Não,isso não podia acontecer,ia dar muito errado!

Fiquei pasma em meu assento olhando para Sasha enquanto ela chamava por Carl que ,por sua vez,a olhava confuso.Eu estava pensando em uma maneira de fazer aquilo não acontecer,sair correndo seria uma ótima ideia ou qualquer outra coisa,mas não consegui fazer nada.

–O que foi?-disse ele,antes parecia estar com uma revistinha,mas não consegui notar qual era.

–Quero que faça uma coisa pra mim.-disse ela colocando as mãos na cintura.-Preciso que enrole a atadura na mão da menina,ela queimou feio,eu ia fazer mas Tyreese não tem paciência,pode me ajudar?

Vi que Carl arregalou os olhos no instante em que ela disse “enrole a atadura na mão da menina” e parecia que ia recusar de imediato,mas deu uma olhada em Rick,que estava a assistir,e respirou fundo.

–...Posso.É só enrolar?

–Sim,é só enrolar,eu já fiz o resto.Conto com você.-disse ela logo se retirando e indo até o moreno.

Carl ficou parado assistindo ela se afastar com uma cara confusa,acho que ele odiaria isso tanto quanto eu estava pensando que ia odiar pois quando olhou para mim desviou o olhar.Quando saiu de seus devaneios veio até mim e se sentou no banco a minha frente olhando para o lado;eu olhava para minhas botas que estavam bem sujas,até ele quebrar o silêncio.

–Certo,me dê sua mão.-disse ele olhando para mim com uma cara neutra,mas tinha algo naquele olhar noturno que eu não consegui identificar.

Eu levantei o olhar lentamente,eu me sentiria desconfortável com aquela situação,mas tive que ceder.Uma coisa era uma mulher enfaixar a minha mão,mas um garoto de minha idade era outra completamente diferente e essa ideia me deixava com um pouco de vergonha.Eu nem o conhecia direito,mas sentia que já o tinha conhecido.Apenas fiz o que ele me pediu,lentamente.

–Ta bom...-disse esticando minha mão pálida em sua direção,logo ele a pegou.

Tinha mãos maiores que as minhas e elas eram bem quentes.Ele pegou a atadura e começou a enrolar.O silêncio que caia sobre nós era desconfortante,ele ainda parecia um pouco bravo mas isso só me deixou com remorso pela grosseria que antes havia cometido.Apenas desviei olhar dele para o chão,sentir a mão dele na minha e era uma boa sensação,não era como segurar a mão de Jim,aquilo era diferente....um diferente bom.Levantei o olhar novamente e notei que o mesmo olhava para mim,com isso nós dois desviamos o olhar,mais uma vez.E isso fez ele apertar a minha mão,o que doeu um pouco pelo ferimento.

–Ai!-disse por puro reflexo.

–Desculpe...-disse ele olhando para minha mão.

–Não,eu que peço desculpas.-disse encarando-o,estava com o olhar confuso então resolvi esclarecer.-Sobre antes,fui grosseira com você,desculpe foi uma coisa bem tola.

Ele me encarou.

–Me desculpe também,não era pra mim ficar tão irritado daquele jeito não sei o que deu em mim.-disse ele,agora,com um pequeno sorriso torto que me fez dar um também.Uma coisa rara.

–Certo,acho que estamos quites não é.Eu fiquei irritada e você também.

–É e foi bem estranho não é?Quer começar de novo?-disse ele ainda olhado pra mim,apenas assenti com a cabeça e ele esticou o braço até mim como um cumprimento.-Olá,sou Carl Grimes.

–Oi Carl,sou Lissandra,é um prazer.-disse estendo a minha outra mão até ele.Fizemos o cumprimento.

–Oi Lissandra.-disse ele dando um sorriso torto,o que ele parecia fazer bastante.-Você não tem sobrenome?

–Hum...eu prefiro não usar.

–Sério?Qual é?

–Não é da sua conta Carl Grimes.-disse com um sorriso irônico.

–Isso não é justo,eu te disse o meu!

–A vida não é justa meu amigo.

Com isso nós dois começamos a rir,aquele garoto não era uma pessoa má como eu estava pensando que fosse.Era estranho conversar com alguém tão abertamente daquela maneira,mas por alguma razão ele fazia parecer fácil fazer amigos,deveria ter muitos antes daquela grande bagunça.

–Você não é o tipo de pessoa que eu esperava que fosse.-disse ele olhando para o trabalho que estava a fazer em minha mão,eu olhei-o desconfiada.-É bem legal,quero dizer,é sociável.

–Eu entendi,e acho que aprovo esse pensamento.Você também não é o que esperava,é fácil de conversar...-ele levantou o olhar rapidamente e sorriu,o que fez algo dentro de mim palpitar como um passarinho.

–Acho que terminei,não ficou tão bom quanto ficaria se outra pessoa tivesse feito,mas deu pra quebrar o galho.Ficou bom?

–Ficou ótimo,não precisava de tudo isso,era só uma queimadura.

–Os machucados menores doem mais que os maiores,acho que não foi exagero,temos que nos precaver não é?

–Acho que tem razão,obrigada por ter me suportado e cuidado disso.-disse balançando a mão e me levantando.

–Foi legal conversar com você,e não precisa agradecer,foi bom eu ter feito isso.Será que agora podemos ser amigos?-disse ele levantando-se e colocando as mãos nos bolsos.

–Hum...acho que podemos sim,mas não me irrite pois isso é um erro.-disse em um tom um pouco brincalhão,o que fez ele rir.

Rimos um pouco e quando paramos ficamos em silêncio,um olhando para a face do outro sem ter o que dizer,até isso tudo ser quebrado.

–Lis!Lis!-gritava Jim sinalizando com as mãos para que eu fosse até ele.-Venha até aqui!

–Bem,até depois,acho.-disse ele arrumando o chapéu.

–Acho que sim,a conversa foi boa,Carl.-disse quase indo embora.

–Também achei,Lissandra.

Virei o rosto e sai correndo até Jim.Quando Carl dissera meu nome algo dentro de mim palpitou outra vez,aquilo estava começando a me incomodar.Cheguei até Jim,que estava encostado na lateral do portão que dava para os blocos,ele me olhava entretido.

–O quê?Tem alguma coisa na minha cara?-disse em um tom irônico.

–Não,nada no seu rosto,apenas um tom rosado nas bochechas,fora isso nada fora do comum.-disse ele sorrindo.

–Rosado?-disse colocando as mãos nas bochechas,estavam quentes.

–Romance adolescente no apocalipse zumbi,que coisa estranha vinda de você,é fofo!-disse ele rindo.

–Não diga fofo pra mim!Pare de falar besteira!eu nem conheço ele direito senhor Jimmy Williams!

–Eu também não conhecia direito Tess quando comecei a gostar dela,e ai,no final,acabamos casados!

–Pare de falar bobagens!Você parece uma criança!Muito imaturo de sua parte dizer isso pra mim!

–E você fica muito infantil dizendo isso e batendo o pé no chão do jeito que faz.

Eu tinha o habito de bater o pé toda vez que ficava muito brava ou envergonhada,era uma coisa bem estranha mas eu não conseguia parar de fazer.

–Você é ridículo!-disse e sai andando furiosa,para dentro dos blocos.

Aquilo era muito ridículo!Tudo deveria passar logo,aquele mar de sensações estranhas poderiam ser fruto de uma conversa com outra pessoa,nunca que eu ia sentir aquele sentimento que as pessoas tem a coragem de pronunciar!