando seu peso contra o dela. A garota começou a andar para trás, tentando aguentar o mago. Foi inútil.

Mulkior tomou fôlego e pensou consigo mesmo "É agora!". Ele levantou as duas espadas ao mesmo tempo, batendo contra as duas wakizashis da assassina. Com o último golpe potente que ele poderia aplicar. As quatro espadas voaram rodopiando no ar, caindo em direções totalmente opostas e longe dos lutadores.

Ainda desequilibrada, Himi não conseguiu fazer nada contra o novo soco de seu oponente que lhe acertou no meio da testa. Ela foi ao chão, batendo de costas e perdendo o pouco de ar que ainda tinha. Ela começou a tossir violentamente, sentindo que não conseguiria mais se levantar depois daquilo. Ela piscou e viu que Mumu estava voando para cima dela. Ele empunhava um tridente. E dava pra fazer alguma coisa? Não havia mais salvação, nem energia, nem esperança.

Mulkior enterrou o tridente na barriga de Himi, a fazendo gritar como nunca. Ela estava totalmente enraivecida e movimentava seus braços loucamente para todas as direções. E foi exatamente aqui que Mumu conseguiu sentir raiva do próprio azar.

Ele tinha atacado a garota, mas estava tão fraco que ele não se moveu um centímetro depois disso. E naquela loucura de Himi, ele não viu ela segurando uma espada comum, e a tirando do chão. Era uma espada que estava ali devido a sua magia. Himi não mirou. Ainda em sua loucura e raiva, enterrou a espada no lado direito do peito do mago. Agora os dois estavam conectados por uma arma. E o silêncio havia devorado todo o local.

Mana gritou várias vezes o nome do colega. Regi foi a primeira espectadora a voltar a gritar algo também. O tridente que atravessou a assassina sumiu, voltando a ser uma pequena esfera. Nem um segundo depois, foi a vez da espada que estava no peito do mago voltar a ser uma esfera.

Mumu foi caindo de costas lentamente. Quando encontrou o chão, todas as suas armas começaram a se tornar esferas, enchendo o ringue de bolinhas de cor cinza. Ele não se mexeu mais. E nem Himi.

Mana quase subiu no ringue, com um medo tão absurdo que estava a cegando. Mas o barulho do Telão se ligando fez a assassina da Immortal Star voltar aos sentidos. Haviam dois números sendo exibidos. Duas contagens. Três pessoas preocupadas. E centenas gritando.

A orquestra de vozes exibida durante a luta de Mumu contra Vinny tinha voltado a tona. Pessoas gritavam com tudo que tinham para que um deles levantasse. Quando a contagem chegou a "5", quase todas as pessoas já tinham uma certa conclusão em mente. Nenhum dos dois estava movendo um músculo sequer. Aquela luta não encerraria o Torneio. A não ser que por um milagre, um deles se levantasse no último segundo, como já aconteceu algumas vezes. Muitas lágrimas foram derramadas até Pablo anunciar:

Fim da luta! Nenhum dos dois combatentes conseguiu se levantar antes do término da contagem! Essa luta acabou em EMPATE!

Talvez estivesse começando a ser costumeiro o povo não comemorar no fim das lutas. Empate de novo! Quem esperaria por isso? A final não tinha sido final nem com uma luta final. Confuso? Imagine para quem estava lá, torcendo sem parar. Eles não teriam mais a mesma emoção de torcer como antes. Suas energias se foram junto com as dos lutadores.

Mana correu até o colega assim que Pablo acabou de falar. Assim como na luta anterior, logo que ela começou a chamar pelo nome do colega de time, os médicos chegaram e pediram para que ela se afastasse. Os dois lutadores foram colocados em macas e imediatamente transferidos para as tendas.

Mana seguiu os médicos de perto, fixada no rosto do amigo machucado. Ela queria que ele abrisse os olhos. Queria que ele sorrisse e falasse algo como "Deixo o resto com você.". Queria só um sinal de vida!

Não aconteceu nada. Os médicos entraram com ele na mesma tenda que ele tinha sido atendido anteriormente, bloqueando a passagem da assassina. Mana ainda conseguiu ouvir um dos médicos falando para que ele fosse preso na maca para que não escapasse de jeito nenhum. Por mais que aquilo poderia ser cômico, o que ela ouviu depois a fez perder qualquer chance de risadas.

— Ele está com várias fraturas internas e hemorragia! Preciso de uma transfusão de sangue e um galão de limitador energético imediatamente! AGORA!

A urgência nas palavras do médico trouxeram mais preocupações no coração de Mana. Limitador energético é um tipo de líquido que eles aplicavam em pessoas que estavam com as veias corrompidas com energia mágica. Isso acontecia quando alguém exagerava no uso de alguma magia ou forçasse a liberação de mais energia mágica do que o corpo poderia aguentar.

Mana sabia bem disso. Todos que já participaram de algum tipo de guerra passam por tratamentos intensivos algum dia. Todos naquele Coliseu sabiam que o mago de ferro tinha passado de todos os limites físicos e mágicos. Por algum motivo não especificado, Mana agradeceu por Kula ainda estar inconsciente. A garota iria entrar em um desespero sem precedentes se visse o estado do parceiro.

Assim como as regras dizem, em caso de empate, dois novos combatentes devem ser escolhidos aleatoriamente, excluindo os que acabaram de lutar. — começou Pablo. O povo não estava muito afim de usar as palavras do Apresentador como incentivo para voltarem a se animar. Só que querendo ou não, ele tinha uma ordem que precisava ser seguida. O tempo do Torneio estava excedendo demais as expectativas. Até mesmo os faxineiros que davam uma geral no ringue estavam fazendo seu trabalho na velocidade da luz. — Então não vamos perder mais tempo, Senhoras e Senhores! A nossa tão aguardada Final ainda não aconteceu! Espero que todos ainda tenham todo aquele calor ardente que sempre foi usado nas lutas anteriores! E que a roleta gire!

Por mais que a parecesse que toda a animação do público houvesse sumido, quando o Telão se ligou, muitas pessoas se aquiesceram e aumentaram suas curiosidades para ver quem sairia. Eles sabiam que não adiantava ficar emburrado por causa de um empate. Era uma possibilidade de resultado em uma luta. O que eles poderiam fazer? Dizer que era "culpa dos combatentes" também era errado. Quando dois times tem um certo tipo de equilíbrio em suas forças, esse tipo de resultado não ficava tão estranho de se presenciar.

Mana tinha acabado de parar na frente da tenda onde San dormia calmamente quando ouviu o barulho da roleta. Era um som que lhe trazia um pouco de angústia. Depois de confirmar que o velho colega continuava em um coma profundo, a assassina voltou para a borda do ringue, querendo rezar para o "Deus da Sorte" para que ela fosse a próxima lutadora a pisar no ringue.

Como dito anteriormente, nem San e nem Kula estavam em condições de sequer se levantar de seus leitos. Mana nunca foi boa com o quesito "sorte" e exatamente por esse motivo que ela se pegou tremendo como se estivesse no meio daquela geleira que Himi invocou na luta passada. Olhando para o outro lado do ringue, ela viu que ninguém mais esperava pela roleta no time adversário. Será que eles estavam piores que os membros de seu time?

A mulher torcia por essa possibilidade também. Porque se nenhum dos lutadores dos dois times conseguisse chegar ao ringue, outro empate seria contabilizado. Melhor ainda: se o time deles estava tão fraco e machucado a ponto de não se levantarem mais, e numa sorte grande o suficiente, se ela acabasse caindo contra um desses lutadores, seria como ter uma vitória gratuita! Essa sim era a melhor opção para o desfecho desse torneio.

Mana poderia estar em pé e andando para lá e para cá, mas não significava que ela não estivesse machucada e cansada. Que aliás, isso era algo que ela mesma se preocupava, porque ela estava bem ciente de que os pontos com linha feitos em seu corpo abririam imediatamente assim que ela fosse fazer qualquer movimento brusco. Sem contar que ela não possuía quase nada de energia mágica, já que tinha gastado tudo em sua luta e o pouco tempo que passou desde aquela luta, não tinha sido o suficiente para que ela recuperasse nem metade.

Por último, havia algo em seu corpo que ela não entendia. Um tipo diferente de energia parecia fluir em suas veias, como se fosse uma adrenalina forçada. Esse sentimento era diminuído por causa das dores que ela sentia e que não eram poucas. Em termos, ela estava pior do que Himi nessa luta contra Mumu. Mas lutaria se fosse necessário. Disso ela não tinha dúvidas.

A roleta parou. Ainda tremendo, a assassina levantou sua cabeça bem devagar, com medo de que o pior acontecesse. Ao ver as duas figuras e seus nomes, a garota não conseguiu fazer nada além de soltar um leve sorriso.

Próximos combatentes foram selecionados! — dessa vez, os espectadores voltaram a reagir positivamente ao anúncio. Por uns segundos, o próprio Pablo tinha ficado assustado com a possibilidade de não conseguir mais elevar o espírito de torcida deles. — A próxima luta será feita entre a Combatente Mana da Immortal Star contra o Combatente Lutador B, ou Akira da Zero Soldier! Esperamos que essa seja a final que todos nós estávamos esperando ver! Combatentes, ao ringue!

Pablo nem chegou a terminar de falar e Mana já estava caminhando para o centro do ringue. Foi recebida melhor do que esperava. Sua luta tinha terminado em um empate, mas ainda sim, seus fãs não deixaram de acreditar no potencial elevado da garota. Além disso, todo mundo era obrigado a admitir que sua luta tinha sido extremamente boa.

Bart poderia facilmente lembrá-los, se precisasse. O soldado comentarista que estava calado já faz um certo tempo voltou a dar seus "pareceres" quando viu sua amada entrar novamente no ringue. Foi a primeira vez que Mana conseguiu ignorar totalmente a voz dele.

Ao chegar em seu devido lugar, a garota percebeu que talvez tivesse tirado a sorte grande. Akira não tinha aparecido ainda. O pessoal continuava gritando pelo seu nome, mas nada do mago das trevas dar as caras. Talvez porque ele não "tivesse" mais o rosto para mostrar.

Mana não viu a luta dele contra Kuchiki, mas pelo fato de que seu time tinha vencido, criava uma possibilidade na mente da assassina. "Talvez ele tenha virado cinzas quando lutou com Kuchi?".

Assim que o relógio que dava um minuto para o combatente chamado pisar ao ringue foi ligado, uma das tendas do lado da Zero Soldier teve sua entrada ultrapassada por uma múmia. Sim, você não leu errado. Uma múmia saiu de uma das tendas da Zero Soldier e começou a caminhar rapidamente até a borda do ringue.

Isso fez com que os gritos cessassem por uns segundos pelo simples fato da cena ser absurdamente estranha. A múmia não vestia nada além de faixas em todo o corpo... Com exceção da máscara negra que trazia no rosto. Foi a máscara que fez Mana saber que sua sorte não tinha sido tão grande assim.

— Desculpe a demora. — disse a múmia. Sua voz estava grossa e um pouco fraca. — Eu não estava conseguindo achar minha máscara.

— Parece que minha colega de time deixou você em maus lençóis, eim? Ou deveria dizer "maus enfaixes"?

— Ah! Devo admitir que não pensava em perder para uma maga de fogo. Pelo menos não daquele jeito. Você pode rir o quanto quiser, mas um movimento em falso seu e você vai acabar morta nesse ringue.

Mana fechou a cara e desistiu de fazer qualquer outro comentário. Sacou a kodachi de suas costas e afastou as pernas. Não importava como estava a situação do oponente. Mana sempre foi uma lutadora extremamente cuidadosa tanto na ofensiva quanto na defensiva. Ela não era de subestimar seu oponente, por mais ferido que ele possa estar.

A mulher lembra muito bem que quem lhe ensinou isso foi San, quando ele deu instruções do uso da faca para ela, há muitos anos atrás. Provavelmente foi o ensinamento que mais a salvou de perigos durante sua vida de assassinatos e lutas pela sobrevivência.

Akira não ficou para trás em estar preparado. Movimentou os braços para cima e para baixo, os estralando. Estava pronto para atacar ou defender. Agora eles só se olhavam, sem querer perder mais tempo. Conversar não seria vantajoso para nenhum dos dois. Palavras estavam gastando muita energia. Eles precisavam economizar o pouco que já tinham se quisessem vencer aquela luta.

Lutadores prontos? COMECEM!

ESFERA DAS TREVAS!

Não deu para saber qual tinha sido mais rápido. Pablo queria dar início à luta de uma vez, então não enrolou nem outro segundo. Mas parece que aconteceu ao mesmo tempo.

Akira criou uma bola cheia de energia negra em sua mão direita e a atirou contra Mana quase que imediatamente. Tinha sido uma velocidade incrível tanto como concentração, como disparo. Parecia que o "darkmancer" estava em suas melhores situações de combate... Mas não. Não era bem isso.

Akira estava extremamente ferido e queimado. Suas ataduras demonstravam bem isso. As magias de cura tinham fechado suas feridas mais preocupantes, mas não conseguiram restaurar sua pele e toda sua carne que tinha sido praticamente derretida. Seu rosto estava tão horrível que até mesmo ele não se aguentaria se olhar no espelho.

Ele tinha um diferencial das outras pessoas: por seu corpo estar REALMENTE meio morto, ele não sentia dores. Sabia bem que seu corpo estava em estado crítico, mas ele já estava acordado quando seu nome foi chamado para comparecer ao ringue novamente. Ter um corpo meio morto poderia ter alguns certos problemas, mas também lhe trazia alguns benefícios únicos como o fato de não se cansar ou sentir medo de morrer. Morrer DE VERDADE, no caso. Ele só esperava que seu corpo aguentasse um pouco mais.

A esfera de trevas veio rente na direção da assassina da Immortal Star. Mana não se impressionou com nada. Nem com a velocidade e nem com a boa mira do mago. E até achou engraçado dele usar a mesma estratégia que Kula sempre usava em suas lutas, tirando o fato de que ele não recuou antes de usar a magia.

Mas ainda sim, era uma magia de nível baixo. Aquilo não havia nem necessidade de se preocupar. Mana carregou sua kodachi com um pouco de energia mágica e planejou cortar aquela bola de uma vez só. Deu um golpe horizontal curto, para não perder fôlego e nem energia. E não foi isso que acabou a deixando com uma desvantagem gritante.

Assim que o metal de sua lâmina encostou na esfera de trevas, houve um barulho muito característico de algo muito duro se quebrando em pedaços. A kodachi que Mana usava não existia mais. Isso sim a deixou de boca aberta. Como era possível? Será que aquela arma já estava tão gasta que não adiantava mais usá-la? Ou tinha sido erro dela mesma em não colocar energia o suficiente na lâmina?

Nenhuma das duas opções estava certa. Akira estava rindo, mesmo que ninguém pudesse ver. Aquela não foi uma Esfera de Trevas normal. Ele tinha colocado um "Feitiço Pré-Criado" nela. Esse tipo de coisa só poderia ser feito por magos com magia de criação. Eles criam imposições ou especificações únicas para suas magias, as transformando completamente. Era algo muito difícil de se fazer e demorava meses para que o feitiço surtisse efeito, mas depois acabava sendo uma carta na manga que vale todo o esforço.

Nesse caso aqui, Akira tinha colocado uma imposição de quebrar coisas materiais ao toque. Fez isso inicialmente pensando que ela fosse tentar parar a magia atirando algo contra a bola, como uma faca, por exemplo. Mas esse resultado era melhor ainda. Principalmente que a estratégia dele não tinha terminado ainda.

GRANDE ESFERA DAS TREVAS!

Sem nem esperar a recuperação do susto que Mana teve ao ver sua arma sendo quebrada na primeira magia lançada pelo inimigo, Akira jogou uma nova e mais poderosa esfera de energia negra contra ela.

Sendo sincero, Mana conseguiria se esquivar daquela magia a tempo, mesmo que eles estivessem muito próximos um do outro. Mas isso só seria possível se ela estivesse com todo seu potencial, o que estava bem longe de ser possível. Ela estava machucada e com a percepção alterada por diversos fatores, e adicionando isso ao fato de que esse início de combate tinha lhe tirado toda a atenção, fez ela ter velocidade apenas para cruzar os braços na frente do rosto na hora do impacto.

Assim que a bola negra encostou no corpo da assassina, uma grande explosão roubou a atenção de todos os espectadores do local. Uma névoa negra envolvia quase metade do ringue.

Akira ria baixinho atrás de sua máscara negra. Aquilo só podia ser um presente da Deusa da Fortuna. Ele sabia que sua oponente estava cansada e machucada, mas não esperava que fosse a esse ponto! Ela não tinha mais energias nem físicas nem mágicas para sequer aguentar uma magia daquelas! Era hilário como uma situação complicada conseguia se transformar em algo tão banal!

A fumaça negra foi imediatamente sumindo, fazendo todos os torcedores terem uma nítida visão do campo mais uma vez. Muitos deles já estavam comemorando o fim do torneio, porque não dava pra sobreviver com uma magia direta daquelas. Mas então por que Mana continuava no mesmo lugar, em pé, ainda com os braços cruzados na frente da cara?

Algo não encaixava. Estava faltando algo a ser explicado. Mesmo a máscara não conseguiu esconder a surpresa que o mago controlador de trevas teve ao ver sua oponente intacta. Intacta sim, sem alteração, não.

A assassina descruzou os braços e depois olhou para os próprios membros. Além de estarem um pouco machucados devido ao impacto da esfera negra, haviam linhas vermelhas que acediam suas veias sanguíneas como se elas fossem feitas de um líquido fluorescente. E não era só nos braços. As linhas percorriam de sua cabeça, descendo pelo pescoço e indo até os joelhos, sumindo por trás das botas de batalha da garota.

A maioria das pessoas que assistiam aquilo adotaram que o fato era algum tipo de poder dela que ainda não havia sido mostrado. Mas algumas poucas pessoas — as mais perceptivas e com boa memória —, sabiam que aquilo era fruto de algo totalmente diferente do que eles estavam acostumados a presenciar. Bart foi um dos únicos que entendeu logo de cara o que estava acontecendo. Ou pelo menos ele era um dos que tinham uma melhor teoria.

— Essas linhas... — começou Akira, chamando a atenção de sua oponente. — Elas me lembram as linhas criadas pelo poder especial do seu colega de time. Não sabia que vocês compartilhavam do mesmo poder! Muito interessante!

"Não, você está totalmente errado." foi o que Mana pensou em dizer em resposta. Mas ela se manteve quieta por dois motivos bem claros. O primeiro era que seria muito melhor deixar o oponente com uma conclusão errada. Assim ele estaria mais propício a cometer erros, dando uma vantagem para ela. O segundo motivo era porque nem ela mesmo sabia exatamente o que era aquilo.

Sim, parecia com aquelas linhas vermelhas que apareceram em San quando ele usou sua Arma Lendária. Mas por que nela? Mana estava sentindo aquela estranha energia muito mais forte agora, como se tivesse realçando seus sentidos e relaxando seus músculos. Relaxando e endurecendo, já que ela conseguiu bloquear aquela esfera enorme com os braços sem levar nenhum dano considerável.

San tinha, de fato, usado a própria energia vital para "revivê-la". Será que aquilo era um pós-efeito? Será que ainda restava um pouco da energia que ele usou dentro de seu corpo? Era uma possibilidade bem lógica.

Fosse o que fosse, ela precisava se aproveitar daquilo enquanto ainda estava ativo. Só naquele começo deu pra perceber que ela não estava com metade de suas habilidades de luta por causa do cansaço extremo. No começo da luta, seu corpo parecia ter o dobro de peso que normalmente tinha. Mas não agora. Ela parecia até mais leve, flexível. Eram as linhas? Possivelmente.

Mas chega de possibilidades. Mana puxou a sua faca especial guardada atrás de sua bota e partiu para cima do oponente. Foi como um raio. Dessa vez, foi Akira que não tinha conseguido se defender. Mana o cortou no braço direito, levantando sangue e ataduras ao mesmo tempo. A velocidade aqui deve ser o fator mais bem observado. A assassina estava com a mesma velocidade de avanço que Himi.

Analisando Akira e vendo que ele não conseguiu acompanhar seus movimentos, Mana prosseguiu com seus ataques. Acertou outro corte quase no pescoço e uma estocada no baço. O darkmancer cambaleou para trás e começou a carregar energia mágica, esperando amedrontar sua oponente. Não adiantou.

A assassina da Immortal Star avançou novamente, acertando uma joelhada em seu estômago, tirando todo seu ar de uma só vez. Akira caiu de joelhos, com a cabeça meio abaixada. Ele não sentia dores, mas não era imune a reações naturais do corpo humano. Ele poderia estar meio morto, mas ainda estava meio vivo.

MALDIÇÃO DA SERPENTE!

Foi a vez de Mana não esperar a recuperação de seu oponente. Assim que viu Akira sem defesa nenhuma ali no chão, ela concentrou um pouco de energia mágica na lâmina afiada de sua faca e desceu o braço criando um corte vertical que o atingiu no ombro esquerdo. A energia esverdeada saiu da lâmina e impregnou o local do corte no mesmo segundo, deixando claro que o envenenamento foi efetivo. Akira não reagiu com nenhum tipo de grito de dor. Ao invés disso, ele fez uma rápida concentração de energia e depois colocou a mão para frente, agarrando a perna direita da oponente.

ENRAIZAMENTO DA ÁRVORE NEGRA!

Do chão exatamente debaixo do pé de Mana surgiram quatro chicotes negros feitos totalmente de energia. Eles enrolaram em toda a perna direita da assassina, apertando fortemente.

Os Magos tinham muitas regras que sempre seguiam. Era como aquela coisa que Mumu provou em sua luta, que essa classe sempre carrega uma magia extremamente secreta nas mangas. Agora uma outra coisa que todos tinham e que não era nada secreta era o fato deles sempre terem pelo menos uma magia do tipo "Prisão". Não importava se você usava magias de criação ou de transformação.

Mana sentiu o aperto e tentou puxar aquelas coisas que mais pareciam raízes do inferno. Não adiantou de nada. Akira se levantou e deu um salto para trás, depois outro. Ficar perto dela era perigoso demais.

Levou a mão até o machucado recém adquirido. Ele sabia o que era aquilo. Era envenenamento. Algo bem típico dos assassinos. Infelizmente para ele, estar meio morto não o fazia imune à venenos assim como Himi, mas era verdade que o efeito era retardado. Ou seja, ele teria que acabar com essa luta antes que o veneno faça efeito, mesmo que vá demorar um pouco.

Mana tentou cortar as coisas negras usando sua faca, mas não estava adiantando. Concentrou energia mágica na lâmina, para cortar aquelas coisas de uma só vez. Mas assim que o fez, ela percebeu uma grande concentração vinda de sua frente. Olhando para esse lado, ela percebeu que Akira estava com os dois braços levantados para o alto, concentrando uma considerável quantidade de energia mágica. Não importava o que estava para vir. Seria algo grande e iria mudar todo o andamento daquela batalha.

COMETA NEGRO!

O céu escureceu. O vento sumiu. O barulho das pessoas gritando alegremente estava sendo sobreposto por algo extremamente gigante caindo no meio do ringue. A mulher viu a sombra crescer pelo ringue enquanto aquela bola se aproximava. Ela tinha entendido o esquema. Já que estava presa, ela era obrigada a parar essa magia com as próprias mãos.

Não era necessário muito tempo de estudo para saber que essa magia tinha energia mágica DEMAIS. Mana poderia usar sua magia que cortava outras magias, mas ela só seria efetiva se a assassina estivesse usando suas fieis katars. Não era a situação aqui.

O que dava pra fazer então? Segurar aquilo? Impossível. Ela seria esmagada sem mais nem menos. A mulher não tinha a quantidade exagerada de energia mágica que sua colega maga de fogo tinha para aguentar.

Mais uma vez, Mana se viu olhando para as mãos que exibiam as linhas vermelhas mágicas. Ela estava se sentindo mais forte, mas força física não seria o suficiente para aguentar o peso daquele cometa. Ela precisava de uma ideia diferente. Ou maluca. Algo que só San iria pensar naquela situação. San. Ele tinha dado algumas dicas para seu combate. San... ISSO!

Akira não estava mais rindo. Ele queria vencer de uma vez, e sabia que ficar de brincadeira com aquela oponente só o levaria para uma derrota ridícula ou uma morte dolorosa... Mesmo que ele não sentisse dores. Não, o certo era atacar com tudo que tinha logo de uma vez.

Assim que o cometa começou a cair, ele assistiu sua oponente tentando se livrar das raízes negras e depois olhando para um lado e para outro, procurando algo com o que se defender. Não tinha nada. O que ela poderia fazer? Cortar um cometa usando uma faca? Aquilo não era um conto de fantasia. Coisas absurdas aconteciam SIM, mas havia limite até mesmo para a imaginação de um mago.

O que ela fez? Começou a concentrar energia na faca. "Ah não, eu não acredito que ela vai mesmo tentar cortar meu cometa usando a faca!". Não, não era isso.

SOMBRA DE LOKI!

Mana jogou a sua querida faca na direção do mago das trevas que gostava de ser chamado de Darkmancer. Mesmo machucada e cansada, sua mira continuava intacta. A faca voou rápido na direção da cabeça de Akira, que pensou em se esquivar imediatamente da lâmina mortal. Mas ele tinha uma boa memória. Ele sabia como aquela magia funcionava. Ela escondia um ataque nas sombras da arma, pegando o inimigo desprevenido.

Mas Akira não era nada desprevenido. "Ela deve ter tentado me matar com esse golpe, porque assim minha magia desapareceria. Ahahaha, ela está errada em muitos pontos!", pensou o combatente da Zero Soldier. Ele colocou a cabeça para o lado, deixando a faca real passar rente à sua bochecha e depois deu um pulo para trás, se esquivando de uma faca feita de energia que vinha logo em seguida.

— Aha! Não vai ser com isso que você vai se li--- ARGHHHH!!!

Akira quase mordeu a língua aqui. Alguma coisa extremamente afiada tinha acabado de se enrolar em seu pescoço, o apertando. Levando as duas mãos imediatamente até o local, o mago viu que havia um tipo de linha que o apertava e tirava seu fôlego. Desesperado, ele tentou puxar aquela linha, mais além de cortar a mão no ato, ele descobriu que na outra extremidade tinha uma mulher segurando-o. Uma mulher esperta e pronta para qualquer situação.

Mana usou sua energia para fortalecer um pouco os músculos e depois deu o maior puxão que já tinha dado em sua vida. Akira veio voando na direção dela como se fosse uma pandorga. Mana parecia estar pescando. A cena chegou a ser um pouco cômica para os espectadores que estavam mais próximos do ringue, já que o mago saiu do chão gritando desesperado, sem entender o que estava acontecendo.

A assassina não teve força o suficiente para puxar o oponente até à sua frente, já que eles estavam com uma boa distância entre um e outro, mas ainda sim, ela mesma ficou impressionada com o tanto que conseguiu em um só puxão.

Akira aterrissou de cara no chão, quase quebrando o nariz. Tentou se levantar rápido, totalmente desengonçado. Viu que ainda não estava livre da linha que lhe enforcava, e que Mana não tinha a menor intenção de soltá-lo. Agora ele viu a sombra gigantesca que se formava no chão bem abaixo dele. Aquilo não era um bom sinal. Olhou para frente e viu que sua oponente estava com um sorriso malicioso em seu rosto.

— Que tal nós dois descobrirmos como é o Inferno?

As palavras da assassina foram o suficiente para fazer a mente de Akira entrar em um tipo de colapso nervoso. Aquele sorriso e a tonalidade na voz... Aquilo não era uma brincadeira. O darkmancer já tinha passado por muitas batalhas e conhecido um número insuperável de pessoas completamente malucas. Em sua própria guilda era necessário tomar cuidado com o tratamento de alguns membros, pois eles preferiam beber sangue do que suco no almoço.

Vendo por esse ponto, os olhos que Mana exibiu no momento que disse aquela frase em forma de pergunta, foram os olhos de alguém que está preparado para ir em terras desconhecidas e que não tem mais volta. Akira sabia muito bem que o plano de sua oponente foi trazê-lo até debaixo do próprio cometa para que ele também fosse atingido pelo mesmo. Pra início de conversa, esse tinha sido o motivo para ele ter se afastado tanto.

Agora lá estavam eles. Os dois bem embaixo de um cometa imenso, pronto para esmagá-los. De onde ela tinha tirado toda aquela convicção? Se matar? Para que finalidade? Será que ela estava querendo outro empate? Maluca! Além de maluca, era uma total idiota. Ela não sabia das coisas que ele seria capaz de fazer.

Foi a vez de Akira sorrir enquanto levantava a mão direita para o alto. Um pouco antes do cometa encostar em seus dedos, o mago negro liberou uma pequena quantidade de energia e anulou sua magia anterior. Ou seja, desfez seu cometa que desapareceu tão magicamente quanto apareceu. Aquela enorme bola de trevas não existia mais, salvando a pele dos dois combatentes. O plano de Mana tinha falhado completamente.

Akira poderia rir o tanto que quisesse ao olhar para a face de emburrada da garota... Se ele soubesse onde ela estava.

LÂMINA DE ÁGUA SERRADA!

Houve um zunido e muitas, mas muitas pessoas colocando as mãos nos olhos para não verem o ocorrido. Akira se tocou que Mana não estava no mesmo lugar de sempre. Só sentiu energia mágica sendo concentrada em suas costas tarde demais. Ainda sim, o mago deu um salto para o lado direito, temendo que sua cabeça estivesse sendo alvo de algo grande.

Bom, ele estava certo. Mana tinha mesmo corrido para suas costas enquanto ele se preocupava em acabar com sua própria magia. Era óbvio que Akira tentaria cancelar sua magia. Mana não tinha falado aquilo porque queria se matar. Aquilo foi uma "armadilha psicológica", algo que San fazia tão bem que até ela já tinha aprendido a fazer.

A assassina calculou que existiriam dois resultados vinda daquela ação: ou Akira desfaria seu cometa para não ser atingido ou tentaria aguentar a própria magia na esperança de ser o único em pé no ringue. Se caso ele escolhesse a segunda opção, tudo que Mana teria que fazer era concentrar toda a energia restante em seus braços e diminuir o impacto da magia. Mas não. Foi a primeira opção, assim como ela tinha previsto.

Ela carregou uma magia rapidamente e mirou no pescoço do mago das trevas da Zero Soldier. Iria ser um golpe limpo, sem dor. Mas ele percebeu em cima da hora. Mana aplicou o golpe: sua faca estava com uma aura azul serrilhada. O golpe foi um pouco diagonal com horizontal e infelizmente não atingiu o ponto mirado anteriormente.

Mas Akira não saiu ileso. Ao ter se jogado para o lado sem mais nem menos, o golpe mudou do seu pescoço e passou pelo seu braço esquerdo, o decepando. O darkmancer caiu no chão rolando três vezes, jogando uma densa quantidade de sangue quente e escura por todo o ringue. Seu braço ficou nos pés de Mana, que o chutou para bem longe.

A gritaria do público era um misto de torcida com nojo. E xingamentos. Akira ficou de joelhos, olhando para onde deveria ter um braço. Ele não exibia caretas de dor ou gritava descontroladamente, que era o que alguém "normal" faria em uma situação daquelas. O corpo meio vivo e meio morto dele era algo realmente fora dos padrões aceitáveis da vida humana.

— Desista. — disse Mana, com toda a moral que ainda lhe restava. — Você não pode continuar lutando desse jeito. Mesmo que você não sinta dor, você ainda sangra. Se não estancar esse ferimento, vai morrer por falta de sangue!

— Eheh... — Akira estava com a cabeça abaixada, mas continuou. — Eheheh... Ahahah... AHAHAHAHAHAH!

A risada louca do mago controlador de trevas tinha se transformado em uma coisa tremendamente sinistra. Era um meio morto, ajoelhado, sem o braço esquerdo e pichando todo o ringue com seu sangue fétido. Mas ainda sim, ria tão alto que até quem estivesse fora do Coliseu acabaria escutando.

ESFERA DAS TREVAS!

Foi espontâneo demais. Mana estava confusa vendo seu oponente tendo um ataque de risos naquela situação que se encontrava. Ela não sabe se isso foi proposital, mas Akira cortou suas risadas imediatamente e depois atirou uma esfera de energia negra contra ela. Foi muito do nada.

A garota da Immortal Star ainda conseguiu cruzar os braços na frente do rosto, o protegendo. A esfera explodiu em seus braços, fazendo-a voar uns três ou quatro metros de distância.

— Achou mesmo que cortando um braço ou dois você me faria desistir dessa luta? — disse o dakmancer, se levantando. — Não seja ingênua, Mana! Tudo que você fez foi facilitar meu trabalho! AHAHAHAHAHAH! — agora ele ria olhando para cima, como se estivesse possuído. Mana chegou a quase ter certeza de que ele realmente estava. O importante era o fato de que ele concentrava uma grande quantidade de energia mágica pelo corpo, e isso a garota não poderia dar o luxo de ignorar. — Se arrependa pelos seus próprios golpes! PÂNTANO DO SUBMUNDO!

Primeiramente ele passou toda a aura para seu braço direito, o fazendo brilhar em um tom de roxo brilhoso que chegava até ser um pouco bonito de se ver. Depois ele bateu a palma da mão no chão, enviando toda a energia recém concentrada para lá. Mana não tinha visto essa magia antes, pois estava inconsciente. Mas para as outras pessoas que estavam vendo pela segunda vez, elas puderam perceber que havia alguma coisa errada.

O círculo que aparecia em volta do mago e depois se expandia apareceu de uma maneira diferente, errada. Assim que ele mandou a energia para o chão, todo o sangue que estava espalhado pelo local começou a emitir uma pulsação em uníssono com a magia de Akira. O círculo inicial da magia de campo de efeito não apareceu só embaixo do usuário, mas sim, em baixo de todas as poças de sangue de seu corpo meio vivo. Ou seja, quando a expansão começou, todos os círculos cresceram e se fundiram no meio do caminho, aumentando em inúmeras vezes a velocidade de criação dessa magia.

Mana não conseguiu tempo para reagir antes do mago pois suas pernas e até seu corpo tinham começado a ficar muito mais pesados. A garota sentiu algo molhado subindo suas pernas e se assustou quando viu aquela água negra e lamacenta lhe sugar. A assassina soube imediatamente que aquilo era um Campo diferente do que Himi utilizava. Era mais real, mais físico. Mais nojento e mais perigoso.

Olhou para frente novamente e viu que Akira concentrava energia novamente. Mana não podia deixar que ele continuasse atacando! Tentou se mexer. Inútil. Suas pernas já tinham sido engolidas até os joelhos. E ela continuava a afundar.

LÂMINAS DA PERDIÇÃO!

Akira levantou seu único braço para cima e fez todo o ar em volta dele tremer como se estivesse sendo atingido por trovões. O vento começou a ficar ondulado enquanto uma energia negra ia criando umas coisas pequenas que rodavam no mesmo lugar. As coisas pequenas não demoraram a ganhar a forma de uma pequena foice que ficaram rodopiando no mesmo lugar, ganhando velocidade.

Mana não se desesperou ao se ver completamente em perigo. Ela sabia que não poderia se mexer e seria impossível defender tantas lâminas. Ou seja, ela não poderia ficar ali.

Com fúria em seus olhos e em sua voz, Akira mexeu o braço para frente e mandou todas as pequenas foices em direção da assassina atolada. Só havia tempo para uma única ideia.

A garota colocou a sua faca na boca e enfiou as duas mãos dentro daquela lama mágica que a puxava cada vez mais para baixo. Concentrou energia esperando conseguir fazer o que queria a tempo. Bom... O resultado foi plausível.

As lâminas de Akira chegaram até ela e começaram a lhe cortar a carne assim como uma faca corta um pão. Mana foi atingida quatro vezes antes de poder liberar sua energia contra o chão para fazer sua magia.

PILAR DE GELO!

Ela tinha mirado para baixo de seus pés. Essa magia geralmente pegava os oponentes desprevenidos, mas com o bom controle de energia da assassina, ela conseguiu fazer com que o pilar a levantasse imediatamente, tirando-a tanto do campo de efeito quanto da mira das lâminas.

Uma das foices havia cortado a testa dela e o sangue agora corria para seus olhos, a deixando temporariamente cega e irritada. Ela passou o braço rapidamente pelos olhos, tirando o excesso. Quando os abriu novamente, ela percebeu que Akira estava com o braço apontado para ela.

ESFERA DAS TREVAS!

ESFERA DE ÁGUA!

Duas magias lançadas quase ao mesmo tempo. A reação de Mana continuava sendo a mais rápida de seu time, então era difícil ela ser pega desprevenida nesse tipo de situação.

Akira lançou sua esfera mirando o corpo ainda cansado de sua oponente, mas Mana conseguiu atirar a sua esfera de água contra a magia negra, fazendo as duas se encontrarem no meio do caminho. Houve o impacto e uma pequena explosão de energia.

Por mais que tenha fugido de uma situação ruim, Mana continuava sem poder fazer muita coisa. Ela era uma lutadora melhor no corpo-a-corpo, mas com aquele pântano ali em baixo, ela não conseguiria se aproximar de seu oponente. E Akira não era burro. Ele provavelmente manteria distância até que ela esgotasse toda sua energia mágica, que já não tinha sobrado tanto assim. Em questão de quantidade de energia mágica, Akira era muito mais poderoso que a assassina. Se eles começassem a atirar magias um no outro, era claro que ela perderia. Ela precisava de um plano novo.

— Quanto tempo você pretende ficar aí em cima? BARBATANA DO MAR MORTO!

Não que o darkmancer fosse deixar ela pensar direito. Akira não estava brincando mais. Ele já estava cansado. Não sentia dores, claro. Mas isso não quer dizer que ele não sentia o corpo ficando cada vez mais pesado. E outra coisa lhe incomodava: um sono místico, que ele não conseguia superar. Seus olhos se abriam e fechavam várias vezes, e ele estava se esforçando para manter o raciocínio.

Era o veneno. Mana o tinha envenenado mais cedo e só agora os efeitos estavam ficando poderosos. O homem meio morto não tinha como se curar daquilo, então tudo que ele poderia tentar fazer era atacar sem parar. Assim ele se manteria acordado e ainda conseguiria fazer com que ela se cansasse mais rápido. Ele sabia bem que tinha mais energia mágica de sobra do que ela. Pois então estava na hora de encerrar aquilo.

Primeiro, ela precisava ser derrubada daquele pilar. Enquanto ela estivesse no pântano, ele tinha uma vantagem gigantesca. Então primeiro objetivo: destruir o pilar. Não poderia ser com uma magia frontal. Ela era rápida para usar magias também e provavelmente protegeria sua plataforma de equilíbrio. Mas o que ela poderia fazer com uma magia que vinha de baixo?

Não precisou de outro segundo para que Akira mandasse sua nova carga de energia para o chão. Debaixo do pilar de gelo começou a aparecer uma grande quantidade de energia mágica que logo começou a tomar uma forma laminada. Um segundo depois, aquela barbatana negra subiu, cortando o pilar ao meio.

E cortaria Mana também se ela não tivesse sido rápida o suficiente para pular para frente. Ela não esperava sair de seu pilar tão cedo, mas do que adiantava ficar lá parada se defendendo até ficar esgotada? Ela precisava atacar também. Foi por isso que seu "pulo para frente" foi direcionado à Akira.

Agora ela precisava fazer duas ações. A primeira era jogar duas adagas contra o oponente. A segunda era começar a concentrar muita energia mágica logo em seguida. As adagas eram uma distração. Akira provavelmente se esquivaria delas pulando para os lados ou para trás, dando tempo o suficiente para que ela carregasse uma magia que acabaria de vez com aquela luta.

TIRO DAS TREVAS!

Não, não foi bem assim que aconteceu. Em uma luta, nós sempre precisamos estar preparados para o improvável. As possibilidades do oponente fazer alguma coisa maluca eram realmente baixas, mas não eram nulas. Nesse caso, nós não poderíamos chamar bem de "maluquice".

Akira fez algo para acelerar o processo de sua própria vitória mesmo que isso o danificasse. Bem... Para alguém que não sente dor, isso era quase irrelevante. Então ele viu que Mana disparou as duas adagas e que provavelmente viria com uma nova magia. "Não vai não!" foi o que ele quase gritou quando apontou o dedo indicador para ela.

As duas adagas vieram e lhe acertaram uma no ombro direito e outra no meio do peito. Ele ignorou. Fez mira, concentrou energia na ponta do dedo e atirou. Mana não teve tempo para absolutamente nada. Ela foi acertada no meio do estômago, ficando sem fôlego e sentindo uma dor absurda. Além de cair de costas na lama que sugava corpos.

A mulher cuspiu sangue e começou a tremer como se estivesse com um frio antártico. Não teve forças para se levantar. Se viu sendo puxada lentamente para baixo, afundando em um mar negro que não tinha fundo. Olhando para cima, ela conseguia ainda ver um pouco do céu laranja, mas logo tudo começou a ficar escuro. Do escuro para o negro total.

Ela estava afundando. Estava morrendo. Fechou os olhos e começou a pensar em soltar a respiração. Ela tinha lutado demais já. Estava na hora então? Só nesse dia ela já tinha feito coisas que nunca pensou em fazer. Tipo... Morrer. Ela sabia que nunca esteve tão perto da morte como esteve hoje.

Mas ele veio e lhe tirou dessa. O mesmo homem que a tinha colocado naquele mundo cruel cheio de lutas, traições, mortes e desespero. Ele a colocou e a manteve. Não queria que ela se fosse. O que ele tinha? Será que ele achava graça por ver todo o sofrimento que ela teve que passar?

Claro, houve momentos bons. Mas a maior parte parecia um teatro de terror. Então por quê? Por que ele não a deixava ir de uma vez? Ela poderia estar em um lugar calmo com a pessoa que sempre amou. Passar a eternidade com ele, sem se preocupar em manchar as mãos de sangue novamente. Chega daquele mundo ruim! Chega de fugir de assassinos! Chega de ser traída quando ela mais se acalmava! Chega de tudo aquilo! Estava na hora de partir. Ela estava cansada. Seu corpo estava sendo puxado para o fundo. Sono. Fraqueza. Calor. Calor. Calor?

— MANA!

Ela abriu os olhos. Sentiu uma energia quente correndo suas veias como se estivesse querendo queimar todas as células de seu corpo. Mana abriu a boca para gritar, mas não conseguiu. Quis liberar toda aquele fogo de uma só vez. Aquele desconforto. Logo viu que se tratava mais do que apenas um calor intenso. Aquilo era sua energia vital entrando em ebulição, querendo explodir. Então que explodisse! Que saísse de seu corpo de uma só vez! Saia!

GÊISER MARÍTIMO!

A energia saiu de seu corpo e não de suas mãos. Ao redor dela, um redemoinho de água foi criado, puxando tudo para o centro e concentrando energia. Depois o redemoinho foi ficando menor e mais potente, até criar uma explosão submarina que elevaria toda aquela água para cima. Era uma pena que ela não tinha assistido a luta de sua companheira maga de fogo. As duas tinham magias idênticas e nem sabiam.

Para quem estava nas arquibancadas, já era certo que aquela batalha tinha terminado. Os torcedores da Zero Soldier já pulavam de alegria, felizes que não teriam que esperar mais para comemorarem a vitória. Já os outros fãs, estavam se levantando e pensando em sair. Eles não queriam ver a cerimônia final se seu time não estivesse subindo ao pódio.

Bart estava de pé, quase pregado ao vidro que dava vista para o ringue. O Telão Informativo já tinha sido ligado e a contagem já havia sido iniciada. Pablo comentava que esse era o final do torneio, perguntando se a combatente Mana não conseguiria mais se levantar.

Akira tinha acabado de arrancar a segunda adaga de seu corpo quando viu que havia uma alteração em seu pântano, mais especificamente onde Mana havia sido engolida. E então aquilo veio. Uma explosão mágica jogou lama e água para todos os lados. Um gêiser azul marinho surgiu daquele ponto, jogando Mana para cima. Aquilo tirou tantos gritos diferentes que foi simplesmente impossível sequer identificar o que era torcida ou o que era susto.

Mana caiu de pé no ringue, ainda sob o efeito do Campo de Akira. Era uma pena que o darkmancer usava máscara, pois o seu rosto naquele momento estava hilário. A assassina cuspia sangue misturada com água negra e tentava não sentir o gosto amargo na boca. Todo seu corpo estava encharcado com aquela coisa gosmenta e enegrecida. O cansaço agora era tanto que ela quase não se aguentou em pé.

Olhou para trás, procurando a pessoa que tinha gritado para ela. Não havia ninguém. As tendas estavam silenciosas, sem nenhum movimento. Onde ele estava? Ela tinha certeza que ouviu a voz dele! Olhando para o próprio corpo ela também percebeu que as linhas vermelhas haviam desaparecido completamente. O calor também havia sumido. Só o cansaço e as dores haviam ficado.

Sua respiração estava rápida e ininterrupta. Ela levou a mão na barriga, sentindo o furo que liberava seu líquido vermelho da vida escorrendo sem parar. Ela não tinha mais forças para continuar lutando. E Akira estava concentrando energia de novo! Aquele homem não iria parar! Mas quem poderia culpá-lo? Aquilo era uma batalha. Só terminava quando um deles estivesse fora de combate, para não dizer morto.

— Você é teimosa! — gritou Akira, com energia mágica percorrendo todo o seu corpo. Ele apontou a mão aberta para ela e continuou gritando. — Não sabe a hora de desistir, é?

— Agradeça ao meu companheiro por isso! Eu puxei isso dele! — respondeu a assassina, também concentrando toda a energia mágica que ainda lhe sobrava.

— MORRA DE UMA VEZ! RAIO DO SUBMUNDO!

Essa não era a magia mais forte de Akira, nem a que utilizava maior concentração. Ele já tinha utilizado sua Magia Suprema na luta contra Kula, mas não tinha energia mágica o suficiente para repetir o ato. Mas ainda sim, essa magia que ele utilizou agora tinha um grande poder destrutivo se acertar diretamente.

Se tratava de um raio cônico concentrado. A magia voava reto ao oponente, destroçando o local de impacto. Era uma magia simples, mas com um poder fora do normal. Principalmente essa de agora, já que Akira não estava querendo poupar sua energia mágica.

Ele disparou aquele raio negro contra o peito da assassina, sabendo que ela não conseguiria esquivar, já que ela permanecia no seu pântano. Akira também tinha certeza absoluta que ela não tinha energia mágica o suficiente para conseguir conjurar uma magia tão poderosa a ponto de combater essa. Ela não tinha mais escapatória.

ESPELHO DE NARCISO!

Em tempos desesperados, sempre deve se utilizar manobras desesperadas. Mana não sabia quem tinha inventado essa frase, mas sabia que aquilo não era verdade. Para ela, em tempos desesperados, você deve usar a calma para sair do aperto. A magia que Mana utilizou agora não comprovava seu velho modo de agir.

O dedo indicador de sua mão esquerda brilhou com uma luz roxa e, utilizando aquele dedo, ela desenhou um círculo em sua frente, criando uma linha mágica da mesma cor. O círculo ganhou uma forma e seu fundo foi preenchido com mais energia mágica. A forma agora lembrava muito um espelho, já que havia uma parte refletiva virada para Akira.

O raio negro dele bateu exatamente contra esse espelho. Em vez de estraçalhar o objeto mágico em dez milhões de pedaços como o mago negro imaginou que aconteceria, a sua magia foi barrada lá. Akira mantinha a magia ativa, ainda liberando energia. Mas ele não acreditava que um espelhinho daqueles pudesse segurar sua magia! E ainda: o espelho estava absorvendo parte de sua própria energia mágica!

"Ah não!!!". Com o grito interior que ele deu, sua liberação de energia explodiu e ele mandou tudo o que tinha de uma só vez, fazendo o diâmetro do raio quase dobrar. Mana começou a ser empurrada para trás enquanto tentava manter o espelho ativo.

Esse era o problema. Aquela era uma magia que Mana não estava acostumada a usar. Ela era, de fato, uma das magias mais difíceis de serem conjuradas por uma quantidade absurda de razões. Ela necessitava absorver o fluxo de energia que entrava, controlar perfeitamente a curva arcana que era criada dentro de sua própria magia e depois...

BOOM! Uma explosão tomou conta do ringue naquela hora. A explosão não era um resultado bom para Mana. Aquilo não deveria ter acontecido. Isso significava que sua magia havia falhado.

Antes que Akira pudesse rir de seu sucesso, ele viu algo vindo em sua direção. Algo grande, negro e cônico. Seu próprio raio o atingiu no estômago, o empurrando a inúmeros metros de distância. Ele não tinha entendido nada. Nem os espectadores. Ninguém torcia para ninguém, pois ninguém entendia o que se passava lá naquele campo de batalha negro.

O que a magia de Mana fazia exatamente? Ela absorvia a energia mágica de uma magia do oponente, contornava naquele espelho e a mandava de volta com um pouco menos de força. Uma magia incrível, não é verdade? Mas ela é complicada demais para se usar. Absorver o fluxo de energia mágica de um oponente era a parte mais fácil. Mas controlar a saída da mesma... Era algo que só alguém com um controle perfeito de energia conseguiria fazer.

Mana tentou não pensar em San quando bateu a cabeça no chão de terra, fora do ringue de combate. Seu corpo estava tão pesado, que ela sentia que estava sendo amassada por três carruagens cheias de pessoas acima do seu peso. E com quatro cavalos em cada carruagem.

Ou seja, ela estava consciente, mas não conseguia mexer nem sequer a sobrancelha. Ela estava com a cabeça virada para o ringue, mas não enxergava mais nada. Mas ouvia a gritaria do povo. Eles clamavam para que "eles" voltassem ao ringue. Eles.

Mana quis sorrir, mas não conseguiu. De algum jeito, ela conseguiu fazer a magia de Akira voltar para ele antes de seu espelho explodir por não aguentar o fluxo de energia negro. Ela nem sentiu dor alguma quando começou a voar descontroladamente. A dor só veio quando ela aterrissou de cabeça no chão. Agora seu corpo tinha chego ao limite. O negócio era torcer para que ele não tivesse mais energias para voltar ao ringue.

E olhando para ele, Mana se sentiria falhada. Akira estava realmente fora do ringue, a poucos metros de sua borda. Estava caído de costas para o chão, com um machucado bem feio no peito. Estava sangrando e tossindo. Tentou girar o corpo para o lado, para usar o braço como apoio e se levantar. Até conseguiu, mas ele percebeu que seu corpo estava preste a desmanchar.

Ele estava mais branco do que de costume. Estava tendo uma hemorragia externa e interna. Deu um passo, com o corpo corcunda. Não havia dor. Nunca havia. Mas o peso e o cansaço... Deu outro passo. Seus olhos se fecharam. Ele não ouvia seu nome sendo gritado desesperadamente pelos torcedores. Ele só precisava se focar em voltar para o local de batalha. Deu outro passo. Estava logo ali. Cuspiu sangue. Seu braço tremia quando ele o colocou para frente, na fútil tentativa de que ele alcançaria o ringue. Deu outro passo. E congelou. Suas pernas não obedeceram mais. Seu olfato se foi. Seu paladar se foi. E agora seu tato havia desaparecido. Seus olhos estavam se fechando e não tinham mais intenções de abrir.

— Maldito... Veneno...

Akira foi ao chão. Ainda com o braço esticado, ele conseguiu tocar na borda do ringue, mas seu corpo beijou a terra suja do Coliseu.

Silêncio. Mais uma vez aquele silêncio mortal que todo mundo odiava. Pablo odiava aquilo mais do que ninguém, mas ele não poderia culpar os lutadores. O Telão começou a contagem dupla, assim como nas últimas duas lutas.

O silêncio foi quebrado pelos gritos de "NÃO!" do povo. Eles não queriam aquilo. Eles queriam um resultado! Queriam uma vitória e uma derrota! Não queriam empates! Não pela terceira vez seguida! Gritavam pelo nome de Mana. Gritavam pelo nome de Akira. Os dois combatentes não se mexiam. Mais gritos. Agora pela Immortal Star. E agora pela Zero Soldier. Não desistam. Não nos deem essa espera. Não nos façam perder nossos fôlegos de novo. Algumas pessoas chegaram a chorar. Outras simplesmente se calaram. Desapontamento quase geral. E então veio a resposta que eles não queriam. De novo.

FIM DA LUTA! — disse Pablo ao ver o contador zerar. — Os dois lutadores não conseguiram voltar ao ringue. Mais uma vez, senhoras e senhores, temos um empate!

Houve a corneta que decidia o fim da luta e novos xingamentos. Um certo caos começou a se formar nas arquibancadas. As pessoas estavam perdendo a paciência. Elas não queriam assistir empates. Queriam assistir vitórias! Torcer para o time vitorioso era rejuvenescedor! Era empolgante! Se caso seu time perdesse, eles simplesmente aplaudiriam o time vencedor. Alguns se arrependeriam por terem feito a escolha errada, mas não sairiam de lá de cabeças baixas. Agora empates não decidiam nada!

Algumas pessoas começaram a jogar comida no ringue e a vaiar. O Apresentador fez seu trabalho de sempre, tentando acalmar seu público. Não estava dando muito certo.

Mana foi socorrida imediatamente. Ela não tinha adormecido, mesmo estando extremamente exausta. Mas seus olhos não queriam fechar. Sua consciência não estava querendo se apagar. A preocupação estava fazendo ela se manter sã.

Ela foi colocada em uma maca e levada para o lado de uma das tendas médicas. Ela não sabia o porque, mas uma das tendas havia simplesmente desaparecido. Ela não viu quando a Magia Suprema de Kuchi criou uma confusão que afetou todo o Coliseu.

O tratamento médico mágico se iniciou ali fora mesmo. A pressa e habilidade dos médicos eram impressionantes. Quando eles precisavam tratar de uma emergência, sua focalização é suprema. Assim que uma magia de cura foi conjurada nela, Mana começou a perder aquele peso que estava sentindo há uns segundos atrás. Agora o ruim seria enfrentar a dor. De novo.

Ela não conseguia mexer nem um músculo e não ouvia o que os médicos falavam enquanto gritavam uns com os outros, pedindo coisas e puxando outras. O tratamento dela teria que ser feito ali. A parte boa era que ela não corria nenhum risco de vida.

Já Akira sumiu da vista de todos ao ser levado para dentro de sua própria tenda. Com ele, a recuperação precisaria ser muito mais cuidadosa, já que ele estava envenenado e sem um membro. Mana não viu, mas um dos médicos foi pegar o braço dele que estava caído fora do ringue, em um canto que ninguém estava querendo olhar.

Que comece a próxima escolha de lutadores! — gritou o Apresentador, chamando a atenção de metade do Coliseu. Era a metade que ainda não havia perdido a razão. — Agora temos só dois membros restantes para cada time. O que será que veremos? Será uma nova combinação? Ou veremos uma nova luta de dois combatentes que já se enfrentaram?

O Telão Informativo iniciou sua roleta aleatória, fazendo muitas pessoas se acalmarem por pura curiosidade. Já havia gente em cima do ringue passando as vassouras e panos para limpeza.

Pablo estava se adiantando. Ele sabia que o público perdeu a calma e tudo que poderia fazer era trazer a nova luta imediatamente. Talvez, e só talvez, eles se focassem na possível nova vitória de um dos times. Ainda com o coração palpitando, ele olhou para o lado e tentou comentar qualquer coisa com Bart. O Soldado não respondeu. Ele ainda estava de pé, focado em um ponto específico lá embaixo. Olhava para Mana sendo tratada fora das tendas. Sua preocupação era gigantesca e ele nem estava mais querendo esconder isso de ninguém.

— Senhor Bart, está tudo bem? — perguntou o Apresentador, em tom calmo. Conversar ali talvez o livrasse da pressão que sentia.

— Ahm? Ah! Sim. — respondeu Bart, totalmente perdido em pensamentos.

— O senhor vem olhando para a combatente Mana por um certo tempo. Tem alguma coisa errada com ela? Vocês são conhecidos ou parentes?

— Ah, conhecidos. Isso. — Bart se sentou em sua poltrona novamente, colocando a cabeça para cima e tentando se acalmar. Ele ainda tinha um trabalho dado pelo seu Comandante e não poderia ignorar as ordens vindas da Planetarium. Havia muita coisa em jogo ali. Coisa grande. — Ela é uma velha conhecida minha, mas não nos falamos há algum tempo. Eu pensava em vê-la assim que o Torneio acabasse. Fiquei bastante preocupado com a situação dela. Suas batalhas foram muito intensas e perigosas.

— Ah, isso é verdade. Essa final foi bem explosiva mesmo. Não o culpo por se preocupar com ela.

Era uma coisa boa Mana não estar ouvindo essa conversa. Ela ficaria com tanta raiva que provavelmente se levantaria de sua maca, subiria todos os degraus das arquibancadas, arrancaria a porta da sala especial onde o Apresentador ficava e encheria Bart de porrada.

Mas não. Ela estava preocupada com a roleta. Apenas dois rostos apareciam e desapareciam. Seria San ou seria Kula. Isso não era bom. Nenhum dos dois estava sequer consciente. Mesmo que estivessem, eles estavam em situações PIORES do que Mulkior quando pisou no ringue pela segunda vez.

San estava sem o olho esquerdo, com ossos quebrados e hematomas bem feios que romperam o ligamento de seus membros. Kula estava sem energia mágica no corpo e recebia tratamento intensivo para que sua energia vital não fosse transferida pelos seus poros arcanos na tentativa de lhe manter com energia mágica. Isso já aconteceu muitas vezes. Matou muitos magos, para ser mais exato.

O fato é que os dois não acordariam nem naquele dia nem no próximo. Então acabava ali? Mumu e ela tinham quase se matado para continuar sua luta em busca da vitória e era isso que eles tinham ganhado? Então pra que serviu todo esse esforço? Se era pra ter perdido, que fosse antes deles chegarem nesse estado!

Mana tentou se acalmar, mas estava difícil raciocinar direito. A roleta foi ficando mais lenta e ela foi ficando ainda mais tensa. Chegou a forçar os dentes quando a roleta foi parando bem devagar. Ele ou ela. Ele ou ela. Ele ou ela. Parou.

Nossa próxima luta será entre o Combatente San da Immortal Star contra o Combatente Lutador A, ou Chang da Zero Soldier! — anunciou Pablo. Ele percebeu que o público realmente se acalmou um pouco com a nova chamada. — Vejam só, senhoras e senhores! Uma repetição de escolhas! Como será que esses combatentes irão agir tendo que lutar novamente um contra o outro? Espero que tenhamos novas surpresas para valer a pena toda essa espera para termos um Campeão!

O povo se acalmou sim, mas ao contrário do que o Apresentador imaginou, não houve comemoração. Algumas pessoas ainda tentavam se animar exibindo bandeiras, mas a baixa moral era gigantesca. Se não houvesse uma luta empolgante agora, todos iriam pra casa totalmente sem vontade de voltar mais nenhuma vez.

Mas agora existia outra coisa a ser considerada: onde estavam os combatentes? Já haviam se passado dez segundos e nenhum deles havia sequer surgido. As tendas estavam quietas, quase mortas. Os médicos ainda cuidavam de Mana, que já imaginava algo assim.

Combatentes San e Chang! Ao ringue!!!

"Não vai adiantar você gritar aí, Pablo.", pensou Mana. Era como ela havia imaginado. Seu parceiro está em um coma profundo, se recuperando de muitos ferimentos bem perigosos. Era até bom que ele não se levantasse por uns dois dias, assim como os médicos haviam receitado. Mal sabia ela que ele tinha se levantado há vários minutos atrás só para proteger sua maca de sair voando com a explosão solar que a maga de fogo havia criado. Aquela tinha sido uma ação fantasmagórica dele.

Mas não importava. San não poderia ir ao ringue. Muito menos Chang! Mana ainda se lembra de ouvir um dos médicos que correu para tratar o Mestre de Artes Marciais. Ela ouviu bem o "Ele está morto!". Ela não sabia como, mas Chang não conseguiu aguentar os ferimentos e havia falecido no fim da luta. Kuchiki disse que o último soco de San havia lhe atingido no coração e talvez isso tenha criado uma parada cardíaca...

O importante não era isso. O importante era que os dois lutadores não subiriam ao ringue. Não adiantava chamar ou clamar. Seria mais um empate. Como será que o público reagiria? Eles já estavam perdendo o controle por causa da fúria de ver tantos empates. E agora seria mais um.

Mana se entristeceu, mas era por outro motivo. Ela já estava considerando essa luta como empate, então era óbvio que a final seria com os membros que restavam. Kula e Vinnicius. A assassina não viu toda a luta de seu amigo, mas sabia que Vinny estava vivo e provavelmente em melhores condições do que o mago de ferro antes dele ter voltado ao ringue.

Ou seja, agora que já se passou mais tempo, ele estava mais descansado e melhor preparado para um combate. Já Kuchi... Estava desmaiada ao ponto de não poder acordar até que sua situação houvesse se estabilizado. Mana não sabia, mas os médicos diagnosticaram que ela precisaria de vinte horas de um tratamento específico para que sua energia mágica se estabilizasse. Nem um quarto desse tempo havia passado ainda.

Então era o resultado. Empate agora. Na próxima chamada seria esses dois. Vinny teria forças para subir ao ringue. Kuchiki não. Fim do torneio. Vitória para Zero Soldier.

— Usem a minha tenda para tratarem ela.

A voz veio do além. Não, não. Sério. Se existisse um "submundo", então foi de lá que a pessoa tinha acabado de sair. Mana estava com os olhos fechados, se roendo por dentro. A derrota fazia isso com muitas pessoas. Mas então veio aquela voz.

Ela abriu os olhos com medo de ver quem não queria. Ou queria? Seus sentidos junto com sentimentos estavam alterados devido ao cansaço extremo de seu corpo. Mais uns vinte segundos e ela adormeceria naquela maca. Mas a voz...

Mana se virou, tentando olhar para o outro lado da maca. Nesse momento, ela ouviu um médico falando alguma coisa de uma maneira nervosa com alguém, mas não conseguia determinar o que era.

A maca da assassina estava sendo empurrada, levada por outros médicos e enfermeiros. Foi bem na hora que ela se virou de novo que bateu os olhos nele. ELE estava de pé! Não, não, não! Por quê? Estava enfaixado ainda, sangrando na cabeça. E... Com as linhas vermelhas espalhadas pelo corpo.

Mana viu e se desesperou. Nem em sua luta ela tinha ficado tão desesperada quanto aquela hora. Ele não tinha desativado o Anel de Nibelung ainda! Aquilo lhe matava pouco a pouco, mas lá estava o cabeçudo! Usando aquilo como se não fosse nada! Sua voz voltou como um raio. Forças de sabe se lá onde apareceram. Ela precisava falar.

— SAN! VOCÊ FICOU MALUCO!?

— Assim disse a mulher que quase se matou duas vezes em um só dia. — respondeu o garoto, colocando as mãos nos bolsos. — Vá descansar, Mana. Você merece. Obrigado por aguentar até aqui.

— Não! NÃO! San, você está tentando se matar, não é? Você acha que eu não sei que esse seu Tesouro do Olimpo tira sua expectativa de vida? Desative-o nesse instante!

— Já irei fazer isso.

San mexe a mão como se estivesse dando um tchau para a companheira e começa a caminhar em direção ao ringue. Ele ignorou totalmente a médica que gritava para ele, falando que ele deveria estar em coma e que era algum tipo de feitiçaria ele estar andando. Bom, ela estava tecnicamente certa.

San não conseguiria se mexer e nem ficar de pé se não estivesse usando sua Arma Lendária. Ele já tinha resistido demais. Ainda sentia todas as dores de sua luta. "Mas isso em comparação aos dois que tiveram que lutar duas vezes, não era nada.". Era esse pensamento que o fez se levantar novamente. Ele precisava manter a honra do time. Ele foi o único que sofreu uma derrota. Sabia dos resultados. Como? Só ele sabia. E não iria contar pra ninguém.

Mas havia uma coisa a ser feita. Então ele precisava recuperar esse ponto perdido. Mana continuou reclamando lá atrás enquanto era levada para sua tenda. Quando o lutador subiu ao ringue, o Telão marcava trinta segundos, que era o tempo restante que os combatentes tinham para aparecer.

Sua aparição fez algumas pessoas se animarem e seu nome, junto com o nome de seu time começaram a serem ouvidos de suas bocas. Quando chegou ao meio do ringue, onde ele supostamente deveria ficar para dar início do combate, só restavam vinte segundos.

Ele olhou para trás, vendo que tinha criado um rastro de pingos de sangue por onde andou. Seu olho ainda ardia demais. Era a coisa que mais doía. O resto dava para aguentar e o Anel estava fazendo um trabalho excelente em lhe curar. Mais parecia que seu machucado no olho esquerdo tinha algo diferente. A dor era mais profunda.

Quinze segundos. Torcida. Gritaria. Xingamentos. Pablo pedindo para que Chang subisse ao ringue. San riu. "Ele não pode fazer isso.", pensou ele. O último golpe que ele tinha dado no Mestre tinha sido um golpe assassino. Um impacto com uma potência perfeita que sincronizava os batimentos cardíacos e causava o silêncio no peito do oponente. Era conhecido como "Toque da Morte" entre as classes assassinas e ninjas de nível Mestre.

Seus motivos para tirar a vida do Velho Mestre era simplesmente por preocupação. Aquele homem era perigoso demais para continuar vivo. Se isso acontecesse, era óbvio que ele viria atrás de San para se vingar.

Dez segundos. Não havia nenhuma movimentação na parte do time da Zero Soldier. Mais gritos de xingamentos e vaias foram ouvidos. Eles queriam uma luta. Não iriam ter. Mortos não voltam a vida. Era hilário ele ter pensado nisso mesmo depois de quase reviver uma pessoa.

Cinco segundos. San sorriu. Não havia mais volta. Ele levantou a mão direita com o punho fechado. Era um sinal. Houve-se silêncio. Só o Telão contando os números. Três. Ainda nenhum grito. Dois. Preocupação geral. Um. Choro. Zero. As pessoas olhavam para o Telão. Zero. Não estavam vendo alucinações. A contagem realmente tinha acabado. Chang não havia aparecido. San continuava com a mão para o alto.

Fim... Ahm... — pela primeira vez em toda a história de seu trabalho, Pablo se enrolou. Ele não estava esperando aquilo. Ninguém estava. Ninguém o culpou. Ele fechou os olhos rapidamente e tentou organizar as ideias. Ele precisava agir profissionalmente. Era hora de mostrar seu trabalho. — A contagem para a aparição do Combatente do Time Zero Soldier chegou ao fim e ele não subiu ao ringue. Isso indica derrota por não comparecimento. — provavelmente muita gente voltou a respirar só nessa hora. Alguns outros começaram a se corroer em tristeza. — Essa luta fica com a vitória de San. Sendo assim... — ele fez uma pausa dramática, pronto para anunciar a coisa mais importante daquele torneio. — O Torneio foi encerrado, senhoras e senhores! A VITÓRIA É DO TIME IMMORTAL STAR!!!

Houveram os gritos finais da torcida de seu time. Houveram os xingamentos finais dos torcedores do time adversário. Houve uma baderna exagerada de torcedores que não aceitaram tamanha lástima. Houveram fogos de artifício sendo disparados que encheram de alegria os olhos de muitas pessoas, principalmente mulheres e crianças.

Houve muita coisa naquela hora, mas San não viu nem ouviu nenhuma delas. Assim que o Apresentador anunciou o fim do Torneio, San abaixou seu braço, e ainda sorrindo, disse:

— Pronto. Agora eu já posso descansar em paz por toda a eternidade.

E caiu no chão com o rosto batendo pesado no piso branco e recém limpo do ringue mais disputado de todo o mundo.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, a finalização da Primeira Saga de uma forma merecedora.



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