A Flor da Carnificina escrita por Essa conta não existe mais, Niquess


Capítulo 44
Capítulo 43 - Descanse em paz. (Capítulo final)


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaaaaaaaaaa!
Bem, foram 6 meses de história e eu agradeço imensamente quem esteve comigo desde o inicio acompanhando essa história louca kkkk
Bem, antes, me perdoem caso o final não preencha a expectativa de vocês, mas eu fiz com muito carinho! ♥
É isso, obrigada por tudo, pelos reviews, tudo!
E ATÉ A PRÓXIMA! ♥
UM ÚLTIMO AVISO: Esse capítulo é grande



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Jaqueline abriu a porta do quarto onde Isaac estava repousando, e entrou. Seu pai repetiu a ação.
–Isaac? Tudo bem? - Perguntou Jaqueline, indo até o rapaz, apertar sua mão. Isaac não sabia da visita da garota, e estava muito surpreso pela presença dela e de seu pai no local.
– Oi. - Respondeu Isaac, esforçando-se para sentar na cama.
– Lembra de mim, não é? - Jaqueline deu um risinho - Esse é meu pai, ele queria te conhecer e te agradecer por ter me ajudado. - Bernardo deu um sorriso amarelo e estendeu sua mão para apertar a de Isaac.
– E como está se sentindo? - Perguntou Bernardo.
– Estou 10% melhor. - Respondeu Isaac - Estou recebendo algumas bolsas de sangue, mas o problema é que elas não são suficientes pra mim, porque eu tenho uma doença crônica que exige bastante esforço para aceitar o sangue que eu tô recebendo.
– Acha que seria necessário um sangue específico da sua família? - Perguntou Jaqueline.
– Sim. Minha irmã doou pra mim, mas não é suficiente.
– Mas e seus outros parentes? - Perguntou Jaqueline, novamente. Isaac deu uma risadinha sarcástica e respondeu mais educado o possível.
– Eu não tenho ninguém além dela. Meu pai abandou minha mãe, e ela morreu há uns anos. - Bernardo tossiu seco e engoliu ainda mais seco.
– Caramba! Vocês dois sozinhos? - Falou Jaqueline, colocando a mão na boca. - Você é um guerreiro mesmo! Eu posso doar sangue pra você? Será que posso? - Perguntou Jaqueline, pegando na mão de Isaac.
– Se seu sangue for compatível com o meu... - Respondeu Isaac.
Bernardo assistia a cena de seus dois filhos e sentia uma enorme vontade de contar tudo pra Isaac, contar que era seu pai, e que dali em diante iria cuidar dele e de sua irmã, mas precisava de coragem para contar pra ele e para toda sua família.
– Eu vou procurar seu médico lá na recepção e vou conversar com ele. Você também doaria, né pai? - Bernardo acordou de um devaneio e olhou para sua filha.
– Claro! - Respondeu Bernardo, raspando a garganta em seguida.
– Então vamos procurar esse médico. - Jaqueline saiu da sala, arrastando seu pai pelo pulso, e Isaac voltou a se acomodar na cama e encarar o teto branco e tedioso.

Fábio fumava tranquilamente em sua cela, olhando a paisagem detrás das grades. Em frente à sua cela havia um corredor horizontal com meia parede, que mostrava a visão ampla de várias árvores e montanhas, era uma visão muito bonita. Desde o dia que entrou ali, Fábio se divertia olhando para lá, e pensando na vida do lado de fora. Talvez aquela visão fosse apenas provocação para mostrar aos presos o que eles estavam perdendo ali dentro.
– Tá pensando no quê, cara? - Perguntou Ismael, sentando ao lado de Fábio no chão.
– Na minha filha. - Respondeu Fábio, dando uma tragada demorada em seu cigarro.
– Sei como se sente, também sinto falta dos meus filhos.
– Quantos são mesmo? - Perguntou Fábio.
– Seis - Respondeu Ismael, dando uma risadinha orgulhosa - Três da minha primeira mulher, dois da segunda que faleceu e o caçula da minha atual. Meu caçula tem 1 ano só.
– Caramba! Você não matou sua 2º mulher, né? - Perguntou Fábio, dando um risinho.
– Não - Respondeu Ismael, dando mais uma risadinha. - Ela morreu no parto do nosso último filho, há 3 anos atrás.
– É rapaz, você não perde tempo mesmo. - Respondeu Fábio. - Com qual frequência tua atual vem te visitar?
– Uma vez no mês. É muito pouco, eu sei, mas é o tempo que ela tem no trabalho pra vir me ver. Ela é empregada doméstica e fica na casa da patroa.
– E quem cuida do bebê?
– Minha sogra. Mas me fala da sua filha. - Fábio sorriu e finalizou seu cigarro, jogando a guimba na direção da paisagem.
– Ela é simplesmente linda. Eu me relacionei com a mãe dela quando tinha 15 anos e acabou acontecendo. Mas ela é um presente pra mim, a mãe dela que é uma...- Fábio estalou os dedos, contendo uma reação.
– Vocês não se dão bem?
– Ela abandonou a menina comigo e sumiu. Agora, depois de 8 anos voltou para tirar a menina de mim. Minha mãe criava ela e dizia que era a mãe dela, para que ela não sofresse com a ausencia da mãe, mas do nada a cachorra voltou. Ela virou modelo, foi pro Eua e se casou com um riquinho lá, ficando cheia de moral. Filha da puta, mesmo.
– Se quiser, quando sairmos daqui damos um sumiço nela.
– Pode deixar que eu vou pensar no seu caso. Tem mais cigarro aí? - Perguntou Fábio.
–Tu já notou quanto você fuma? Daqui a 5 anos tu morre de câncer, cara.
– Sou imortal, vai por mim. - Ismael deu uma risadinha e foi procurar por mais cigarros em suas coisas. Os dois ficaram bastante amigos, o que era bom para Fábio, pois se ficasse sozinho com seus pensamentos acabaria se matando.

– Pronto, já deixamos nosso nome. - Falou Jaqueline, entrando novamente no quarto com seu pai.
– Muito obrigada, Jaqueline.
– Eu vou pra casa, porque vou voltar pros Eua amanhã à noite e tenho que fazer as unhas, o cabelo e comprar umas roupas pra Carolina. Mas amanhã de manhã e volto aqui e deixo meu sangue pra você. Muito bom te conhecer e se precisar, vou deixar meu contato com você, tá? - Falou Jaqueline, tirando um papel e uma da bolsa, para anotar seu número de celular e depois entregou a Isaac. - Pode me ligar, tá?
– Tá bom. - Jaqueline abaixou para abraçar o enfermo e saiu, sendo seguida por seu pai que não conseguiu dizer nenhuma palavra sequer.
Isaac pegou o número de Jaqueline do papel e colocou embaixo do travesseiro, onde também estava a fotografia de sua mãe. O moreno pegou a fotografia e começou a chorar olhando para ela. Ele nunca havia se sentido tão perto de sua mãe, talvez fosse um aviso de que seu tempo estava acabando.


– Jaque, você se incomoda se eu chamar um taxi pra te deixar em casa e for resolver alguns problemas no banco aqui perto, é que eu tenho que depositar um dinheiro. - Falou Bernardo.
– Claro que não pai. - A loira olhou para seu pai e abraçou-o - Assim que eu chegar lá vou comprar sua passagem pra ficar um tempo com a gente. Só preciso ganhar um cachê de novo, porque você sabe, eu odeio depender do dinheiro do César.
– Não se preocupa, filha. - Bernardo avistou um taxi e fez sinal para que parasse pra sua filha - Vai pra casa e avisa pra sua mãe que eu não vou almoçar em casa hoje.
– Tá. - Bernardo beijou a testa da filha mais velha, que entrou no taxi.
Assim que o automóvel virou na esquina, Bernardo entrou novamente no prédio daquele hospital público. Ele ia contar para Isaac que era seu pai, e seria hoje.
– Pois não? - Falou a recepcionista assim que viu Bernardo encostado no balcão.
– Eu gostaria de visitar o quarto do Isaac Mendes novamente, eu vim trazer uma coisa pra ele. - A mulher olhou cansada para Bernardo e disse: - Pode subir. - E Bernardo obedeceu, subindo até o quarto de Isaac.
O senhor caminhou rapidamente até o primeiro quarto do corredor no lado esquerdo, e entrou sem bater na porta, o que assustou Isaac, que deixou a fotografia de sua mãe cair no chão.
– Nós temos que conversar. - Falou Bernardo, fechando a porta atrás de si.
– O que houve? - Perguntou Isaac, sentando assustado. Bernardo pegou a fotografia do chão e viu que a moça na foto era a mesma Ruth que ele conheceu e amou.
– É ela mesmo... - Falou Bernardo, sentando na cadeira que havia ali.
– O que está acontecendo? - Perguntou Isaac, dando uma virada brusca, fazendo-o dar um gemido de dor.
– Você é filho da Ruth, é isso que tá acontecendo. - Os olhos de Isaac brilharam diante daquela afirmação. - EU fui muito importante pra sua mãe, mas não sabia que ela havia morrido.
– Ela morreu de câncer. - Falou Isaac.
– E você foi pra onde?
– Minha história é longa, senhor. Fui pra abrigos, pra rua... Mas fico feliz por ter conhecido minha mãe, ela era ouro.
– Eu não simplismente conheci sua mãe, eu tenho dois filhos com ela. - Isaac olhou confuso para o homem, e sentiu seu corpo inteiro formigar.
– Quê?! Repete, porque eu acho que não ouvi direiro.
– Eu sou seu pai, Isaac. Não só seu, como da Aline também. - Isaac ficou em pé e depois sentou, porque não tinha forças na perna para permanecer. Ele queria que aquilo acontecesse, mas nunca pensou que fosse daquela maneira. Ele precisou levar um tiro de seu melhor amigo para conhecer seu pai.


Denise e Aline tomavam café em silêncio, quando Inácio desceu e sentou ao lado de sua mãe à mesa.
– Bom dia. - Cumprimentou Inácio, pegando o bule com café e preenchendo sua xícara com o mesmo.
– Bom dia. - Respondeu Denise, dando uma mordida em seu biscoito.
– Aline, você vai visitar seu irmão hoje? Eu quero ir com você quando for. - Falou Inácio, dando um gole em seu café.
– Vou assim que eu acabar aqui. - Respondeu Aline, dando uma mordida no bolo de laranja que estava sobre a mesa.
– Tá legal. Eu vou levar uma coisa pra ele.
– Espero que não te prejudique na faculdade. Faz 4 dias que você não aparece lá, desde o ocorrido. - Falou Denise.
– Eu não vou pro Japão? Que se dane! Mais tarde eu passo lá e tranco minha matricula. - Denise respirou fundo e quando ia começar a dar um sermão maternal, chaqualhou a cabeça e disse: - Faça o que quiser...
– Estamos acertados agora, mãe. - Falou Denise. Aline observava a cena com inveja, pois ela queria muito ter uma mãe que a forçasse a estudar e ir pra escola religiosamente. - Vou trabalhar hoje, se quiser ir de carona comigo, se arrume que daqui há 20 minutos eu estou saindo daqui. - Falou Denise para Inácio.
– Tudo bem. - Inácio deu mais um gole em seu café.
– Aline, eu vou levar você pra visitar seu irmão, tá bem?
– Sim, tudo bem. - Respondeu Aline.


–Você pode me dar um abraço, não pode? Ou eu posso te abraçar? - Perguntou Bernardo, olhando cuidadoso para o filho. Isaac sentia-se preenchido por diversas emoções. Sentia raiva, mas ao mesmo tempo felicidade. Ele não queria conhecer seu pai? Ali está ele, e Isaac não perdeu tempo para abraçá-lo, assim como foi pedido.
– Por quê você me deixou, pai? Por quê?- Falou Isaac, abraçando o homem que algumas horas atrás era desconhecido.
– Me perdoa, filho. Eu quis muito te encontrar... A gente vai conversar sobre isso tudo, tá? Você agora vai ficar perto de mim, você e a Aline. Vou recuperar esses anos. - Isaac chorava de soluçar, ele queria muito que Aline estivesse ali aproveitando aquele momento, mas ela chegaria a qualquer momento. - Isaac se afastou do pai e sentou na cama, secando os olhos. - Parece ironia, minha filha, sua irmã precisou passar por perrengue pra você salvá-la e eu te encontrar.
– Como você tem certeza que sou eu? - Perguntou Isaac, inseguro.
– Isaac Mendes, irmão de Aline Mendes, filhos de Ruth Mendes... só vocês mesmo. Eu vou explicar porque eu sumi. - Bernardo sentou na cadeira que havia ali e respirou fundo, antes de começar a falar - Eu tenho outra família. Eu tinha essa família enquanto estava com sua mãe. E eu precisei ficar com a minha esposa e deixei sua mãe. Eu sei que você tem todo o motivo do mundo pra me odiar, mas entenda meu lado, eu cometi um erro traindo minha esposa, mas em nenhum dia desses anos eu deixei de pensar em vocês e procurá-los. - Isaac ouvia tudo de cabeça baixa.
– Nós somos seus filhos bastardos? - Perguntou Isaac com a voz embargada.
– Sim. - Bernardo caminhou até a cama e sentou ao lado do filho. - Mas que fique bem claro que você é meu filho e vai ser tratado como eu trato as minhas outras filhas.
– Quantos filhos tem além da Jaqueline?
– Duas filhas gêmeas, Maria e Joana.
– Qual é a idade delas?
– 19 anos. Elas são um ano mais velhas a Aline e a Jaqueline é alguns meses mais velha que você.
– Entendi. - Falou Isaac, respirando fundo.
– Eu vou começar a acompanhar sua estadia aqui nesse hospital e assim que você tiver alta você vai pra minha casa.
– Mas você não é casado? Sua mulher nunca vai me aceitar lá.
– Eu vou dar um jeito nisso. Alias, eu vou agora pra casa falar com ela sobre isso. - Bernardo levantou, e deu um beijo na testa do filho. Mesmo que não tivesse nenhum vínculo com ele, era seu sangue ali, alguém que ele quis muito conhecer. - À noite eu volto aqui pra te ver, tá bem? Quem sabe você já não recebe alta...
– Difícil - Falou Isaac, dando um risinho sarcástico, voltando a deitar.
– Por quê? - Perguntou Bernardo.
– Nada, pai.

Bernardo abriu a porta de casa e assim que entrou na cozinha viu Cristina almoçando sozinha na mesa, enquanto o som da Tv preenchia o ambiente.
– Pensei que fosse chegar mais tarde. - Comentou Cristina, dando uma garfada em sua comida.
–Precisamos conversar, Cristina. - Falou Bernardo, sério, sentando à mesa.
– Fala...
– Olha pra mim. É um assunto que pode ser doloroso pra você, então temos que conversar com calma... - Cristina olhou confusa para o marido e afastou o prato de comida para observar o rosto do marido, enquanto apoiava o seu com o as mãos.
– Então...
– Eu... - Bernardo respirou fundo - Eu tive outra esposa fora do nosso casamento. Esposa não, amante. Eu nunca oficializei nada com ela. - Cristina sentiu seu corpo inteiro formigar e uma vontade louca de chorar.
– Como? - Perguntou a mulher, ficando em pé, com as mãos apoiadas na mesa.
– Eu tive dois filhos com ela. Um menino e uma menina.
– Não é possível... - Falou Cristina, andando de um lado à outro colocando a mão na testa, enquanto as lágrimas escorriam de seu rosto. - Como eu nunca desconfiei disso? Como?! E Como você teve coragem de esconder isso de mim? Onde essa vadia mora? Hein? ME FALA! - Esbravejou Cristina.
– Ela morreu, Cristina. Há 11 anos. Mas meus filhos ficaram por aí, pelo mundo e precisaram muito de mim durante muito tempo e eu dei as costas pra eles.
– Será que é porque você já tem uma família mesmo? Filhas e esposa? Por que você me apunhalou assim, Bernardo? - Perguntou Cristina, debruçando na mesa para chorar.
– Mãe, o que tá acontecendo? - Perguntou Maria, chegando no local.
– Seu pai, Maria... Ele tem dois filhos que não são meus. Ele me traiu - Falou Cristina, dando um soluço.
– Mãe... - Maria debruçou para abraçar sua mãe e olhou com raiva para o pai, que assistia a cena, em silêncio.
– A Joana está em casa? - Perguntou Bernardo.
– Não, ela foi treinar e a Jaqueline saiu com o César e a menininha. - Respondeu Maria, dando um beijo no topo da cabeça da mãe.
– Quando todos chegarem eu vou contar pra todo mundo logo. Mas o X da questão é que eles não tem um lar pra morar, e eu gostaria muito que eles viessem morar aqui. - Cristina levantou a cabeça e olhou séria para o marido.
– Nunca! Na minha casa não, que eles morram! -Bernardo bufou.
– Eu vou te dar um tempo pra pensar. Se eles não puderem morar aqui, eu vejo o que vou fazer, mas tenha consciência que eles não tem onde morar e podem ir morar na rua. Espero que isso não te dê remorso depois.

Aline abriu a porta do quarto devagar com medo de Isaac estar dormindo, mas se surpreendeu ao ver seu irmão sentado, mastigando seu almoço.
– Trouxe visita, Isaac. - Falou Aline. Isaac franziu o cenho e se surpreendeu ao ver Inácio, tímido, atrás de Aline.
– Oi cara. - Falou Inácio.
– Porra, vem aqui! - Chamou Isaac, sorrindo de orelha a orelha. - Achei que não gostasse mais de mim. - Falou Isaac, dando um risinho, enquanto abraçava Inácio.
– Eu fiquei sem jeito de vim ver você. E hoje é meio que uma despedida. - Falou Inácio.
– Como assim?
– Ele vai pro Japão. - Respondeu Aline, no lugar de Inácio, que deu um sorriso amarelo.
– É sério?
– Sim... Seríssimo. - Falou Inácio.
– Mas espera, eu também tenho uma notícia boa, pra gente.
– Qual? - Perguntou Aline.
– Nossa pai, encontrei! Ele existe. - Falou Isaac, sorrindo de orelha a orelha.


Fábio observou o anoitecer debruçado na cela, enquanto esperava para tomar banho, que era sempre às 18:30, e ele era sempre o último.
– O que você pretende fazer assim que sair daqui? - Perguntou Ismael.
– Reencontrar minha filha e um amor que tá aí fora me esperando.
–Que amor? Você nunca falou disso, Fábio. - Falou Ismael, dando uma tragada em seu cigarro.
– O nome dele é Isaac. - Ismael franziu o cenho e deu uma risadinha debochada.
– Isaac? É homem então? Tu é viado, Fábio? - Perguntou Ismael, rindo. Fábio olhou sério Ismael e esperou o outro parar de rir para voltar a falar. Ele não podia ter vergonha de Isaac, e qual o problema em assumir isso pra todos? Estava exausto de esconder isso.
– É Ismael, o nome dele é Isaac. Para de rir, cara. - Falou Fábio, dando um empurrãozinho no ombro do ''novo amigo''.
– Foi Mal cara... Eu não tenho preconceito não, mas achei que tu fosse mó garanhão com as mulheres aí.
– E quem disse que eu não me relaciono com mulheres? Mas eu amo o Isaac, ele é melhor que todas. Você pode não entender, mas tudo bem.
– Fica tranquilo. Mas não fala isso pra ninguém aqui, qualquer oportunidade... você sabe...
– Sei. -Fábio olhou para o crepúsculo e segurou as lágrimas de saudade. Era foda ficar confinado. Ele daria tudo pra sair dali, mas cada dia era menos um para a estadia dele ali, e com certeza ele iria sair antes, ele tinha certeza.


Jaqueline entrou em casa acompanhada de César e Carolina, e passou direto por sua mãe, que estava sentada no sofá, indo até seu quarto com seus acompanhantes.
Cristina estava sentada em frente à Tv, mas não prestava nenhuma atenção na programação ruim do inicio de noite. Era havia sido traída, e seu marido tem 2 filhos que não são delas. Divórcio àquela altura do campeonato adiantaria de quê? Ela não trabalhava, não tinha familia no estado. Pelo menos tinha suas filhas que eram a coisa mais preciosa que Deus podia ter lhe dado.
Pensou durante algumas horas e decidiu aceitar que os filhos bastardos de seu marido vivessem em sua casa. Ela não iria se opositar a mais nada, juntaria algum dinheiro e sairia dessa casa algum dia.
Cristina ficou de pé e caminhou até os fundos da casa onde Bernardo regava suas plantas e sentou nas cadeiras que haviam ali.
– Tomei uma decisão. - Falou Cristina, secando uma lágrima que caiu de seus olhos.
– Qual foi? - Perguntou Bernardo, virando para ficar de frente à esposa.
– Pode deixar eles viverem aqui. - Bernardo deu um sorriso e correu para abraçar sua esposa.
– Obrigada, Cristina. - A mulher ficou ereta, sem expressar nenhuma reação.
– Me solta... - Bernardo soltou sua esposa, que saiu às lágrimas, indo até seu quarto chorar em paz.
Jaqueline saiu de seu quarto justo na hora que sua mãe passou chorando, e foi atrás da matriarca perguntar se estava tudo bem
– O que aconteceu, mãe? - Perguntou Jaqueline, sentando na cama ao lado da mãe.
– Pergunta pro seu pai... - Falou Cristina, afundando o rosto no travesseiro.
– Meu pai? Como assim? - Jaqueline levantou e foi atrás do pai, onde ele sempre ficava.
– Pai? - Chamou Jaqueline.
– Vocês já chegaram? Sabe se a Joana está em casa?
– Sei lá. Por quê a mãe tá chorando daquele jeito? - Perguntou Jaqueline.
– Porque eu encontrei meus filhos, Jaqueline.
– Que filhos? - Perguntou Jaqueline colocando a mão na cintura.
– Isaac e Aline. Eles são meus filhos. - Jaqueline arregalou os olhos e sentiu um embrulho no estômago.
– Como?


Aline e Inácio ficaram o dia inteiro com Isaac, mas assim que Denise deixou o expediente, buscou os dois, deixando Isaac sozinho novamente. Depois que sua irmã e seu amigo foram embora, uma enfermeira entrou no quarto para colocar a medicação de Isaac.
– Boa noite. - Falou a enfermeira.
– Boa noite. Dá tempo de tomar banho antes de tomar esse remédio? - Perguntou Isaac.
– Claro, mas você vai ter que ser rápido, porque daqui há 30 minutos o outro enfermeiro vai vir aqui colocar sua medicação.
– Tudo bem, eu vou tomar meu banho. - Isaac levantou meio fraco e tremulo e caminhou até o banheiro pequeno que havia no quarto.
– Você quer que eu te ajude, Isaac? - Perguntou a enfermeira.
– Não precisa. Eu tô tão feliz que quero me esforçar pra tomar meu banho sozinho, mas obrigada.
– Eu vou no quarto aqui do lado, daqui a pouco eu volto então.
–Ta bom. - Isaac entrou no banheiro e trancou a porta. Na última vez que ele esteve ali e olhou naquele espelho pensou que seria seu fim, e que seria infeliz para sempre, mas conseguiu fazer amigos e agora encontrou seu pai, por acaso haveria maior felicidade que aquela? Impossível, pelo menos foi o que Isaac pensou.
De repente, enquanto Isaac retirava suas roupas ele lembrou de Fábio e sentiu saudades dele. Seu corpo foi preenchido por um sentimento ruim que o fez chorar silenciosamente e quando se deu conta, uma vertigem havia tomado posse de si e sua visão que antes estava nítida, ficou completamente turva e ele caiu no chão frio, batendo fortemente a cabeça no vaso sanitário, e em questão de minutos, o chão que outrora era branco, ficou completo de sangue do rapaz desacordado.


Bernardo, sentado à mesa com suas filhas e sua esposa confessou a traição que cometeu no passado e pediu perdão e arrego para seus filhos. Em contrapartida, Jaqueline apoiou o pai por ter contado isso e lhe perdoou, já que graças a seu irmão não estava morta, mas sua mãe não sabia disso. Joana e Maria não se pronunciaram e concordaram mudas em aceitar seus ''novos irmãos'' em casa. Pronto, Bernardo iria até o hospital ficar com Isaac e procurar por Aline no dia seguinte e levá-la para sua casa, e assim que Isaac tivesse alta, ele também iria para sua nova casa, viver uma vida sem dor e sem sofrimento, mas infelizmente, ele nunca receberia alta.


Denise lia um livro sentada em sua varanda, quando Cleusa apareceu com um telefone sem fio em mãos, entregando o aparelho para a patroa.
– Telefone, é do hospital onde o Isaac tá internado. - Falou Cleusa. Denise franziu o cenho e pegou o aparelho.
– Alô?
– Boa noite. Aqui é do hospital Rocha Menezes onde Isaac Mendes estava internado. A senhora deixou seu telefone para contato então ligamos para te dar a notícia do óbito do rapaz agora no inicio da noite.
– Como? Óbito? Do que vocês estão falando? - Perguntou Denise, ficando de pé.
– Ele caiu no banheiro e teve um traumatimo craniano e quando uma enfermeira o encontrou ele já havia falecido. Parece que uma artéria...
– Não precisa explicar nada, eu tô indo pra aí. - Denise desligou o telefone e foi até o quarto dos fundos onde Aline estava ''hospedada'' para lhe dar a notícia.
– Aline? - Chamou Denise, enquanto a garota assistia sua novela favorita.
– Oi dona Denise, ops, Denise. - Cumprimentou Aline, abrindo a porta.
– Senta, tenho uma má notícia pra te dar. - Aline sentiu o corpo inteiro tremer.
– O que? O que aconteceu? É com o Isaac?
– É sim... Nós vamos ter que ir até o hospital vê-lo.
–Então vamos logo. - Falou Aline, saindo com pressa do quartinho, indo em direção ao quintal. Denise não teve coragem de dizer o que havia acontecido para a garota. Era melhor ela saber pela boca do médico.


Bernardo desceu do táxi e entrou no hospital calmamente. A noite estava fazendo revolto para chuva e não demoraria muito para cair um pé d´agua do céus.
O homem viu a advogada de sua filha e uma menina morena que provavelmente era sua outra filha. A garota chorava de soluçar encostada na parede e ali ele percebeu que havia acontecido alguma coisa.
– Aline? - Chamou Bernardo.
– Oi? Quem é você? - Perguntou Aline, secando as lágrimas que escorriam por seu rosto machucado pelo tempo.
– Eu sou seu pai, querida. - Aline olhou irada para o homem e começou a soluçar.
– Meu pai? Aquele que abandonou minha mãe, meu irmã e eu? Pois saiba, pai, que meu irmão está morto! MORTO! - Esbravejou Aline. Morto? Pensou Bernardo.
– O quê?
– Sim... morto! Ele morreu agora noite e eu nem me despedi. - Bernardo abraçou Aline, que em um momento de fragilidade, aceitou o abraço de seu pai, chorando dolorosamente.
– O que aconteceu? - Perguntou Bernardo para Denise, que estava mexendo no celular, sentada em uma cadeira na recepção.
– Ele desmaiou no banheiro e bateu com a cabeça no vaso sanitário. O óbito foi traumatismo craniano. - Respondeu Denise. - Eles eu tô agilizando a liberação do corpo daqui há algumas horas.
– Eu posso levá-la? - Perguntou Bernardo, referindo-se à Aline.
– Pode. - Respondeu Denise, olhando fixamente para o celular que portava em mãos.
– Vem, filha. - Falou Bernardo, levando Aline consigo para sua casa.
Denise precisava dar a notícia para alguém em especial e ela iria bem cedo até o receptor.

Fábio acordou com os raios solares em seu rosto. Havia chovido forte na noite anterior, mas acordar com sol era sinal que o dia seria bonito, sem chuva, sem frio, mas infelizmente, sem Isaac.
– Fábio Malta? - Chamou o espetor.
– Oi. - Respondeu Fábio.
– Tem visita pra você. - Falou o espetor.
– Dá tempo de escovar os dentes? - Perguntou Fábio.
– Você tem 5 minutos. - Fábio correu até a pia escovar seus dentes, na esperança do visitante ser Isaac. Assim que terminou de escovar seus dentes, Fábio jogou seu cabelo pra trás e saiu com o espetor até a salinha de visitas. Pobre coitado, sua expectativa de ver Isaac foi sucumbida pela presença de Denise.
– Bom dia, Denise. - Falou Fábio, sentando na cadeira, em frente à Denise.
– Não é um bom dia, Fábio. - Falou Denise.
– Por quê? Você veio pra me dizer que vai me manter aqui eternamente?
– Se você soubesse a seriedade do assunto não seria irônico.
– O que aconteceu? - Perguntou Fábio, ficando sério.
– É o Isaac, Fábio.
– O que aconteceu? - Perguntou Fábio, com um tom nervoso na voz. Denise mordeu os lábios e respirou fundo antes de começar a falar.
– Ele caiu e bateu com a cabeça.
– Mas ele tá bem? Ele tá bem, não tá? - Perguntou Fábio nervoso. Denise balançou a cabeça negativamente.
– Ele faleceu. - Fábio sentiu um tonelada nas costas e suas mãos e seus pés começaram a ficar dormentes. Só podia ser mentira de Denise, ela estava brincando com ele.
– É mentira, né? É MENTIRA! PODE FALAR QUE É MENTIRA! - Gritou Fábio.
– Não... Mas ele deixou uma coisa pra você. - Denise tirou um papel do bolso e entregou para Fábio. - A Aline ficou com essa cartinha que ele escreveu pra você. Ele ia te entregar, talvez, mas eu tô aqui te entregando.
– De quando é essa carta?
– Não sei. Bem, é isso. Sua filha está muito bem e irá embarcar para os Estados Unidos com Jaqueline hoje à noite. A Jaqueline me deixou o contato dela, caso você queira saber da menina é só falar comigo.
Fábio encarava o papel temeroso. Ele havia morrido ali, sem sua filha, sem Isaac, sem sua mãe. Pra quê continuar vivendo. Denise levantou e saiu, deixando Fábio sozinho na salinha, sozinho não, com suas lágrimas e seu remorso.
O alvo abriu o envelope com cuidado e curiosidade e começou a ler a carta escrita em papel de caderno.

Fábio, você sabe que eu não sei escrever muito bem, então pedi ajuda ao Inácio para te entregar essa carta pra você ler enquanto estiver aí, preso. Eu não pretendo ir aí te visitar, mas admito que sinto imensamente sua falta. A Denise disse que ia aí te visitar, então deixei com a Aline pra que ela entregasse à ela essa carta e ela te entregasse.
Eu perdoo você e tudo o que você me fez, porque é isso que as pessoas boas devem fazer, perdoar quem nos feriu e você me feriu muito, mas isso é passado. Espero que você saia daí rapido e venha ficar comigo, porque minha vida sem você não é a mesma, mesmo você sendo uma peste, como diz Aline. Eu sei que existe algo bom em você, aí dentro,mas eu vou te ajudar a tirar isso de dentro.
Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

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