Capítulo V - Ladrões, Peixes e Armadilhas

Lucy remexia com a colher a sopa fumegante servida em seu prato. Não estava com o mínimo apetite, o que a impedia de saborear a janta. Na verdade, ela nem ao menos entendia o que estava fazendo sentada ali. Ela devia estar procurando suas chaves, isso sim.

Tão logo constatou o sumiço de suas preciosas chaves douradas, a maga estelar desesperou-se. Ela estava disposta a fazer todo o caminho de volta para Magnolia a pé se fosse preciso para recuperá-las. O pior de tudo é que, como dormira durante todo o percurso, nem ao menos se lembrava do último momento em que estivera com elas. E isso a fazia se sentir péssima.

Quando estava prestes a sair do escritório da mansão, Lucy foi impedida por Org de iniciar sua busca. Desconfiada, a loira o encarou. Certamente, ele era a pessoa mais suspeita, pois se demonstrou claramente interessado nas chaves. Porém, aquilo não tinha lógica. Se o membro do conselho tivesse mesmo pegado suas chaves, não se ofereceria para comprá-las logo depois.

— Eu peço desculpas ao Senhor, mas eu realmente preciso encontrar minhas chaves. - A maga estelar justificou, caminhando apressadamente em direção a porta.

— E você certamente as encontrará, se deixar que eu cuide da situação. - Org garantiu. - Do contrário, creio que retornará a sua casa de mãos vazias. - Completou, fazendo com que os olhos da garota faiscassem.

— E o que devo fazer, então? - Perguntou, contendo a irritação que se acumulara com toda aquela situação.

— Dirigir-se até os seus aposentos, instalar-se e depois desçer para jantar. - O velho orientou. - Do restante, cuido eu. - Concluiu.

Normalmente Lucy não concordaria com aquela imposição. Não mesmo. Fosse qualquer outra pessoa, ela já estaria na estrada a muito tempo, procurando pistas sobre seus amigos Zodiacais. Contudo Org era... Intimidador, para dizer no mínimo. Mesmo que suas palavras não fossem ameaçadoras, a sua aura, por si só, impunha temor e respeito as pessoas que o cercavam.

E era por isso que Lucy estava ali, encarando a sopa, sem contudo estar minimamente disposta a degustá-la, quando o barulho das portas se abrindo atraiu sua atenção.

— Você está atrasada. - Org, que estava sentado a cabeceira da enorme mesa, falou para uma garotinha que adentrava o salão, sem, no entanto, tirar os olhos do próprio prato.

  A maga estelar, sem se preocupar em ser discreta, acompanhou com os olhos a linda menina, que aparentava uns oito anos de idade. A criança tinha belíssimos cabelos ruivos, que iam até a metade do pescoço, e trajava um elegante vestido amarelo, que combinava com sua tiara de cetim. Apesar das feições belas, a criança fazia questão de ostentar uma expressão esnobe, e lançou um olhar de desprezo para Lucy quando se sentou no local a sua frente, ao lado esquerdo de Org.

— Alexandria! - O membro do conselho chamou, em tom severo. - Você não saudou os convidados. - Lembrou, fazendo a garota apertar os olhos, irritada.

— Boa noite. - Ela falou simplesmente, desviando o olhar para Laxus, que estava com a boca cheia demais para responder.

— Boa noite. - Lucy saudou de volta, e a garota lhe devolveu um olhar arrogante. Mesmo confusa com o comportamento agressivo, a loira resolveu ignorar. Afinal, já tinha muito com o que se preocupar. Entretanto, enquanto a encarava, não pôde deixar de notar a semelhança absurda Alexandria com  Alex, o menino que praticamente lhe atacara mais cedo naquele dia. Certamente, eram irmãos. Curiosa, A maga tornou a encarar a porta do salão, na expectativa de que o menino também entrasse. Estava tão distraída com todo o ocorido que apenas com a chegada da ruivinha sentiu a falta do outro.

— Seu neto não vai jantar conosco? - Intrigada, indagou ao velho.

— Neto? - Org ergueu as sobrancelhas, externando confusão.

— Sim. - A jovem confirmou, estranhando a reação do anfitrião.

— Bem, eu não tenho neto. - Respondeu o membro do conselho. - Alexandria é minha única neta. - Explicou.

— Como não? - Lucy perguntou, quase indignada. Não bastasse estar se sentindo uma tonta por ter aceitado aquele trabalho, agora queriam fazer com que ela parecesse ter perdido o juízo? - E o garoto que me atacou quando eu cheguei, o Alex-chan... - Começou a justificar, mas parou abruptamente ao se dar conta da situação.

Na mesa, Org olhava com um semblante nada amigável para a neta, que apenas rolou os olhos para cima.

— Claro. Você é "o" Alex-chan. - Constatou a loira, encarando Alexandria. - Desculpe-me pela confusão.

— Eu é que peço perdão pelo comportamento grosseiro de minha neta. - Org desculpou-se. - Alexandria não sabe se comportar como deveria.

— Você é realmente retardada, não é? - Completamente ignorando a admoestação do avô, a ruivinha perguntou a Lucy. - Como pôde me confundir com um garoto? - Questionou, parecendo ofendida.

— Na verdade - Laxus falou, manifestando-se pela primeira vez, desde o início do jantar. -, quando a vi entrar, pensei que estivesse travestido. - Completou, como se tivesse dito a coisa mais natural do mundo, limpando a boca com o guardanapo de tecido alvo em seguida.

— Laxus! - Censurou Lucy, envergonhada. Org por sua vez, parecia não ter dado importância ao comentário do dragon slayer, ao contrário de Alexandria, que irritou-se ao ponto de corar.

— Ora seu inútil de uma f...

— Alexandria! - Org interrompeu a neta, em tom severo. - Veja como trata meus convidados. Até porque, Laxus não falou nenhuma mentira. Apenas disse em palavras chulas o que eu lhe repito todo santo dia. - Ralhou.

Não apenas a garota se empertigou, afetada, como também o mago da Fairy Tail. Como assim palavras chulas? Palavras chulas o escambau!

Percebendo que o loiro ia abrir a boca para retrucar, Lucy deu-lhe uma cotovelada, sinalizando para que permanecesse calado. Laxus lhe encarou mortiferamente, mas acatou ao pedido mudo.

— Aliás Alexandria. - Continuou Org. - Não acha que deveria devolver os pertences de minha convidada? - Perguntou, fazendo tanto Lucy como a menina arregalarem os olhos. - Acredito que já tenha tido tempo o suficiente para saciar sua curiosidade. - Emendou.

— Minhas chaves! - Lucy levantou-se, esperançosa. - Estão com você?! - Disse, inclinando-se sobre a mesa e encarando a garota, que cruzou os braços e arqueou uma das sobrancelhas, desafiadoramente.

— Bela maga você é. - Zombou. - Foi tapeada por uma criança de oito anos e nem percebeu.

— Alexandria!!! - Exclamou o velho. Contudo, ignorando a irritação dele, a menina continuou:

— Tenho certeza meu avô te obrigou a ficar aqui, senão já estaria muito longe procurando por suas chaves. - Deduziu.

A loira enrubesceu de constrangimento. Mas a criança ainda não estava satisfeita.

— Ainda não consigo compreender o que passava pela cabeça de meu avô ao contratá-la. - Concluiu.

— Basta Alexandria! - Finalmente irritado, Org espalmou a mão contra a superfície da mesa, assustando não apenas a neta, como também Heartfilia, que sentou-se imediatamente. - Você não tem autoridade alguma para questionar minhas decisões. - Ralhou, olhando-a enfurecido.

Uma atmosfera de tensão e constrangimento se instalou sobre o ambiente. Contudo, Laxus parecia imune a situação, já que continuava comendo normalmente, como se nada estivesse acontecendo ao redor.

— A partir de amanhã, você treinará com Heartfilia. - Falou o anfitrião, fazendo com que a neta engasgasse com a própria saliva.

— O QUÊ??? - Ambas gritaram, incrédulas.

— Ah sim, perdoe-me. - Org direcionou-se a maga da Fairy Tail. - Eu não cheguei a lhe fazer a proposta formalmente, pois nossa conversa foi interrompida quando você percebeu o sumisso de suas chaves. - Falou. - Mas eu disse que tinha uma outra razão para chamá-la até aqui. - Lembrou.

— E essa razão é treinar a sua neta? - Questionou.

— Sim. - Confirmou o velho. - Além disso, tenho expectativas de que você consiga ensiná-la a valorizar sua magia e os espíritos celestiais.

— O senhor não pode estar falando sério! - Esbravejou a menina.

— Pareco estar brincando? - O membro do conselho voltou-se para a neta. - Se Heartfilia aceitar a proposta, vocês começam amanhã mesmo. - Completou. - O que me diz? - Perguntou a Lucy.

— Bem, eu… - Lucy começou. Ela realmente estava sentindo uma vontade enorme de voltar para casa, mesmo que Makarov tivesse ressaltado a importância da missão. - É que estamos em dezembro sabe? Eu queria estar em casa antes das festas de fim de ano. - Tentou.

— Entendo. - Comentou Org. - Mas eu não espero realmente um treinamento completo ou algo assim. Creio que duas semanas sejam mais do que suficiente. - Insistiu.

Lucy se viu acuada, sem desculpas para recusar.

— Acho que posso tentar ajudar. - Respondeu incerta, fazendo com que a menina lhe encarasse mortiferamente.

— Ótimo! - Exclamou o velho, satisfeito. - Eu sei que o seu colega veio para garantir a sua segurança, por isso vocês podem desfrutar das áreas de lazer da propriedade enquanto estiverem aqui. Além disso, como eu lhe disse anteriormente, certamente temos muitos afazeres por aqui. Vou pedir que os empregados façam uma lista de pedidos e, se quiserem, vocês dois podem realizá-las nas horas vagas. Garanto que lhe renderão um bom dinheiro.

— O que acha Laxus? - Perguntou Lucy, fazendo com que o dragon slayer finalmente adentrasse a conversa.

— Por mim, tudo bem. - Respondeu, mal humorado. - O velhote falou que não era para desgrudar de você mesmo. Vai ser bom poder fazer um trabalho ou outro enquanto estiver aqui.

A maga estelar remexeu a sopa mais uma vez. Já estava sem fome antes da confusão à mesa, agora ela perdera qualquer vontade de comer.

Era bem verdade que o que ela mais queria no momento era desistir da missão e voltar para casa. E isso, com certeza, não tinha nada a ver com o fato de ela ter brigado com o dragon slayer do fogo e estar com a consciência mais pesada que um piano de cauda, torcendo intimamente para que fizessem logo as pazes.

Claro que não.

• • • 

A maga da chuva movia seu corpo cautelosamente, na verdade, seus movimentos atingiam certa graciosidade, tudo para não afastar a pesca. Natsu, por sua vez, era atrapalhado e barulhento, afobado e impaciente, o que poderia transformar aquela missão em um fracasso.

Todavia, fazia um esforço descomunal para não estragar tudo, pois estava mais do que decidido a não voltar para o barco. Erza o ameaçara que, caso atrapalhasse Juvia, ele não só retornaria a embarcação, como seria pendurado no mastro de cabeça para baixo.

Após nadarem alguns minutos, perceberam a total ausência da espécie procurada nas proximidades da embarcação. Por isso, decidiram navegar mais alguns quilômetros mar adentro. Juvia retornou para o barco, enquanto Natsu implorou para que Happy o levasse, o que o exceed, surpreendentemente, concordou.

Após entrarem novamente, o mago do fogo e a maga da chuva procuraram por cerca de mais vinte minutos, até que finalmente avistaram um pequeno cardume. Dezenas dos peixes procurados.

Exultante, Juvia sinalizou para Salamander, que assentiu em concordância. A maga ainda estava surpresa com a excelente visão do companheiro de guilda. Era natural que ela, cujos poderes eram aquáticos, tivesse a habilidade de enxergar em baixo d’água, mesmo durante a noite. Porém, Natsu, embora não tivesse os olhos incomodados pela água salina graças a bolha de ar que envolvia sua face,  parecia completamente indiferente também a escuridão. E com isso, Juvia constatou que os poderes dos dragon slayers iam muito além do que a maioria imaginava.

Os dois nadaram mais de cinquenta metros para alcançarem os peixes. Natsu ia mais ao fundo, Juvia cerca de dez metros acima. Segundo combinaram antes de mergulharem, Salamander cercou o cardume em um círculo de fogo, não muito próximo, para não cozinhar os peixes ou machucar a companheira de guilda, e a jovem aproveitou que os animais estavam cercados para prêndê-los em sua Water Lock, que aparentemente funcionava tão bem dentro da água quanto fora dela.

Vendo que os peixes tinham sido capturados, Natsu cessou o circulo de fogo, e começou a nadar para a superficie, tal como a maga da chuva, que movia a esfera por detrás deles. Percebendo que ainda se encontravam longe da embarcação, Juvia os impulsionou com uma pequena onda, tomando cuidado para não desmanchar sua prisão de água.

Quando finalmente alcançaram o barco, a mulher chuva fez com que a esfera d’água emergisse e flutuasse até o convés, momento em que a desmanchou, fazendo com que os peixes despencassem no soalho, molhando por acidente todos os tripulantes.

— Tá chovendo peixe!!! - Happy voava, animado. - É um sonho!!!

— Juvia-chan!!! - Meldy reclamou, manhosa.

— Gomenassai!!! - A maga arregalou os olhos, vendo o desastre que provocara.

— Ótimo trabalho Juvia! - Erza elogiou, vendo vários peixes saltando pelo piso, enquanto Happy tirava os magos da água.

— Tá vendo? Sequer utilizamos a rede. Eu poderia muito bem ter ido com eles. - Gray reclamou.

— Pelo que eu to vendo, eles se saíram muito bem sozinhos. - Titânia rebateu, fazendo o mago do gelo corar envergonhado.

— Me deixa voltar pra água, por favor! - Natsu resmungou, já verde de enjôo.

— Vamos recolher os peixes, e aproveitamos para contar. - Meldy sugeriu, já que os bixos não paravam de saltar.

— Desculpem a bagunça. Mas achei que se utilizássemos a rede, perderíamos muitos. - Juvia justificou.

— Não precisa justificar Juvia. Eu fui sincera quando disse que você fez um ótimo trabalho. - Erza tornou a elogiar, enquanto colhia os peixes para um grande reservatório.

Os demais magos ajudaram a recolher e contar os peixes, e ficaram satisfeitos ao constatarem que a pescaria rendera quase 200.000 jewels por integrante da missão, incluindo Happy.

Mesmo enfraquecido pelo enjoo, Natsu não pôde deixar de comemorar mentalmente. Em uma missão de apenas uma noite, garantira o pagamento do aluguel de Lucy, e uma renda extra considerável. Com mais algumas missões simples, poderiam passar o restante do mês com tranquilidade.

Automaticamente, tal pensamento lhe remeteu a discussão que entravara com a parceira. Revoltado, suspirou, produzindo um ruído que foi interpretado pelos companheiros de time como um gemido decorrente do intenso enjoo.

Natsu nunca estivera em um relacionamento amoroso antes. Na realidade, até conhecer Lucy e, algum tempo depois, constatar a presença de estranhos sentimentos pela companheira, nem mesmo havia cogitado - seriamente - tal possibilidade.

Talvez por isso estivesse tão confuso,  sem a mínima ideia do que fazer para consertar a situação. Enquanto era apenas amigo da loira, não tinha um pingo de vergonha na cara para invadir o apartamento dela e conversar normalmente, mesmo que ela estivesse furiosa com ele. Então por que agora as coisas pareciam tão complicadas? Se ao menos pudesse conversar com alguém sobre isso… Mas aí sim, seria morto de vez por Heartfilia.

Independente da resposta, enquanto se contorcia mais que os peixes no reservatório, Natsu estava decidido: Daria um jeito nas coisas assim que Lucy retornasse.

• • • 

Incomodada pela claridade emitida pelo amanhecer, Lucy remexeu-se inquieta. Estava extremamente cansada pois, além de ficar preocupada e pensativa com sua missão e com os acontecimentos do dia anterior, sentia-se desconfortável naquele leito estranho, o que atrasou consideravelmente a chegada do sono.

Por mais que quisesse atribuir o incômodo apenas ao colchão, no fundo Lucy sabia o que realmente a tinha perturbado: A ausência do dragon slayer.

Embora a mudança de Natsu para seu apartamento fosse recente, desde então a garota só havia dormido sozinha nas poucas missões que fizera com sua equipe. Todas as outras noites, dividira a cama com o parceiro de time.

A lembrança da última noite que passaram juntos trouxe a maga um calor repentino, fazendo com que ela se levantasse abruptamente, decidindo por um banho antes de descer e encarar a neta - leia-se pestinha - de Org.

Contemplando brevemente o luxuoso quarto em que estava instalada, todo decorado em tons de azul, dirigiu-se ao banheiro e começou a encher a banheira.

Após um banho relaxante, vestiu-se com suas roupas comuns, apanhou suas chaves e retirou-se do quarto, seguindo o longo corredor emcarpetado na direção que julgava acreditar que se localizavam as escadas.

Felizmente, constatou satisfeita que acertara o caminho, e dirigiu-se a copa para realizar o desjejum. Sem a menor vontade de apressar seu encontro com a ruivinha, comeu tranquilamente, compensando a alimentação precária do dia anterior.

— Ohayou Gozaimasu, Heartfilia-sama! - Joanne, uma das empregadas da mansão que conhecera em sua chegada, cumprimentou.

— Ohayou Joanne! - Terminando de engolir, a loira respondeu. - Me chame de Lucy, por favor. - Pediu, tomando um pouco de suco de laranja.

— Como desejar, Lucy-sama. - Assentiu, fazendo a jovem maga torcer o cenho em desaprovação.

— Apenas Lucy está bom. - Insistiu.

— Entendido então, Lucy. - Sorriu para a garota. - Vim para avisar que Ojou-chan¹ está lhe aguardando  no pátio leste para iniciarem o treinamento. -  Avisou.

— Mas já? Ela não vai tomar o café da manhã? - Questionou, apressando-se.

— Ojou-chan sempre faz o desjejum em seu quarto. - Joanne Respondeu.

— Ok, então. - Secando a boca com um guardanapo, Lucy levantou-se. - Eu ainda não consigo me loalizar muito bem na propriedade. Você poderia me levar até lá? - Indagou Hertfilia.

— Certamente. - Joanne assentiu, sorrindo. - Acompanhe-me.

Lucy seguiu a empregada por outros tantos corredores da mansão, até chegar em uma das portas laterais que davam acesso ao exterior da propriedade. Dali, conseguiu vizualisar o pátio e a ruivinha sentada em um de seus inúmeros banquinhos adornados, dispensando então a ajuda de Joanne.

Conforme aproximava-se do local, a loira constatou que, tal como no dia anterior, Alexandria estava vestida com roupas mais despojadas, aparentando-se novamente a um garoto. A semelhança com Ged ainda a assustava.

Quando finalmente estava para atravessar um dos arcos que davam acesso ao pátio, sentiu o corpo, inesperadamente, perder o equilíbrio. Sem processar devidamente a situação, Lucy patinou, escorregando, até sentir os pés se embolarem em algo aparentemente invisível. Desequilibrando-se de vez, caiu de joelhos, sentindo, então, o quanto o piso estava pegajoso.

— Óleo.— Pensou. - Contudo, antes que tivesse chance de erguer a fronte em direção a responsável por tudo aquilo, a maga estelar sentiu a cabeça e os ombros umedecerem repentinamente, e em seguida o resto do corpo. Em cima do arco, acionado pela linha de nylon em que tropeçara, jazia um balde, agora vazio, já que seu conteúdo roxo e gosmento tinha sido completamente despejado em cima de Heartfilia.

Risadas infantis ecoaram por todo o ambiente. Ignorando a vontade de ter um ataque histérico, Lucy, ainda de joelhos, encarou Alexandria, que se apoiava nos joelhos, de tanto gargalhar.

Limpando a área ao redor dos olhos, a maga levantou-se com cuidado, recebendo imadiatamente um olhar desafiador da pirralha.

E naquele momento a loira constatou que as próximas duas semanas seriam muito piores do que tinha imaginado.

• • • 

¹ Ojou-chan: Significa algo como "princesinha". Geralmente é utilizado para direcionar-se a meninas ricas.