Acordei para ir para escola, estava cansada, de mau humor, como se isso fosse novidade. Arrumei-me com a primeira coisa que vi no meu armário, um jeans e uma blusa preta. Coloquei um casaco e um all star, pluguei meus fones nos meus ouvidos e fui para escola. No caminho passei um lápis bem básico e um gloss rosa que estava sempre na minha bolsa. Tinha um sol fraco, tava bom assim. Entrei na sala de aula quase 5 segundos antes da professora, sentei-me no meu lugar, um sorrisinho foi o suficiente para cumprimentar todos que eu conhecia.

Suspirei sentando na minha cadeira e percebendo que Gabriel não tinha faltado e estava atrás de mim, com uma cara que eu não entendia. Dormi profundamente durantes as três primeiras aulas, como quase todo mundo que estava naquela sala, parecia que o dia anterior tinha sido horrível para a humanidade.

O sinal do intervalo me acordou, mas continuei deitada, estava com sono e uma sala vazia é ainda melhor para dormir, suspirei e sorri, ouvindo o barulho ir pela porta e ficar cada vez mais longe, e então a porta sendo fechada.

Sossego.

Minha respiração ia ficando mais lenta, os membros do meu corpo estavam ficando moles, eu estava quase dormindo. Então uma voz conhecida me chamou.

- Evie...

Levantei minha cabeça devagar e senti minha visão escurecendo e voltando ao normal, pisquei algumas vezes, olhei seu rosto, agora ele estava sentado na minha frente, olhando para mim.

- Gabriel... – falei baixo com muito sono ainda, o arrependimento também pesava na minha voz. – Olha, eu sinto muito por ontem. Eu não queria ter falado aquilo na frente do seu pai, aliás, eu nem sabia que ele era seu pai, pra mim ele estava em Miami, eu nunca deveria ter falado aquilo.

- Ta tudo bem... – ele disse suspirando. Ficamos em silencio por um tempo, somente nos olhando. – Sabe... – ele quebrou o silencio olhando para minha mala que estava em cima da mesa. – Eu queria te agradecer por ter ficado comigo ontem. Eu já to bem melhor, e até pude vir para escola. – ele sorriu sem tirar os olhos da minha mala.

- Que bom... – suspirei.

- Ele voltou pra Miami hoje de manha, depois de me dar um presente de melhoras. – ele falou mordendo o lábio e olhando pra minha mala ainda. O que ela tinha de tão interessante.

- A... Sinto por isso... Mas um presente?

- É... Ele me deu um carro, para eu não pegar chuva de novo, e isso nunca mais acontecer. Acho que atrapalhei alguma coisa importante dele...

- Hm...

- É...

- Mas um carro, que bom... – disse tentando mudar a conversa dos “Ham’s” e “Hum’s”.

- Pois é, é um volvo preto. – ele falou me olhando. – Depois da escola quer dar uma volta comigo? Você me deve isso. Por favor?

- Tudo bem... – falei sorrindo.

O sinal tocou, e ele voltou para seu lugar, às pessoas iam voltando para seus lugares e eu me virei.

- Sabe Gabe, Eu gosto muito de comida chinesa... – disse e sorri, pude vê-lo sorrir também, e aquilo me esquentou por dentro, uma sensação maravilhosa.

As aulas se passavam rápidas, eu estava ansiosa para sair com ele. Mas tinha um problema, o que eu faria com o meu carro? O sinal da aula tocou, e fomos os últimos a sair, andamos devagar pelos corredores, sem falar nada.

- Gabe... Eu vou levar meu carro para minha casa, você me segue com seu carro até lá? – perguntei, eu podia aproveitar e trocar de blusa, retocar a maquiagem, escovar os dentes, e passar perfume. Quem sabe tirar o tênis e colocar uma sapatilha, trocar a mala por uma bolsa também, afinal isso não ia matar ninguém.

- A tudo bem, eu também estava pensado no que fazer com seu carro... – ele sorriu.

Sorri de volta e cada um foi para seu carro, dei uma volta no estacionamento, e vi um volvo preto começar a me seguir, eu sorri, o carro era uma gracinha comparado ao meu camaro cereja.

Durante o caminho para minha casa, eu fiquei repassando as blusas que eu tinha no meu guarda roupa e me lembrei de uma que era uma gracinha, era branca com o esqueleto na frente, os ossos tinham lacinhos rosas com strass, ela combinava com uma sapatilha de verniz preto que eu tinha, e a bolsa que já estava no carro, com metade das minhas coisas dentro dela. Quando parei no farol fiz a troca da mala para a bolsa.

Ri de mim mesma me arrumando toda para ele.

Parei o carro na garagem, subi correndo para o meu quarto, me troquei e retoquei a maquiagem, perfume, desodorante, escovei os dentes e peguei dinheiro no meu baú-do-dinheiro.

Desci, e antes de sai parei um pouco, respirei fundo para parar de ofegar e sai.

- Trocou de blusa? – ele sorriu.

- E peguei dinheiro. – disse rindo e claro, morrendo de vergonha.

- Você realmente acha que eu vou deixar você pagar algo? – ele perguntou rindo e abrindo a porta do carona pra mim.

- Nunca se sabe Gabe... – Ri e mordi meu lábio inferior, em quanto ele fechava a porta e entrava do seu lado no carro.

O cheiro dentro do carro era doce, parecido com cheiro de seu quarto, era aconchegante, parecia te abraçar e falar “relaxe”. Ele dirigia com calma, sorrindo. Ele entrou no estacionamento do shopping, escolheu uma vaga, e então saímos do carro. Digo, ele saiu e veio abrir a porta para mim.

Já disse que ele é perfeito?