Doutor Estranho: O Diário de Agamotto escrita por Larenu


Capítulo 11
A Lagarta


Notas iniciais do capítulo

Rumo ao fim...



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A Lagarta analisou todos da cabeça aos pés com seus olhos inchados. Ela tinha um semblante triste, como se tivesse sofrido muito ou tivesse feito uso de alguma substância que causasse lerdeza.

— O Mago Supremo da Terra — disse o Barão Mordo, respondendo a pergunta da Lagarta por Stephen. Ele se aproximou de Strange.

— E você, quem é? — perguntou Emma Frost.

— A pergunta, minha cara, é quem são vocês. Quem sou eu não importa.

O Motoqueiro Fantasma e os demais “mocinhos” caminharam para perto de Stephen, visando lutar se necessário fosse. Mordo logo se afastou, não querendo brigar tão cedo.

— Senhorita Lagarta, insisto em perguntar: quem é você? — perguntou o falso Wong.

— Apenas o mais digno saberá.

Stephen se voltou para sua equipe.

— Este lugar é enorme. Deve haver uma pista, nem que seja uma simples frase como nas demais câmaras. Melhor procurarmos algo.

— Ótima iniciativa, senhor... Estranho, se bem me lembro.

Com essas palavras, a Lagarta desapareceu.

— Procuremos — disse Barão Mordo.

— Levarei o prisioneiro comigo. Talvez ele possa usar sua “honra” de herói para nos ajudar com algo.

Emma Frost se aproximou do Druida e disse algumas coisas ao ouvido dele. Em seguida, começou a procurar por entre os cogumelos e matos gigantes. Então, todos se afastaram e se espalharam.

A sala era vasta como uma mata, mas composta por grama, cogumelos e flores gigantes. O piso abaixo deles era de terra, e o teto era uma projeção mágica de um céu do dia. Havia nuvens, a cor azul e o sol, que iluminava apesar de falso, tudo que há no céu diurno comum. O sol, porém, era fixo, e não havia vento para mover as nuvens.

Como Strange previra, havia, sim, várias provas espalhadas pelo lugar. Contudo, cada era visível apenas para um, até que a Lagarta permitisse aos demais que a vissem. Linda foi a primeira a encontrar sua prova.

Estava junto de Stephen, pois este quisera a companhia dela para dizer algo. Linda estranhara, é claro, mas gostava de Strange e admirava-o, portanto aceitou o convite. Para a surpresa dela, porém, já haviam andado bastante, mas nada dele falar. Ela resolveu, portanto, cutuca-lo.

— É, Stephen... Há algo que queira me dizer?

Silêncio.

— Stephen?

Strange continuou olhando entre as folhas de grama, procurando algo.

— Stephen Strange, não me ignore.

Ele a fitou, nervoso.

— Na verdade, há, sim.

— O que é?

— Queria esclarecer algumas coisas de nossas vidas. Você sabe. Antes do acidente de carro.

Linda quase se esquecera do motivo pelo qual ficaram tanto tempo sem se falar. Stephen Strange fora cirurgião brilhante, mas sempre fora muito nervoso. Num dia, voltando para casa estressado, ele sofreu um acidente de carro.

O acidente foi grave, e ele perdeu o movimento das mãos. Isso afastou Stephen de sua carreira e de seus colegas de trabalho. Entre eles, Linda. Quando ele finalmente voltou a fazer cirurgias, com o movimento das mãos ainda falho, ele acabou por se envolver com criminosos, realizando cirurgias para eles.

A história concreta acabava por aí. Após isso, era tudo boato. Todos acreditavam que ele havia sido morto por uma gangue rival daquela que ajudava, mas Linda ainda tinha esperanças de que voltaria a vê-lo. E lá estava ela, diante dele. Quase se esquecera de tudo isso.

— Stephen...

— Linda, me arrependo muito de ter me envolvido com quem me envolvi. Eu deveria ter pedido sua ajuda para me reabilitar como cirurgião no Metro-Geral, mas o destino falou mais alto. Graças aos meus serviços, Jade veio atrás de mim para que eu fizesse uma cirurgia em um senhor de idade.

Ela pensou rápido.

— O Ancião.

— Sim. Quando consegui salva-lo da morte, o Ancião me acetou como discípulo dele. Porém, tive que renegar minha vida antiga.

— E isso me incluía.

Strange não respondeu. Para surpresa de Linda, Stephen se aproximou subitamente dela. E beijou-a nos lábios, falando o que não conseguia expressar em palavras.

— Oh, Stephen...

O clima logo se foi. Nervoso, o Doutor Estranho virou de costas e começou a caminhar.

— Volte aqui, Stephen! O que você está fazendo?

Mas ele corria.

— Stephen!

Ele virou quando se deparou com uma enorme parede de terra. Quando ela chegou ao fim, olhou para os dois lados. Viu a marca de pegadas no chão de terra, mas algo no caminho oposto chamou a atenção dela.

— Stephen, venha ver! Achei algo!

Doutor Estranho surgiu ao lado dela, aparecendo subitamente.

— O que?

— Na parede. Não vê?

— Vejo apenas uma parede de terra. Se isso foi um truque para me atrair, saiba que foi baixo.

— Sério, Stephen, tem mesmo algo aqui.

Irritado, ele suspirou.

— Me diga o que você vê.

— Um espelho.

— Espelho? E nele há seu reflexo?

Ela analisou o espelho preso à parede.

— Não.

— Se não vê seu reflexo, não é um espelho.

— É sim!

Outro suspiro.

— O que você vê então?

— Eu vejo... uma mulher. Segurando...

A Enfermeira Noturna pausou.

— Segurando...?

— Um tabuleiro de xadrez, com todas as peças brancas.

— Xadrez? Linda, você está vendo coisas.

— Espere, ela se moveu!

Um último suspiro.

— O que foi, desta vez?

— Stephen, se abaixe!

Ele assim fez. Nada ocorreu, porém. Mas Linda se pôs a procurar algo no chão. Ela pegou uma coisa nas mãos, mas Stephen não via nada.

— Peguei!

— Linda?

Então, ela desapareceu. Stephen começou a suar, nervoso.

— Linda, onde está você?

Nenhuma resposta.

— Linda?!

Uma ardência muito forte tomou conta das costas de Stephen. Ele se virou, dando de cara com o cajado de Mordo, cuja ponta se iluminava enquanto emitia calor.

— Olá, Mago Supremo.

— Karl.

Mordo forçou o cajado.

— Me chame de Barão Mordo. Não somos tão íntimos.

— Já fomos.

Ele riu.

— Não, Strange. Nós nunca fomos próximos. Ou já se esqueceu de meus motivos para ser aprendiz do Ancião?

— Mata-lo, como fizeram?

— Oh, não. Ele está vivo. Apenas o demos para alguém extremamente poderoso em troca de algo.

— O Ancião...

— Surpreso?

Em seguida, Mordo sumiu e voltou a procurar por algo.



— Um chapéu — disse o Doutor Druida para o falso Wong.

— Como?

— Ali, naquela mesa em meio à grama. Você não vê?

O falso Wong olhou em volta.

— Não vejo nada. Apenas flores e cogumelos.

— Deixe-me pega-lo para você.

— Guie-me com suas palavras.

Druid olhou para ele, percebendo que não conseguiria a confiança necessária.

— Siga em frente na direção daquelas gramas.

Ele começou a andar. Passou pela grama alta e parou.

— Continue, por favor.

Enquanto o falso Wong caminhava, Doutor Druida empenhava-se em uma tentativa de soltar suas amarras encantadas.

— Bem à sua frente está a mesa.

Tateando em busca de algo, o falso Wong se enfezou.

— Está brincando comigo, não está? Não há nada aqui.

— Há, sim. Bem à sua frente.

— Ah, é?

O falso Wong começou a se aproximar do Doutor Druida, que largou das amarras. Ele ergueu Anthony nos braços e jogou-o na direção da suposta mesa. Então, para a surpresa dele, Druid escorregou sobre uma superfície plana invisível para ele.

— Impossível!

Anthony caiu no chão do outro lado, parecendo segurar algo com dificuldade.

— Consegue ver agora?

— Ainda não.

Então, Druid desapareceu, e as amarras que o prendiam caíram no chão.

— Filho da... — xingou o falso Wong.

Irritado, começou a chutar tudo e a surtar. Um som rápido atrás de si, em meio ao mato, o fez ficar alerta. Tirou uma adaga de sua roupa e arremessou-a na direção de onde vinha o barulho. Então, escutou um gato miar.

E o corpo de um gato de Chesire de rabo comprido caiu no chão. O falso Wong o pegou, analisando-o com um olhar atento. Foi quando o ambiente ao seu redor sumiu.




Linda Carter apareceu em frente à Lagarta, que fumava seu cachimbo.

— Foste a primeira a encontrar seu artefato. Me dê ele.

Um tanto quanto relutante, ela estendeu o braço, revelando uma peça de xadrez branca: a rainha.

— Quem é você, digna de avançar antes dos demais?

— Sou Linda Carter, a Enfermeira Noturna.

Então, a parede à sua frente desapareceu. Deu alguns passos à frente, atravessando o enorme buraco deixado pela parede que sumira. Não pôde deixar de pensar em Stephen, que, àquela altura, já deveria ter encontrado seu artefato. O fato dele ainda não o ter feito a fez temer por ele, pensando se Stephen estaria, talvez, desesperado para encontra-la.

Engolindo em seco, Linda continuou andando. A parede ressurgiu atrás dela. A Enfermeira Noturna estremeceu, compreendendo que, agora, não havia volta. Então, Linda Carter entrou em uma nova câmara das Catacumbas de Agamotto.

Assim que a parede surgiu, o Doutor Druida apareceu e, logo, o falso Wong.




Em algum canto daquela sala, Motoqueiro Fantasma trocava olhares com Emma Frost. Ela estava com uma aparência diferente, completamente transparente e feita de algo que parecia cristal.

Uma boneca de porcelana — riu o Motoqueiro Fantasma.

— Livro errado, Motoqueiro. Estamos mais para o País das Maravilhas do que para Oz.

Ele deu risada. Seu riso era medonho, e causava arrepios em qualquer um que ouvisse. Seu olhar era igual, e parecia exercer um efeito sobre Emma. Fazia ela quase... se sentir culpada por algo.

Ainda espera encontrar algo por aqui, Emma Frost? Pois não estou nem um pouco a fim de dividir o espaço de procura com você.

A resposta beirou os lábios cristalinos de Emma, mas seus olhos se encontraram com o vazio que preenchia os buracos no crânio do Motoqueiro Fantasma. Um calafrio percorreu o corpo dela, e Emma tentou penetrar na mente dele.

Minha mente não pode ser penetra por você. Mantenha-se afastada de mim, ou as coisas ficarão ruins para você.

— Será?

Duvida de mim, senhorita Frost?

— Não duvido de você. Confio em meus poderes.

Ah, você...

Então, Emma não estava mais lá. Pelo menos não era mais visível.

Eu sei que você continua aqui. Invisibilidade apenas inutiliza a visão, não os demais sentidos.

— Por isso se chama invisibilidade.

A Rainha Branca estabeleceu um campo de força telepático em volta de si, por segurança. Quando ia usar mais um de seus truques mentais, entretanto, ela notou algo. Presa a uma rosa branca com manchas vermelhas que lembravam tinta, estava uma carta de baralho.

Emma Frost pulou e pegou a carta. Era a rainha do naipe de copas.

Volte aqui, Emma.

Foi quando ela desapareceu, desta vez de verdade. O Motoqueiro Fantasma olhou em volta.

Parece que agora se foi de vez.

Ele começou a andar. Foi quando viu. Em meio à grama, havia um buraco, e, nesse buraco, um relógio de bolso. Pegou-o e desapareceu como Emma Frost.




Stephen Strange estava inquieto. Deveria procurar por algo, mas estava preocupado com Linda. Onde será que estaria ela? Após as alucinações que ela tivera, um misto de culpa e preocupação tomara conta de Stange.

Seus pensamentos foram dissipados por passos. No fundo, Stephen sabia quem era. Caminhou na direção dos sons, flutuando um pouco acima do chão para não fazer barulho.

— Mordo, é você?

Silêncio.

— Mordo, eu sei que você está aí.

Quando o Doutor Estranho encontrou uma área sem nada, Mordo surgiu do meio da grama gigante com seu cajado. Ele começou a golpear Stephen, que se defendia com magia.

— É chegada a hora de acabar com isso, Strange. Você estragou minha vida! Eu teria sido o Mago Supremo em seu lugar, se você não tivesse encontrado o Ancião.

Esquivando de uma bola de fogo, Strange pulou para trás.

— Se eu fosse o Mago Supremo, as coisas seriam diferentes.

— Se você fosse o Mago Supremo, o mundo teria ardido nas chamas de Dormammu!

— Não diga o nome dele.

O Barão Mordo se ergueu.

— Você não é digno de pronunciar o nome dele.

Invocando um enorme poder, Mordo jogou Stephen longe. Ele caiu no chão, gemendo de dor.

— Vou acabar com isso de uma vez por todas.

Mordo avançou e tentou cravar seu cajado em Stephen, que rolou para o lado e jogou Mordo no ar.

— Não! Rosa, agora!

O Rosa surgiu de dentro de uma flor, disparando na direção de Stephen. Ele parou as balas no ar, rolando e se deparando com algo. Quando olhou para o lado, viu uma espada. Empunhou-a e cerrou as balas, esticando o braço e jogando a arma do Rosa longe com magia.

Então, desapareceu. Mordo rugiu, furioso, e caiu ao chão. O lugar em que caiu estava molhado. Ao seu lado, uma cabeça morta de um dragão gigante deixava escorrer de si um líquido roxo. No chão, um pouco dele estava preso em um frasco. Mordo o pegou.

Ao mesmo tempo, o Rosa atingia o chão com tudo. Lá, presa em uma adaga e molhada com sangue, estava uma cabeça. Pegou a adaga, e desapareceu.

Todos surgiram em frente à Lagarta. Druid e o falso Wong já não estavam mais lá. Os artefatos foram confiscados pela Lagarta, e todos prosseguiram. Todos, menos Stephen.

— Quem é você, Lagarta? E por que este lugar lembra o País das Maravilhas de um livro infantil?

— Toda história tem um pingo de verdade. O País as Maravilhas é uma representação literária da — Pausa para fumar. — Dimensão de Agamotto. Agora vá.

— Ainda não. Falta minha última pergunta.

— Você descobrirá quem sou eu, Mago Supremo.

Assim, a Lagarta se desfez em fumaça. Stephen atravessou, se encontrando com todos.

— Hora do acerto de contas, Strange — disse o Barão Mordo.


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