Outono escrita por Makimoto


Capítulo 6
Capítulo 6 — Jogada Incerta;


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, tudo bem? Sei que demorei quase duas semanas pra atualizar a fic, mas estive envolvida com outros projetos durante esse tempo e peço mil perdões. ToT' Sinto-me agradecida e lisonjeada por todos os comentários que escrevi, pelo apoio que vocês têm me dado, pelo carinho, e espero poder fazer jus a isso mais pra frente. Esse capítulo é mais técnico, focado no treino de basquete e tudo mais, mas gostei das interações da Emi com todo mundo que coloquei nele. E espero que vocês também gostem. ♥



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O período letivo seguia normalmente — alternando entre aulas, testes e trabalhos — e quanto mais o fim do semestre se aproximava, trazendo consigo anseios e receios sobre o futuro, mais os corredores durante o intervalo do almoço pareciam vazios. A biblioteca passou a ser o lugar mais frequentado da escola, fosse por pessoas que corriam às pressas atrás do tempo perdido e do conteúdo desperdiçado ou pelos que apenas reforçavam o conhecimento que já possuíam, e todo o prédio escolar estava imerso em uma atmosfera de contagiante agitação.

Estava sendo realizada naquele dia um dos últimos exames, o de História, e os corredores foram se enchendo à medida que os alunos deixavam as salas e se aglomeravam para discutir as questões abordadas. Alguns simplesmente caminhavam em direção à saída do prédio em silêncio. Murmurinhos agudos, que, ao se unirem, formavam uma rede de sons intensos, percorreram o caminho habitado e atingiram os ouvidos da ruiva que deixava a sala de avaliação com uma expressão neutra no rosto.

Embora a algazarra fosse incômoda, Emiko parecia alheia a qualquer ruído. O paletó de seu uniforme jazia pendurado na alça da bolsa que carregava à tiracolo e seus cabelos — que quase atingiam a linha da cintura — estavam soltos. Carregava consigo todos os seus livros, material escolar em geral e o uniforme do time de basquete. Seus pés se moviam de modo automático, sem que ela estivesse realmente prestando atenção aonde estava indo, porém, de repente, seus olhos foram tragados para uma figura masculina recostada à parede no final do corredor.

E aí, Kitsu. — Kai acenou. — Espero que tenha ido bem na prova ou o treinador não vai gostar nada disso.

Para o seu governo, essa é a minha matéria favorita. — Retrucou ela com orgulho enquanto se aproximava do rapaz. — Você pode ser melhor que eu no basquete, e pode até zombar de mim durante os treinos, mas se tem algo no qual eu sou melhor que você é com certeza em... todo o resto.

Entendi, senhora sabe-tudo, entendi. — Ele ergueu as mãos em teatral rendição. — Mas se por acaso a minha nota for maior que a sua, e você se sentir humilhada e derrotada, não quero ouvi-la chorando perto de mim, tudo bem?

Emiko socou-o de leve no ombro, com um sorriso discreto nos lábios, enquanto ele fazia sinal com a mão para que ela o seguisse.

Durante o deslocamento, a garota se pôs a observar as pessoas pelas quais eles passavam. Seu mirar deslocava-se dos estudantes para a paisagem, e então de volta para os estudantes, para só então repousar sobre a figura esguia e masculina que a acompanhava. As feições dele denotavam um ar alegre, espontâneo, e seu típico modo despojado de se vestir — sem o paletó, com os botões superiores da camisa soltos e a gravata dependurada — só lhe conferiam uma aura ainda mais enérgica.

Kai tinha uma envergadura larga. Apesar de magro, era dono de um corpo bem definido. Sua pele levemente morena denunciava a que área do Japão ele pertencia no nascimento — provavelmente às ilhas do sul, ou à algum lugar perto de Okinawa — e sua personalidade era sempre muito aberta e brincalhona. Era alguém gostoso de se estar perto. Sabia que ele morava com a avó, que sua mãe havia morrido e que ele e o pai já não se viam há muito tempo, mas a verdade é que pouco tinham conversado sobre o rapaz. Ele sabia mais dela que o contrário.

A partir de certo ponto, Emiko tinha se tornado a principal atração da escola. A notícia da morte do irmão dela chegou aos ouvidos dos demais estudantes assim que as férias de primavera terminaram. Os primeiros dias foram recheados de perguntas, de pressão, de murmurinhos e cochichos, e ela os aturou pacientemente e em silêncio. A balbúrdia não alimentada cessou depois de alguns dias, porém, como ainda era recente, a garota não se sentia totalmente à vontade naquele lugar.

Você está preparada? — Ele indagou repentinamente afim de quebrar a quietude entre eles. — Quero dizer, temos treinado bastante e, você sabe, o jogo é nesse sábado.

Acho que sim. — Ponderou. — Confesso que as vezes, quando penso nisso, sinto-me nervosa e com medo de decepcionar. Com medo de acabar fazendo papel de boba na frente de todo mundo.

Não precisa se preocupar com isso. Você se esforçou muito e melhorou bastante nas últimas semanas. — Kai suspirou enquanto apoiava os braços atrás da cabeça. — E, na pior das hipóteses, eu posso fazer umas palhaçadas para a arquibancada para a atenção não ficar só em você. — Piscou, divertido, e arrancou da ruiva um meio sorriso.

Em poucos minutos, os dois atravessaram o prédio escolar, depois de passar pelas salas de aula, pelo refeitório e pelo pátio principal, e atingiram a área dos fundos, onde a quadra de esportes ficava localizada. Ela apertou a alça da bolsa que carregava no ombro, pondo uma mecha do cabelo alaranjado atrás da orelha, e, depois de adentrar os portões de ferro que separavam os livros da bola de basquete, avistou seus companheiros reunidos e já trajando o uniforme vermelho do time.

Olha só quem resolveu aparecer! — Naoki ergueu a mão em um aceno simples assim que os avistou. — Estamos aqui esperando vocês há um tempão, caramba!

Só porque você escreve seu nome na prova e a entrega não significa que as outras pessoas façam o mesmo. — Kai retrucou, em tom de brincadeira, aproximando-se e dando um tapinha amigável nas costas do companheiro. — Baixa a bola.

Não o julgue tão mal. — Rei se aproximou com um sorriso aberto nos lábios e bateu de leve o ombro contra o de Emiko antes de voltar-se para os dois. — Eu vi ele escrevendo uma frase na primeira questão.

Podem rir, podem rir... — Naoki fingiu estar ofendido. — Eu sou um gênio, valeu? E terminei a prova rápido porque é assim que os gênios fazem.

Aham. — Kai riu.

Emiko, que observava a cena sem se manifestar, tinha os lábios curvados em um sorriso discreto, porém sincero, que só reforçava o quão profunda era a diferença entre os momentos que ela passava na sala de aula, cercada de outros estudantes cuja presença não significava nada para ela, e os que tinha na quadra de esportes: rodeada por um clima agradável, natural e extremamente acolhedor.

As risadas, bem como os falsos insultos e a camaradagem, duraram até que o capitão e o treinador do time juntaram-se ao grupo. O primeiro, que parecia mais bem-humorado que o de costume, cumprimentou a todos com um sorriso amigável utilizando uma das mãos enquanto a outra mantinha uma bola de basquete colada ao seu quadril. Já o segundo, por sua vez, limitou-se a acenar, aproximar-se do banco de madeira lateral da quadra e a fazer sinal para que os outros se aproximassem.

Sábado é o nosso jogo contra a Wakusei. — O treinador começou a falar. — Como estão os ânimos de vocês?

A gente vai acabar com eles. — Naoki ergueu o braço e o sacudiu como se estivesse pedindo permissão para falar. — Ou vamos ser esmagados como insetos.

Fale por você. — Kai retrucou, franzindo o cenho e se posicionando um pouco mais perto de Emiko. — Não é, Kitsu?

Ela concordou, balançando a cabeça positivamente, enquanto o treinador suspirava e coçava a cabeça parecendo não saber por onde começar a falar.

Sabemos que vai ser um jogo difícil. — Ryūma tomou a dianteira. — O time da Wakusei é forte, consolidado, que já joga junto há bastante tempo. Eles têm uma sintonia que nós talvez não tenhamos ainda e isso lhes dá, definitivamente, uma vantagem grande sobre nós.

Todos permanecemos em silêncio ao passo que a voz firme do capitão ecoava na quietude da quadra. Embora estivessem entre amigos, tocar naquele assunto — no jogo que era tão importante para eles — gerava uma atmosfera mais séria do que eles gostariam. A pressão era imensa e todos eles sabiam disso. Especialmente Emiko, que sentia o peso da cobrança inconsciente de uma maneira ainda mais intensa.

Isso não significa, porém, que nós não temos chance nenhuma de vencer. — Ele atirou a bola na direção de Rei que prontamente a pegou. — Será um desafio que teremos que aprender a contornar, juntos, como um time.

Enquanto ele falava, a ruiva sentiu uma apreensão tomar conta do seu corpo lentamente, a começar pelos pés, passando pelo quadril e alcançando seus últimos fios de cabelo. Estavam contando com ela. Devido às circunstâncias desfavoráveis, eles precisariam de toda a habilidade possível para superar os adversários e, por um momento, passou pela cabeça dela que não estivesse preparada. Era a mais nova do time, tanto em idade quanto em permanência, e, além de possuir uma posição que, meses atrás, sequer imaginaria estar ocupando, começou a treinar muito tempo depois de seus companheiros que já praticavam o esporte.

Era verdade que evoluíra nas últimas semanas, mas, naquele momento, Emiko começou a se perguntar insistentemente se tinha sido o suficiente.

Isso vale para você, Kojima. — Ryūma falou, em tom divertido, subitamente arrancando-a de seus devaneios como se pudesse ler seus pensamentos e aflições. — Nem pense em pular fora do barco agora que precisamos de você.

Quando ela ergueu o rosto, percebeu que todos a encaravam com olhares e sorrisos confiantes. Isso a encabulou, fazendo-a engolir em seco, e sua única reação foi concordar com a cabeça.

Ryūma falou tudo o que eu queria dizer. — O treinador se levantou e juntou-se à roda, murmurando um “obrigado” para o capitão, antes de percorrer todos ali presentes com os olhos firmes. — Vai ser difícil, mas não quero ninguém aqui choramingando que não vai conseguir. Vocês estão no time, e na posição que ocupam, porque eu tenho absoluta certeza que podem desempenhá-la. Eu não manteria em minha formação ninguém que eu não acreditasse merecer a posição.

“Mas a vitória não vem sem esforço, sem dedicação, e, muito menos, sem derrotas pelo caminho. Vocês têm que buscar a vitória com o tudo o que têm, mas também estar preparados para perder porque isso os fortalecerá no futuro. Nenhum time é completamente invicto, nenhum deles chegou ao topo sem uma boa coleção de derrotas. E ainda assim estão lá. Tentaremos ganhar, mas, independente do resultado, receberei-os de braços abertos. Quero que entrem na quadra de cabeça erguida e retornem após o jogo de peito cheio. Porque só de quererem competir, de buscarem isso com afinco, já os torna vencedores aqui e em qualquer lugar.”

Embora não pudesse explicar com exatidão o que sentia naquele momento, a ruiva experimentava uma intrínseca sensação de determinação dentro si. Os outros também estavam envoltos pelo mesmo clima. As palavras do treinador surtiu neles uma agitação genuína, uma vontade de pegar na bola e colocar a mão na massa, e era o que cada um deles, mesmo a confiante Emiko, queria fazer no presente instante.

Treinador, sobre aquela parte de peito cheio e tal... — Naoki interrompeu de repente. — A baixinha também tem que fazer isso? Ela é uma garota, sabe, ela já tem o pei

Antes que ele fosse capaz de concluir a frase, teve a cabeça atingida em cheio por uma bola de basquete lançada por Rei em meio a risadas e bufadas de descrença.

O que foi? — Todos riram. — Eu estou falando sério!

O time principal — composto de cinco pessoas — dirigiu-se aos vestiários afim de vestir o uniforme que os representaria no jogo de sábado inebriados por aquele sentimento de perseverança que parecia uni-los através de um tênue, porém vívido, laço invisível.

O som dos tênis riscando a superfície da quadra de basquete ressoava um atrás do outro, seguido das batidas graves e ritmadas da bola no chão, ao mesmo tempo em que comandos de voz altivos e imponentes completavam a orquestra natural que se projetava no local. Silhuetas humanas se moviam de um lado para o outro, deixando um rastro carmesim, quase invisível, para trás, intentando conduzir a esfera nas mãos até a cesta pendurada no suporte alto de metal. Era uma competição rápida de troca de bola, de habilidade e precisão, e qualquer erro culminava na derrota.

Kai! — Ryūma gritou, chamando a atenção do companheiro de time. — Droga...

Rei, que ocupava a posição de Líbero e era um dos mais altos do time, posicionava-se na frente de Kai para impedi-lo de pegar a bola: o segundo tentava se desvencilhar, mas o primeiro acompanhava seus movimentos e obstruía o acesso. O capitão se viu em uma situação difícil, uma vez que Naoki se aproximava devagar, com os braços abertos, preparando-se para tomar-lhe a bola na primeira oportunidade.

Foi quando ele viu a ruiva deslocando-se sorrateiramente em direção à cesta.

Em resposta ao sinal discreto que ela fez com as mãos, projetando-as para frente, Ryūma traçou um curso rápido com os olhos e mediu a distância entre ele e o ponto no qual tinha certeza ser capaz de arremessar com segurança. Em movimentos rápidos, direcionou os passos para a direita, deslocando-se até uma das extremidades da linha de três pontos — sendo seguido pelo Pivô — e preparou-se lançar a bola em direção à cesta.

Ele sabia que Naoki provavelmente bloquearia seu suposto lançamento, então, utilizando um passe de ombro, posicionou a perna direita na frente, rotacionando aquele mesmo lado do corpo, e forçou os dedos sobre a superfície da bola para ao mesmo tempo girar e ser projetada para a frente.

O Pivô ficou confuso por um momento, pois não esperava ser enganado, porém, quando se deu conta, a bola já estava na mãos de Emiko. Ela se aproximou da cesta e jogou a bola, observando-a atravessar a rede sem tocar no aro, e o barulho grave que a esfera laranja fez ao bater no chão marcou o fim daquele ponto e, ao mesmo tempo, a derrota de um dos times.

Ah, não! — Naoki protestou quando todos se juntaram no meio da quadra. — Isso não vale!

Ganhar de você? — Kai provocou.

Não, isso é... você... — Ele coçou a cabeça desconcertado e então apontou o dedo indicador para o capitão. — Me enganar, isso!

O autor do crime ergueu as mãos, afirmando mudamente que não sabia do que ele estava falando, simultâneo à chegada de Rei que passou o braço amigavelmente em torno do pescoço do companheiro de time.

Pára de ser chorão. — o Líbero bateu a cabeça de leve contra a de Naoki. — Você tem que prestar mais atenção nas coisas que acontecem ao seu redor, cabeção, senão vão te fazer de bobo.

Só consegui fazer a cesta porque você não me percebeu ali. — Emiko se manifestou. — Esgueirei-me devagarinho e você nem notou porque estava muito ocupado tentando marcar o capitão.

Droga. — Ele suspirou, finalmente admitindo a derrota, e limpou o suor da testa. — Só vou perdoar porque foi você, Baixinha, e porque você é bonita.

Já chega, “crianças”. — O técnico os interrompeu. — É hora de ir para casa.

Foi só quando o treino acabou que eles perceberam que já era tarde; pois, notaram todos, o tempo de repente passou a correr mais rápido quando eles estavam juntos. Era como se as gargalhadas, as brincadeiras e a atmosfera confortável e íntima que nasceu entre eles fosse capaz de congelar o tempo. Ou, pelo menos, fazê-lo correr em ritmos e direções completamente atípicos. O despertar daquele sonho de outono, no entanto, e o retorno para a realidade, sempre eram um pouco tristes.

Despediram-se uns dos outros, depois de ouvir as últimas recomendações do capitão e do técnico sobre os próximos treinos, e todos os membros do time seguiram para a entrada da escola. Ali era normalmente onde o grupo se dividia e naquela noite não seria diferente: Naoki e Rei foram para a direita, pois moravam próximos um do outro, Ryūma seguiu em linha reta, e Emiko e Kai pegaram a direita.

Você foi muito bem hoje. — Ele comentou ao dar um tapinha no ombro dela. — Ficou calma, agiu com a cabeça e ficou com os pontos.

Não sei se vou conseguir fazer isso no jogo. — Confessou ela sentindo exausta. — É muita pressão, é muito em jogo, eu não sei se vou conseguir fazer o que esperam de mim.

Concentre-se apenas em dar o seu máximo para tentar fazer. — Ele retrucou. — Não é como se fossem crucificar você caso a gente perca.

Mas, se acontecer, com certeza será por minha causa. Talvez não diretamente, mas, quem sabe, pela minha falta de habilidade... Por não ser capaz de fazer melhor.

Cala a boca. Você é boa, você melhorou muito do dia em que você começou a treinar com a gente até agora, então pare de ser tão dura consigo mesma. Quando estivermos lá, tente não pensar que é uma partida importante e decisiva. Imagine que estamos na quadra da escola, só nós e os rapazes, e que estamos jogando um amistoso. Mantenha em mente que, independente do resultado, teremos feito isso juntos e que ninguém vai ficar chateado com você por nada que acontecer naquele jogo. Se perdermos, significa que precisamos treinar mais e é o que vamos fazer. Sem drama, sem choro.

Tudo bem... — Ela suspirou e forçou um sorriso.

Agora vamos, quero um sorriso sincero. — O moreno pediu. — E não me venha com sorrisinho de canto não; quero um sorrisão.

Diante do modo divertido com que ele falou, a menina não foi capaz de evitar que seus lábios se abrissem em uma risada tímida. Ele afagou os cabelos dela, oferecendo-lhe uma expressão alegre no rosto, enquanto seus olhares se cruzavam. Ambos se calaram, permitindo que uma quietude densa tomasse lugar entre eles, e o que se seguiu foi um mirar afável que, graduavelmente, foi se convertendo em um impulso que nenhum dos dois sabia explicitar de onde vinha.

Os olhos de Emiko, por um momento, viajaram por sobre a pele desnuda dos ombros do rapaz, ao mesmo tempo em que os dele fixaram-na nas madeixas alaranjadas, caídas do rabo-de-cavalo quase desfeito, que escorriam pela lateral do rosto oval da menina. A necessidade de fazer alguma coisa para romper o silêncio era quase sufocante.

Eu... tenho que ir. — Emiko afirmou de súbito.

Sim, eu sei. — Trêmulo, ele apontou com o polegar a rua do lado oposto da calçada. — Minha casa fica para lá.

Eu sei.

Outro momento taciturno foi o suficiente para que ambos acenassem um para o outro, depois se abraçassem desajeitadamente, e tomassem cada qual seu caminho.

————— ♣ —————

Caminhando pela estrada mais curta que a conduziria à sua casa — que ela dificilmente pegava pois, em dias anteriores, esteve evitando determinados encontros —, Emiko reparou em uma árvore que ficava na esquina do quarteirão: era grande, recheada de folhas muito verdes e vívidas, mesmo na escuridão, cujo tronco se retorcia em direção ao chão e findava-se nas raízes enfiadas na terra de um canteiro. Pelo tamanho, aparentava ser muito antiga, e ela era assim mesmo quando a ruiva a viu pela primeira vez.

Emi? — de repente, uma voz masculina foi ouvida e ela, por reflexo, voltou a cabeça na direção de sua origem.

Na casa em frente à arvore, no segundo andar, havia uma janela aberta que sustentava o corpo de um garoto que encarava a outra com dúvida no rosto.

Oi, Hal. — Ela respondeu.

O que está fazendo aqui? — Ele perguntou se debruçando no parapeito. — A sua casa é um pouco mais para a frente.

Eu sei, eu só... — ela deu um passo à frente, inclinando a cabeça para cima para encará-lo, para só então voltar a dizer: — Eu fiquei me perguntando se você gostaria de assistir o jogo contra a Wakusei no sábado.

Aquele em que você vai jogar? — Ele sorriu. — Por que? Você quer que eu vá te assistir?

As vezes odiava o modo como ele brincava com ela; como ele a fazia dizer certas coisas mesmo já sabendo delas.

É esse mesmo. — Ela respirou fundo para controlar o estranho nervosismo que se apoderou de si. — E... sim.

É claro que eu vou. — Ele afirmou para o alívio da garota. — Acha que eu planejava perder assistir você no seu primeiro jogo?

Da janela do segundo andar, até a base da árvore na calçada, ambos trocaram olhares confidentes — sem se sentirem desconfortáveis um com o outro — e isso foi o suficiente para que ambos entendessem, sem que palavras fossem necessárias, que havia um laço entres; um laço que, apesar das intempéries, permaneceria forte, vivo e imutável.


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Notas finais do capítulo

Como sempre, aceito críticas e sugestões! ♥♥♥