Nenhuma aula tinha se firmado ainda, então cada dia era uma nova "surpresa" para nós alunos. Não sei o porquê, mas estava muito mal humorada, ao extremo, simplesmente sai de casa com os fones de ouvido grudados em mim, no último volume da música mais alta que eu tinha. Entrei na sala desejando voltar para a cama. Sim, estava muito calor e isso me deixa desse jeito. Sentei na minha carteira e minhas amigas não tinham chegado ainda. Mas ao passar pela sala via a mochila de Gabe ali, jogada na carteira, só que em uma carteira diferente, no outro canto da sala, na parede. Sentei-me, encostei-me à parede e esqueci tudo, da escola, do garoto, até do meu mau humor inexplicável. Simplesmente fiquei curtindo meu som o mais alto que pude. Quando abri os olhos novamente, a sala estava quase cheia, pisquei um pouco para ajustar o foco e me deparei com dois olhos castanhos me olhando, com a boca entreaberta, seus olhos sendo um pouco invadidos pela franja espessa. Aqueles olhos pertenciam a Gabe, nos encaramos por um tempo, eu que desviei o olhar bruscamente em busca de algo mais interessante, não que ele tivesse mudado nem nada, só não queria ficar olhando pro menino com uma cara de panda com fome. As aulas passaram bem, às vezes eu o olhava, e seus olhos penetrantes atravessavam minha pele. Resolvi me fazer de cega e esquecê-lo. Até que chegou a aula de educação física. Preferia morrer á correr em volta da quadra por 4 minutos. Mas corri, como a "boa" aluna que sou. Na verdade eu andei junto com Chels, já que a Kat adorava correr.



- Ai Chels, que ódio. - Falei enquanto subíamos e descíamos do banco (um obstáculo)

- Ai, eu não aguento educação física. É uma tortura sem fim... - Assim que ela falou o menino chamado Gabriel passou pela gente correndo. Assim que os 4 minutos acabaram, todos fizeram um circulo para começar o alongamento, o tal do Gabriel não parava de falar até na educação física, ele comentava tudo com os professores, um perfeito nerd. Ele estava me irritando, sempre que fazia algo antes de mim me olhava com aquela cara de bebê super orgulhos e metidinho, muito fofo. Mas isso me irritava profundamente, mais que tudo. Durante a aula tortura fiquei sentada no murinho com minhas amigas, enquanto uns jogavam futebol e outros dois grupinhos jogavam vôlei. O tal do Gabe foi jogar vôlei, toda vez que a bola escapava e ele tinha de passar por mim para pegar a bola, me olhava nos olhos, me deixando furiosa. Nem todo mundo tinha coragem de fazer isso, me olhar nos olhos. Eu sou o tipo de garota que as pessoas não se sentem bem olhando as "janelas da alma" que são os olhos, talvez não se sintam a vontade com isso, talvez eu não tenha uma alma. As pessoas simplesmente olhavam para o cabelo, por cima do meu ombro, ou para a minha boca enquanto falávamos. Mas aquele garoto insistia em me olhar nos olhos, e sim, eu via isso como uma provocação. Irritava-me, ele em si me irritava, o jeito que me olhava quando terminava alguma coisa antes, ou quando fazia uma coisa melhor, como se fosse uma competição. Um ridículo concurso para ver quem era melhor ali. A aula acabou e fomos para a sala onde ia ser matemática, e a professora resolveu fazer uma dinâmica, fomos ao pátio onde estavam as árvores, fizemos um circulo. Nossos olhos se encontravam sempre, já que eu era do tipo que olhava para todos. Eu gostava de ver as pessoas com vergonha de olhar nos meus olhos e olharem para baixo. Mais ele não. A dinâmica foi legal. Nós tivemos que andar um pouco, mais foi legal. Voltei para a casa já mais calma, já que na última aula eu nem olhei pro lado, eu pluguei meu fones e ouvi Fall Out Boy a aula inteira.