Intuição escrita por TheEpic


Capítulo 14
Quando você tem cheiro de verão.


Notas iniciais do capítulo

Oi! Primeiramente, um feliz ano novo atrasado!

Eu demorei mais do que o normal dessa vez, mas prometo que vou tentar ser mais rápida na próxima.

Muito obrigada por todos os reviews no último capítulo e aos novos acompanhamentos. Vocês me fazem muito feliz. ♥

Lhes desejo uma boa leitura. ♥



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― O tempo está bom, né, Sakura-chan? ― o Naruto de doze anos a perguntou, sentado em um banco que eles gostavam de se sentar para passar o tempo.

― Está sim. Atualmente eu só estou vendo chuva, é deprimente ― a Sakura de doze anos respondeu.

― Deve ser horrível ficar em Ame, né?! Mas não deve ser pior do que ficar em Suna.

― Ah, acredite, é bem pior! Principalmente na minha situação. Você sabe o que o Itachi vem me falando, né?

― Sei, sim. Mas não acho que ele esteja mentindo. Olha pra mim! Ninguém dos nossos amigos sabe que a Raposa está dentro de mim porque a vila não quer que saibam. Você só descobriu depois que o Homem-Zumbi te contou e nem imaginava antes que eu poderia ser um jinchuuriki. Os hokages e o Conselho sabem manter segredo quando eles querem 'ttebayo! ― o loiro expressou sua opinião.

 Sakura se manteve em silêncio após os dizeres do amigo. Ele tinha uma certa razão.

 ― Sem contar que é sua única saída.

Os dois amigos se surpreenderam com a terceira figura que surgiu de repente. O Sasuke de doze anos sentou-se ao lado de Sakura e encarou o nada, como sempre fazia.

― Você já está ferrada mesmo, mas seria melhor acreditar no que parece menos pior. O Madara não vai te deixar sair dessa viva ― ele continuou.

Você? Me dizendo para confiar no Itachi? ― Sakura perguntou, incrédula.

― Isso é pra você ver que deve confiar na gente, Sakura-chan! As coisas não costumam dar errado quando eu e o Sasuke temos certeza de algo. Faz isso pela gente! ― Naruto tentou convencê-la.

― Você também sente falta de nós três juntos assim, igual naquela época, né? ― De repente, Sasuke havia tomado uma forma mais velha. ― Se o meu irmão realmente estiver falando a verdade, pode ser que sejamos assim de novo.

― Você já chegou tão longe por nós três... Fez tanta coisa, mudou tanto pela gente. Sua esperança somos nós, não é? Então acredita só mais um pouquinho na força do Time Sete e acredite em Itachi. ― O Naruto de dezesseis anos pegou em sua mão com um sorriso contagiante. ― Não me deixe também, Sakura-chan. Volta pra Konoha. Por nós três.

 

~#~

 

Sakura acordou suando frio. É, aquele sonho havia sido bem intenso.

Ela havia pensado bastante em toda a situação com Itachi desde o dia em que ele contou de seu passado e, com aquele sonho e uma meia hora de raciocínio enquanto se arrumava, ela já chegou à conclusão que sempre esteve mais inclinada a aceitar.

Pelos três.

Deidara poderia esperar mais alguns minutos antes que ela passasse na enfermaria para cumprir o combinado entre eles, não é?

Torcendo para que Itachi estivesse em seu quarto e disponível para ela, bateu na porta e não precisou esperar demais até que a mesma fosse aberta pelo homem de cabelos escuros.

― Pois não? ― Ele deu passagem para que Sakura pudesse entrar e ela esperou que ele fechasse a porta antes de falar. Viu-a inspirar profunda e sonoramente antes de iniciar sua fala.

― Por mais que eu não quisesse a qualquer custo, acredito em você e em cada palavra do que me disse. Aceito te ajudar com a questão do Tobi e quero levar Sasuke de volta para Konoha para ele viver como você esperava que ele vivesse ― ela afirmou, decidida.

― O que te levou à conclusão de que eu falei a verdade e de que quer me ajudar, Sakura-san? ― Itachi perguntou.

― O mesmo motivo pelo qual você aceitou a proposta de aniquilar seu clã. Eu tenho pessoas que amo e que quero proteger e faria qualquer coisa pelo bem delas. Uma delas é a mesma que a sua própria, inclusive.

Os olhos ônix a fitaram com intensidade os jade e, por fim, Itachi estendeu a mão para Sakura.

― Garanto que farei o possível para te tirar daqui. Aliados? ― ele finalmente propôs.

― Aliados. ― Sakura, relutante, aceitou a mão e apertou-a, selando a aliança com Itachi Uchiha.

― Então temos que passar a discutir desde já estratégias para executarmos os futuros planos, não é mesmo?

 

~#~

 

Ao sair do quarto do nukenin de Konoha, Sakura se sentiu de certa forma mais leve. As coisas estavam melhorando para ela, mesmo que de forma incerta. A parceria com Itachi lhe dava maiores esperanças de voltar para sua vila e o passo a frente com Deidara a faria aguentar tudo que viesse adiante, mesmo que Tobi ameaçasse a sua vida e–

Tobi descobriria sobre Deidara e ela.

Sim, ele descobriria que os dois, além de terem voltado a conversar, agora podiam mudar o nome do que tinham para algo diferente de “amizade”. Quando o bastardo descobrisse, ele com toda a certeza poderia usar Deidara contra ela. Era uma possibilidade que não deveria ser descartada, mas também parecia pouco provável por deixar demais em jogo o que ele tentava esconder de todos por anos; mas e se ele decidisse jogar tudo pelos ares e agir como o monstro que ele era?

Restava apenas esperar e ser cautelosa ao máximo para evitar que qualquer mal acontecesse à Deidara.

Quando chegou na enfermaria, ele estava acordado e com cara de poucos amigos. Se pudesse, com certeza estaria por aí batendo no que pudesse.

― O que aconteceu? ― ela perguntou.

― Nada, hm.

― Então por que está com essa cara?

― É justamente por não ter acontecido nada! ― ele esbravejou para o ar ― eu não aguento ficar quieto! Se você me fizer ficar aqui por mais duas horas eu juro que explodo essa enfermaria e mais metade desse esconderijo.

― Eu vou ver o que posso fazer agora, ok? Se eu conseguir cicatrizar sua ferida o suficiente, você já vai poder sair daqui agora ― ela tentou acalmá-lo, até mesmo para evitar que ele ficasse furioso com ela própria. Viu que conseguiu quando o olhar azul suavizou.

Ela levantou a blusa de Deidara e passou a curá-lo da mesma forma que fez tantas outras vezes nos dois dias anteriores.

― Eu sempre gostei do seu chakra. Ele é meio gelado e faz um pouco de cócegas ― ele disse com um sorriso no rosto, aparentemente tendo esquecido de que estava furioso com o universo um minuto atrás.

― Bem que eu queria nunca mais usar ele em você. Eu te disse isso antes, mas te ver perto de morrer foi horrível.

― Eu imagino que tenha sido, hm. Nunca fique na situação que eu fiquei. Eu não tenho a habilidade de costurar órgãos danificados igual você ― brincou ― e pelo menos eu tive sucesso na minha missão.

― E qual foi ela? ― Sakura perguntou, mas teve a sensação de que não gostaria da resposta.

― Capturar o Sanbi. A extração será essa noite.

Um arrepio subiu pela espinha de Sakura e Deidara notou como o corpo pequeno da menina tensionou. É, conversar sobre a rotina que eles tinham não era uma boa opção quando os dois serviam suas lealdades para entidades inimigas.

― Me desculpa, mas eu não consigo te dizer “bom trabalho” ou “parabéns” por isso ― ela explicou, constrangida.

― Sem problemas, hm. Também não pede desculpas. Eu não peço desculpas por ser quem eu sou e, se você tem orgulho de ser uma shinobi de Konoha, não deve pedir também.

Sakura sorriu agradecida para o maior. Eles ficaram em silêncio pelo restante do tempo em que ela terminou de cicatrizar as feridas de Deidara.

― Pronto. Você não pode fazer esforço e nem ir para missões por, pelo menos, uma semana, mas eu não preciso mais fazer nada em relação aos intestinos. Você não vai me contar mesmo quem foi a pessoa que lutou contra você?

― Não. Sério, é melhor você não saber ― Deidara respondeu, fechando a cara como um sinal de que ele não queria mais mencionar o assunto.

A kunoichi entendeu que ele havia lutado com alguém que poderia ser importante para ela e que, de fato, seria melhor ela não saber quem fora (já não bastasse a perda de Lee não muito tempo atrás). Mesmo assim, não evitou de se perguntar se o seu possível aliado que havia batalhado contra Deidara estava vivo.

Claro que não. Um rank S não sai quase morto de uma batalha se ele não faz questão de acabar com a pessoa também.

Passou a mão pela cicatriz na pele de Deidara, sinal de algo que ele não queria que ela soubesse detalhes para manter seja lá o que eles tivessem e não estragar algo tão especial no meio de todo o caos que eram as vidas deles.

Ela também não estragaria, então.

― Você já pode ir, se quiser. Não precisa mais ficar confinado nessa cama ― disse para ele, ajeitando-se para sentar ao seu lado.

― Se você estiver aqui eu posso ficar mais um pouco. ― O loiro respondeu, puxando-a para seus braços e envolvendo o seu corpo com eles, o queixo descansando no ombro coberto da garota que no início tensionou, relaxando o corpo não muito depois. ― Eu gosto do seu cheiro.

― E como ele é?

― Eu não sei. Cheiro de Sakura, eu acho. Me lembra do verão, por algum motivo. Não um verão sem graça como esse aqui em Ame que estamos tendo, mas um daqueles verões em que a gente deita na grama só pra sentir o gelado dela.

― Aqueles verões em que a gente come melancias e brinca de guerrinha de balões d'água? ― Ela sorriu divertida com lembranças não muito antigas.

― Eu nunca tive essa parte, mas parece ser divertido. Mas aqueles verões em que a gente quer arrancar as orelhas de tão insuportável que é o barulho que as cigarras fazem até o fim da tarde.

― Acho que a raiva pelas cigarras é universal! ― Sakura soltou um risinho nostálgico. ― Eu queria que a nossa situação fosse diferente. Eu te levaria para comer melancias no quintal pela tarde e te faria experimentar os dangos da minha mãe de noite.

Deidara ficou um tempo em silêncio, como se hesitasse em falar o que tinha em mente. Por fim, decidiu dizer o que estava entalado na garganta.

― Me fala mais sobre os seus pais.

― Bem... Meu pai se chama Kizashi. Ele é meio que como todo pai: sempre vai agir comigo como se eu tivesse uns oito anos, faz aquelas piadas horríveis que só os pais sabem fazer e age como uma pessoa da metade da idade dele. Mesmo assim, ele é muito preocupado comigo e sempre tenta me entender quando eu me oponho às coisas que ele espera que eu faça ou diga. Já a minha mãe, Mebuki... Dizem que somos muito iguais! Ela é bem severa quando se trata de regras e não gosta que as coisas não saiam do jeito que ela quer. Ela se preocupa bastante comigo e sempre tenta cuidar de mim quando eu não estou em missão, mas ela também é exigente demais em relação ao jeito que eu devo agir. Ela e o meu pai são o perfeito exemplo de como os opostos se atraem, já que ele é bem despreocupado e ela é intensa demais. Na verdade, eles são bem engraçados juntos! ― Sakura contou, soltando um suspiro logo em seguida. ― Eu não tinha um momento de silêncio enquanto estava perto dos meus pais. Sinto falta deles.

― Imagino que sinta, hm. Eles parecem ser uma dupla bem dinâmica ― Deidara respondeu com um sorriso sereno.

― E você? Também quero saber sobre os seus.

― É uma história meio longa e eu não quero te deixar deprimida agora. Eu te conto uma outra hora, certo? ― ele propôs ― mas agora eu estou com muita vontade de te beijar e isso é minha prioridade agora, hm.

Sakura até pensou em contestar ou investigar mais a fundo o motivo pelo qual Deidara gostava de saber sobre seu passado, mas evitava falar sobre o seu próprio, porém perdeu qualquer vontade de fazê-lo ao ser beijada com ardor.

 

~~~~~~~~#~~~~~~~~

 

Um mês havia se passado desde que Sakura se rendeu aos seus sentimentos por Deidara e ela não poderia estar mais grata por ter feito isso.

Deitada na cama dele e vendo o céu azul dos olhos do rapaz a encarando com o sorriso de sempre, ela havia parado para pensar o quanto ele a fazia bem, a livrando de todas as preocupações do mundo real logo que mergulhava no paraíso que eram os seus braços.

Madara não havia aparecido desde o fatídico evento do mês anterior e, aproveitando a ausência do mascarado, Itachi e Sakura trabalhavam discretamente em seus planos. Como havia acontecido com Kisame, os dois desenvolveram uma camaradagem um tanto quanto discreta, muitas vezes se perdendo em assuntos cotidianos quando concluíam as suas obrigações.

No tempo livre de Sakura – que não era pouco –, ela procurava Deidara e eles aproveitavam a presença um do outro, já que ele ainda não havia voltado a fazer missões. O nukenin se incomodava com o fato de não poder praticar sua arte em sua forma mais pura, mas Sakura conseguia acalmá-lo apenas por estar ao seu lado (isso não o impedia de enaltecer sua paixão pelo que fazia pela metade do tempo em que estavam juntos, no entanto). Eles nunca trocavam declarações ou tentavam descobrir os nomes do que eles sentiam e do que eles tinham, porém cada toque dado, cada sorriso genuíno mostrava que era intenso e real.

Deidara não fazia ideia nem de que algum dia pudesse passar o dia pensando e querendo estar com uma pessoa, porém Sakura havia magicamente mudado a sua vida inteira. Ela havia conseguido se tornar mais importante até do que a sua própria arte. Se ele pudesse escolher o jeito que viveria o restante de sua vida, escolheria qualquer cenário em que os dois pudessem estar juntos, felizes e em paz. Ele vinha tentando descobrir meios de tirá-la daquele esconderijo sem que a Akatsuki fosse uma ameaça para ela, mas era tudo tão impossível.

― Seu cabelo já está bem grande comparado a quando chegou aqui ― ele disse, atraindo sua atenção para os fios rosados que, antes tão curtos, já passavam dos ombros.

― Eu resolvi experimentar deixá-los grandes novamente, já que você disse que ficaria bonito. Será que vão fazer jus ao que você imagina? ― perguntou.

― Vão sim. Você ficaria bonita de qualquer jeito, hm.

A garota soltou um sorriso antes de beijar o loiro sem pressa, para depois levantar da cama e se espreguiçar.

― Aonde você vai? ― ele perguntou.

― Eu combinei com o Itachi de pesquisarmos mais sobre a doença dele. Achei um livro interessante na biblioteca e acho que a gente pode descobrir muita coisa nele.

― Ah, tá. ― Deidara fechou a cara quase que instantaneamente. ― Eu detesto quando você passa tempo com esse cara.

― Por que eu estou aqui com vocês, mesmo? ― ela perguntou ― tenho que fazer o que sou mandada para não ser o alvo quando o Pain resolver brincar de atirar dardos.

Deidara soltou uma risada amarga, sabendo que as piadinhas de Sakura envolvendo aquele assunto sempre vinham com aquele olhar infeliz dela. Ele queria que os dois pudessem ter se conhecido de forma diferente para que as brincadeiras falassem sobre hábitos estranhos, e não sobre ela poder ser morta se não servisse de escrava para a Akatsuki.

― Olha, a gente pode inventar que eu tenho uma doença misteriosa que vai me matar em um mês, aí eu seria sua prioridade e você poderia cuidar de mim o dia inteiro ― ele tentou descontraí-la.

― Tentador, porém alguém aqui está com uma doença de verdade e, se ele morrer, eu levo o mesmo destino. Melhor prevenir que isso aconteça, não é?

― Detesto quando você tem razão, hm ― o loiro reclamou ― vou atrás de você depois.

― E eu vou te esperar. ― Sakura sorriu para ele enquanto saía do quarto e, ao fechar a porta, tentou detectar o chakra de Tobi – Madara— e o sentiu dentro de uma porta que deveria ser a de seu próprio quarto.

Droga, alguém havia voltado para o esconderijo.

A menina tentou ignorar o desconforto repentino dentro de si e seguiu para a biblioteca, encontrando Itachi sentado na mesa do local. Ele sentiu sua presença, porém não se deu ao trabalho de olhá-la.

― Boa tarde, Itachi-san ― Sakura cumprimentou-o.

― Olá. Enquanto você não chegava, eu estava aqui pensando em algo que não mencionamos antes: para a sua fuga acontecer, o seu selo teria que ser removido; porém nenhum de nós além do Líder sabe fazer isso. Temos consciência de como o selo funciona e o que ele provoca no usuário, porém ninguém faz ideia de como colocá-lo ou tirá-lo. Temo que a única pessoa além de Pain que saiba mais sobre isso seja o próprio Madara.

― Ele está aqui no esconderijo. Senti o chakra dele dentro de um dos quartos. Acho que agora devemos ser mais cautelosos ― ela alertou o homem.

― Sim, eu também senti; mas não devemos desacelerar as pesquisas. A presença dele já é sinal suficiente de que devemos ser velozes. Mas veja, eu tenho algumas hipóteses sobre Madara...

~#~

Após meia hora, Sakura observava o nukenin ler um livro de história em busca de informações sobre Madara ignoradas ou antes consideradas obsoletas. Seus olhos ágeis não conseguiram evitar notar que Itachi estava tendo dificuldade para ler, as pálpebras discretamente se apertando e a cautela ao ler cada palavra.

Se a sua visão havia melhorado depois do antídoto que ela havia preparado, como ela estava antes dele?! Ela sabia que ele havia perdido parte da visão com o uso do seu kekkei genkai, porém ela não imaginava que ele poderia perder em tão pouco tempo parte do que havia sido recuperado.

Talvez se ela se esforçasse e estudasse um pouco, ela pudesse curar os olhos dele, como Tsunade fazia com Kakashi...

Não, de forma alguma. Ela poderia acreditar em sua história e ter um trato com benefícios pessoais, porém Sakura estava longe de confiar em Itachi a ponto de curar seus olhos, a arma mais fatal dele e que ele, com certeza, não a deixaria chegar nem sequer perto se não fosse por ordens de Pain.

― Me conte mais sobre Sasuke ― Itachi chamou a atenção de Sakura, tirando-a de seus devaneios.

― Pois não?

― Me conte sobre a época dele em Konoha. Como ele era? Quero saber das histórias dele.

― Ah, sim, bem... Por onde eu começo? ― A iryou-nin soltou um sorriso sereno. ― Na academia, o Sasuke-kun sempre foi muito recluso. O seu ar misterioso, todas as coisas boas que ele fazia e sua beleza atraíram, desde os primeiros anos, uma legião de garotas. Sim, eu estava inclusa. ― Ela riu envergonhada, sabendo que Itachi perguntaria sobre aquilo caso ela não lhe dissesse. ― Pra ser sincera, só uma garota na Academia que não era apaixonada por ele!

“Quando finalmente chegou o dia de nos formarmos e os times serem decididos, eu fiquei muito feliz em estar no mesmo time que o dele, mas ele parecia tão indiferente quanto aos próprios colegas de time. Para sermos aprovados como estudantes do Kakashi-sensei tivemos que fazer uma missão de recuperar guizos e, no fim, ele mostrou ter compaixão dentro dele. Desde então, ele foi se abrindo mais a cada dia que o Time Sete tinha junto... No País das Ondas ele arriscou sua vida pelo Naruto, no Exame Chuunin ele salvou a mim e a outro time depois que me viu em um estado deplorável... Da mesma forma que eu e o Naruto amamos muito o Sasuke-kun, ele foi se abrindo conosco e retribuindo o nosso afeto, mesmo que cada um de nós fizéssemos isso de maneiras extremamente diferentes.

“Teve um dia em especial que eu não consigo me esquecer: estávamos muito curiosos para descobrir o que o Kakashi-sensei escondia sob a máscara que ele usa, e o próprio Sasuke-kun, sempre desinteressado no que eu e o Naruto aprontávamos, resolveu se juntar a nós. É até difícil de acreditar, mas ele foi quem mais se empenhou, a ponto de subornar o Sensei com um livro do Icha-Icha autografado pelo próprio Jiraiya-san em troca de ver o rosto dele!”

― Mas Icha-Icha não é aquela série de livros recheados de conteúdo adulto ofensivo para a maioria da sociedade?

― É, sim. Não me faça perguntas sobre isso, por favor. Até hoje eu não descobri o motivo desses livros existirem e o porquê do Kakashi-sensei ser obcecado com eles. ― Sakura observou um sorriso discreto nos lábios de Itachi e jogou a cabeça para o lado, sorrindo também. ― O que foi? Acha a perversão do meu sensei engraçada?

― Também, mas eu não estava pensando nisso. Eu só estou feliz do meu irmãozinho ter pessoas que amam e se preocupam tanto com ele ― o nukenin respondeu ― obrigado por cuidar dele durante o seu tempo como companheira dele, Sakura-san.

― Itachi-san... Se você ama tanto o Sasuke, o que vai fazer quando ele te encontrar, forte o suficiente para se vingar? Você vai lutar contra ele? Vai contar toda a verdade sobre tudo o que aconteceu?

― O meu irmão jamais pode saber da verdade sobre a noite do massacre, então isso está fora de cogitação. Eu vou ter que lutar. Eu acabei incitando tudo isso, afinal. Preciso dar ao Sasuke a conclusão que ele tanto deseja ― confessou.

Sakura entendeu o que Itachi quis dizer, mas não mencionou nada para o mesmo. Itachi queria finalmente livrar o irmão do ódio que ele vinha cultivando durante quase uma década; mas como ele faria isso? Era lógico que para a história dos irmãos Uchiha acabar, um deles teria que morrer. Itachi, com toda a certeza, não mataria Sasuke, por quem sacrificou a vida inteira que ele tinha pela frente.

Itachi se deixaria morrer para Sasuke ter a chance de seguir em frente e ser feliz.

A kunoichi, entendendo e não entendendo o que estava acontecendo dentro dela, sentiu uma vontade súbita de reconsiderar a sua decisão em relação a curar os olhos do homem que estava sentado ao seu lado.

Os dois sentiram uma terceira presença adentrar na biblioteca e, gratos por terem encerrado o assunto antes que pudessem ser pegos em um momento um tanto quanto pessoal, viram a presença serena de Konan se aproximar dos dois.

― Boa tarde, Konan-san. ― Itachi foi o primeiro a cumprimentá-la.

― Boa tarde. Pain quer falar com você no escritório e te aguarda lá, Itachi-san. Ele precisa que seja rápido ― a mulher informou. O Uchiha não se demorou no adeus que deu para Sakura e, enquanto fazia sua saída do recinto, Konan dirigiu a palavra para Sakura. ― O que você acha de tomar um chá comigo mais tarde, Sakura-san? Eu comprei aquele de caramelo que você disse que gostou.

― Claro. As nove, como sempre?

― Sim. Deidara não vai se incomodar de eu estar te roubando dele? ― Provocou a menina, dando um sorriso discretamente brincalhão ao ver o rosto pálido de Sakura ficar ligeiramente avermelhado.

― Bem... Pra ser sincera, ele vai sim, mas acho que não tanto ― a garota respondeu um tanto quando embaraçada.

Konan, decidida a não constranger mais a mais nova, se despediu brevemente e também deu meia-volta até a saída da biblioteca.

Querendo evitar ficar sozinha, Sakura guardou rapidamente os livros que Itachi havia pegado e caminhou com pressa até a porta nos fundos da cozinha, em busca de Kisame.

Felizmente, ele se encontrava lá, tomando chuva e brincando com uma kunai em suas mãos. Ao notar a presença da menina, Kisame deu um largo sorriso.

― Eu imaginei que você ia estar aqui, mas é estranho não te ver treinando ― Sakura puxou assunto, se sentando em um banco protegido da chuva.

― Está ficando meio chato ultimamente. Se você viesse mais vezes para brincar comigo, poderia até ser mais legal.

― Eu gostava antes, mas ter pelo menos um osso quebrado por dia por culpa sua não era lá uma das coisas mais agradáveis do mundo. Quando você pegar mais leve, talvez a gente possa pensar no caso.

― Você é quem devia tomar mais vitaminas e fortalecer os seus ossos, ou talvez até parar de passar tempo demais com o Itachi ou o Deidara. Ficar perto de gente doente ajuda a nos enfraquecer. ― Ele encarou-a divertidamente. ― Mas acho que do Dei-chan você não consegue ficar longe, não é?

― Ao mesmo tempo que eu me impressiono pela discrição de vocês no geral, me irrito com as insinuações que todo mundo faz. Eu não posso passar mais tempo com ele do que antes? ― Sakura se irritou um pouco, revirando os olhos.

― Olha, Baixinha, você é uma má mentirosa. Se vocês não ficassem se olhando como menininhas de dez anos apaixonadas, ou não corressem um pro outro toda vez que acabam de fazer alguma coisa, eu poderia até acreditar. Se vocês estão tentando esconder o namorinho, pode ter certeza que estão fazendo isso tão bem quanto o Kakuzu escondia o dinheiro dele.

― O Kakuzu escondia bem o dinheiro? ― ela perguntou.

― É óbvio que não. Ele voltava de missões tão atolado de dinheiro que, a cada passo, acabava derrubando umas seis notas de ryo que ele tentava esconder dentro das meias.

Sakura riu divertida. ―Acho que não é bem assim pra nós.

De fato, Deidara ou ela nunca fizeram questão de esconder algo de qualquer pessoa na Akatsuki. Até o momento, eles tiveram a sorte de nunca terem sido pegos em situações mais íntimas, porém era de conhecimento geral que o que os dois tinham não era mais só a amizade de antes. A garota temia que Madara fizesse algo a Deidara, porém evitar que o mascarado tivesse conhecimento de que eles estavam juntos com certeza aumentaria as suspeitas dele em relação a ela. E ela não precisava disso, é claro.

Antes que Kisame pudesse respondê-la (provavelmente com alguma piada sarcástica), a porta se abriu novamente e Deidara surgiu através dela.

― Falando no diabo... ― Kisame sorriu. ― Oi, Deidara. Estávamos falando sobre como você e a Baixinha escondem bem que ficam se esfregando nesse esconderijo.

― Primeiramente, vai te catar. E segundo ― Ele direcionou o olhar para Sakura, dando um de seus sorrisos. ―, eu vim te buscar.

― Para onde? ― a iryou-nin perguntou.

― Para o teto. Vamos?

Puxada pelo loiro, Sakura só conseguiu acenar um adeus para Kisame antes que fosse levada até o elevador. Esperando que as portas se abrissem, ela viu o entusiasmo nos olhos de Deidara.

― Aconteceu alguma coisa?

― Mais ou menos. Eu consegui permissão pra algo, hm. Acho que você vai gostar ― ele revelou brevemente. Sakura, resolvendo que queria ser surpreendida, ficou em silêncio pelo resto do percurso até o teto do grande prédio. Enquanto estavam no elevador, ele estendeu a capa da garota para ela, dizendo que teve a liberdade de pegá-la em seu quarto e que eles iriam precisar dela.

O bombardeiro esperou que sua companheira o seguisse até perto da borda do lugar para então colocar uma de suas mãos dentro de um de seus bolsos cheios de argila. Esperou que ela fosse moldada e depositou o pequeno pássaro no chão. Com um poof ele se transformou em uma versão gigante que Sakura já conhecia bem,

― Nós vamos voar? ― ela perguntou, surpresa. ― Mas eu combinei com a Konan de tomarmos chá e–

― Ela vai entender, hm. Nós não vamos só voar ― respondeu ele, subindo em sua escultura e estendendo a mão para que ela o acompanhasse. ― Nós vamos sair pela cidade.

 Sem saber ao certo o que dizer e tentando esconder o sorriso mais largo que teria dado em semanas, Sakura aceitou o gesto de Deidara para subir no pássaro e saíram voando por cima dos prédios iluminados de Amegakure.


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