We're all under the stars escrita por Han Eun Seom


Capítulo 2
Abe


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o segundo capítulo pessoas ^^...



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Riley começou a se aproximar mais de Abigail e conforme o tempo passava, elas já estavam fazendo duplas em todas as aulas que tinham juntas, além de almoçarem juntas todos os dias.

Elas começaram a ver que não eram tão diferentes assim. Não curtiam exatamente o mesmo tipo de música, mas aos poucos entraram e descobriram o mundo uma da outra e começaram a ver a variedade de músicas, filmes e livros que existiam e nem faziam ideia.

Abigail estava submersa demais no fato de que tinha uma amiga que era a garota mais legal desse mundo, para perceber os olhares de ódio que recebia constantemente. As garotas de sempre já teriam acabado com ela, mas Riley não desgrudava de Abigail e, por mais que elas não admitissem, tinham um pouco de medo dela.

Riley era o tipo de garota que estava pouco se lixando para o que os outros pensavam e se fosse preciso partia para a agressão física mesmo. Como a escola não tinha um uniforme era comum vê-la usando a jaqueta de couro preta, jeans escuros e uma camiseta de banda que variava.

Após um curto espaço de tempo, Abigail já tinha escutado e decorado músicas das bandas daquelas camisetas sem nem Riley saber. Em compensação, Riley tinha até assinado o Netflix para poder assistir aos filmes que Abigail gostava ou até mesmo mencionava de vez em quando.

Buscavam as coisas que a outra gostava desesperadamente e provavelmente nem percebiam o que estavam fazendo, talvez fosse algo de seus inconscientes... Esta vontade de querer sentir-se mais perto da outra.

Nada era perfeito, claro. Abigail continuava sendo alvo de piadinhas e risadas quando passava, mas as coisas eram muito melhor do que antes. Riley disse que arrebentaria a cara de qualquer pessoa se a visse fazendo isso, mas a loira deu um jeito de fazê-la se acalmar e não dar muita importância para aquilo.

Isto era algo que ela achava irônico. Riley não dava a mínima para o que falavam dela, por que ligaria para o que falavam dela? Esta era uma ironia que Abigail gostava, mas gostava e muito.

Então, as férias de julho chegaram.

Um frio gigantesco se fez se na cidade em que moravam e esta foi então a época de suas famílias se conhecerem. A mãe de Abigail tinha falado umas duas vezes com os pais de Riley, mas nunca tinham se encontrado. Marcaram então um dia para saírem todos juntos.

Não foi o melhor dia de suas vidas, mas com certeza foi um bom dia. A mãe de Riley conversou muito com a de Abigail, principalmente sobre roupas e cores que caiam melhor em cada tipo de pele e digamos que os irmãos mais novos Riley simplesmente a adoraram. Praticamente não desgrudaram delas o dia inteiro e, mesmo não podendo conversar muito, as duas se divertiram um bocado.

Saíram três vezes durante aquelas férias e Abigail achou que sua vida não poderia ficar melhor.

Porém, logo na última semana de férias Riley ficou extremamente doente e foi levada para o hospital. Parecia que ela já tinha um histórico longo de pneumonias e que passar umas semanas internadas não era mais novidade para a sua família. Para Abigail, entretanto, foi desesperador. Nunca tinha visto Riley daquele jeito. O rosto pálido e a voz entrecortada por tosses definitivamente não combinavam com ela.

Estava tão preocupada que não percebeu que voltaria de férias sem ela.

Na volta as aulas, Riley ligou do hospital e disse que se qualquer coisa acontecesse era para ela ligar. Abigail não entendeu o sentido daquilo. Não fazia ideia do por que ela estava lhe dizendo aquilo, afinal, nada de ruim ia acontecer.

Depois do telefonema, se arrumou normalmente colocando um jeans e uma blusa de lã grossa. Era começo de agosto, ainda inverno, e ela particularmente adorava aquele tempo. As blusas tinham mangas longas e cobriam os braços que achava esqueléticos.

Lembrou-se então de Riley dizendo que estava ótima daquele jeito. Passou a mão nos cabelos e sorriu um pouco decidindo prendê-los. Fez uma trança embutida e apesar de estar com os braços doendo no final, ficou feliz com o resultado. Acho que vou tirar uma foto e mandar para Riley depois¸ e pensando se ela gostaria ou não seguiu para a escola.

Não encontrou uma cena incomum quando pisou dentro da sala de aula. Poucas pessoas iam logo à primeira semana e gostava dessa atmosfera mais calma do que nos dias normais. Nada de ruim aconteceria com ela e estava ansiosa para acabar logo o dia para poder voltar para casa e ligar para morena.

Escutar a voz dela era tudo no que pensava. Estava no hospital havia uma semana e sua mãe não tinha a deixado sair no final de semana anterior para vê-la. Disse que estava muito frio e que se quisesse saber como Riley estava era só ligar. Claro que Abigail ficou um pouco chateada com aquilo, mas fez como sua mãe disse. Ela tinha razão, sua saúde não era das melhores e era bom evitar sair desnecessariamente.

– Olha quem veio sem o cão de guarda – Abigail levantou os olhos e as viu na porta.

Tinham mais garotas dessa vez e era a troca de aulas. Por que diabos estavam ali? Seu coração instantaneamente sentiu vontade de gritar por Riley, mas lembrou-se de que ela não estava ali. Elas não podem me fazer nada. O professor vai chegar logo.

Infelizmente, ela estava errada.

– O que foi, Abe? – uma morena alta entrou na sala e parou de frente a sua mesa. Outras a seguiram. – Está com uma expressão um pouco assustada – Abigail escutou algumas risadas abafadas.

– V-vocês não podem ficar aqui – sussurrou e abaixou o rosto no mesmo momento em que outras cercaram sua carteira.

– Ah, como assim Abe? - a garota atrás dela disse fazendo um muxoxo. Tinha o cabelo liso e com uma californiana mal feita. – O que? Está tentando nos dizer o que fazer?

Por que ninguém está fazendo nada? Ela pensou enquanto tentava achar uma maneira de sair daquela situação, mas não tinha como. Elas tinham a cercado em sua carteira e o professor ainda não tinha chegado.

– O p-professor vai chegar... – fazia tempo que não gaguejava daquele jeito. Ela não gaguejava quando estava com Riley.

– Aw, ninguém te avisou? A partir desta aula, todos os professores estão liberados e os alunos também – a morena a sua frente sorriu e Abigail levantou a cabeça assustada. – Agora, todas nós ficamos muito tristes quando nos trocou por aquela putinha... Qual era mesmo o nome dela?

– N-não a chamem de puta – as palavras saíram da sua boca e quando percebeu era tarde demais.

Todas elas riram e a que estava atrás dela puxou sua trança com força para trás. Abigail soltou um grito mais de surpresa do que de dor.

– Olhem só! Ela está defendendo a amiguinha! – duas delas a pegaram pelo braço e levantaram com força da cadeira. Uma de jaqueta jeans pegou sua cabeça e bateu com tudo na carteira só para levantá-la de novo e a fazer olhar para a morena. – Eu gostaria de pedir que não me interrompa mais, Abe, isso me magoa muito.

E elas riram de novo. Nunca tinham feito aquilo. Estava muito pior. Sua cabeça latejava e ela esperava que nenhum corte tinha sido aberto. Ela queria ir para casa. Ela só queria que o dia acabasse e fosse para casa ligar para Riley, ia mostrar a trança que tinha feito. Ela só precisava escutar a voz dela e saber se tinha melhorado. Ela estava quase bem não estava? Ela disse que os antibióticos estavam fazendo efeito...

Seus pensamentos corriam pela sua cabeça desconexos enquanto elas a arrastavam pelo corredor. Onde estava a porra dos inspetores?! Por ninguém estava lá quando ela precisava?! Por que elas estavam fazendo aquilo quando não tinha feito porra nenhuma para elas?!

Elas não a jogaram no chão. Quando entraram no banheiro, elas continuaram a segurando e começaram a se revezar. Achou que estavam brincando de algo. Quem consegue dar mais socos em Abe provavelmente era a vencedora, ou seria quem a insultava mais?

Sentia, além da dor, as lágrimas quentes descerem por suas bochechas e também o ódio por não ter força para revidar. Nada na sua vida poderia ser bom? Sempre que as coisas iam bem, tudo tinha que desmoronar. Como contaria aquilo para Riley?

Riley?

– Gente ela nem consegue gritar mais – algumas gargalharam. Não conseguia identificar quem estava falando, mas provavelmente era aquela morena já que parecia ser a nova líder daquele grupo. – Cadê a sua putinha defensora agora, Abe?! O nome dela era qual mesmo? Riley? É nome de travesti isso.

Riley, essa pessoa não merece pronunciar seu nome. Me desculpe.

– Achamos que ela era uma pessoa decente, mas não. Parece que era só uma puta mesmo, igual a você. Só que ela é o tipo de putinha que parte pra cima, né? Aposto que já deu para metade do colégio, mas só conta pra você – sentiu a mão dela no seu queixo e seu rosto sendo levantado para cima. Era difícil enxergar, mas tentou focalizá-la. – Nos conte Abe – ela sorriu abertamente. – Prometo que se nos contar alguns segredinhos dela nós deixamos você em paz.

A puta aqui é você. Ela abriu a boca para falar algo e a garota a sua frente pareceu surpresa.

– Então você vai mesmo falar? É mesmo uma arrombada, não há nada que não fará para livrar a própria pele – outra garota disse e Abigail trincou os dentes e forçou as palavras a saírem da sua boca.

– As putas aqui são vocês – como tinha imaginado. Falar é muito melhor do que pensar. – Façam o que quiser comigo, mas não toquem no nome dela.

Então entraram no banheiro. Finalmente. Achou na hora que alguém chamou uma inspetora, mas pouco antes delas a soltarem e ela desmaiar no chão viu o diretor ali gritando. Ela queria rir, mas tudo doía. Assim que encontrou o chão sentiu uma dor gigantesca na cabeça e desmaiou.

Acordou no hospital. Piscou repetidas vezes e com um pensamento amargo constatou que até piscar doía. Tentou respirar mais profundamente e notou que suas costelas doíam demais para conseguir concluir aquilo, decidiu então manter sua respiração superficial e lenta, não queria forçar seu corpo a fazer o que não estava em condições.

– Abe? – era a voz dela. – Abe, por favor... – seu tom era choroso e Abe franziu a testa.

– A luz... – sua voz era baixa e entrecortada e segundos depois a luz foi apagada. Suspirou em alívio e piscou poucas às vezes antes de abrir completamente os olhos.

Não virou a cabeça, mas conseguiu a ver ali. No pé da sua cama, com o rosto vermelho e os olhos provavelmente inchados. Achou que estava melhor da pneumonia já que estava ali e percebeu com certo alívio que ela vestia a mesma jaqueta de couro de antes. A jaqueta que tanto gostava.

– Porra Abe – ela fungou e Abigail teve certeza de que estava chorando. – Eu achei que você fosse morrer...

– Não tão fácil – sussurrou com uma tentativa de sorriso e Riley riu.

– Eu nunca deveria ter deixado você ir para aquela escola sozinha – ela suspirou e Abe quis dizer que ela não tinha escolha. Estava internada, não tinha como ir. Riley se aproximou da cama e pegou sua mão. Seu toque estava quente e aquilo fez com que se sentisse mais tranquila. – Antes que pergunte, o que aconteceu foi que uma garota, que serei grata pelo resto da vida, passou pelo banheiro, escutou tudo e desceu correndo. Quando souberam daquilo, o diretor e praticamente a secretaria inteira subiram desesperados e te viram ali, desmaiada.

Imaginou que tinha sido aquilo mesmo.

– Descobriram depois que elas estavam fazendo a mesma coisa com outras garotas além de você... Mas ninguém nunca teve coragem de dizer nada. Então, todas elas, sem exceção, estarão sendo encaminhadas para o Conselho Tutelar e estão suspensas por duas semanas – ela suspirou e levou a outra mão à face para limpar as lágrimas. – Eu achei pouco perto do que te fizeram, mas é melhor do que nada.

Abigail estava aliviada por saber daquilo. Riley achava pouco, mas era muito mais do que tinham sonhado.

– Elas... Falaram de você – Riley a olhou e por causa da escuridão não distinguiu bem se estava surpresa ou não. – Eu queria... Ter arrebentado a... A cara delas.

Riley ficou em silêncio durante alguns segundos até que explodiu em uma gargalhada. Abigail sorriu levemente, fechou os olhos se sentindo cansada de repente e sentiu os lábios dela em sua testa. Uma sensação eletrizante correu pelo seu corpo inteiro e por um instante quis que aquilo fosse eterno.

– Vou deixar você descansar, também vou avisar sua mãe – estava levantando da cama quando Abigail segurou sua mão o mais forte que conseguia não a deixando sair. – Abe?

– Fica – Abigail abriu os olhos e olhou diretamente para ela. – Por... Favor, Riley – o nome dela saiu um pouco entrecortado e ela sentou-se de novo da cama. – Não vai ainda...

– Eu vou ficar, calma – Riley segurou sua mão e entrelaçou seus dedos.

– Tudo o que eu... – um nó na sua garganta estava se formando e ela não fazia ideia do por que – tudo o que eu conseguia... Conseguia pensar... Era em você... Só você.

Quando o puro silêncio se seguiu, Abigail se arrependeu imediatamente das suas palavras.

Por que Riley estava quieta? Será que tinha entendido mal as suas palavras? Ou será que Abigail queria dizer exatamente o que disse? Mesmo que as lágrimas contidas naquela frase possuíssem todo o significado possível, Abigail estava arrependida se isso significasse que Riley se afastaria dela.

– Riley? – quando pronunciou o nome dela com as lágrimas já rolando por suas bochechas e com aquela voz sussurrante, Abigail teve certeza do que era aquilo. – Me desculpe.

As duas sabiam muito bem por que Abigail estava pedindo desculpas e outros segundos torturantes se seguiram sem nenhuma reação de Riley. Até que Abigail deu um soluço seguido por um gemido e sentiu lábios a tocar. Tocar sua boca.

Seu coração queria acelerar que nem sua mente, mas parecia que aquele toque a acalmava demais para que isso acontecesse. Era uma mistura tão grande de emoções que não fazia ideia do que estava acontecendo até Riley se separar dela e com os olhos fechados sorrir.

– Não se atreva a pedir desculpas, Abe.

Como seu nome saindo da boca dela era lindo.


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Notas finais do capítulo

... Mais um e terminamos esta short-fic ^^
Deixem um feedback dizendo o que acharam! :3