We're all under the stars escrita por Han Eun Seom


Capítulo 3
Stars


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer imensamente a todos que comentaram e principalmente a Marii pelos reviews lindos e maravilhosos



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Pensamentos corriam na mente das duas como se não houvesse amanhã. Demorou um tempo até que entendessem que aquilo era de verdade. Para que entendessem que o que sentiam quando seus lábios, suas mãos tocavam uma à outra, era algo pra valer e não uma coisa comum.

Definitivamente, não era comum.

A loira não via futuro naquilo e estava com medo demais para tentar acreditar no que estava acontecendo ali, mas Riley a fez ver e acreditar que havia sim algo mais a frente reservado para elas e que tudo seria melhor assim que contassem para todos o que estava acontecendo.

Mesmo assim, demorou dois meses de carinhos furtivos até que tiveram a coragem de dizer para suas famílias que as coisas tinham mudado. Não eram melhores amigas, não era apenas uma paixonite entre elas ou uma fase e sim amor. Amor mesmo.

A mãe de Abigail tentou convencê-la do contrário e disse algumas coisas que a magoaram bastante, mas acabou por perceber que sua filha era daquele jeito e que não podia fazer nada para muda-la. Depois de um tempo percebeu que a filha que amava antes continuava ali. A única mudança significativa foi a de que ela não tinha um genro e sim uma nora. Já os pais de Riley apenas riram e a abraçaram. Parece que já imaginavam aquilo.

Não tentaram esconder aquilo de ninguém na escola e andavam de mãos dadas mesmo. Abigail tentou fortemente resistir no começo, mas quando fez isso da primeira vez sua agora namorada a pegou pela cintura e lhe beijou na frente de todos. A partir deste momento, achou que andar de mãos dadas não era tão vergonhoso assim.

Todas as garotas que enchiam o seu saco pagaram suas devidas punições da diretoria e receberam do Conselho Tutelar um tipo de “sentença” que incluía algo relacionado com trabalho comunitário. Riley não pareceu satisfeita, mas Abigail estava feliz demais para conseguir mostrar qualquer insatisfação e correr o risco de desanimá-la.

O sorriso dela era raro, mas tão lindo. Era tão gostoso entrelaçar os dedos dela nos seus e poder sentir o calor do seu corpo e o coração dela acelerado de encontro com o seu. Os lábios dela eram os mais doces e quentes que já provara e pretendia senti-los pelo resto de sua vida.

Assim foi até o segundo ano do Ensino Médio.

Comemoraram aniversários juntas e aquela vida era a mais perfeita que poderiam pedir. Os pais delas já tinham as dado como casadas, só faltava a maior idade e adoravam fazer piadinhas sobre isso quando não estavam perto.

Aprenderam a conviver com os defeitos e qualidades uma da outra e Abigail se mostrou uma garota mais aventureira do que o aparentava. Bem mais.

Riley estava dormindo quando escutou a sua música preferida tocar. Tinha a colocado como o toque de Abigail e nem mesmo olhava para a tela para checar quem estava a ligando.

– Bom dia – atendeu o celular bocejando. – Está tudo bem, Abe?

Não viu que horas eram, mas sabia que estava muito cedo e com um pouco de preocupação esfregou os olhos tentando afastar o sono. Quando ela respondeu, sua voz estava abafada e parecia estar arfando.

– Desce agora – ela disse e desligou.

Aquilo lhe era muito estranho e fazer esse tipo de coisa definitivamente não era a cara dela. Olhou para a tela do celular e quase soltou um grito quando viu que marcava três horas da manhã. Mas que merda ela estava fazendo lá naquela hora?! Levantou de supetão da cama e calçou os chinelos com pressa.

Já era final da primavera e o tempo estava úmido e quente demais para o seu gosto e por causa disso estava dormindo com um shortinho e uma regata azul. Não imaginou que receberia uma ligação da sua namorada àquela hora da manhã e estava preocupada demais para trocar de roupa. Com cuidado, saiu do apartamento e fechou a porta o mais silenciosamente que conseguiu e desceu as escadas correndo.

Chegou à portaria do prédio e a encontrou sentada na calçada respirando pesadamente. Estava com uma calça de moletom e uma camiseta com um casaco fino por cima. Calçava chinelos e não fazia ideia de como tinha chegado ali daquele jeito. Aproximou-se dela com cuidado e a chamou baixinho.

Abigail levantou o rosto e lhe dirigiu o sorriso mais lindo que já tinha visto. Levantou-se e bateu a mão na roupa. Pegou a sua mão e começou a puxá-la. Riley protestava e exigia respostas até encontrarem o carro da mãe dela estacionado ali.

– Abe! Você roubou o carro...

– Quieta Riley! Eu não roubei nada, só peguei emprestado – ela riu baixinho e deu a volta abrindo a porta do passageiro para ela. – Só entra no carro.

– Isto é um sequestro – levantou uma sobrancelha.

– Não tem que ser - ela sorriu de lado e piscou para ela.

Agradeceu tanto a Deus que podia ver aquela face divertida e um pouco irônica da garota que antes mal conseguia falar que começava a gaguejar. Bem, Abigail realmente tornava-se outra pessoa na frente de estranhos, mas Riley não se importava desde que continuasse sendo quem era de verdade com ela.

Este pensamento era um pouco egoísta? Talvez, mas não era como se ligasse para isso. Permitia-se ser egoísta quando se tratava de garota de olhos azuis escuros a sua frente.

Entrou no carro ansiosa demais para que seu orgulho a deixasse admitir. Para onde ela estaria a levando?

Abigail entrou no carro e se arrumou no banco do motorista. Parecia que tinha vários talentos escondidos e desde quando experimentou pela primeira vez aos quinze anos dirigir (escondido de sua mãe) tinha tomado muito gosto pela coisa. Mesmo assim, não era algo que costumava fazer. Aparecer de madrugada na casa dela a “sequestrando”.

– Abe, para onde está indo? – disse quando elas se afastavam da cidade.

– Achei um lugar hoje e eu queria que visse – disse simplesmente e continuou olhando para frente.

Abigail somente saía à procura de lugares aleatórios quando algo a incomodava e Riley sabia muito bem disso, mas se manteve quieta. Ela nunca tinha lhe mostrado nenhum desses lugares e ela nunca realmente insistiu.

Amava Abigail e, portanto, assim como ela fazia, lhe dava espaço para ter seus segredos. Por causa disso estava extremamente nervosa sobre o que a aguardaria naquele lugar e também o porque que ela queria que o visse.

Olhou para seu perfil sob a pouca luminosidade da estrada e notou que ainda preferia o cabelo dela longo. Abigail o tinha cortado para que facilitasse seu trabalho na hora de cuidar dele e tinha o deixado pouco abaixo do ombro. Ainda assim, eles mantinham a mesma cor de palha de ouro e pareciam refletir a luz da lua de uma forma mágica.

Riley não tinha mudado muito a sua própria aparência nem sua postura e sua namorada continuava franzina como antes, mas notava que tinha algo diferente em seus olhos. Talvez passar todos aqueles anos sofrendo na mão daquela garotas e encontrar o amor no meio daquilo tenha provocado mudanças irreversíveis. A morena apenas torcia para que as mudanças fossem tão boas quanto esperava.

Também tinha sido mudada por Abigail. Ela desde quando começaram o Ensino Médio a ajudava com os estudos e Riley agora parecia estar muito mais focada no que queria. Antes, somente a menção de uma futura carreira a deixava nervosa e estressada, mas toda vez que via o rosto dela sentia que poderia enfrentar qualquer coisa que caísse em seu caminho.

– Aqui – estacionou o carro e se virou sorrindo para ela. – Feche os olhos e não os abra até que eu peça, por favor. Se não vai acabar com a mágica.

Suspirou e meio contra a ideia fez como Abigail mandou. A ouviu sair do carro e logo a sua porta foi aberta e sua mão tomada pela dela. Ainda existia aquela eletricidade quando se tocavam e pensou que aquilo provavelmente nunca acabaria. Seu amor por ela nunca acabaria.

Andou um pouco sendo guiada por ela e sentiu a grama em seus pés. Pouco depois sentiu um tecido e Abigail a ajudou a se sentar e depois a deitar naquela manta. Não abriu os olhos até que Abigail segurou sua mão e entrelaçou seus dedos nos dela.

– Abre – havia divertimento, mas também receio na voz dela e um pouco hesitante ela abriu os olhos.

A noite definitivamente não era escura. Haviam tantas estrelas e constelações que seus olhos não conseguiam entender a imensidão que estavam vendo. A lua estava tão grande e clara que entendeu como o rosto dela estava banhado por sua luz durante o caminho inteiro. Haviam estrelas de tantos tamanhos e cores que ela nem mesmo tinha certeza de que eram estrelas ou planetas ou o que quer fosse. Apenas sabia que era lindo.

– Mas...

– Parece que mesmo com toda a poluição, em raras noites é possível se ter uma vista dessa – Abigail sorriu e apontou para um lugar no céu. – Vê? Aquelas são as Três Marias.

Abigail também sabia um bocado sobre as constelações e céu, mas nunca achou que ficaria tão interessada ao ouvir o que ela dizia na vida. Riley preferia ver filmes a olhar o céu, mas sempre achou lindo este apego que sua garota tinha por ele. Abigail citava constelações e, com um pouco de esforço, ela conseguia as enxergar.

Depois de um tempo, Abigail parou de falar e Riley olhou para ela.

Tinha o braço livre debaixo da cabeça e olhava serenamente para o céu. Todas aquelas luzes banhavam seu rosto de diferentes formas. Percebeu sem muita surpresa que aquela mistura de cores apenas a deixava mais linda e Riley sentiu uma vontade gigantesca de beijá-la. Teria feito exatamente isso se Abigail não tivesse fechado os olhos e começado a falar.

– Sabe Riley, eu não te trouxe aqui por nada – sua voz era sussurrante apesar de só estarem elas ali. – Quando eu te vi pela primeira vez várias coisas passaram pela minha mente. Eu achava que você iria me bater e eu estava tão nervosa que eu achei que fosse desmaiar – ela teria rido, mas percebeu que Abigail não estava falando aquilo à toa. Ela estava tentando chegar a um ponto. – Eu não queria ter ido falar com você. Você ia me achar uma estranha e eu odiava tanto aquelas garotas e me condenava tanto por ser tão covarde que quando você me defendeu eu achei que fosse explodir em lágrimas ali na hora.

Riley ia dizer que nunca faria aquilo, mas Abigail não estava pronta para ser interrompida ainda.

– Todos, eu repito, todos os momentos que eu passei com você foram tão mágicos que eu não podia acreditar. Parecia um sonho e quando nos beijamos pela primeira vez eu fiquei tão arrepiada que até me deu um frio na espinha – ela soltou um risinho enquanto abria os olhos e Riley sorriu. – Eu não sabia o que era ter uma amiga, imagina então pensar em ter alguém que me amasse. Nunca passou pela minha cabeça que eu poderia ter uma vida sem estar sendo agredida todos os dias tanto verbal como fisicamente – sua voz embargou e Riley observou lágrimas se formarem em seus olhos.

Virou-se e passou seu braço livre pela cintura dela, agarrando-se a ela. Abigail também se virou ficando cara a cara com a garota de olhos verdes ainda como a sua xícara de chá preferida e sorriu continuando a falar.

– Minha vida não teria tido sentido nenhum – fungou. – Nenhum sentido mesmo se você não tivesse aparecido. Quem sabe onde eu poderia estar agora. Quem sabe quanto tempo mais eu teria aguentado antes de ficar cheia daquilo tudo e me matar por que, acredite, eu pensei nisso tantas e tantas e tantas vezes – Riley estava com vontade imensa de chorar também, mas não podia fazer aquilo. Não era o que Abigail precisava. – Quando eu ouvi você falar meu nome pela primeira vez foi como música e eu me senti tão aliviada com aquela mensagem de celular... Porra você não tem noção do quanto eu te amo.

Soluçou tão forte que achou que seu coração ia sair pela boca. Riley não sabia se chorava junto ou se sorria de tão feliz que se sentia. É claro que ela já tinha dito que a amava, mas dessa vez... Dessa vez parecia mais real do que todas às vezes antes.

Desta vez, debaixo de todas aquelas estrelas, parecia que tudo finalmente era real.


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Notas finais do capítulo

Fiquei preocupada com a passagem de tempo ficar meio desconexa, mas admito que gostei deste capítulo assim como gostei de ler escrito esta short-fic