(POV Ryuuk)

Realmente mesmo eu não querendo admitir, de vez em quando L me impressionava. O sistema que ele criou para evitar que pessoas tocassem no Death Note foi um tanto quanto...incrível. Eu apenas observava aquele garoto, que tanto comia doces, em estágio terminal. Tinha tanta energia quanto uma pessoa saudável, praticamente passava o dia no hospital, fazendo exames, tratamento, remédios e só chegava às sete da noite em casa, tempo que tinha para escrever no caderno e eliminar possíveis alvos .

Eu podia ver seu tempo de vida com meu olhos especiais. Não era muito. Mas eu não tinha por que falar algo que L já sabia, afinal ele esteve sempre ciente de que morreria logo, e não parecia muito abalado com isso. Na verdade, isso parecia até motivá-lo cada vez mais na construção de seu ''novo mundo''. Chegava a me confundir.

Eu estava refletindo nisso e me deliciando com uma maçã quando ouvi batidas na porta, então rapidamente a engoli. Já faziam três semanas desde a transmissão do R e L continuava a escrever, querendo afrontar o detetive.

– Quem é?- L perguntou, saindo de sua costumeira posição e escondendo o caderno no fundo falso embaixo da cama.

– Sou eu Lynn! Posso entrar?- Disse uma suave voz de criança.

– Ah, é você baixinho? Entre, por favor.- L respondeu, usando o apelido que deu ao seu irmão, pela sua baixa estatura.

O garotinho abriu a porta devagar, e colocou a cabeça loira, quase branca pra dentro. Observou tudo e encarou seu irmão mais velho, do qual só parecia nos olhos, pois L era moreno e seu irmãozinho era uma versão albina dele.

– Estou atrapalhando?

– Claro que não. O que quer?- L disse exibindo seu melhor, mais radiante e raro sorriso ao menor. Normalmente é muito díficil ver L sorrir, mas quando se tratava de seu irmão caçula, ele fazia questão disso, era uma preferência dele.

– Eu queria saber se posso ficar um pouco aqui com você...a mamãe e o papai estão brigando de novo...- Ele respondeu, enrolando o dedo numa de suas mechas de cabelo.

– E precisa pedir? Pode entrar!- L disse amigável, ouvindo, assim como eu, os gritos que vinham do andar debaixo.

O garotinho entrou e se sentou tímido. Eu ri disso. Ele era tão tímido, que se sentia desconfortável perto até mesmo do irmão, pessoa com quem mais tinha amizade. Talvez o seu único amigo. Ele trazia no rosto de pele pálida, uma pequena marca arroxeada. Eu sabia o que era. L me mandou ir pra escola junto de seu irmãozinho hoje, e o garoto apanhou para os maiores. Tirou notas máximas e perfeitas, coisa desafiadora e motivo pros seus agressores.

– Olhe pra mim...- L mandou. O garoto se virou pro outro lado, indo mais pra onde eu estava, com ganas de esconder o ferimento.

– Olhe pra mim!- L disse num tom mais forte.

O menino olhou pra ele, virando o rosto vagarosamente, exibindo o hematoma. L apoiou uma das mãos no rosto e me encarou disfarçadamente.

–De novo baixinho? Mais uma vez?

–Eu sinto muito...eu não queria...

– NÃO NEAR! Você não tem que se desculpar! Você tem que denuncia-los! Veja o que eles estão fazendo!

– Vai apenas piorar minha situação!- O loiro tentou argumentar em vão.

– Me escute baixinho...- L começou.- Você nunca deve ter piedade daqueles que fazem o mal, sendo bullying ou até mesmo um assassinato, você deve puni-los da maneira que puder, do jeito que estiver ao seu alcance. Sem compaixão ou piedade.- Eu ri alto neste momento, praticamente gargalhei. L estava ensinando, orientando como Near teria que agir quando o irmão morresse!

– Credo Lynn, até parece o Kira.- O rosto do menor se contorceu em confusão e susto.

– Quem me dera eu fosse o Kira...- L disse soltando uma risadinha.- Você teria de pensar exatamente como ele, baixinho. Mesmo não parecendo, Kira age da maneira certa, punindo os impiedosos...

Near parecia concentrado em refletir no que o irmão disse, rodando uma mecha de seus cabelos loiros entre os dedos. Pelo sorriso que ele deu, acho que concordou. Hehe, nada mal L, está indo bem...

– Apesar de não concordar completamente em matar pessoas, acho que você está certo...as pessoas nunca tem piedade ao te fazer mal, por quê ter delas?

L sorriu com o comentário do loiro. Um passo de cada vez L e você educa seu sucessor...

***

(POV R)

– Vá se ferrar, Kira!- Gritei ao ler a carta de suicídio de mais um dos criminosos que Kira matou.

'' R, você sabia que deuses da morte adoram maçãs?''

Kira queria me irritar, me confundir e me enlouquecer! Olhei mais uma das fotos de outro morto. Ele havia desenhado um enorme R com o próprio sangue num parede na cidade. Logo depois, teve um ataque cardíaco, outro havia escrito mais uma carta, com o próprio sangue:

'' R, você sabia que deuses da morte são silenciosos?''

Tudo isso era uma afronta com total certeza. Kira queria brincar, pra ele tudo isso um jogo. Graças à transmissão que fiz três semanas atrás, eu sabia que Kira estava em Kanto, no Japão. Fiz especificamente lá, pela enorme população e acertei.

Mas, ao mesmo tempo, toda essa população não ajudava em nada, poderia ser qualquer pessoa, isso se eu não tivesse checado tudo o que pude...

Ah Kira, como eu terei prazer em te prender. Desde a noite da minha transmissão, as mortes não pararam. Outra afronta, pra mostrar que ele não estava intimidado!

Porém, analisando os horários das mortes, que ocorriam mais dispersamente durante a noite, sempre depois das 19:00 horas, provavelmente, nosso Kira é muito atarefado.

No entanto, na noite anterior da minha transmissão, não houve mortes...algo muito grave teria de ter acontecido pra alguém regrado, inteligente e atarefado como o Kira ter saído de sua rotina...

Só preciso descobrir o que e o por quê. Esses não são horários de escola, muito menos de faculdades ou farmácias...mas pesquisando um pouco acabei descobrindo algo que me fez dar um sorriso enorme de orelha a orelha...

Eu entraria no joguinho do Kira, e o faria de bobo em seu próprio território! Eu iria humilha-lo!