The Surviving escrita por Vingadora


Capítulo 2
Welcome to Beacon Hills


Notas iniciais do capítulo

Eu bem disse que os capítulos seriam extensos, não é mesmo? Então, preciso dizer que me senti na obrigação de dividi-los para não tornar a leitura estagnada e cansativa.
Vale lembrar que os capítulos serão postados toda terça, sexta e domingo, podendo variar a quantidade por dia (posso postar dois ou três, dependendo da minha disponibilidade para escrever {risos}).
Espero que curtam o capítulo!
Até lá em baixo õ/



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─ Eu sei que aqui não é tão fresco como lá, mas... acho que você vai se adaptar bem.

Assenti brevemente com a cabeça.

─ Seu pai me contou, sabe? Que você fazia muitas viagens para o sul do Brasil. Disse que você gostava do frio de lá.

Tornei a assentir. Não olhava para ele. Apenas para a janela que parecia mais uma TV para mim. Nada daquilo parecia real. Como podia ser? Não era para ser real. Esse tipo de coisa não pode acontecer com ninguém. Não pode... Ok. Controle. Sem lágrimas. Não posso chorar e por tudo a perder novamente. Eu preciso me controlar. Para de chorar, garota mimada. Apenas encare os fatos. Voltei minha atenção para a densa floresta negra a minha frente. Nunca consegui imaginar a Califórnia daquele jeito. Sempre quando meu pai contava suas histórias de sua cidade natal, imaginava uma Beacon Hills ensolarada, animada e completamente rodeada de praias. Não que meu pai tenha me dito que aqui havia alguma praia e tudo mais... mas sei lá. Quando ouço falar de Califórnia, logo lembro das praias, sol, felicidade... Ah, não. Não vou chorar. Não de novo.

─ Savannah? - ele me chamou. Seu olhar pareceu, por um segundo, assustado, porém foi substituído por um olhar afetuoso e cheio de... o que era aquilo? Esperança.

Encarei-o de volta, tentando demonstrar que eu estava bem. Tentei lançar uma mensagem telepática a ele que dizia: Ei! Fique tranquilo, cara. Não é só porque toda a minha família foi atacada e assassinada brutalmente e, por eu ser a única Froideur viva, que isso quer dizer: fim do mundo. Eu tô ótima. Maravilhosamente bem. Sério! Consegui até mesmo forçar um sorrisinho. Acho que a mensagem chegou até ele - ou foi meu sorriso -, já que ele relaxou um pouco sua face e sorriu de volta, mais um de seus sorrisos gentis.

Ele é um homem bom. Não merece o que está fazendo. Pensei comigo mesma, voltando aos meus pensamentos. Certamente eles foram interrompidos quando passamos pela placa iluminada por um simples ponto de luz indicando "Bem vindo a Beacon Hills".

Obrigada. Bufei mentalmente.

─ Seu pai deve ter contado muitas histórias sobre esses lugares. ─ começou ele novamente a tentar uma conversa. Ele não ia desistir?

Quem era ele? Bom. Ele era meu tio. Ou quase isso. Meu pai nasceu no Brasil, mas cresceu e viveu um bom tempo aqui. Em Beacon Hills, na Califórina. Certamente ele fez bons amigos na cidade. Esse cara era um deles. Eu sempre ouvi histórias sobre Froideur e Stilinski - Os gatões da cidade. A família do meu pai o obrigou a voltar ao Brasil e regressar os antigos afazeres da família e foi lá que ele encontrou minha mãe e casou-se com ela. A amizade entre ele e o Stilinski permaneceu, a tal ponto que eu via ele e seu filho, Stiles, como parte da família.

─ É. Ouvi boas histórias. ─ pela primeira vez durante toda a viagem, desde o ponto de ônibus, eu havia falado. Acho que aquilo o surpreendeu, pois ele olhou-me rapidamente e lá estava seu olhar de espanto. Será que minha voz era tão estranha assim?

─ A cidade em si é meio parada, não nego. Mas acho que você vai gostar da tranquilidade daqui. ─ prosseguiu, agora acelerando um pouco mais sua viatura. Ele era o xerife da cidade e havia interrompido seu trabalho para me pegar no ponto. O que era um pouco desnecessário/atencioso.

─ Tranquilidade é tudo o que preciso agora. ─ deixei as palavras saírem da boca como se fosse lágrimas que escapavam de meus olhos.

Meu coração destroçado estava lá existindo e me ajudando a viver nesta mesmice cotidiana. Acho que você está se perguntando: O que raios aconteceu com essa garota para ela ficar tão dramática assim?

Bom... Lá vai a resposta: Minha família inteira morreu.

Você deve perguntar agora: Isso acontece, fofa. Apenas siga em frente. Deve haver algum parente que possa conversar com você sobre isso e dividir o luto e blá, blá, blá.

É aí que está o problema: Toda a minha família morreu.

Isso mesmo. Todos os Froideurs estão mortos. E não apenas eles, os Gollemez ─ minha família materna ─ também. Como isso aconteceu? Não sei direito. Só sei que no dia 16 eu estava dirigindo a caminho de casa e quando cheguei na madrugada de 17 à minha cidade, recebi a noticia de que todos haviam sido mortos e que eu era a única sobrevivente.

A polícia está investigando o caso e tentando desconsiderar a hipótese de um homicídio enquanto meu tio Stilinski achou melhor que eu fosse morar com ele por um tempo... Até decidirem que eu não tenho culpa em nada (veja lá que ideia) e que eu não corro perigo.

A verdade era que ir para os Estados Unidos não era lá uma má ideia. Poderia desenferrujar meu inglês que fora adormecido há anos, já que minha família passou a se recusar sair do país desde a temporada de acidentes de aviões e náufragos de navios que passou a rondar o Brasil.

E, mesmo com todo o temor de minha família, a morte bateu a nossa porta. Quer dizer... destruiu a nossa porta.

Poucas pessoas no Brasil conheciam a história da família Froideur, caçadores de bestas. O que eles costumavam contar em fogueiras em noite de lua cheia, eu passei a vida inteira ouvindo como uma espécie de legado familiar. Mas agora nada disso importava, pois a família se foi e a única pessoa que sobreviveu não completou os estudos.

»❖«

A casa da família Stilinski era simples, modesta, um pouco desorganizada, porém o cheiro aconchegante de pinheiro e café fresco me desestabilizou e eu quase consegui sentir-me em casa.

O quarto que passaria a ser meu era, talvez, a parte mais organizada da casa. Acho que o xerife e seu filho queriam passar uma boa impressão. Uma cama simples de solteiro estava acomodada no centro do quarto, uma escrivaninha de madeira pura também estava alocada ali, assim como uma cadeira de escritório preta. O closet do quarto era tão pequeno que eu não me arrisquei a colocar minhas duas malas de uma vez no lugar, achando que seria difícil para organizar tudo depois.

Sentei-me na cama por um instante, pousei minhas mãos sob meu colo e fitei o vazio durante um longo tempo. Um eco profundo se instalou em meu coração durante aquele momento. Eu esperava que, no momento em que chegasse a Beacon Hills, a sensação de familiaridade compenetrasse minh'alma e o vazio deixasse-me em paz. Mas não foi o que aconteceu. Ele ainda estava lá, me instigando, me acolhendo em seus braços gélidos e mostrando como eu estava sozinha nesse mundo.

─ Savannah? ─ tio Stilinski entrou carregando a única caixa que eu trouxera com coisas que me pertenciam ─ Hãm... Stiles está no quarto estudando se precisar de alguma coisa... Eu gostaria de ficar para apresentá-los, mas... recebi um chamado e preciso correr. ─ apoiou a caixa sob minha cama, bem ao meu lado e lançou-me mais um de seus sorrisos acolhedores ─ Vai ficar bem?

Levei uns segundos para pensar em uma resposta, então ele automaticamente entrou em ação com seu lado papai ativo.

─ Quer saber? Acho que o DP pode lidar com esse caso. Vou ficar em casa e- ─ cortei-o antes que ele dissesse qualquer coisa.

─ Não! Tudo bem, sério. Ficarei bem. Acho que eu vou desfazer as malas e dormir um pouco. Amanhã será um longo dia. ─ forcei um sorriso e esperei que ele aceitasse de bom grado minha reação.

─ Ok, então... Qualquer coisa Stiles está no quarto ao lado. ─ piscou para mim e se afastou em passos largos ─ E ah... Tem cereal no armário a cima da pia e leite na geladeira caso você... ─ ele esbarrou no abajur próximo a porta e teve de se interromper no discurso para não deixá-lo cair ─ É... Eu vou indo. ─ fechou a porta atrás dele e deixou-me finalmente sozinha.

Quando finalmente pude ouvir o som do motor do carro sendo ligado, tive a certeza de que teria um pouco de paz.

Peguei a caixa e coloquei-a sobre a escrivaninha. Não sabia ao certo o que fazer, então decidi que aquele era um bom momento para deixar tudo de lado, trocar de roupas e dormir, afinal eu havia falado sério sobre o dia seguinte ser um longo dia.

Quando Stilinski me ofertou a viagem, eu pensei nas coisas que deixaria para trás. E uma delas era meu emprego em uma das poucas escolas federais do Brasil. Tudo bem que eu era apenas a secretária do diretor, mas ainda sim era um emprego de renome e alto cargo no mundo educacional do país. E quando eu pedi transferência para a única escola de ensino médio em Beacon Hills, ouvi muitos murmúrios de deboche, afinal eu estava trocando a IFSP ─ Instituto Federal de São Paulo ─ por Beacon Hills High School.

Estava prestes a tirar minha camisa quando alguém bate na porta e abre sem receber permissão.

─ E aí. ─ um projeto de adolescente na puberdade entra em meu quarto acenando timidamente e usando roupas de corrida ─ Eu sou o Stiles e você deve ser a... ─ encarou-me de cima a baixo e pareceu perder um pouco da voz.

─ Savannah. ─ ergui uma das sobrancelhas e encarei-o achando graça de sua reação.

─ Eu ia dizer musa de inspiração aos musicistas internacionais, mas isso também deve servir. ─ endireitou a postura e voltou sua visão com dificuldade para meus olhos ─ Então... Eu... poderia mentir pra você e dizer que estou saindo para ver minha namorada, mas acho que meu pai já deve ter conversado com você sobre o tipo de garoto que eu sou.

E não era mentira. O pai de Stiles passou boa parte do tempo comentando sobre como o filho era esforçado, mas se metia em muitas encrencas por conta do desejo súbito de se tornar detetive.

─ É. Digamos que sim. ─ tentei forçar um tom amigável, mas o máximo que consegui foi soar irônica.

─ Por isso ─ ele deu um passo rápido em minha direção e diminuiu o tom de voz ─ que eu vim aqui te avisar que vou dar uma passada na casa do meu amigo Scott e vamos para a reserva procurar por pistas do novo caso que meu pai foi encarregado mais cedo.

─ Que seria? ─ semicerrei os olhos, já imaginando que ele queria me tornar cúmplice de sua fuga.

Ele paralisou por um instante, parecendo me avaliar e testar se eu era confiável, ou simplesmente buscar palavras para a história que viria a seguir. Seus olhos tomaram um brilho intenso enquanto soltava as palavras:

─ O que aconteceu foi: encontraram um corpo machucado na floresta e...

─ E isso é motivo para você ir até lá? ─ dessa vez deixei toda minha ironia escapar.

─ Não é isso Sav... Posso te chamar de Sav? Ok... Não foi um corpo completo que encontraram. Foi a metade do corpo. A outra metade ainda está por aí. ─ sua voz soou como se aquela história fosse a mais incrível e mágica de todos os tempos e eu quase ri da emoção que as palavras transportavam.

Levei alguns segundos para assimilar as coisas até que meus neurônios cansados começaram a trabalhar e meu corpo inteiro paralisou-se com a ideia formada em minha cabeça.

─ Em que parte da reserva? ─ resolvi perguntar enquanto deixava de lado as minhas roupas sobre a cama e aproximava-me de Stiles em curtos passos.

─ É aí que está! ─ apontou para mim com as duas mãos ─ Ninguém sabe onde está a outra metade... O corpo está despedaçado.

Soltei um longo suspiro e cruzei meus braços.

─ Vou com vocês. ─ quando disse aquilo, Stiles deu um salto em surpresa.

─ Você vai... com a gente? ─ ergueu as sobrancelhas e me encarou pasmo ─ Achei que você fosse... certinha e tudo mais.

Sorri, achando graça de sua reação.

─ Acho que não nos apresentaram devidamente, Stiles. ─ pisquei para ele e abri novamente minha mala ─ Encontro você em cinco minutos. Me dê algum tempo para trocar de roupas e já vou.

Stiles hesitou por um momento, mas logo se pôs para fora do quarto feito um robô, ainda perplexo com minha reação.

O que Stiles não imaginava era que o corpo que ele encontrou possivelmente pertencia a uma raça antiga e mitológica que vagava em nosso meio e eu não fazia ideia de que um deles poderia viver em Beacon Hills: Lobisomens.

Minha família cresceu em torno de lendas e acreditando que tudo narrado no meio de fogueiras era real. Bruxas? Eram reais. Vampiros? Nunca esbarramos com nenhum por conta do sol tropical do Brasil, mas eram reais. Lobisomens? Totalmente reais. Aquela era a raça que mais nos dava problemas. Afinal, Brasil era conhecido por ser portador de lobisomens desde o tempo da colonização.

Sinceramente, eu abandonei o oficio da família para seguir com minha faculdade de administração, então não sabia muito bem como lidar com aquele tipo de ser. Entretanto, até meus 16 anos, estudei bastante sobre lobisomens e sabia formas de matá-los. E, decapitação de tronco era uma delas. Uma das mais conhecidas, para falar a verdade, e a menos utilizada, já que para cumprir a tarefa era necessário uma força inabalável.

Talvez o impulso de ver de perto um corpo de lobisomem ─ ou talvez o fato de já há dias desconfiar que fora uma alcateia que assassinou minha família ─, desfiz minha mala às pressas, de uma forma nada convencional, jogando tudo sob minha cama só apenas para encontrar uma calça de ginástica, uma camisa neutra e confortável e o único casaco que eu trouxera. Tirei minha camisa e calça jeans às pressas, assim como meu tênis de estampa tribal só para vestir a roupa já selecionada.

Encontrei em minha segunda mala minha bota de escalada e usaria aquilo mesmo para caminhar pela reserva de Beacon Hills.

Prendi meu cabelo com uma liga no alto da cabeça e passei em frente ao pequeno espelho disposto atrás da porta para checar se havia alguma coisa fora do lugar.

Tirando tudo, eu estou bem.


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Notas finais do capítulo

Roupa de "caçada" da Savannah: http://www.polyvore.com/savannah/set?id=163689915

Espero que tenham gostado desse ponta-pé inicial e já se localizado na série (risos).

Vejo vocês nos comentários?
Beijos & mordidas.



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