E assim ela cai de lá do alto. E leva tudo pelo caminho.

Bate do telhado, na parede, na janela, na calçada e continua seu trajeto.

Escorre pelo cabelo e cai aos cílios, onde se junta com as lágrimas que caem pela bochecha e chegam até o queixo, deixando um caminho de rímel borrado.

A criança na rua, de mãos dadas com a mãe, ri e brinca com as gotas por entre os dedos, abrindo a boca de tempo em tempo para se refrescar.

Sentada confortável ao lado da janela, uma garota lê seu livro favorito enquanto toma uma caneca fumegante de café. Às vezes ela fecha a página em seu trecho favorito e se imagina dentro dele, enquanto fecha os olhos e encosta sua cabeça no vidro, absorvendo o barulho relaxante que as gotículas de água fazem ao se chocarem contra a janela.

As pessoas dizem que amam a chuva, mas abrem o guarda-chuva para não se molharem.  O garoto no meio da praça também pensa assim, por isso, ao invés de sair correndo ou procurar algum lugar para se esconder, ele se levanta do banco onde estava e abre os braços. Ele sorri enquanto os pingos de água caem sobre seus olhos fechados e dentro de sua boca. Ele não se importa.

Dentro do carro, com os vidros fechados e ouvindo o noticiário, a mãe bufa e espera impacientemente pelo fim do congestionamento, martelando os dedos sem parar sobre o volante. A garota sentada atrás dela apenas gruda a cara no vidro e liga seu fone de ouvido no máximo. Ela coloca no aleatório e espera uma música triste tocar para ela fingir que está em um videoclipe.

Tudo parece entrar em um momento de paz e tranquilidade, todo o mal e cansaço foram levados embora pela chuva. Um silêncio confortável se instala por todos os lugares, uma sensação de leveza e felicidade. Não foi a água que fez tudo isso, mas o sentimento que ela nos traz: pureza, leveza e liberdade. Sempre reiniciando seu ciclo, ela nunca está presa.

As pessoas dizem que amam a chuva, mas se escondem quando ela aparece. Elas não deveriam fazer isso.