Algo importante, ou quase. escrita por venus


Capítulo 6
.quarta-feira e o tédio de estar doente.


Notas iniciais do capítulo

“Ela não é completamente normal. Nem anormal. Ela só é ela, com todos os seus cantos, esconderijos, degraus, pontes, abismos.”
— Clarissa Corrêa.



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Estava jogada no sofá na sala com fones de ouvido no máximo volume enquanto encarava a TV que parecia ser muda na minha cabeça. Meu primos estavam sentados no chão dividindo um salgadinho de queijo mal cheiroso que provavelmente tinha um gosto bem diferente do cheiro. Não tinha ido essa quarta a escola pois tinha pegado um resfriado forte depois de correr descalça pela praia, em uma noite fria sem casaco. Minhas tias tinham ido ao super-mercado, depois gastariam o dinheiro de seus maridos escolhendo roupas extravagantes (nas quais nem bonitas ficavam) no shopping. É, apesar de tudo tínhamos um shopping. Ele tinha um andar térreo, não era grande, mas luxuoso e tinha várias boutiques, lojas, livrarias e restaurantes caros nele. Era um bom lugar para se passar um tempo com os amigos - se você pudesse pagar.

O dia tinha amanhecido nublado e a recém eram oito horas da manhã e meus primos não iam a escola. Por quê? Eles eram de outra cidade e a escola consequentemente havia estendido as férias pois tinha começado atrasada com a mesma. Tia Lucy limpava a casa. Tio Richard estava trabalhando. Ed estava no quarto fazendo sabe se lá o que. Os maridos das minhas tias estavam dormindo enquanto um ou outro tomava café. E eu não tinha bem o que fazer, não podia sair com o resfriado forte e o tempo ruim do jeito que estava - pioraria minha situação já crítica. E eu não queria piorar se não teria de faltar mais a escola e teria de me deliciar ouvindo as reclamações absurdas das minhas tias a meu respeito por mais sete horas ao dia. Sete horas mesmo, pois não tinha uma aula adicional - literatura estrangeira, teatro e só. Não era obrigado a fazer uma terceira aula adicional quem não quisesse, então eu não fazia.
– Querida, pode me ajudar a pintar a cerca? - pergunta Ed me tirando dos meus pensamentos. Ele e tio Richard faziam o possível para me tratar como sua filha, e a agora que decidiram oficializar a união se casando precisavam mais de mim para o apoio e consolo de cada um (pois brigavam muito, mas se amavam muito também). Eles estavam ajeitando a casa devagarzinho. Já tinham reformado ela por inteira, só faltavam alguns detalhes e pintar a cerca era um deles. Como eu estava sem nada para fazer e não pioraria se me agasalhasse bem fiz que sim com a cabeça.
– Vou me agasalhas e já desço, tá?
– Vou esperar lá fora com a tinta.

Ed era um homem - mesmo que não quisesse (risos) - bonito e brincalhão. Pintamos a cerca de madeira de branco leite. Estilo clássico, a casa era azul e bem feita com janelas de madeira da mesma cor que a cerca propositalmente. Linda de se ver, eles dois planejaram tudo nos mínims detalhes. Richard era um advogado bom e todos na cidade gostavam dele, Ed era arquiteto. Então os dois ganhavam bem e parte da herança de meu avô ficou com tio Richard. Richard era irmão de tia Lucy (eram adotados pela família do meu pai). Todas aquelas mulheres que denomino tias não eram adotadas, inclusive meu pai. Meu avô era um homem bom e rico que usufruiu muito bem de sua fortuna enquanto vivo. Fazia o bem sem olhar a quem e adotou crianças, teve vários filhos legítimos com uma mesma mulher, a qual amou intensamente até seu último segundo de vida. Realmente meu pai era um monstro sem nenhum motivo aparente já que meu avô era um doce e dizem que minha avó era geniosa, irritadiça, mas muito bondosa. Deram de tudo do bom e do melhor e tratavam todos os filhos igualmente. Meu pai era do jeito que era por gostar de ser assim, tinha escolha mas preferia o mal dos outros do que o bem - trágico. Tínhamos terminado de pintar e o tempo havia melhorado, então sentei na varanda enquanto lia um livro qualquer de tia Lucy - que possuía uma biblioteca na casa. Ela era irmã de Richard e tinha ajudado na compra e reforma da casa. A herança dela era mais favorável do que de todos da família - meu avô achava que ela era a que mais utilizaria bem e quem mais precisaria do dinheiro dele. Deixou o bastante para viver confortávelmente bem em três vidas. E minhas tias vacas odiavam tia Lucy por isso e faziam o possível para a ofenderem. Mas tia Lucy era durona e não dava à mínima a elas. Ela se mostrava indiferente, falava com elas quando elas falavam com ela, e quando elas provocavam, tia Lucy devolvia a altura. Era uma mulher boa e educada, mas a boca era tão suja quanto a um banheiro público que era utilizado diariamente. Sabia ser cínica, sádica e cruel. Só escolhia ser melhor, mas com elas minha tia não havia o por quê querer ser melhor.

Duas horas da tarde Madson e Gabriel aparecem na minha casa suados e com a respiração cortante.
– O que houve? - perguntei pulando do sofá quando os vi passar pela porta sem bater. Só entrando, como sempre faziam.
– Garota! Você não atendia minhas ligações por quê? - dizia Madson ainda respirando com dificuldade.
– Matamos aula. - dizia Gabriel. - Fomos ver se você foi a escola para te chamarmos e descobrimos que você não tinha ido. Então viemos até aqui, mas antes passamos pela escola enquanto a inspetora estava na frente e ela quase nos viu se não tivéssemos corrido. - explica Gabriel já com a respiração normal.
– Muito interessante, pessoal. Vocês são radical, mas e aí quem quer comer? - tia Lucy estava entrando pela porta da sala. Madson riu e a cumprimentou com um abraço cheio de cochichos e risadas. As duas se davam bem, Gabriel acenou com a cabeça. Não era tímido, mas não gostava de muito contato humano. Então fazia o possível para não lhe abraçar. De fato seria hilário ver ele namorar com alguém.
– O que tem de almoço?
– Fui eu quem fiz, vai ser bom de qualquer jeito. Venham!

Nós nos sentamos na mesa e minhas tias olharam críticas para mim, seus maridos estava na sala de estar assistindo a um jogo de futebol reprise enquanto comiam salame. Meus primos saíram e só os menores estava presente e estavam brincando e só Deivid, de três anos se sentava na mesa. Ficando eu, meus amigos, Deivid, minhas tias peçonhentas, tia Lucy e Ed. Richard não almoçava às vezes pois trabalho era extenso. Comemos em silêncio desconfortável por causa das minhas tias que não me tratavam muito mal perto de Ed - ele contaria a Richard, que poderia expulsá-las a qualquer momento.

Estávamos os três no meu quarto rindo alto com as pernas em cima das pernas do próximo, como os mais forte era Gabriel, minhas pernas e de Madson ficavam em cima dasdele. Tia Lucy falava alto com meus priminhos, eles haviam destruído as almofadas ou alguma coisa assim já que o som era abafado pelas paredes. Ela foi até meu quarto.
– Madson e Gabriel não querem algo para beber? - perguntou ela na ombreira da porta. Gabe sorriu e fez que sim.
– Seria ótimo um chocolate quente. - claro, estava frio.
– Vamos assistir um filme? - Madson sugeriu com os olhos brilhando.
– Eu faço pipoca e chocolate quente. Vamos assistir no seu quarto, Louise. Eu não quero ver a cara daquelas mulheres mais, pelo menos hoje. - diz Lucy revirando os olhos. Um fato que eu amava em tia Lucy: ela agia como uma adolescente. E isso a fazia ser tão especial, ela não fazia ideia. Ela se vai e ficamos nos encarando.
– Sua tia é um doce. - comenta Madson.
– Até você andar de meias brancas pela casa. - disse eu e ela riu juntamente a Gabe.
– Pode chamar Dallas? Ela está sozinha em casa, voltou hoje da viajem. - informa Madson. Reviro os olhos, as duas eram iguais a carne e unha. Não se desgrudavam por nada, mas concordei que ela viesse, pois ainda tinha Gabe (acho que em brave ficarei sozinha, já que Gabe irá começar a viver grudado com Lyla).


– Você querendo assistir filme romântico? — falei como se estivesse a zoando. — Mas não era coisa de adolescentes idiotas e mães solteiras? - revirei os olhos indignada. Dallas sempre dizia a todo custo que odiava roamance. - Dá para perceber que Gabriel não é o único apaixonado aqui.. - cantarolei depois. Gabe revirou os olhos.
– Você não conhece a palavra maturidade, Louise? - perguntou Dallas rindo.
– Conhecer ela conhece, só não gosta. - fala tia Lucy e todos rimos. Tá, agora virou piada caçoar de mim?

Duas horas depois recebemos uma ligação da escola dizendo que no resto da semana não haveria aula (Deus não vai com a minha cara). Implorei para a minha tia me deixar dormir na casa de Dallas até segunda-feira, onde dormiria Madson. Ela deixou depois de umas quarentas investidas - agora eu entendia por que nunca casava (o cara tinha que ser bem persistente).

– Vamos na balada de Rowcksttop? Me disseram que é boa. - Falou Dallas Miller. Gabriel riu baixo e olhou para mim, que só balancei os ombros em sinal de tédio. Estávamos na garagem da casa de Dallas, dentro do carro de Madson.
– Também me disseram! Disk o barman é um gato... - fala Madson rindo baixo. Dallas revira os olhos, estava claro que Madson só pensava em garotos, mas ela sabia ser séria na hora que quisesse.
– Não é em outra cidade? Acho que é muito perigoso, não? Um grupo de adolescentes naquela cidade e nem um bom bairro é - Lyla interveio. Gabe a chamou, esta noite ele se declararia para ela. Um pouco rápido, mas a vida é deles.
– Pra você qualquer coisa que não tenha velhinhas sorridentes andando e pássaros cantando é perigoso, Lyla. - disse Gabriel um pouco entediado. Eu sorri e dei um tapa fraco em seu ombro. A garota gostava dele, ele sendo rude assim certamente a magoaria.
– O que você acha, Louise? - perguntou Dallas. Ela era um tanto mais animada que Madson e menos encantada com o sexo masculino. Ela odiava os homens, mas mesmo assim era hétero. Outra garota complicada.
– Acho que é melhor vocês se decidirem logo. Vou a qualquer lugar, contanto que tenha bebida e música boa. E, claro, algumas pessoas diferentes das de sempre. - disse eu exigindo coisas que apontavam que queria ir na Rowcksttop.
– Rowcksttop, próxima parada!- Grita Madson no volante (aquela não era uma ideia muito boa). Eu rio alto. A animação da ruiva era quase contagiante. Quase.


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Notas finais do capítulo

"Há pessoas
que dão pena,
outras,
asas."

Dallas é do tipo que dá pena ou asas? Queria um novo personagem e Dallas me parece uma garota legal para colocar na vida de Louise.

Outra(s) pergunta(s): que opiniões tem sobre Madson? E Lyla? Seria uma boa ela com Gabe?

Obrigada por ler e até mais. Beijooo, bom dia



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