Faith Hardeed: A Sina da Digna escrita por Misofonico
Notas iniciais do capítulo
* Plágio é crime. Não copie essa história, por favor.* Não gosto de leitores fantasmas. Se manifestem nos comentários, por favor.* Seja bem-vindo(a) e boa leitura.
Estou na metade do caminho para casa já arfando. O som dos pássaros da cidade apenas me trazem lembranças do ocorrido no interior da escura oficina.
– Preciso chegar em casa - Repito para mim mesma enquanto tampo os buracos de meu pescoço com uma das mãos porque não param de sangrar e latejar - E manter minha família segura, viva...
Sinto uma mão segurar meu ombro e tenho a sensação de que o sangue das minhas veias congelou.
– Me deixem em paz! - Exclamo erguendo minha mão novamente para uma figura que ao ficar nítida me mostra uma garotinha de dez anos de idade com cabelos ruivos ondulados e uma pesada mochila nas costas. Alívio. Respiro fundo ao descobrir que não estou correndo perigo. Pelo menos por enquanto.
– Saímos mais cedo da escola - Minha única e mais nova irmã fala secando o suor da testa com a manga da blusa - Parece que alguns animais esquisitos invadiram a escola e a diretora não quis correr o risco de deixar os bichos nos atacarem ou contaminarem com doenças o que considero uma falta de respeito com os animaizinhos! Como a casa estava trancada vim até você, Faith.
Minha irmã ama os animais e a natureza. Não pode ver um vira-lata na rua que já quer coloca-lo dentro de casa e cuidá-lo. Considero isso nobre e bonito da parte dela. Só consigo abrir um sorriso, abraçá-la e dar um beijo em sua testa antes de colocar a pesada mochila de Harlie em minhas costas sujas de sangue. Estendo a mão para ela rapidamente.
– Vamos, irmãzinha? - Pergunto no mesmo segundo em que ela segura minha mão e me acompanha cantarolando até nossa conhecida rua. Já na calçada abro minha bolsa e tateio sua parte interna procurando por minhas chaves. Nada. Busco pelo objeto mais duas vezes e por fim, já vencida desisto delas. Harlie me observa atenta.
– O que vamos fazer, Faith? - Pergunta ela com as mãos no rosto já se demonstrando preocupada com a situação - Vamos ter que voltar até a oficina para procurá-las? Meus pés estão me matando e olha que são tão peque...
– Não será necessário, Harlie - Digo enquanto me inclino para o vaso de uma grande bromélia que cuido com zelo e retiro uma chave suja de suas raízes e terra - Temos essa chave reserva para casos como este. Agora vamos entrar e almoçar algo bem gostoso?
Ela assente e já toca na barriga quase imperceptível. Coloco a chave na fechadura e de repente a porta abre sem que eu gire a chave. Uma prega duvidosa se forma entre minhas sobrancelhas. Entro com cautela esperando por algum se humano sem pigmentação ou animais fora de seu habitat natural. Silêncio. Observo cada centímetro quadrado da residência e chego a conclusão de que nada fora retirado do lugar ou quebrado. Harlie entra e se dirige às escadas que levam à seu quarto.
– Não! Espere Harlie! - Digo com um alto sussurro já segurando a garotinha pelo braço.
– O que foi Faith? - Sussurra ela com a maior naturalidade e inocência - Isso é uma espécie de jogo?
– Sim! Não! Mais ou menos! - Digo voltando ao meu tom normal ficando confusa - Eu subo primeiro, combinado? Você sobe em seguida. - Continuo tentando soar o menos estranho possível.
Harlie assente em concordância o que me deixa feliz. Se minha irmãzinha quisesse dar uma de danadinha e tivesse subido correndo e fazendo barulho... Nem ouso pensar no que poderia acontecer. Paranóia. Tenho quase certeza de que algo me aguarda atrás de uma dessas portas e não é meu avô, penso ao longo do caminho pelos degraus. O chão do corredor tem duas marcas estranhas. Parece que algo pesado foi arrastado. Sem pensar em mais nada corro até o encontro de meu avô e sinto o coração acelerar a batida quando não o encontro em sua cama. A jarra de água está aos cacos no chão, a cama encontrasse revirada e a janela está aberta. Vampiros. No mesmo instante concluo que aqueles chupa-cabras metamorfos levaram ou assassinaram meu último parente depois de Harlie. Ouço a porta de entrada da casa abrir subitamente e passos adentrarem meu lar. Harlie. Dou meia volta e vôo para o final do corredor abrindo meus braços para embalar, proteger minha pequena preciosidade tão frágil e inocente.
– Cuidado, Harlie - Solto durante o percurso que dura segundos.
– Você é Faith Hardeed, senhorita - Pergunta uma voz masculina com sotaque - Seu avô está internado. Teve uma parada cardíaca.
Me desvencilho de Harlie e fito um policial no fim da velha escada de madeira com cupins. Não era um vampiro. Me sinto aliviada e desesperada ao mesmo tempo. Lágrimas mornas percorrem minhas bochechas e as seco com a ponta dos dedos.
– Ah sim... - Digo forçando uma gargalhada falsa que arranha minha garganta - Obrigada pela informação. Você poderia nos levar até lá?
O policial olha para minhas pernas e me sinto mal. Esse cara está pensando em safadesas num momento desses? Penso comigo mesma. Então sinto um movimento e vejo que Harlie surgiu de trás das minhas pernas. Ela acena para o policial negro de bigode cheio.
Logo nós duas estamos dentro da viatura policial rumo ao hospital que promete tristes notícias. O caminho é silencioso tirando o som de Harlie perguntando: O vovô foi visitar a vovó? Será que ele vai passar para dar um "oi" para papai e mamãe? Será que ele foi lá para baixo?
Tento ignorar as perguntas de Harlie, mas falho. Resmungo dois "sim" e um "não". Quer dizer, foi o que eu quis ter dito. Percebo que o policial não abriu a boca durante a viagem para não me deixar ansiosa. Querendo ou não já sei o final dessa história.
– Podem sair garotas - Diz o homem arrumando a bigodeira - Mas antes preciso dar uma palavrinha com você, Faith.
Harlie sai do veículo e se distrae com pequenas borboletas que rodeiam um canteiro de rosas. Tiro o olhar de minha irmã e me volto para o homem da polícia.
– Quando você terminar a visita à seu avô vamos precisar de você na delegacia da cidade - Diz o homem olhando para o meu macacão que, ao descer meus olhos vejo que está ensanguentado - O caso na oficina precisa ser solucionado. Agora acompanhe sua irmãzinha, Faith.
Assinto em concordância e saio do carro a tempo de ouvir o policial dizer:
– Melhoras para o seu avô.
Agradeço e acompanho Harlie até a recepção do hospital. Este se revela mais cheio do que de costume. Passando os olhos por todos os lados percebo duas coisas que fazem meus pêlos eriçaram: Uma senhora tem marcas de garras de pássaro nos braços e um garotinho possui duas perfurações na mãozinha. Imediatamente as minhas se tornam ardentes e volto a percebê-las. Harlie me fita esperando alguma ação minha. Vou até a recepcionista e me apoio em sua bancada. Ela termina uma ligação e coloca o telefone no gancho.
– Preciso ver Benjamin Hardeed urgentemente - Digo parecendo mais desesperada do que realmente estou - Qual o quarto? Para que lado?
– Quarto 137 na ala B, querida - Me avisa a mulher se virando para um conoutador e começando a teclar - Já pode ir.
Pego Harlie pelo braço, sigo as placas do hospital e após parar um momento para perguntar à um enfermeiro chego ao quarto de meu avô. Toco a maçaneta gelada da porta e as memórias dele me levando para pescar com minha mãe e uma Faith bebê surgem. O escuto tocar seu fiel violão em torno da fogueira enquanto aço marshmallows com a vovó. Volto para o mundo real quando sinto um cutucão.
– Faith, abra a porta ou saia da frente para que eu possa entrar - Diz Harlie transparecendo ansiedade.
– Ah sim! - Abro a tão temida porta e meus olhos se fixam num velho senhor vestido com a típica roupa de hospital, deitado numa maca e parecendo o mais judiado que já o vi.
Entro e seguro em sua mão fria como um picolé. Harlie o cutuca em vários pontos e pergunta:
– Vovô? O senhor vai ficar bem? Está acordado?
Sem respostas. Beijo sua testa que abaixa a temperatura de meus lábios.
– Descanse em paz, amado pai - Meus olhos ficam marejados, mas não soltam lágrima alguma. Sim, eu o considero meu pai, já que o homem que me colocou no mundo sumiu da minha vida e de minha mãe após o parto. Alguns anos mais tarde minha mãe desapareceu misteriosamente e deram como morta após inúmeras investigações sem sucesso algum. Ouço o som do oxigênio dos tubos entrarem nas narinas do velho praticamente morto quando me assusto com o temido e conhecido som da maquina medidora da frequência cardíaca. Piii...! Uma enfermeira brota, me afasta da cama do hospital e começa a pressionar o peito de meu avô enquanto chama e dá instruções à outros profissionais que também surgem no quarto. Sei o que esperar. Pego Harlie pelo braço e a levo comigo para longe da cena, distante do quarto.
– Vovô! Não! Me larguem... - Harlie gritou durante o acontecimento.
Nos sentamos num banco frio rapidamente. Me ajoelho diante dela, seguro seu rosto molhado pelas lágrimas que surgiram e tento acalmá-la.
– Eu preciso que você mantenha a calma e pare de chorar, Harlie - Digo olhando nos seus lindos olhos verdes-esmeralda - Na vida as pessoas nascem, vivem e morrem. Isso também acontece com os animais e as plantas e é impossível de se parar esse ciclo. O vovô, como você observou ao longo dos anos, estava muito doente. Ele estava sofrendo, sentido dor e esse foi o único jeito do ciclo poupá-lo de mais calamidade. Sono eterno. Então respire fundo e mostre que você é uma garota forte e conhecedora do ciclo da vida - Concluo percebendo que minhas palavras foram suficientes para fazê-la parar de soluçar e chorar.
Beijo sua testa e a abraço mais uma vez. Me sinto confortada com o caloroso e amável abraço.
A enfermeira me dá a já esperada notícia. Meu avô faleceu. Uma e apenas uma lágrima morna desce por minha maçã do rosto. Assino uma papelada e me preparo para agendar e organizar um velório digno para o patriarca da família nem que eu passe alguns dias com fome. Por sorte o médico responsável pelo quarto me diz que o hospital e o estado fornecerão tudo. Seguro mais uma vez no braço de Faith e seguimos para a entrada do hospital. Olho para o céu e vejo a Lua e as estrelas no lugar do Sol. Me surpreendo ao ver o farol de um carro ligar e o identifico como a viatura da polícia. O homem de bigode me aguarda. Eu e Harlie entramos no automóvel e o homem segue pelo caminho da delegacia. Percebo que ele me observa com semblante triste.
– Olha, eu seria desumano se te obrigasse a responder várias perguntas a esta hora depois do que aconteceu com seu avô - Diz ele com a voz desgostosa - A propósito... Meus pêsames, garotas.
– Se não vamos a delegacia para onde está nos levando? - Pergunto estranhando.
– Ah sim... - O policial fala abafando uma risadinha enverginhada - Tem uma papelada sobre o enterro que precisa ser preenchida com urgência.
– Mas eu não poderia assiná-la aman...
Vrum! O carro derrapa girando em círculos. O homem negro sai apressado do carro e trava as portas do mesmo com Harlie e eu dentro.
– Estamos trancadas! - Grita Harlie com a voz assustada - O que ele vai fazer, Faith? Socorro!
De repente percebo que estamos em frente a uma velha sorveteria. Uma luz se acende dentro dela e vejo alguém com quem não esperava encontrar. Mark Fields. O rico homem com quem troquei ofensas no celular mais cedo. Percebo que Harlie tenta abrir a porta por dentro, mas se frusta quando não obtem êxito. O crítico de arte para em frente ao carro e me olha nos olhos. Quatro caras encapuzados surgem atrás de suas costas com os rostos tão peludos quanto o do escultor metido. Um capanga entrega um bolo de dinheiro para o policial bigodudo que some da cena com um sorriso no rosto. As portas se destravam na mesma hora. Dois indivíduos surgem na parte de trás do carro, abrem as portas e puxam Harlie.
– Ah! Socorro, Harlie! - Grita minha irmã em desespero. Escancaro minha porta e saio determinada a quebrar os dentes desses imbecis que tocaram em Harlie.
– Soltem-na ou...
Uma gravata se fecha em meu pescoço e minha voz evapora junto com meu fôlego. Fields me vira para a sorveteria e me empurra com força no chão. Estolo meus braços e mãos instantaneamente. Dor. As feridas ardem como fogo, mas não tenho tempo para me lamentar. Dou um soco forte no nariz de um capanga que tenta ne chutar e sinto meu punho latejar. O homem grita e segura o nariz que sangra como uma cachoeira. Levo uma rasteira e venho ao chão. Dois homens me erguem segurando meus braços.
– Para a sorveteria, rapazes - Diz Mark com um sorriso malicioso e uma risadinha.
Ouço Harlie gritar chorando.
– Faith, socorro! Me ajude, por favor!
Meu coração se parte. Lágrimas de ódio surgem em meu rosto. Sou lançada para dentro do estabelecimento sem mais nem menos.
– Vou lutar até a morte se necessário! - Grito no local e ouço minha voz ecoar.
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