CAPÍTULO I

“Hum... Ela parece ser tão gostosa...” ele pensou enquanto a olhava fixamente e com imensa tentação: aquela linda panqueca estampada na página da revista que logo colocou de lado. “Se Chae Young estivesse aqui poderíamos fazer panquecas...” fechou os olhos “Por que quero tanto comer panqueca? Estranho...” tentou relaxar e quem sabe dormir um pouco, mas foi impedido por alguém que chegou resmungando:

_Ah! Aqueles idiotas não sabem que farinha é ouro?! Quantos ovos tem aqui? – A garota recém chegada à Escola Shinhwa estava coberta de farinha e ovos, não havia um centímetro sequer de seu uniforme que estivesse limpo “O que vou dizer pros meus pais?” pensou – Que desperdício! Vou matar todos eles! – Suspirou. - Quantas panquecas eu não poderia fazer!

_Como você é barulhenta! – Ela olhou assustada para trás. – Você sabe fazer panquecas? – O garoto de cabelos castanho avermelhados perguntou inocentemente.

_O que?

_Pan-que-cas. – ele soletrou. – Sabe?

_Bem... Você só tem que misturar ovos, farinha, leite e açúcar e então fritar... – Ela respondeu ainda sem compreender a pergunta tão descontextualizada.

_Parece ser fácil... – ele a encarou curiosamente, observando aquela figura suja e esfarrapada de olhar triste. Pegou então um lenço no bolso e passou-o de forma moderadamente suave no rosto da garota que recuou um pouco.

Ela parecia não entender aquilo, afinal ele era um deles... Um membro do F4 – grupo formado pelos quatro garotos mais populares da escola, que liderados por um tal Goo Jun Pyo, exerciam um império tirano sobre os demais alunos. – De qualquer forma ele colocou o lenço na mão dela e a olhou por um segundo.

_Obrigada... – Geum Jan Di disse. – Te devolverei o lenço da próxima vez...

_Não preciso dele. – Disse dando as costas para sair. – Aliás, não haverá ‘próxima vez’, já que não virei mais aqui. Não é mais um lugar tão sossegado graças a certas pessoas...

Ji Hoo já a havia visto antes: a garota que, mais cedo, postou-se de cabeça erguida diante do F4 no corredor. Mesmo sem que ela tenha dito nada ele pôde ler em seus olhos todos os desaforos que ela queria dizer. “Por que estou tão impressionado?” ele pensou, mas continuou andando e logo a tirou do pensamento. – Mas não por muito tempo...

***

_Ela deve estar morrendo de raiva agora! – Goo Jun Pyo ria sozinho na frente da televisão. Na tela: Jan Di, que era uma ótima nadadora, gritando de raiva diante da piscina cheia de garrafas latas e sacolas vazias.

_Ela está durando bastante... – Song Woo Bin comentou.

_Já passou de uma semana... – So Yi Jung completou

_Estou sendo legal com ela... – Goo Jun Pyo concluiu com um sorriso de divertimento. – Onde está o Ji Hoo? Ele devia ver isso. – riu. – Estaria orgulhoso, não foi ele quem sempre deu as melhores ideias?

_Deve estar dormindo pra variar... – Yi Jun coçou a cabeça. – Por acaso ele não dorme em casa? Vai entender...

***

Ele podia ver tudo claramente: a estrada, o carro, seus pais e então o mundo girando enquanto o carro se despedaçava. Até então tudo igual às lembranças que tinha e que o atormentavam quase todas as noites. Só que agora ao invés de dizer “Fuja!” seu pai lhe disse:

_Vá atrás dela.

_O que? Atrás de quem?

_Ji Hoo... Ela precisa de você... – A mãe lhe respondeu. – Você ainda não percebeu, mas...

Tudo começou a desfocar num branco intenso e silencioso e ele ouviu apenas um grito de socorro antes de despertar abruptamente como se estivesse caindo dez andares até o equipamento no qual estava dormindo.

Acordou levemente ofegante. Era a primeira vez que seu sonho mudava tão significativamente.

_“Vá atrás dela”? – perguntou a si mesmo. – Mas quem é “ela”?

Lembrou-se então do grito que ouvira. Quem poderia estar gritando se a academia estava fechada? Parecia ser...

“A garota das panquecas?!” – Pensou. – “Vá atrás dela...” – ouviu em sua mente e então levantou-se e caminhou com passos ágeis e largos até onde seus pés o levaram: aos vestiários da piscina.

De fora ouviu os gritos de uma garota: “Me solta!” – dizia. E ao entrar encontrou Jan Di, a garota das panquecas, sendo atacada e agarrada por um grupo de três alunos, do segundo ano talvez...

_Atacando em grupo, é? – Os garotos congelaram ao percebê-lo.

_B-bem... É q-que...

Ji Hoo ignorou o garoto que tentou se explicar e abaixou-se olhando diretamente para Jan Di:

_Você. Aquelas panquecas... Você se esqueceu de algum ingrediente? – a garota olhou para ele sem entender a pergunta numa hora daquelas. – Fiz como me ensinou mas a panqueca não cresceu...

_Fermento, talvez...

_Isso. Pode ser... – Pensou por um segundo. – Mas também vendem mistura pronta para panquecas, não vendem?

_Sim, mas você não poderia...? – Referiu-se aos garotos que ainda a seguravam no chão.

Ji Hoo fez uma cara de “Ok então” e perguntou:

_ O que vocês ainda estão fazendo aqui? Que tal vocês irem embora? Hum?

Eles saíram correndo dali. Ji Hoo pegou uma toalha e colocou-a ao redor dos ombros da garota que estava no chão e virou-se para sair.

_Fermento... Vou tentar de novo... – Resmungou para si mesmo.

_Sumbae... Obrigada por me ajudar...

_Não te ajudei... É que isso me irrita. – saiu.

Mesmo mantendo a mesma serenidade na expressão ele fervia por dentro! Teria matado a todos se tivessem feito algo a ela; primeiro por que era uma garota – e nenhuma merecia ser tratada assim – e segundo... Ele não sabia por que... Havia algo diferente nela...

***

Os três garotos correram para ver Goo Jun Pyo depois do incidente:

_O que? Então Ji Hoo fez isso? – ele perguntou.

_Sim, ele apareceu bem na hora...

_Quem mandou vocês fazerem esse tipo de coisa?

_Mas você disse para provocarmos a Geum Jan Di...

_Mandei assustarem ela! Não para irem tão longe!

_Desculpe... – Pediram em coro.

_Querem que eu tire vocês dessa escola também? Sumam daqui! Já!

Depois que saíram ele parou por um milissegundo e pensou por que estava irritado com aquilo... Ele não queria infernizá-la afinal? “Por que Ji Hoo está tão preocupado assim com ela?”