A OFERENDA escrita por Lervitrín8


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Eu, particularmente, me empolguei com esse capítulo. HAHA. Espero que vocês também se empolguem :P



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Era o nosso quarto dia no Vale, foi como resolvemos chamar o local. Com o passar dos dias conseguimos mapear a maioria das áreas do Vale, que possui uma nascente dentro das vastas árvores, formando uma espécie de pequena piscina natural. A água corre conforme o declínio do ambiente e escoa para quando bate em uma das grandes montanhas de pedra que nos cercam, como se a água pudesse atravessá-la. Do outro lado do Vale há algo mais estranho, fora construída uma ponte de madeira de porte médio, cuja estrutura também bate diretamente na montanha de pedra, como se a montanha fosse introduzida ali depois, interrompendo a trajetória da ponte. Não encontramos nenhum animal nesses dias e estamos sobrevivendo com as frutas que as árvores nos oferecem, que por sorte, são muitas.

― Você já pensou na hipótese de verificarmos a cachoeira? – questiono Ricky. O garoto, apesar de calado e introspectivo, foi uma das únicas pessoas que eu consegui ter confiança desde o início. Ele foi um dos últimos a acordar na jaula e eu fui a primeira pessoa que ele viu, pois estava na jaula ao lado. Desde então, é como se formássemos uma dupla.

― Como assim, Diana? ― ele me olha confuso.

― Eu acho que a água tem que sair por algum lugar, Ricky. Como é possível ela parar na pedra e ao mesmo tempo a água continuar correndo?

― Tem tanta coisa estranha aqui que eu não duvido que ela atravesse a pedra sem que a gente perceba – ele responde.

― Eu penso que existe uma saída, mesmo que mínima, um pequeno buraco que seja, no fundo da cachoeira – dou de ombros quando sinto seu olhar confuso.

― Não é uma má ideia – ele sorri.

― Não? – não pensei que ele fosse se convencer tão rápido.

― Quer ir olhar? – ele sugere.

― Vamos.

Eu e Ricky deixamos o centro do Vale sem que ninguém perceba. Caminhamos rente à cachoeira para chegarmos com segurança até o seu fim.

― Eu estou preocupado, Diana – ele confessa enquanto caminhamos.

― Com o que especificamente? – questiono. – Aqui tudo me preocupa.

― Você acha que vamos sobrevier muito tempo só com frutas? – ele demonstra bastante preocupação.

― Não faço ideia. Pelo menos temos algo para comer, não?

― Sim. Mas acho que preciso de algo mais.

― Entendo. Bom, chegamos. Acho que podemos ir um por vez, para garantir que se um demorar o outro pode ajudar.

― As damas primeiro – Ricky diz, sorrindo.

― Sem problemas!

Retiro a calça e a camiseta que estou usando e entrego ao Ricky. Por baixo estou com um top e um short de lycra, são as únicas roupas que tenho. Entro na cachoeira e sinto a água refrescar meu corpo, o dia está bastante quente. Tomo fôlego e mergulho de olhos abertos, sempre com uma das mãos na parede de rocha. Desço o máximo que consigo, embora em uma das partes parece que a profundidade não possui fim, como se fosse um buraco gigantesco. De onde estou não consigo ver nenhum tipo de buraco que sugue a água para o outro lado. Sinto que preciso voltar à superfície e começo a subir, então noto que não fui muito longe. Respiro fundo ao tirar minha cabeça da água.

― E aí? – ele questiona.

― Não consegui ir muito fundo – digo entre respirações.

― Eu notei.

― Tem uma parte da cachoeira que parece ter um buraco, não dá pra ver quão profundo é – digo, agora recuperada.

― Posso tentar?

― Por favor.

Ele ainda segurava minhas roupas, coloca-as sobre uma pedra, junto com as suas que acaba de tirar, ficando somente com a sunga que veste por baixo.

― A água tá gelada? – ele pergunta.

― Está ótima!

Continuo à margem da cachoeira, sentada em uma das pedras com os pés na água. Ricky mergulha e consigo vê-lo ir diretamente ao buraco e cada vez descendo mais. Na minha mente já se passaram longos minutos e eu não consigo mais enxergá-lo. Decido esperar mais um pouco antes de entrar definitivamente na cachoeira. Quando estou disposta a mergulhar vejo que ele está voltando. Respiro aliviada.

― Você me assustou – confesso, após ele respirar pela primeira vez.

― Precisava ir o mais longe possível – ele diz lentamente.

― E achou o que?

― Isso! – ele abre sua mão direita e revela um tipo de bolinha de gude brilhante.

― Onde encontrou?

― Estava em um pequeno buraco na parede – ele responde.

― Então há um buraco? – fico animada.

― Sim, mas ele tem fim. Dá pra ver que a água não escorre por lá.

― Ricky! Você ouviu? – questiono. – Tem alguém gritando, vamos!

Pego nossas roupas na pedra e saio corrente em direção ao centro do Vale, com Ricky logo atrás de mim. Corro o mais rápido possível, ao sair das árvores vejo que uma das garras surge, trazendo um tipo de baú gigantesco. As pessoas nos olham assustadas e desconfiadas, já que não sabiam onde nós estávamos. A garra deixa o baú e some novamente. O baú tem quase a minha altura e praticamente dois metros de largura.

― O que será que tem aí dentro? – Ouço Igor questionar Brittanny.

― O problema não é o que tem aí dentro, mas sim, como abrir – Winter responde.

― Olha aqui! – diz Magrit. – Tem tipo um furinho.

Me aproximo e vejo que existe uma superfície redonda, que provavelmente é a fechadura do baú.

― Ricky, cadê o que você achou na cachoeira? – questiono e percebo todos nos olhando.

― Aqui! – ele me entrega a bolinha brilhante.

Pego a bolinha de suas mãos e me aproximo novamente do baú e sem pestanejar coloco a bolinha dentro da superfície e o baú começa a ranger. Todos nos afastamos e logo em seguida, as paredes do baú começam a desaparecer misteriosamente, revelando seu conteúdo: muita comida, vestimentas, alguns acessórios e uma garota.

A garota está de regatas e é possível ver algo escrito em seu braço, não como uma tatuagem, mas como se alguém tivesse escrito aquilo pouco antes de colocá-la dentro do baú. O recado diz: “A ÚLTIMA NÃO SERÁ A PRIMEIRA”.

Logan e Hazel se responsabilizam por cuidar da garota enquanto ela está desacordada, assim como lhe mostrar sua atual realidade quando ela acordar. Sento ao lado de Ricky em uma das pequenas pedras do centro do Vale, assustados com o acontecimento.

― Ricky, isso foi muito estranho – digo.

― O que, especificamente? – ele me olha confuso.

― Tudo. Primeiro você encontrar a bolinha que parece ter desencadeado a vinda do baú. Se você não tivesse encontrado, o baú viria do mesmo modo?

― Do que adiantaria? – ele questiona. – O baú viria, a garota morreria sufocada e nós sem os materiais.

― Por isso eu acho que você encontrou a bolinha propositalmente, entende?

― Faz sentido.

― E outra coisa, - os pensamentos estão a mil em minha cabeça. – O que aquela frase significa?

― Certamente foi um aviso, Diana. E alguma coisa vai acontecer com algum de nós.

― Alguns, eu arrisco dizer.

Anoitece rapidamente e a garota ainda está desacordada. Ray e Logan encontraram alguns sacos de dormir e redes entre os materiais que recebemos, sendo cinco redes e cinco sacos de dormir.

― Faremos revezamento ou duas pessoas dormirão juntas? – questiona Logan, após reunir todos em um pequeno círculo.

― Eu voto por revezar – diz Eva. – Não estou a fim de dormir com ninguém me tocando.

― Concordo com Eva – comenta Lílian.

― Eu não me importo de dividir – Magrit confessa, sorrindo delicadamente.

― Já que nem todos pretendem dividir, vamos fazer revezamento – decide Logan, e ninguém contraria. Logan é um rapaz muito sensato e divertido, a meu ver, e como ninguém tomou frente das ações – sabendo que é necessário alguém para orientar o grupo –, ele decidiu assumir essa função. – O rodízio vai acontecer da seguinte maneira: agora somos quinze, cinco por noite dormirão sem ser na rede ou saco de dormir. Faremos por ordem alfabética, os dez primeiros nomes dormem nos materiais e os cinco últimos não. Amanhã os outros cinco últimos nomes ficam de fora e assim sucessivamente. Alguém discorda?

― E a nova? – Eva questiona. – Não sabemos o nome dela.

― Ela fica no meu lugar essa noite – Logan decide. – Então hoje dormem sem material: eu, Ray, Ricky, Rose e Winter. Boa noite a todos.

Deixo que as pessoas decidam onde vão dormir e fico com o que resta: um saco de dormir. Procuro a região mais plana possível e entro no saco, após estendê-lo. Vejo Ricky se aproximando e deitar no chão ao meu lado, sem dizer uma única palavra. Ele apoia a cabeça em seus braços, mas sei que não está confortável.

― Deite sua cabeça em meu colo, Ricky – sugiro.

― Não precisa.

― Anda logo – peço e vejo ele se ajeitar silenciosamente, utilizando-me como travesseiro. Pego no sono logo em seguida.

Quando acordo percebo que o sol recém saiu de trás da montanha de pedra e Ricky já não está mais por perto. Procuro-o e o vejo sentado ao lado da recém-chegada, em uma das pedras próximas ao centro do Vale. Dobro o saco de dormir e o coloco no local destinado aos equipamentos. Vou até o poço de água mais próximo e lavo meu rosto e enxaguo minha boca, aproveitando para dar uma ajeitada no meu cabelo, fazendo um coque e colocando um graveto para sustentá-lo. Me aproximo dos dois, que são os únicos acordados além de mim.

― Bom dia – digo.

― Diana, esta aqui é a Elizabeth – Ricky me apresente à recém-chegada. – Quando ela acordou eu era o único de pé.

― Oi Diana – Elizabeth sorri. – Ricky me falou que vocês também não se lembram de nada, assim como eu.

― Infelizmente não. Nossa esperança era você – confesso. – E a frase em seu braço?

― Ricky foi comigo até o poço para tirarmos a tinta – ela explica.

― Escreveram em você quando estava desacordada?

― Provavelmente – ela dá de ombros.

O dia passa rapidamente. Assim que todos nós estamos acordados, Ricky apresenta Elizabeth aos demais, que ficam desconfiados pela maneira natural que ela levou a situação. Nos dividimos em grupos para organizar os materiais que recebemos. Eu, Ricky e Elizabeth ficamos responsáveis por organizar os enlatados e separá-los por data de validade. Logan, Ray, Winter, Alynn e Eva se juntam para instalar as lâmpadas que recebemos, que acendem automaticamente ao escurecer, tendo como fonte energia solar (pelo menos é o que indica a caixa). Igor, Brittanny, Rose e Magrit procuram por melhores lugares para a instalação das redes e dos sacos de dormir. Lílian, Hazel e Charles fazem a contagem e separação das roupas por tamanho, assim como os materiais de higiene pessoal, para depois distribuirmos ao grande grupo.

Foi bom ter algo para fazer e produzir. Tive mais contato com Elizabeth e acabei gostando bastante da garota, que parece ser bastante destemida, como eu. Me identifiquei. Ao entardecer todos os trabalhos estão prontos, e cada um de nós conseguiu pegar mais duas mudas de roupa. As lâmpadas funcionaram perfeitamente, deixando tudo um pouco mais visível. Estou conversando com Ricky e Elizabeth quando um imenso círculo luminoso aparece no centro do Vale, como se um foco de luz vindo do céu estivesse iluminando o local. Todos se aproximam cobrindo toda a extensão do círculo. Olho para cima na tentativa de identificar o que está acontecendo.

― Outra garra – exclamo.

Vejo a garra se aproximando cada vez mais, porém, dessa vez ela não está traz algo, mas faz o movimento de abrir e fechar como se estivesse tentando pegar algo. E talvez esteja.

― Corram! – ouço Charles gritar, assim que a garra se aproxima do solo.

Ricky segura minha mão e juntos corremos em direção à floresta, tentando escapar da garra. Todos gritam, correndo em direções diferentes, se espalhando por todo o Vale.

― Onde está Elizabeth? – pergunto, enquanto corremos o mais rápido que consigo.

― Não se preocupe com ela, Diana! – Ricky menciona, me puxando enquanto corre.

― Eu pensei que você gostasse dela, Ricky! – acuso.

― Lembre-se: ela não será a primeira – ele argumenta.

Continuamos a correr, com Ricky um pouco a frente me puxando. Minhas pernas se esforçam como nunca. Antes de entrar na floresta lanço meu olhar para o imenso campo atrás de mim e vejo que a garra não se mexe mais, está totalmente estática. Um grito de desespero sai de dentro dela, mas não consigo identificar de quem é a voz. No mesmo momento a garra começa a flutuar em direção ao céu. Solto a mão de Ricky e corro em direção à garra e noto que outros fazem o mesmo, mas ninguém tem êxito.


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Notas finais do capítulo

1 bjok, 1 paçok e até a próxima!



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