Conspiração escrita por Lura


Capítulo 23
Conspiração


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores divos!!!

Tudo bem com vocês ?

Eu estou ótima e feliz! =D

Bom, primeiramente, gostaria de pedir desculpas pelo atraso. Ocorre que, eu já não disponho de tanto tempo para escrever, o que está interferindo no meu ritmo de postagem. Não sei se conseguirei continuar atualizando uma vez por semana, infelizmente. =S

Entretanto, continuarei me esforçando.

Ah, quanto aos comentários, peço perdão aos que ainda não respondi, prometo que o farei em breve. Vocês sabem que sempre respondo todos, leio cada um com muito carinho.

Por falar neles, vamos aos agradecimentos aos leitores que fizeram a minha vida mais alegre, dedicando um tempinho para comentar o capítulo passado: Giu Bloodie S2, GabbySaku, Saberus, Peter Flach, Trash, Gutor, Vicky Scarlet, Happy Reader, BlueQueen e QueenRachel. Obrigada, de coração!

Antes de passarmos para o capítulo, importante deixar algumas considerações:

Eu não sei se há algum leitor que é acadêmico ou atuante na área do Direito, mas, ainda assim, sinto-me na necessidade de esclarecer: O universo original de Fairy Tail não expôs quase nada sobre o sistema jurídico de Fiore. Uma das únicas coisas que sabemos é que os crimes que envolvem magia são julgados pelo Conselho Mágico.

Por isso, eu vou ter que inventar muita, muita coisa. E, pelo pouco que o anime forneceu, não vai ser quase nada baseado no Sistema Jurídico Brasileiro.

Pode parecer besteira, mas não ia me sentir bem se não informasse. Nas notas dos próximos capítulos, eu vou tentar explicar direitinho como funcionam as coisas na fic, ok?

Dito isso, espero que vocês curtam mais este capítulo, recheado de tensão.



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Capítulo XXII - Conspiração

 

Magnolia - 30 de março de x792

O dragon slayer do fogo abriu os olhos lentamente, piscando repetidas vezes até que suas vistas se adaptassem a claridade local. A desorientação de quem acabava de despertar durou poucos instantes, sendo imediatamente substituída por um desespero sem tamanho, acompanhado de uma ira descomunal.

Ele mal perdeu tempo analisando as pessoas que o encaravam, preocupadas, fixando-se unicamente naquele que considerava o culpado por tê-lo impedido de agir.

— JELLAL, SEU DESGRAÇADO! - Gritou, impulsionando o corpo para frente, na intenção de alcançar o mago de cabelos azulados, que o fitava apático.

Entretanto, sentiu, com um solavanco, o próprio tronco retornar com tudo para trás, chocando-se contra a espalda da cadeira onde estava acomodado. Ou melhor, onde estava acorrentado.

— O QUE. VOCÊS. PENSAM. QUE. ESTÃO. FAZENDO? - Inquiriu, pontuando cada palavra com incredulidade, sacudindo-se freneticamente na tentativa de libertar-se das correntes que fixavam seus braços ao móvel de metal.

— Natsu, tente se acalmar… - Makarov pediu, sendo furiosamente interrompido.

— ME ACALMAR É O CACETE! - Berrou, decidido a se soltar, por bem ou por mal. Afinal, Lucy estava em perigo e ninguém iria impedi-lo de salvá-la.

Resoluto, tentou invocar o próprio poder mágico para derreter as correntes se preciso fosse, surpreendendo-se ao não sentir a reação esperada.

— Mas o quê…? - Indagou, fitando as próprias mãos, com espanto.

— São algemas que inibem magia, Natsu. - O mestre explicou. - Eu tive que usá-las, pois sabia que você não nos escutaria voluntariamente. - Justificou.

— Eu não preciso escutar nada! - Exclamou, pocesso. - Eu preciso resgatar a Lucy! Me tirem daqui, agora! - Ordenou.

— Natsu, por favor, escute o que o mestre tem a dizer. - A voz condescendente de Mirajane alcançou os ouvidos do mago do fogo.

— Vocês não entendem! - Retrucou ele. - Vocês não entendem, a Lucy… - Seu furor era tamanho que mal conseguia formular frases coerentes. - A Lucy, ela… Ela está...

— Natsu, nós sabemos. - Dessa vez, o timbre calmo de Jellal atalhou. - Sabemos que Lucy está grávida. - Confidenciou, atraindo novamente a atenção de Salamander, que tinha os olhos arregalados.

Contudo, a estupefação não durou muito tempo.

— Se você sabia, então por que nos impediu de salvá-la, maldito??? - Questionou, agitando-se tanto que a cadeira onde estava preso tombou lateralmente. Todos os presentes reprimiram um suspiro desanimado.

Mesmo caído, com a bochecha latejando pela recente colisão contra o assoalho, Natsu não conseguia deixar de pensar em Lucy. Não conseguia afastá-la de sua mente um segundo sequer, não quando ela estava sendo submetida a uma injustiça tão absurda.

A sequência de acontecimentos ocorrida antes que Mystogan o induzisse - juntamente com o restante da guilda - a um sono profundo, repetia-se em sua cabeça, roubando-lhe qualquer partícula de paz. Faltavam-lhe palavras para descrever a repentina prisão de Lucy, apenas porque era uma ideia absurda demais. Inconcebível. Algo que nunca passaria por sua mente.

Mas acontecera.

Interrompendo as comemorações do Pré-Hanami, uma guarnição dos Cavaleiros Rúnicos liderada por Doranbolt, adentrou a guilda, chamando por Lucy Heartfilia e lhe dando voz de prisão.

Todos os presentes no local pareceram congelar ante a notícia. Nada além da música alta e animada, que vinha tocando até então, podia ser ouvido no salão. Aterrorizada, Lucy pestanejou, antes de perguntar:

— Isso é um engano, certo? - Inquiriu. - Por que raios eu estaria sendo presa? - Acrescentou, com a voz trêmula.

— Você está sendo acusada da prática dos delitos de dupla traição contra o Reino de Fiore, por compactuar com a construção do Portão do Eclipse e com a Nihil Occultum, e também pelo Homicídio de Yukino Aguria. - Lahar respondeu, sério. - Tipificados, respectivamente, nos artigos 289 e 121 do Código Penal Mágico. - Complementou.

A loira piscou, aturdida. Aquelas palavras eram tão esdrúxulas que ela nem sabia como respondê-las. Porém, não era esse o caso do dragon slayer do fogo.

— Que piada de mal gosto é essa? - Assumindo a frente, Natsu indagou, enraivecido. - Como podem acusar a Lucy dessas coisas e ainda ter matado Yukino? - Perguntou, incrédulo. - Vocês tem ideia do quanto ela chorou pela morte dela? - Acrescentou, cerrando os punhos.

— Isso não é algo que possamos resolver em uma discussão. - Doranbolt retomou a fala. - Lucy Heartfilia será submetida a um julgamento pelo tribunal mágico. - Explicou. - Ela deve nos acompanhar pacificamente, ou teremos que usar a força. - Alertou.

Àquele ponto, o ambiente estava novamente em polvorosa. Todos os presentes, magos e visitantes, cochichavam, aparvalhados com o que estavam presenciando. Os diversos repórteres presentes, faziam com que suas câmeras funcionassem a todo vapor, ávidos por um furo de reportagem como mariposas são atraídas pela luz.

— Lucy não será levada a lugar algum! - Natsu bradou, postando-se a frente da parceira de equipe, os punhos já em chamas.

— Natsu! - Lucy tentou acalmá-lo, colocando as mãos geladas e trêmulas sobre os ombros do mago do fogo. Embora estivesse apavorada com a situação, sabia que arranjar briga com os funcionários do Conselho Mágico era sempre uma péssima opção.

A reação da guarda foi imediata. Todos os soldados colocaram-se imediatamente em posição de batalha. Entretanto, não eram os únicos dispostos a lutar.

Refletindo os movimentos da guarda, todos os membros da Fairy Tail, sóbrios e ébrios, prepararam-se para atacar, o que, em números, representava uma grande desvantagem para a milícia. Além disso, a equipe da loira, juntamente com Levy, Gajeel, Juvia e Mirajane, formaram um cerco ao seu redor.

— Essas acusações são completamente estapafúrdias. - Erza chacoteou. - Ninguém vai encostar na Lucy! - Mesmo com os pensamentos enevoados pelo álcool, desafiou, apontando uma espada em direção aos funcionários do Conselho.

Lahar olhava para o grupo, a expressão completamente desgostosa. Doranbolt meneou a cabeça, negativamente, antes de inquirir:

— Vocês entendem que, dessa forma, estão declarando guerra ao Conselho Mágico? 

— Não. - Negou Dragneel. - Vocês é que estão declarando guerra a Fairy Tail. - Contestou, preparando-se para avançar em direção ao inimigo.

— Natsu! - A maga estelar chamou, alarmada, percebendo que ele realmente atacaria os soldados.

Todavia, ao ensaiar o primeiro passo contra os oponentes, Dragneel, repentinamente, caiu de bruços, aterrissando desacordado no chão.

— NATSU! - Heartfilia gritou, desesperada correndo até o rapaz e agachando-se ao lado dele.

Antes que pudesse formular qualquer teoria que explicasse o desmaio repentino do dragon slayer, o barulho de mais corpos chocando-se contra o piso chamou sua atenção.

Erguendo a cabeça, a maga contemplou, espantada, os companheiros de guilda, visitantes, e até mesmo jornalistas, despencarem inconscientes, um a um.

— Mas o quê…? - Questionou, vendo que, além dela própria, apenas a unidade do Conselho permanecia desperta. Entretanto, os primeiros aparentavam estar tão confusos quanto ela.

— Peço perdão pelo comportamento de meus filhos. - Uma voz imponente ecoou, sobrepondo-se a música.

Os presentes ainda acordados, seguiram a direção em que o som se originava, deparando-se com a diminuta figura que descia tranquilamente as escadas de madeira.

— Nós não continuaremos interferindo em sua missão de levá-la. - Garantiu, aproximando-se.

— Mestre… - Caída, de joelhos, Heartfilia chamou, um tanto atordoada com as palavras que tinha acabado de escutar.

— Lucy, minha filha - O velho começou. -, levante-se. - Ordenou.

Enxugando os olhos, que insistiam em derramar lágrimas teimosas, com as costas das mãos, a loira obedeceu.

— Eu não sei o que está acontecendo aqui - Makarov começou, esforçando-se para alcançar as mãos da maga -, mas garanto que não estamos abandonando você. - Explicou. - Será que você pode confiar em mim e aguardar? - Pediu, esforçando-se para manter a calma.

Lucy piscou, ao constatar o que os olhos do mestre denunciavam: Ódio e revolta. Mesmo as mãos do pequeno homem tremiam pelo esforço de conter em seu interior sentimentos tão intensos.

Hai. - Murmurou, caindo em prantos. Estava apavorada, não podia negar. Mas não tinha outra opção além de acreditar nas palavras de seu mestre.

Chorando, copiosamente, sentiu os pulsos serem envolvidos pelo metal gelado das algemas, enquanto encarava, uma última vez, o rosto desfalecido do mago do fogo.

Quando as pessoas começaram a despertar, completamente desorientadas, não havia sinal algum de Lucy ou dos Cavaleiros Rúnicos. Mais estranho ainda, o dragon slayer do fogo também aparentava ter desaparecido.

Coube a Mirajane, que recuperou-se rapidamente, e a Makarov, a tarefa de dispensar todos os presentes, magos e visitantes, com exceção de alguns membros, que foram discretamente convocados a sala do mestre.

Laxus e Erza foram encarregados de vigiar o prédio da Guilda nas horas seguintes, evitando que os repórteres ou curiosos, o invadissem em busca de respostas. Um tanto relutantes e revoltados, por serem excluídos da conversa que se seguiria, os magos aceitaram, confiando na decisão do Mestre de privilegiar apenas alguns integrantes com esclarecimentos.

E ali estavam eles.

Mirajane, Wendy, Charle e Jellal encontravam-se acomodados no elegante escritório, fitando Natsu, que ainda jazia tombado no chão, atado a cadeira. As duas primeiras fizeram menção de auxiliar o colega, mas foi o mago de cabelos azuis, que até então escorava-se em uma prateleira repleta de livros, que o alcançou primeiro.

Concentrado unicamente no propósito de ajudá-lo, mal percebera que, tão logo endireitou a cadeira de volta em seu lugar, o dragon slayer jogou a cabeça para trás, impulsionando-a e acertando em seguida em sua testa. Surpreso e tonto, Jellal caiu sentado.

— Natsu! - Makarov ralhou.

— Por sua causa, eu não pude salvá-la! - Vociferou Salamander, encarando com amargura o mago estirado no chão.

— Talvez eu tenha merecido isso. - Esfregando a fronte, na tentativa de amenizar a dor lascinante, o rapaz admitiu.

— Ótimo desgraçado! É só me soltar que eu te dou a surra que você está merecendo faz tempo! - Provocou o mago do fogo.

— Natsu, já chega! - Determinou o velho, levantando-se. - Mystogan agiu sob minhas ordens. - Comunicou, saindo de trás da escrivaninha e aproximando-se.

Dragneel encarou o pequeno homem, os olhos arregalados. As duas moças ajudaram Jellal a se levantar, e a exceed, permaneceu sentada, observando a sequência de acontecimentos.

— Por quê? - Indagou, ressentido. - Por que você sempre me impede de salvar a Lucy? - Acrescentou. - Não é a primeira vez que me amarra assim. - Lembrou. - Você até mesmo mandou que me dopassem em Zamúria! - Exasperou-se. - Por que tudo isso? - Concluiu aos berros, externando sua revolta.

Mesmo ante a exaltação do rapaz, Makarov continuou o encarando firmemente e, em tom austero, respondeu:

— Eu estava tentando impedir que você se tornasse um obstáculo para o Conselho Mágico. - Explicou o mestre. - Desde a suposta morte de Lucy, eu sabia que algo estava errado. Contudo, se você se colocasse no caminho deles, os responsáveis se sentiriam acuados e tornariam a tarefa de pegá-los ainda mais difícil. - Narrou. - Por isso pedi que Mystogan investigasse tudo na surdina, de modo que a segurança se Lucy não fosse comprometida. - Completou.

— Entretanto, mesmo com as pistas que coletei, não fui capaz de supor que eles fariam algo assim. - Lamentou o mago de cabelos azuis.

— Eu não quero saber o que vocês andaram fazendo, ou deixando de fazer! - Cortou Salamander.

— Natsu… - O foragido tentou.

Porém, qualquer argumento empregado na tentativa de abrandar seu comportamento, mostrava-se vão. O dragon slayer seguia se contorcendo, freneticamente, tentando livrar-se dos grilhões que o acorrentavam. Irado, rugia a cada tentativa falha, contorcendo a face em um semblante insano.

— Natsu, por favor, se acalme! - Mirajane pediu, aflita.

— Eu vou salvar a Lucy, com ou sem a ajuda de vocês! - Gritou, fora de si. - E é melhor vocês me soltarem, ou garanto que irão se arrepender caso eu saia daq… - Ameaçou, mas foi bruscamente interrompido.

O ruído provocado por um estalo seco ecoou pela sala.

Mirajane e Charle encararam a cena, estupefatas. Mesmo Jellal e o Mestre, tinham os olhos arregalados, completamente surpresos com o que haviam presenciado.

Parada, ante ao mago do fogo, encontrava-se uma Wendy extremamente furiosa. Seu braço direito ainda estava estendido na diagonal contrária, devido a bofetada que havia desferido contra a face dele. A palma de sua mão ardia, graças a força empregada no golpe, assim como a bochecha do rapaz que, atordoado, permanecia com o rosto virado.

Quando girou o pescoço para encará-la, Natsu encontrou a garota completamente enfurecida. Não havia a meiguice costumeira em seus olhos castanhos, que se estreitavam ante a raiva que sentia. Até mesmo a face rosada estava tomada pelo rubor.

— Contenha-se! - Rugiu ela, a doce voz distorcida pela cólera. - Se você quer mesmo salvar a Lucy-san, aprenda a agir com a cabeça, e não apenas com a força! - Continuou aos berros.

Os demais, permaneciam no mais completo silêncio, sem ousar interferir no momento.

— Se você vai ser pai, comece a se comportar como um! - Despejou, abaixando os braços e cerrando os punhos. - Pare de agir impulsivamente e pense no que é melhor para Lucy-san e o bebê! - Concluiu, inspirando fundo.

Só então, a pequena curandeira sentiu o peso dos olhares de seus colegas sobre si. Percebendo o que havia feito, corou ainda mais, dessa vez pelo constrangimento. Todavia, seguiu sem se desculpar para o lugar onde estava sentada anteriormente.

Os olhos escuros e aguçados do mago do fogo permaneciam arregalados, tomados pela surpresa perante o comportamento da colega, assim como os demais membros do grupo seguiam calados, sem saber ao certo como retomar a conversa.

E quando o mestre havia decidido arriscar uma nova tentativa de debate, retraiu-se ao reparar que o rapaz de cabelos róseos abaixara a cabeça. Seu corpo inteiro tremia, denunciando a enorme fúria que estava contendo.

Resignado, Makarov realmente acreditou que Salamander recomeçaria a gritar, quando sua voz surpreendente amena cortou o ambiente:

— Ela não está muito bem. - Declarou, o timbre sôfrego carregado de angústia. - A Lucy, ela… Não está muito bem. - Explicou, atrapalhando-se com as próprias palavras. - Eu não quero que ela fique naquele lugar. Não quero que nosso filho nasça naquele lugar! - Completou, mantendo a fronte abaixada.

Os presentes trocaram olhares de piedade. Era impossível não se solidarizar com a situação do rapaz. Contudo, mesmo que todo o ódio que ele sentisse fosse justificável, ainda era necessário que agissem com cautela em tal situação.

— Estamos trabalhando para que isso não aconteça, Natsu. - Garantiu o velho, em tom complacente. Dando um longo suspiro, continuou: - Nós precisamos conversar, para entendermos a situação e formularmos um plano que seja seguro para Lucy e o bebê. Mas eu não gostaria que você participasse disso acorrentado. - Contou. - Se nós o soltarmos agora, promete se comportar? - Inquiriu.

Ainda de cabeça baixa, o dragon slayer apenas meneou a cabeça, positivamente.

— Ok. - Disse Makarov, recuando alguns passos. - Solte-o. - Ordenou, voltando-se para Jellal.

O mago de cabelos azuis cumpriu a ordem prontamente, destrancando as correntes que prendiam o mago do fogo, embora se mantivesse atento, para a possibilidade de ser novamente atacado. Entretanto, Natsu permaneceu quieto.

Finalmente liberto, massageou brevemente os pulsos, que adquiriram leves ferimentos durante suas tentativas inconsequentes de se despreender. Sem olhar diretamente para qualquer um dos presentes, caminhou até um dos estofados que mobiliavam o escritório, acomodando-se em uma das poltronas individuais. Os demais não demoraram a segui-lo, ocupando os lugares restantes.

— Então - Começou, apoiando os cotovelos nos joelhos e a testa sobre os dedos cruzados de suas mãos, demonstranto claramente que evitaria qualquer tipo de contato visual. -, Wendy lhes contou sobre a gravidez? - Indagou.

A pequena curandeira fitou o piso, novamente sentindo a culpa e a vergonha de ter quebrado a promessa que havia feito.

— Eu estava de passagem por Magnolia e resolvi parar para reportar ao mestre alguns resultados dessa última viagem. - Contou Mystogan. - Entretanto, como não pretendia ficar, não queria ser visto por ninguém mais da Guilda. Quando percebi a aproximação de algumas pessoas, escondi-me no depósito. - Fez uma pausa, achando a própria atitude um tanto quanto ridícula. - Foi assim que escutei furtivamente uma conversa entre Mirajane e Wendy e, acidentalmente, tomei ciência dos fatos. - Concluiu.

Gomen ne, Natsu. - Pediu a albina. - Mas desde que Charle teve aquela visão, no ano passado, que eu fico morrendo de curiosidade para saber quando ela se realizaria. - Confessou. - Por isso forcei Wendy a me contar sobre a gestação. - Justificou-se.

— Visão? - Atraído pelo termo, o mestre perguntou. - Que visão? - Quis saber.

— No dia do chá de bebê da Evergreen, eu tive um vislumbre do futuro. - Respondeu a exceed branca, manifestando-se pela primeira vez desde que chegara ali. - Onde Lucy segurava um bebê em seu colo, e Natsu a abraçava. - Emendou, constrangida. - Na hora, eu fiquei tão perturbada, já que até então acreditava que Lucy estivesse morta, que acabei contando o que havia visto para Mirajane e Wendy, e posteriormente para Natsu. - Finalizou.

Só então, Salamander ergueu a cabeça, recordando-se daquele dia. Na ocasião, não havia a mínima ideia do verdadeiro significado da visão da pequena felina. Entretanto agora, aquela previsão cristalizava-se dia após dia em seu presente.

— E foi por isso que descobrimos que Lucy realmente estava viva. - lembrou. - Por causa dessa visão eu invadi a Fairy Hills, para procurar a Erza e pedir ajuda.

— Atrapalhando, provavelmente, um dos melhores momentos da minha vida. — Jellal acrescentou, em pensamento, relembrando-se de toda a vergonha e frustração enfrentada no fatídico dia.

— Mas naquela época, eu não dei importância ao fato de, na visão, Lucy estar com um bebê no colo. - Confessou. - Jamais imaginei que esse bebê fosse… - Interrompeu-se, corando pelo que diria a seguir. - Nosso. - Concluiu.

Makarov estudou o rapaz, por alguns instantes, e meneou a cabeça negativamente. Era realmente difícil de acreditar que justamente o pateta do Natsu estava prestes a tornar-se pai.

— Você é mesmo um idiota. - Deixou escapar.

Percebendo que o jovem de cabelos róseos já havia aberto a boca para retrucar, o foragido apressou-se em cortá-lo:

— Como fiquei na cidade mais que o previsto, acabei presenciando o momento em que os Cavaleiros Rúnicos chegaram. - Relatou. - Logo, tratei de comunicar ao mestre sobre a situação e o estado de Heartfilia. - Finalizou.

— E - Continuou Makarov -, sob as minhas ordens, induziu todos ao sono. - Revelou. - Buscando evitar que você ou qualquer outro cometesse a besteira de impedir a prisão de Lucy ou tornar a gestação pública. - Explicou.

Com tais palavras, o velho percebeu que, com exceção de Jellal, os demais participantes daquela conversa lhe dirigiam olhares indagativos. Não tardou muito para que Wendy, tomando a frente, externasse a dúvida de todos os ouvintes:

— Eu até entendo que não é muito prudente interferir em uma prisão, mas qual o problema em revelar a gravidez de Lucy-san? - Questionou. - Isso não a ajudaria? Afinal, seu estado requer cuidados constantes. - Lembrou, demonstrando toda a preocupação que sentia pela colega de time.

— Garanto que vocês logo compreenderão nossos motivos. - Afirmou Dreyar. - A questão é a extrema importância de que a gestação de Lucy permaneça em sigilo por enquanto. - Enfatizou. - Por esse motivo, reuni aqui apenas as pessoas que tinham conhecimento da gravidez. - Emendou.

— Para que não comentemos com o restante da Guilda. - Charle seguiu o raciocínio.

— Exato. - Assentiu o pequeno homem.

A não ser pelo mago de cabelos azuis, os outros magos e a exceed não conseguiam sequer imaginar porque ocultar a gravidez de Lucy era necessário. Entretanto, ninguém além de Natsu pareceu ter vontade de apresentar mais questionamentos sobre o assunto:

— Isso pode ajudar a Lucy a sair? - Indagou, interessado.

— Isso pode dar a ela algumas vantagens. - Respondeu Jellal.

— Mas eu não quero apenas vantagens! - O mago de cabelos róseos falou, entredentes. - Quero a Lucy livre! - Declarou. - Ela não traiu o reino e muito menos matou Yukino. Todos aqui sabem disso, portanto não há razões para que ela seja acusada! - Exasperou-se.

— Conforme você mesmo disse, Natsu, todos aqui sabem disso. - Repetiu o foragido. - Por isso, você acredita mesmo que o Conselho Mágico mandaria prendê-la, se não estivesse fortemente armado para sustentar tal acusação? - Perguntou, fitando-o diretamente nos olhos.

Dragneel piscou, levemente confuso.

— Não importa o que eles digam, tudo não passa de um monte de mentiras! - Retrucou.

— Mentiras que podem se tornar verdade diante de um tribunal ou da população. - Sustentou Mystogan.

— Como ousa? - O dragon slayer rugiu, avançando novamente contra Jellal, sendo prontamente segurado por Mirajane e Wendy.

— Natsu, sente-se! - Makarov ordenou, irritado. - Ou não pensarei duas vezes antes de te amarrar novamente! - Ameaçou.

A contra-gosto, o mago do fogo retomou seu lugar, cruzando os braços e olhando para o outro lado.

— O que eu estou querendo dizer - Mystogan continuou, sabendo que, mesmo que desviasse o olhar, Dragneel ainda estaria atento ao assunto. -, é que tudo foi minuciosamente calculado para que parecesse verdade. - Contou. - Até mesmo o momento da prisão foi preparado com cautela, para que ocorresse em uma ocasião com o maior número de testemunhas possível.

— Os jornalistas! - Mirajane exclamou, abismada. Jellal lhe deu um sorriso, frustrado.

— É certo que, já nas próximas edições, os principais jornais e revistas de Fiore estarão estampados com as “melhores” fotografias da prisão de Lucy. - Afirmou, desgostoso.

— Desgraçados! - Praguejou Natsu, esmurrando o braço de madeira do antigo estofado que ocupava, que partiu-se facilmente ante ao golpe recebido.

— O Conselho Mágico foi preciso ao nos deixar de mãos atadas, por enquanto. - Continuou o mago de cabelos azulados, ignorando a depredação. - Em uma só jogada, ao culpar Lucy, poderá justificar o incidente com o Portão do Eclipse e com a Nihil Occultum e, de brinde, ainda ficará com uma maga estelar contratante de todo o zodíaco sob seu domínio. - Explanou.

— Você está dizendo que tudo isso foi armado apenas para que eles pudessem dominar a magia da Lucy? - Perguntou Salamander, sentindo o próprio ódio crescer de forma descomunal.

— Bem, é uma possibilidade. - Respondeu. - Afinal, com o Projeto Heaven, fomos capazes de presenciar as proezas que a magia zodiacal é capaz de realizar. - Lembrou.

— Isso é… - Wendy balbuciou, chocada. - Horrível! - Completou.

— Estamos diante de uma conspiração. - Declarou Jellal. - Ou até mesmo de um golpe. - Sugeriu. - Já que, eu mesmo, não tenho certeza quanto aos limites da ganância de quem está por trás disso. - Admitiu, com a mente trabalhando em inúmeras novas teorias.

— Se isso que está falando é verdade, então não podemos esperar para tirá-la de lá! - O dragon slayer exclamou, caindo em desespero. - Lucy e o bebê podem estar em perigo neste exato momento! - Insistiu, levantando-se.

— Acalme-se, Natsu. - O mestre pediu. - Sabemos que, pelo método de ataque escolhido pelo Conselho Mágico, Lucy estará a salvo por um tempo. - Afirmou.

— Afinal, eles têm que fazer com que pareça um julgamento justo. - Lembrou o foragido. - Então, ao menos até que seja condenada, eles precisam da Lucy viva e bem. - Concluiu.

Mesmo com tais palavras, o mago do fogo não conseguiu tranquilizar-se, de modo que começou a caminhar de um lado para o outro, sobre o tapete de centro, até que atinou para o significado oculto da última frase proferida:

— Você disse que eles precisam dela viva até a condenação. - Repetiu, cauteloso. - O que acontece com a Lucy se ela for condenada? - Inquiriu, incisivo.

Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Natsu percebeu, incomodado, os olhares aflitos que os demais trocaram entre si. Temeroso, sentiu um arrepio subir-lhe a espinha.

— Os crimes de traição e homicídio, pelo Código Penal Mágico, possuem pena capital. - Jellal respondeu, sério. - Se Lucy for condenada, será sentenciada a morte. - Concluiu.

Desde o momento em que a loira havia sido presa, Dragneel sentira fúria, ódio, raiva e mais uma gama de emoções negativas que o mantiveram ativo e impaciente. Entretanto, as últimas palavras de Mystogan, despertaram nele o sentimento com o qual ainda não estava acostumado a lidar:

Medo.

Um medo tão avassalador que fez com que sua face empalidecesse drasticamente e suas pernas fraquejassem por um instante.

Sem ação, apenas encarou os presentes, um a um, na esperança de que alguém dissesse que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de mau gosto.

— Natsu. - Makarov chamou, vendo o estado catatônico do rapaz. - Nós não permitiremos que nada aconteça a Lucy. - Garantiu. - É para isso que estamos aqui, para pensarmos na melhor estratégia para lidar com a situação. - Lembrou.

— E você precisa ser forte e permanecer calmo, pela Lucy-san e pelo bebê! - Tentou Wendy.

Todavia, o jovem permanecia incapaz de mover-se ou dizer qualquer coisa.

— E não é uma boa maneira de começar a agir fazendo com que eles provem da própria armadilha? - Mirajane manifestou-se, também levantando, com um semblante exultante. Os presentes voltaram-se para ela, curiosos, e até mesmo Natsu sentiu-se vagamente atraído.

— No que está pensando? - Incentivou Makarov.

— Vamos fazer com que toda a repercussão que eles causaram se torne um tiro nos pés - Contou, abrindo um sorriso diabólico. -, usando-a contra eles.

 

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Curtiram?

Alguém tem ideia de qual seja o plano mirabolante da Mira? Só adianto que vai render alguns momentos divertidos.

É isso. Vejo vocês no próximo!

Até mais!



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