Pulando de árvore em árvore, Sakura prestava toda a atenção que podia nos dizeres de Kakashi.

— Escutem: de acordo com as informações dos ANBUs que conseguiram localizar Orochimaru, estamos a poucas milhas de distância do esconderijo onde Sasuke provavelmente está. Sai — chamou o ninja artista, que olhou para Kakashi com atenção —, eu quero que você fique perto de mim caso precisemos lutar. Vamos assumir a dianteira se o Orochimaru ou qualquer servo dele atacar.

Aquela era, sem sombra de dúvida, a missão mais importante que Sakura teria na vida dela. Logo depois do incidente em Suna e a hospitalização de Kakashi, Naruto e ela foram agrupados com um menino estranho, Sai, e estavam sob comando de Yamato, um homem dominante do estilo madeira e que podia assustar facilmente qualquer um que quisesse apenas com o olhar.

O principal objetivo do novo time 7 era descobrir o paradeiro de Sasuke, se infiltrar em um dos esconderijos de Orochimaru e conseguir tirar o máximo de proveito disso. No entanto, pelo perigo que a missão proporcionava e pela instabilidade do selo de Naruto (que Sakura ainda desconhecia), Jiraiya aconselhou que aguardassem a recuperação de Kakashi para partirem.

— Sakura — seu sensei chamou-a. — Preciso que fique com o Yamato e o Naruto. Caso Naruto se descontrole emocionalmente, você é a única que conseguiria mantê-lo nos eixos.

— Ei! Quem disse que eu vou me descontrolar? Não preciso de ninguém perto de mim! — Naruto protestou, mas foi ignorado (algo não tão incomum). A kunoichi respondeu com um “entendido” para o usuário de um único Sharingan.

Sua mente se perdeu e ela não ouvia mais nada do que Kakashi falava para os outros. Como ela ficaria caso conseguissem rever Sasuke? Como ele estaria depois de dois anos? Como ele reagiria? Como ELA reagiria? O rapaz que tanto amou no passado estava muito próximo dela naquele exato momento e todos poderiam tirar ele daquele monstro que destruiu a vida de todos eles.

Franziu o cenho e aumentou a quantidade de chakra nos pés, pulando com mais ansiedade para rever o ex-companheiro de time. Naruto também não ficou para trás, com os dois tomando a dianteira. Yamato soltou um protesto e avisou para os dois ficarem atrás dele, mas foi ignorado. O loiro parecia tão angustiado quanto Sakura aos olhos da mesma. Seu coração apertou.

Naruto, com toda a certeza do mundo, era a pessoa mais próxima de Sasuke e a mais importante da vida do Uchiha. Por parte de Naruto, o sentimento era mútuo. Eles, além de rivais, também eram melhores amigos e tinham um laço que não conseguiria ser quebrado nem mesmo pela morte. E se eles falhassem naquela missão? Naruto já havia perdido a oportunidade de salvar Sasuke uma vez. Ele conseguiria suportar a derrota pela segunda vez?

E então tudo aconteceu ao mesmo tempo. Foi rápido demais para sequer ser notado. Os olhos verdes da kunoichi foram surpreendidos pelo katon de Kakashi, um xingamento vindo de Naruto e Sai voando em uma ave de tinta. Por culpa da surpresa, Sakura pisou em falso e começou a cair, sendo segurada por Yamato antes que fosse tarde demais. O capitão logo se afastou para dar auxílio a Kakashi e Naruto, já que o novo companheiro de time não havia seguido o plano combinado.

Pelo que conseguiu observar em uma fração de segundos, eram dois indivíduos da Akatsuki com capas pretas de nuvens vermelhas. Se recompôs e resolveu tomar a ativa com um homem estranho que lembrava um tubarão e que pretendia acertar Yamato. Concentrou chakra em seu punho e tentou acertá-lo nos rins, mas o criminoso desviou por pouco e golpeou-a no ombro com um tipo de espada coberta por bandagens. Ela ouviu um crack naquela parte do corpo.

A pontada de dor não foi o suficiente para pará-la. Pegou uma kunai com papel explosivo e jogou-a, retardando o homem (ou seja lá o que aquilo fosse) a tempo de Sai atingi-lo com um leão de tinta, que desferiu um golpe com as garras. O homem se dissipou em água, revelando ser um clone. Sakura olhou para todos os lados em busca do verdadeiro e sentiu uma movimentação dentro da árvore em que estava, adivinhando que ele pretendia atacá-la de surpresa. Pulou do galho e partiu o tronco ao meio com a perna, revelando o inimigo. Tentou atacá-lo por cima com a outra perna enquanto ainda estava no ar, mas ele foi mais rápido e a segurou.

Não admitindo perder mais um golpe, conseguiu se contorcer o suficiente para acertar um soco com o braço bom, fazendo o nukenin soltá-la e mandá-lo para um campo aberto. Sorriu com autossatisfação e subiu em outra árvore, observando Sai se tornar o novo oponente do Akatsuki. Não podia se dar ao luxo de ficar parada observando tudo, então desceu ao chão. Passou por Sai e liberou o chakra do punho no chão, partindo-o em pedaços e fazendo-o tremer. Infelizmente, não foi o suificiente para desequilibrar o adversário, que empunhou sua estranha espada novamente e correu até o novo integrante do time 7, tentando golpeá-lo repetidas vezes, todas sendo desviadas com sucesso.

Usando chakra nos pés, Sai saltou para trás, ficando com uma certa distância do ninja criminoso. O mesmo pareceu dar um grunhido abafado pelo seu sorriso de dentes afiados e correu em sua direção de forma mais feroz. Uma explosão foi ouvida a alguns metros de distância de onde a ninja estava e ela temeu por Naruto, Kakashi e Yamato.

“Eu não posso ficar me preocupando com os outros enquanto o risco de eu mesma ser atingida é grande”, pensou. Viu a espada do nukenin acertar Sai e seu coração parou de bater por meio segundo, mas observou a forma do ninja artista se desfazer em tinta.

O homem tubarão olhou para todos os lados atrás do oponente, mas não o encontrou. Sakura ficou um tanto quanto confusa. Por que diabos ele não tentava atacá-la? Ela estava bem ali, não muito longe!

Não teve nem sequer tempo de pensar em encontrar a resposta, já que Sai saiu de dentro do chão rapidamente (ela se lembrou de uma toupeira) e surpreendeu o Akatsuki, prendendo-o com cobras de tinta. Vendo nisso a brecha perfeita, se aproximou da forma mais rápida que conseguiu e socou o estômago do estranho inimigo, conseguindo mandá-lo para longe novamente antes que ele se libertasse das cobras. Sai deu um dos seus sorrisos falsos para ela.

— Bom trabalho em equipe — ele comentou.

— É… — respondeu. — Mas é estranho. Quero dizer. Ele é um Akatsuki. Só pelo título já é bem visível que ele é bem poderoso. Nós não teríamos a mínima chance com ele. Eu não sei sobre você, mas eu já estaria morta há muito tempo. Então… por que estamos levando tanta vantagem? Ele não está nem sequer lutando de verdade!

O nukenin saiu correndo em direção a floresta onde Kakashi, Naruto e Yamato lutavam com o outro criminoso.

— Não faço ideia. Mas a oportunidade de derrotar um Akatsuki não aparece todo dia. — Sai sorriu novamente e foi atrás do homem, se movendo para o meio das árvores.

Sem muita opção, Sakura também o seguiu. Ignorou novamente as pontadas em seu ombro, cada vez mais fortes pela tensão muscular, e tentou focar apenas em conseguir passar por aqueles caras e voltarem para a sua missão. Eles estavam tão perto de Sasuke, não poderiam falhar depois de tanto esforço!

Subindo um dos troncos de madeira, viu que Naruto estava coberto por um estranho manto laranja borbulhante com o formato de um animal. O estilo de luta dele estava um tanto quanto selvagem e os olhos estavam vermelhos, com os característicos riscos esquisitos nas bochechas dele ficando mais grossos. Se preocupou com aquilo, mas não poderia deixar Sai sozinho.

Procurou novamente o oponente e, quando conseguiu identificá-lo, se direcionou para perto dele, escondendo-se e aguardando por uma brecha. Ele parecia ter mudado o rumo da batalha e estava com vantagem sobre Sai. A ninja médica se sentiu no dever de fazer algo para mudar aquilo. Preparou novamente o chakra nas solas dos pés e saltou.

Antes que pudesse sequer chegar perto do Akatsuki, algo a segurou no ar e a apertou com força para não deixá-la escapar. Identificou apenas os olhos vermelhos de Sharingan.

— Sasuke?

Foi a única coisa que ela conseguiu dizer antes de sentir o corpo cair com força no chão e apagar.

…

Quando acordou, Sakura sentiu uma dor de cabeça terrível. Abriu os olhos e identificou um estranho teto negro. Ainda deitada no que parecia ser um colchonete, percorreu os olhos pelo local e teve certeza de que nunca havia estado naquele lugar. Era uma cela.

As paredes eram pintadas de um tom escuro de vermelho, o chão era de rocha e a única fonte de iluminação era uma tocha acesa de fora daquela cela, no corredor com várias outras do mesmo tipo. No local não havia absolutamente nada além daquilo em que estava repousando e a primeira coisa que ela pensou foi em fugir.

Tentou raciocinar e encontrar um modo; mas como? Ela não sabia onde estava, o que havia acontecido com ela, onde estavam os seus companheiros de time e como ela havia parado ali.

Cavou um pouco em sua mente e a última coisa que conseguiu lembrar é que fora agarrada por alguém antes de sentir um baque na cabeça e desmaiar. Ela estava lutando contra um Akatsuki junto do restante do time 7. Mas afinal, o que havia acontecido após aquilo?

Tentou se levantar do colchonete apoiando o braço direito, mas sentiu uma dor terrível e então se lembrou do ombro que parecia estar deslocado.

“Bem, eu não posso ficar desse jeito se quero arrumar uma forma de escapar.”

Tentou utilizar sua técnica da Palma Mística para ajeitar tudo, mas não conseguiu resultados. Não havia um único resquício de chakra. Mas como aquilo havia acontecido?! Ela ainda tinha o suficiente quando estava lutando!

A não ser que alguém tenha sugado o chakra dela.

— Vou ter que resolver isso da pior maneira — grunhiu com raiva.

Dobrou os joelhos, abraçou a perna direita e se inclinou para trás colocando pressão e empurrou o joelho para frente para criar tensão. Depois de fazer isso repetidamente por vários minutos, a dor pareceu diminuir. Quando parou, analisou o local. Não estava exatamente no lugar, mas era o máximo que podia fazer naquele momento.

Vendo que sua bolsa de armas ninja (e sua katana pequena) não estavam mais consigo para pegar ataduras e improvisar uma tipoia, procurou pelo local algo que pudesse servir para a mesma função. Como não encontrou nada, teve apenas que deixar o braço na posição correta.

Analisou novamente o local sem janelas. Procurou qualquer coisa que pudesse lhe dar uma chance de fuga. Uma brecha, uma rachadura, uma fresta na parede… Qualquer coisa. Não encontrou nada e, sem chakra para poder destruir paredes, tudo o que pôde fazer foi se sentar e rezar, pedindo por qualquer tipo de ajuda.

…

Não sabia quanto tempo havia se passado, mas estava com fome e sede. Também precisava ir ao banheiro e estava com frio; porém, o pior de tudo não era nenhuma das coisas citadas anteriormente. Ela estava sozinha. Sem Naruto, Tsunade, Kakashi ou qualquer outra pessoa que a fizesse se sentir mais segura ou aliviada. Era apenas ela naquele momento. Sakura não sabia onde estava, com quem estava lidando, o que havia acontecido, o que aconteceria com ela e se um dia veria as pessoas queridas ou Konoha novamente.

Se permitiu chorar. Um choro silencioso e com soluços abafados, contudo desesperado e sem esperanças. Chorou como há muito não fazia. Havia prometido para si mesma, durante seu treinamento com sua shisou, que não choraria mais. Seria forte, determinada e não dependeria mais dos outros; entretanto, ali estava ela, chorando como uma criança que havia se perdido da mãe.

Ouviu passos no corredor de celas. Reteve as lágrimas o mais rápido que conseguiu, fungou para tentar se livrar do nariz entupido, limpou o rosto e olhou para as grades da cela apreensiva.

O manto negro de nuvens vermelhas apareceu primeiro, com o rosto sendo revelado logo em seguida. Sakura pasmou. Pela primeira vez, estava vendo um dos nukenins mais desejados por Konohagure. O olhar frio e severo arrepiou a espinha da kunoichi e o rosto tão semelhante ao de Sasuke fez suas pernas tremerem.

Itachi Uchiha.