Platônico escrita por João Gabriel


Capítulo 1
Uma escolha




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Sentado, o olhar direcionado ao vazio de seu escritório, no ar o cheiro do café que saia da caneca em sua mesa, o ambiente pouco iluminado fazia do lugar perfeito para reflexões, coisa que fazia diariamente. O professor usava a mão direita para apoiar a cabeça, a mão esquerda segurava o retrato que lhe trazia a sua reflexão mais profunda e sofrida.

“Ele nunca soube expressar um sentimento de raiva ou de amor, o que é uma desvantagem no mundo das aparências, no mundo que conta aquele que aparenta o melhor sentimento. Digamos que, no teatro da vida, ele será o personagem seco, vazio e incompleto, pois lhe faltará o convencimento. 

No mundo cinza de um cara que sempre acreditou em coisas que se podem controlar, houve uma vez, um lampejo de cor, de um sentimento puro que lhe deu um motivo para sorrir. Nunca passou pela mente complexa dele o fato de se gostar de alguém a ponto de não se importar com defeitos - claro que o amor se resume em amar, não ligando para defeitos e situações adversas -, mas ele tem uma característica aguçada de análise. Nenhum de seus relacionamentos foi essencialmente amoroso. Nunca acreditou que o amor pudesse existir, afinal, pra ele, o amor era a soma de interesses de duas partes combinantes. Uma mente racional, que estava se tornando humana pela primeira vez. 

O sentimento, até então inédito dentro daquela cabeça, começou com uma espécie de carinho que virou afeto e depois um amor puro, que lhe fez fantasiar um mundo colorido. Na mente que antes achava aquilo uma besteira, esse sentimento ganhou força. É muito compreensível, afinal, a pessoa em questão era realmente apaixonante. Uma garota meiga, de um carisma encantador, que sem perceber despertou um enorme amor nele, que antes sempre a via como uma amiga de turma, afinal, eles eram da mesma sala e de profissão, mas quem pode controlar o amor? Nem mesmo a mente analítica e fria dele conseguiu. 

Uma coisa todos concordavam, ele sempre disse: 

— O sorriso dela é fantástico, e ela tem um olhar tão acalentador... 

Afinal, pode parecer ridículo, mas quem ama acaba ficando. E com isso ele fantasiou o amor que poderia ter com ela. Não fantasias de vida a dois, mas sim coisas simples, como momentos ao lado dela, como horas em que ele poderia chegar bem perto e dizer-lhe palavras românticas. Assim, a relação que seria construída seria de duas pessoas completamente diferentes, em que prevaleceria o amor dele pela garota que ele via como uma imagem santificada, no pedestal, que o som de suas palavras não tivessem desafino - uma flauta, ou uma harpa teriam inveja.

Consequência. Tudo no jogo da realidade tem uma. Ele sabia que quem ama muito sofre o dobro. Mas como ele poderia amar tanto uma pessoa sem ter declarado tal sentimento? Nessas horas vemos coisas que muitas vezes estão implícitas, pois ele precisava de ajuda, alguma coisa para que tivesse um momento em que a declaração viria, e poderia então, dizer com sinceridade o que sentia por ela. Momentos? Teve vários, sempre conversou com ela, lhe provocava risos. Falava coisas bonitas e buscava ser o menos seco e frio possível. - situação difícil pra ele. Amigos nessas horas dão ajudas necessárias, e também trazem contigo a realidade da situação. Afinal, quem amava era ele, não os amigos dele e nem ela, ou seja, enquanto fantasiava situações bonitas, e tentava demonstrar um amor sincero e verdadeiro, diferente do amor banal de hoje em dia.

Os amigos dele sempre deram força, hoje em dia é difícil receber grandes ajudas – de amigos bons ele sempre foi cercado. 

Mas ele foi vítima de sua própria fantasia. Ele um dia teve o lampejo cinza, analítico e frio que sempre tivera, e com isso chegou a uma conclusão que nenhum amigo conseguiu entender. Ele gostava dela, arquitetou diversos modos de como chegar e se expressar de uma maneira convincente. Ele não se declarou, muito menos chegou a dizer um simples “eu gosto de você”. E de uma maneira súbita, simplesmente fez a sua escolha. Entre as opções estava a de se declarar. Mas, sua mente complexa - o vilão dessa desilusão -, decidiu esconder o amor, critério: O fato de que eles não iriam para frente. Tudo caiu por terra. Ver o mundo desmoronar era rotineiro, ele sempre dizia: 

— Quando se tem a oportunidade de dizer eu te amo, diga! 

E quando ele mesmo teve, não disse.  O professor colocou o retrato de volta em seu lugar original, tomou um gole do seu café já frio e se levantou.


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